Pais de classe média querem dar de tudo para os filhos. Quartos de pimpolhos e pimpolhas são depósitos de montes de brinquedos que não foram manusaedos sequer uma vez. A expressão mais comum utilizada por tais crianças no Twitter é : “que tédio!” Falta-lhes aventura e invenção. Falta-lhes chances de mudar o mundo para ver no que dá. Papais e mamães querem que brinquem com todas as novidades do mercado de produtos infantis. Algumas dessas novidades prometem milagres de aprendizagem, vantagens competitivas. E o que rola, conforme o dito das próprias crianças, é tédio.
Numa resenha que fiz do livro Com o Olhar da Criança, de Frato (Francesco Tonucci), está a seguinte observação:
Talvez o capítulo mais expressivo da obra seja A brincadeira.
Em várias charges, o autor mostra situações em que pais
presenteiam filhos com quantidades enormes de brinquedos
sofisticados. Os filhos ou vêem tudo aquilo com indiferença
ou sonham com coisas mais simples, produtos de sua própria
invenção. A denúncia de Tonucci desvela o equívoco de acreditar
que a posse de muitos brinquedos aumentará a felicidade das
crianças. Em todas as situações, a imaginação e o gosto infantil
são ignorados. Há muitos desenhos abordando o tema. Convém
citar um deles para exemplificar as reflexões de Frato. Um casal
pergunta à filha: “Neste Natal queremos realizar um desejo seu: que
brinquedo você quer? A criança, com cara alegre, responde: “Poças de
água e barro?” A ideia de brinquedo como produto que pode ser
comprado, em vez da exploração do mundo a partir da imaginação
infantil, predomina, segundo Frato, entre os adultos. Além
disso, quase sempre os pais parecem ignorar que a brincadeira
é uma oportunidade de criação de fortes laços afetivos com as
crianças. Brincar converteu-se em obrigação. Exemplo disso é
uma charge em que uma criança roda tristemente seu carrinho
entreouvindo a conversa dos pais. No quadro a mãe fulmina
o pai: ” Nada disso, você não vai sair. Hoje é seu dia de brincar, afinal
ontem e anteontem fui eu que brinquei!”
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