Archive for dezembro \18\+00:00 2007

O Saber Invisível

dezembro 18, 2007

Em estudos sobre as relações entre educação e trabalho, os pesquisadores quase sempre ignoram aspectos importantes dos saberes produzidos pelos trabalhadores. Tais saberes acabam ficando “invisíveis”. Essa é uma invisibilidade que pertence à mesma ontologia do mundo de Garabombo, o indío camponês do romance de Manuel Scorza, invisível para os poderosos quando pretende conversar com estes sobre interesses dos comuneiros.

Tempos atrás fiz uma comunicação sobre a questão dos saberes invisíveis para os educadores do Senai do Espírito Santo. O roteiro está no Slideshare. Se você quiser conhecer o guia de comunicação que utilizei, basta clicar bem aqui.

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Livro sobre WebQuest

dezembro 18, 2007

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No próximo dia 20, a editora Avercamp vai começar a distribuição de uma obra bastante esperada sobre WebQuest. As autoras são Celina Abar e Lisbete Madsen Barbosa, da PUC de São Paulo. O livro é um guia seguro e claro de como usar bem a internet em aventuras de ensinar e aprender com a rede mundial de computadores. Para mais informações, clique sobre o nome deste novo livro de tecnologia educacional: WebQuest: Um desafio para o professor.

Emoção de aprender

dezembro 16, 2007

No You Tube, ao lado do vídeo De Pé No Chão Também Se Aprende a Ler – objeto do post anterior, há um série chamadas para vídeos sobre educação de adultos e método Paulo Freire. Vi alguns desses vídeos. E o que mais me marcou nessa viagem foi ver gente falando sobre um aprender que emociona. Temos muito a aprender sobre o aprender com a gente simples que sonha em poder dominar a letra para ler placas de rua e escrever o nome da pessoa amada. Veja tudo isso no seguinte vídeo.

De Pé No Chão Também Se Aprende a Ler

dezembro 15, 2007

O título deste post é a palavra de ordem que orientou o movimento de educação popular no governo de Djalma Maranhão na cidade de Natal, RN. Meu amigo, Moacyr de Góes, era o secretário de educação daquele governo. Tudo aconteceu às vésperas do golpe de estado que deu origem à ditadura nascida em 1964.
Faço esta pequena nota por dois motivos: homenagear um amigo que não vejo faz muito tempo, indicar um documentário sobre essa admirável aventura. Eu gostaria de falar mais sobre o projeto educacional que Moacyr coordenou em Natal, mas vou deixar isso para outra ocasião. Por ora, o que quero é recomendar vivamente uma visita ao filme que acabo de ver. Material emocionante, documento histórico que todos os educadores precisam ver. Mais palavras são desnecessárias. Veja o filme. Para tanto clique aqui.

Censura outra vez: um complemento

dezembro 15, 2007

No post anterior recomendei leitura de um ótimo comentário sobre o indispensável livro de Diane Ravitch, A Polícia da Palavra. A citada obra examina a censura nos meios de produção de materiais didáticos nos Estados Unidos. Uma prática comum é a de interditar alguns clássicos da literatura nas escolas. Outra prática comum é a de modificar textos clássicos em antologias escolares, substituindo ou cancelando palavras supostamente ofensivas.

Toda essa conversa sobre censura nos meios educacionais fez com que me lembrasse de um fato acontecido há dois anos. Uma de minhas filhas frequentava um curso de alemão na Unicamp. Havia na turma alunos de graduação e pós de diversas áreas da universidade. Certo dia a professora distribuiu um trecho do romance Robison Crusoe, numa versão alemã, com o objetivo de incentivar a leitura e oferecer um tema comum para a aula de conversação. Como a história é bastante conhecida, a professora imaginou que a atividade poderia mais fácil e agradável que as lições comuns sobre o idioma de Goethe. Essa situação, aparentemente tranquila, provocou uma reação que deixou espantados alunos e mestra. E tal reação veio de uma aluna da pedagogia.

A moça da Faculdade de Educação, assim que o texto de Defoe foi distribuído, pediu a palavra e fez um discurso duro contra o “racismo” do autor. Reafirmou sua condição de “educadora”. Disse que na Faculdade de Educação aprendia-se a criticar desvios ideológicos de textos. Disse ainda que via o Robison Crusoe como uma obra de caráter racista. E concluiu dizendo que o texto de Daniel Defoe não poderia ser usado em escolas, nem mesmo numa universidade como a Unicamp. A professora não soube o que dizer. Apenas reafirmou sua intenção de trabalhar com um texto agradável, nada mais. Os outros alunos, gentes das engenharias, letras, biologia, sentiram grande desconforto. E o texto de Defoe acabou não sendo utilizado. Acho que não preciso comentar a intervenção da estudante de pedagogia, pois censurar um clássico de 1714 a partir de suposições do que é politicamente correto nos dias de hoje beira a insanidade.

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Censura outra vez

dezembro 15, 2007

Me constrange escrever sobre censura neste ano da graça de 2007. Mas como a dita cuja anda por aí firme e forte, preciso continuar o bom combate. Dias atrás, eu quis rever um dos posts aqui publicado: 7. Blogs e Educação: Uma Entrevista. Não consegui, pois estava usando computadores numa instituição educacional universitária que censura acesso a determinados espaços da internet. E olha que eu estava nas “facilidades” da sala dos professores. Posso assegurar que a matéria é coisa séria. Trata-se de um texto que escrevi para responder a algumas questões levantadas por jornalista da revista de uma rede de ensino. O censor, porém, não quer saber. Tem blog no título: deve ser sacanagem. Acesso negado. Não importa que o texto seja acadêmico.

Não faço aqui este protesto apenas porque não consegui acessar uma de minhas matérias. Meu protesto é contra a censura. Bloquear a internet, com argumentos moralistas ou quejandos, é atitude contra a inteligência. O padroeiro destes novos inquisidores deve ser aquele general franquista que costumava dizer “abaixo a inteligência!”.

Até aqui falei de uma censura que está na cara. Basta usar palavras proibidas para que surja algum aviso do tipo “não é permitido…”. Mas há outra censura mais sutil, aquela que precede a publicação da informações que utilizamos. Esse é o tipo de censura que acontece, por exemplo, com livros didáticos. Daine Ravitch aborda a questão num livro indispensável: A Polícia da Linguagem (The Language Police: How pressure groups restrict what students learn). Não preciso falar muito sobre a obra. Você pode encontrar um comentário imperdível sobre o livro de Ravitch no blog De Rerum Natura, feito por Palmira S. Da Silva. Não deixe de clicar aqui.

Meme da página 161

dezembro 4, 2007

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Minha amiga Miriam me pediu para revelar o livro que utilizei no meme da página 161. Lá vai: a obra da qual saiu aquele texto de mistério sobre um acadêmico, noviços, escada, luz e uma biblioteca é Um Cântico para Leibowitz, clássico da ficção científica escrito por Walter M. Miller Jr.

Logo acima da tela do computador que utilizei para elaborar o post do meme 161, há uma estante com livros “passantes”, obras que andei manuseando por motivos diversos. Nela tudo se mistura. O Cântico não era o primeiro da fila. Na verdade era o décimo. Mas foi o primeiro livro que vi assim que levantei meus olhos para saber quais eram as obras mais próximas. Para matar a curiosidade dos amigos, listo aqui, na ordem em que aparecem da direita para a esquerda, as primeiras obras que estavam na minha estante de passantes: Confissões, de Santo Agostinho; Forces of Production, de David F. Noble; Gaia, organizado por Willian Irwin Thompson; The Gutenberg Elegies: The fate of reading in an eletronic age, de Sven Birkerts; O Modelo da Competência, de Philippe Zarifian; The Discoverers, de Daniel Boorstin; e A Distant Mirror: The calamitous 14th century, de Barbara Tuchman. Havia outros no caminho do Cântico, mas eram obras com menos de 161 páginas.

Como vêem, os livros ao meu alcance formavam um conjunto extremamente eclético. Explicação: estavam fora de lugar. Os passantes são obras que separo por motivo imediato: citação incidental, vontade de rever um trecho, intenção de recomeçar algum estudo que nunca chega aos finalmentes, pedido de amigos ou alunos etc. O Cântico, por exemplo, estava entre os passantes porque o separei para mostrá-lo para uma aluna que me houvera pedido indicação de obra de ficção que abordasse alguma dimensão do conhecimento humano. E o clássico de Miller Jr. é ótimo para quem quiser refletir sobre as idas e vindas do saber elaborado historicamente por nossa espécie. Recomendo.

Modalidades de conversa nos botecos da vida

dezembro 3, 2007

Tenho a impressão de que muitas pessoas acham que a conversa é um intercâmbio de opiniões, bem organizado, no qual os interlocutores se alternam em falas claramente definidas. No caso de blogs. essa visão resulta num entendimento de que a conversação é constituída por mensagens (posts) e seus respectivos comentários. Vez ou outra, procuro mostrar que essa visão do conversar é limitada. A conversa, em blogs e fora deles, rola de muitas maneiras.

Um caso recente aqui no Boteco, o meme da página 161, mostra mais uma possibilidade conversacional na blogosfera. Todo o jogo para pegar o livro mais próximo, encontrar e publicar a 5ª frase completa, passar a mensagem para mais cinco blogueiros gera uma prosa muito interessante que não fica apenas na relação mensagem/comentários. E isso me lembra alguns jogos muito comuns nas noitadas boêmias dos botecos de Ribeirão Preto em meus tempos de estudante.

O grande animador de jogos em botecos na Ribeirão dos anos setenta era Isaías Pessotti, cientista famoso, ótimo professor, boêmio de carteirinha. Se alguém quiser experimentar, resumo aqui a dinâmica de um dos jogos do Isaías:

  1. Numa roda de botequeiros, proponha uma desafio vocabular para que os participantes encontrem palavras que começam pelas três letras escolhidas pelo primeiro jogador (por exemplo: “as três primeiras letras são SER”).
  2. No sentido horário, cada participante deverá dizer uma palavra quer comece com as três primeiras letras escolhidas (no caso de SER, teríamos coisa como: sermão, serrote, servidão, sertão, seresta, serótino, etc.
  3. Cabe observar que a dinâmica deverá obedecer algumas regras simples. Essas regras são: valem apenas substantivos (exceto nomes próprios) e adjetivos; vale apenas uma palavra com a mesma raiz (assim, por exemplo, se alguém já disse serra, não valerá a palavra serrote), cada participante terá alguns segundos para dizer sua palavra (o grupo determinará um tempo razoável que mantenha a boa dinâmica do jogo), a roda do jogo para determinado conjunto de três letras continuará até que um participante não consiga dizer mais uma palavra, cada participante perde um ponto sempre que for incapaz de encontrar uma palavra quando chega a sua vez, o participante que não encontrou sua palavra tem direito de iniciar outra rodada propondo novo conjunto de três palavras iniciais (FAR, por exemplo), o jogo termina assim que o grupo julgar que é hora de é hora de parar, o perdedor do dia será o participante que acumulou mais pontos negativos; se combinado com antecedência, o perdedor paga uma rodada final de cerveja ou chope para todo o grupo.

A brincadeira que acabei de descrever é um grande exercício de vocabulário, além de exigir invenção de certas estratégias de uso da memória. Bons leitores dificilmente pagarão a rodada final de chope ou cerveja… Nos anos oitenta reproduzi o jogo de mestre Isaías para frequentadores do Bar do Zé. Foi um sucesso.

Jogos de botecos ou jogos de blogs são uma modalidade de conversação que, além do que fica dito ou escrito, coloca na roda modos de ser e pensar não revelados em diálogos convencionais.

Se você quiser conhecer mais o Isaías, sugiro leitura de alguns romances que ele escreveu depois de uma longa carreira acadêmica. É uma delícia ler Aqueles Malditos Cães de Arquelau, Manuscrito de Mediavilla, e Lua da Verdade.

Assim não tem conversa

dezembro 2, 2007

Repito, a cada passo, que blog é um espaço de conversação. E sempre que posso, ofereço exemplos de textos blogueiros que nos convidam a conversar. Em blogs, assim como em muitos outros contextos de comunicação, a escrita precisa ser amigável. Acho que tal orientação vale também para os escritos chamados de “científicos”. Escrever mal com a desculpa de que o essencial é o conteúdo, ou que a precisão exige uma linguagem mais contida e unívoca, é conversa fiada.

Nos meus tempos de estudante de tecnologia educacional, um de meus mestres, Brock Allen, insistia muito na necessidade de fornecer, além de exemplos, contra-exemplos. Acabo de ler um resumo de tese que é perfeito contra-exemplo de texto que afasta o desejo de qualquer conversa. Reproduzo aqui parte do escrito para que vocês vejam o que não se deve fazer na produção de textos.

Objetivando aduzir elementos para a reflexão em tomo da Pedagogia Histórico-Crítica na direção da dinamização do movimento teoria-prática-teoria e, mais propriamente, no que tange à verificação das possibilidades de estabelecimento da unidade da teoria e da prática num processo de alfabetização, foi realizada uma experiência docente durante um ano letivo em uma turma do 1º ano do I ciclo junto a uma escola da Rede Municipal de Ensino do município de (…). Tomando enquanto problemática o como estabelecer a referida unidade na perspectiva da teoria pedagógica em questão e, como hipótese, que esta unidade pode ser efetuada a partir de uma prática pedagógica mediada por uma didática escolar critica, a primeira parte deste trabalho aborda a Pedagogia Histórico-Crítica a partir da história de sua formulação no bojo dos acontecimentos sociais e políticos brasileiros, chegando à sua explicitação através do destaque dos elementos teóricos centrais que a corporificam e do levantamento de seus pressupostos teórico-metodológicos.