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Tecnologias do não

novembro 28, 2017

escovao

Li em algum lugar que muitos avanços tecnológicos são descritos em desfechos que começam por um NÃO. E a negativa descreve o fim de alguma habilidade até então necessária. Cabe um exemplo. Antigamente, azulejos, antes de serem assentados. ficavam vários dias imersos n’água. Era comum ver em canteiros de obras enormes tambores, cheios de água, onde os pedreiros colocavam os azulejos que iriam usar. Isso era necessário porque azulejos secos dificilmente permaneceriam nas paredes. Eles precisavam de muita umidade para serem fixados decentemente. Mas, além da permanência em barris, os azulejos exigiam outros saberes dos pedreiros. Eles eram assentados com cuidado e, no geral, os profissionais davam leves pancadas nas peças até que cada uma delas se acomodasse sobre a massa e ficasse no prumo esperado. Nos velhos tempos, exigia-se dos azulejistas capacidade de avaliar o grau de umidade dos azulejos, assim como de avaliar a qualidade da massa preparada pelo servente: exigiam-se também gestos finos para assentar cada peça, e um bom ouvido para sentir por meio daquela pancadinha se a peça estava bem acomodada.

Nenhuma das velhas técnicas dos azulejistas é mais necessária. Não é preciso deixar as peças dormindo em barris de água. Não é preciso preparar massa para assentar azulejos. E aquelas pancadinhas que ofereciam feedback sobre qualidade do assentamento são apenas uma lembrança de velhos profissionais. Hoje, uma massa pré-preparada é espalhada sem muito cuidado pelas paredes e os azulejos, secos, são praticamente, colados na superfície. Com as novas técnicas, NÃO é mais preciso umedecer azulejos, preparar massas, treinar o ouvido para interpretar as famosas pancadinhas. O profissional que assenta azulejos hoje NÃO precisa mais de muitas habilidades que compunham necessariamente o repertório de bons azulejistas. As novas técnicas de assentar azulejos eliminaram muitas habilidades. Podem ser descritas com vários “não é mais necessário”.

Abri este post com a imagem de um escovão. Esse instrumento, tão comum nas residências de outrora, saiu de cena. Como muitos talvez nunca tenham visto um escovão, é preciso acrescentar aqui outra história de tecnologia que resultou em vários NÃOS. Nos velhos tempos, pisos de madeira e, às vezes, de cimento precisam ser encerados. O superfície do piso era cuidadosamente limpa. Depois disso, com um pano, flanela de preferência, espalhava-se cera por toda a superfície. Mas, a cera não se entranhava na madeira ou no cimento para dar o esperado brilho. Era preciso fricciona-la até que ela penetrasse na superfície. Isso podia ser feito com enceradeiras elétricas, máquinas com um pequeno motor que fazia girar escovas sobre o piso até que a gente ficasse satisfeito com o brilho obtido. Mas tais máquinas eram caras. Famílias pobres não tinham grana para compra-las. A solução era pois a de um substituto que com certa força bruta pudesse encerrar o piso até que o desejado brilho aparecesse. E o substituto era o escovão. Um instrumento de ferro, bastante pesado, com escovas que a dona ou dono de casa fazia deslizar sobre os tacos ou a superfície de cimento vermelhão. Os escovões sumiram. São hoje peças de museu. E ninguém mais precisa encerrar pisos. Nas superfície de madeiras aplica-se cascolac ou sinteko. Para manter a limpeza do piso basta varreção e aplicação de um pano úmido. O vermelhão praticamente desapareceu e deu lugar a cerâmicas brilhantes que dispensam uso de cera. Hoje NÃO é mais preciso encerrar o chão, usar enceradeiras, ou usar escovões. Saber encerrar superfícies é uma habilidade que se foi…

Se considerarmos o introdução das novas tecnologias de informação e comunicação, podermos desfilar um grande numero de NÃOS. Não vou examinar todas as possibilidades. Fico com apenas numa que despertou meu interesse numa conversa incidental sábado passado (25/11/2017).

Um amigo, tecnófilo de carteirinha, estava com o celular na mão numa festa em que a gente queria mais era colocar a conversa em dia. Mas, gente como ele, não consegue guardar o celular em nenhuma circunstância. Aproveitei a situação para dizer que não gosto de celulares. E uma das razões para meu desgosto são aquelas teclinhas onde a gente tem que dedar textos. Aquelas teclinhas não foram feitas para gente idosa como eu. Meu amigo disse que NÃO é mais preciso digitar textos em computadores ou no celular. Já há, segundo ele, um aplicativo que aceita ditados e converte fala em texto. Outro amigo, velho jornalista e editor, observou que fala e texto são idiomas diferentes. Transcrição de fala não resultará em bom texto. Nosso amigo tecnófilo ignorou o argumento e comentou que com novas tecnologias o antigo texto tem mais mesmo é que morrer. Em outras palavras, num futuro bem próximo, NÃO será mais preciso saber escrever.

Como disse, não pretendo examinar muitos casos de “não é preciso mais”  que decorrem das novas tecnologias da informação e comunicação. O caso da escrita já é um bom ponto de partida para gerar reflexões. Exames de outros NÃOS serão necessários para que a gente saiba que habilidades estamos perdendo. Espero que muitos de nós não aceite o desfecho passivamente. Espero, por exemplo, que a escrita de boa qualidade ainda seja uma habilidade respeitável no próximos tempos, mesmo que algum aplicativo consiga escrever por nós.

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PLATO: uma revolução educacional

novembro 27, 2017

 

plato

Acabo de ler resenha de livro recente sobre o PLATO (Programmed Logic for Automated Teaching Operations), um sistema que, por meio de terminais, permitia usos compartilhados de softwares educacionais. O PLATO, baseado em grandes computadores, acabou sofrendo concorrência das iniciativas que resultariam na internet. A resenha examina tal questão e tem como alvo aspectos tecnológicos, não examinando virtudes e defeitos do uso educacional de computadores inaugurado pelo PLATO.

Quando estudei, em 1983, Computer Education no meu mestrado em Edtech na San Diego State University, o PLATO já era coisa do passado. Os computadores pessoais começavam a ocupar a cena e a gente trabalhava com o Apple IIe. Mas, de certa forma, o PLATO estava muito presente em nossa formação. Muitos software educacionais criados para o velho sistema eram ótimos e foram adaptados para computadores pessoais. Uma dessas adaptações aconteceu com um program de simulação em história da Mesosamérica, o Aztlan. Anos depois, minha equipe do Programa de Informática e Educação produziu uma versão do Aztlan para o português. Nossa versão fez grande sucesso entre os educadores que começavam a experimentar uso de computadores em educação na segunda metade de 1980. Cumpre notar que as versões originais do PLATO eram, geralmente, mais sofisticadas que as versões que foram produzidas para computadores pessoais.

Interessados pela matéria sobre o PLATO podem ir até clicando aqui.

Santo e Luigia Barato

novembro 1, 2017

A qualidade da imagem não é das melhores, mesmo assim trago para cá registro da chegada de meus bisavós italianos, Santo e Luigia Barato, à cidade de São Paulo em 19/12/1890. Neste dia eles deram entrada na hospedaria dos imigrantes. Alguns dias depois seguiriam para uma fazenda de café na Serra da Mantiqueira, região de Guaxupé, MG. Não tenho dados muito seguros de onde moraram. Sei que na última fase da vida eles estavam em Itirapuã, SP, onde tinham um pequeno sítio. Meu bisavô descansa no cemitério dessa pequena cidade paulista. No mesmo túmulo está meu avô, Luis Barato, e meu pai, Joaquim Santos Barato.

Fotocópia de registro da passagem de Santo e Luigia Barato pode ser encontrada no site do Museu do Imigrante. Vejam a imagem aqui.

 

 

santo barato