024. Artigo de Al Rogers

O Fracasso e a Promessa da Tecnologia em Educação

Al Rogers

Global SchoolNet Foudation

Se considerarmos seu impacto na vida normal das salas de aulas das escolas americanas, os computadores, sem dúvida, fracassaram na introdução de transformações na aprendizagem, prometidas e promovidas nos últimos quinze anos. Dê uma passada pela maioria das escolas dos Estados Unidos nos dias de hoje e você irá entrar num desvio do tempo onde as ferramentas básicas de aprendizagem não sofreram qualquer mudança durante décadas.

Embora seja verdade que alunos de muitas escolas têm experiências de diversos graus com computadores, o fato é que geralmente tais experiências não se casam com a vida acadêmica “normal” do resto da escola. Os professores simplesmente não abraçaram o computador como uma ferramenta básica de aprendizagem.

Não é segredo, obviamente, que um dos grandes fracassos é a ausência de desenvolvimento apropriado dos profissionais de ensino. E, é claro, quando se fala sobre tecnologia e desenvolvimento dos profissionais, o foco é quase sempre no “treinamento” dos professores para que estes usem tecnologia. Isso é conhecido sob o título de “como integrar tecnologia no currículo”.

Porém, eu suspeito que um importante fracasso dos computadores e da tecnologia com eles relacionada tem muito a ver com o modo pelo qual as escolas operam e com os nossos pressupostos sobre como as escolas deveriam operar.

A atividade educacional é majoritariamente um mecanismo de entrega. Ela “entrega” informação, instrução, e aprendizagem. Dentro desse paradigma tradicional, a tecnologia foi direcionada para entregar mais, entregar mais depressa e mais barato, fazendo isso de modo “mais eficiente” que os métodos tradicionais. Porém, no ambiente normal do ensino fundamental, direcionar a tecnologia para esse paradigma não teve nenhum efeito notável na melhoria da aprendizagem. Como “entregador” e “professor”, a tecnologia certamente parece nada acrescentar.

Para que então serve a tecnologia? Os computadores são ótimas ferramentas analíticas. Grandes segmentos da sociedade usam-nos para coletar, produzir, manipular, analisar, sintetizar, transformar e registrar informação numa imensa variedade de contextos e formatos. Com o advento da Internet no campo da comunidade de ensino e pesquisa, nós agora ampliamos a habilidade de colaborar, comunicar, repartir, e trocar… por caminhos que estão transformando verdadeiramente nossa economia e, cada vez mais, nossa cultura.

Infelizmente essas são tarefas que muitas escolas… e muitos professores… não estão equipados para realizar, uma vez que a atividade educacional de hoje requer dos professores “entregas” de conteúdo e seqüência pré-determinados de informação.

Hoje, estamos no melhor e pior dos tempos. A convergência de várias tecnologias… computadores, multimídia, telecomunicações na Internet e na World Wide Web… nos coloca a um passo de sermos capazes de realizar a promessa tecnológica de dar nova forma a toda a nossa cultura. Nunca, até então, os professores tiveram tanto potencial real para explorar completamente as capacidades “ferramentais” das novas tecnologias. Vemos, em torno de nós, reais evidências de que, dia a dia, a World Wide Web está realmente começando a mudar nossas vidas.

Porém, as escolas ainda estão ligadas a um paradigma mais próximo do século XIX que do XXI. Professores bons para responderem questões não são bons para fazê-las. Professores “investigadores” que tem um corpo de “especialização” ou “conhecimento” para entregar não são bons para ajudar estudantes a descobrirem novas idéias e informação, e para transformar estas duas últimas em conhecimento.

Hoje, mais que nunca, precisamos de professores capazes e que queiram tornar-se “companheiros de aprendizagem” de seus alunos. Professores que não temem reconhecer que “Eu não sei” e, voltando-se para os seus alunos, dizer “Vamos descobrir juntos”. Esses professores precisam usar várias tecnologias para dar forma ao processo e administrar informações, para verificar relações, tendências, anomalias, e detalhes; esses professores podem não apenas responder questões, mas podem também criar questões. Precisamos de professores que entendam que aprender no mundo de hoje não é apenas uma questão de dominar um corpo estático de conhecimento, mas também de ser capaz de descobrir as idéias rapidamente mutantes a respeito do próprio conhecimento.

Em meus quinze anos ensinando professores “sobre” tecnologia, eu descobri que é mais efetivo mostrar aos professores como ensinar escrever usando um processador de texto, em vez de ensiná-los como usar o processador de texto;  como usar uma planilha eletrônica ou base de dados para coletar e representar graficamente dados do censo como parte de uma aula de ciências sociais, em vez de ensiná-los como usar a ferramenta; ou como usar a World Wide Web para desenvolver diálogos profissionais incrivelmente ricos entre estudantes e autores de “Web Pages” e seus leitores ao redor do mundo.

Quando se dá aos professores (ou quando eles conquistam) a liberdade de mudarem como ensinam… de deixarem de ser “entregadores de instrução” para “companheiros de aprendizagem”, vemos a tecnologia usada de modo drasticamente diferente… mais próximo dos modos pelos quais outros segmentos da sociedade usam-na.

Dentro do antigo paradigma, os computadores eram apenas um sistema de entrega a mais… nada melhor que os sistemas tradicionais. Porém, no paradigma que vem brotando espontaneamente nas salas de aula de todo o mundo, conectadas à rede internacional de computadores, os professores rapidamente descobrem que os computadores e tecnologias com eles relacionadas são imperativos para o processo. E descobrem rapidamente que “a necessidade é a mãe da descoberta”. Quando eles finalmente entendem a tarefa, dominam muito depressa a ferramenta que pode ajudá-los a desempenhar tal tarefa.

Felizmente, os professores que tem acesso à World Wide Web estão descobrindo, inventando, e compartilhando os tipos de práticas e programas de suas aulas que ilustram esses princípios. E como a Internet e a Web são ferramentas incrivelmente efetivas de comunicação, esses professores estão se encontrando, compartilhando experiências, e organizando-se. (…)

Assim, enquanto todos nós esperamos, no estilo de Godot, que o governo e as autoridades educacionais resolvam os problemas associados com a integração da tecnologia às atividades de sala de aula, é possível que a própria tecnologia nos dê  poder e  capacidade para resolver os problemas por nós mesmos… classe por classe, escola por escola.

Agora esse é o novo paradigma!

Tradução: Jarbas Novelino Barato, 2003

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Uma resposta to “024. Artigo de Al Rogers”

  1. Dê a chave do laboratório para os professores « Boteco Escola Says:

    […] de que os professores tenham as chaves do laboratório, publiquei em páginas, aí do lado, O Fracasso e a Promessa da Tecnologia na Educação. Boa […]

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