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Educação cooperativa em Waterloo

janeiro 20, 2014

waterloo

Semana passada postei no meu Face uma notícia sobre educação cooperativa na Universidade de Waterloo, Canadá. Minha postagem não entrava em detalhes. Resolvi, por isso, escrever um informe mais completo. Para tanto, reli meu relatório sobre uma atividade da qual participei no Canadá em 1998. Aproveitei parte do que escrevi na época. Fiz uma boa revisão e acrescentei algumas informações complementares. Creio que este post passa uma informação bastante clara sobre a educação cooperativa praticada pela Universidade de Waterloo, uma das cinco melhores instituições de ensino superior do Canadá.

Um dos tópicos do evento “Desenvolvimento de Recursos Humanos: O Modelo Canadense”, promovido pela OIT, de 14 a 22/09/98, foi Educação Cooperativa. Esta modalidade de organização do processo educacional foi exemplificada a partir da experiência da Universidade de Waterloo.

 

A ideia de educação cooperativa, surgida em 1906, é praticada principalmente nos EUA, Canadá e Reino Unido. Ela envolve um “currículo” que alterna fases acadêmicas com fases de trabalho, resultando numa formação mais sintonizada com as demandas profissionais. Na Universidade de Waterloo, o sistema de educação cooperativa funciona desde 1957. Hoje (1998), cerca de 9.000 estudantes daquela universidade são alunos de educação cooperativa. O sistema envolve um plano de estudos dividido em fases acadêmicas e períodos de trabalho. Em engenharia, por exemplo, Waterloo utiliza um quadro de estudos com seis períodos de trabalho e oito períodos acadêmicos. Convém reparar que os módulos sucessivos de períodos de trabalho e períodos acadêmicos criam um calendário inteiramente diferente do calendário escolar (Não há férias escolares ou recesso em educação cooperativa).

 

Cabe observar que o modelo de educação cooperativa não se confunde como modelos que incluem estágios curriculares. Os alunos de Waterloo, nos períodos de trabalho, são contratados como funcionários das empresas, com todos os direitos e deveres de um trabalhador comum. Eventualmente, se as empresas participantes precisarem contratar serviços em vez de pessoas, a própria universidade pode ser a agência empregadora. Espera-se que os alunos, nos sucessivos períodos de trabalho, assumam responsabilidades e tarefas cada vez mais complexas, articulando progresso nos estudos com exercício profissional.

 

A Universidade de Waterloo engloba dois tipos de cursos: exclusivamente cooperados (caso das engenharias, por exemplo) e mistos, onde há turmas tradicionais e cooperados (situação que ocorre principalmente em ciências humanas).

No regime de educação cooperativa, encontrar trabalho é, em primeiro lugar, responsabilidade do aluno. A Universidade atua com uma estrutura de apoio (uma diretoria no campus e escritórios nas principais cidades canadenses). Tal estrutura age como intermediária entre alunos e empresas. Eventualmente, como já se registrou atrás, a universidade pode funcionar como agência empregadora desde que existam empresas que precisam contratar serviços. Além disto, a diretoria de educação cooperativa promove continuamente o regime de Waterloo e firma convênios com empresas ou órgãos governamentais interessados em contratar alunos da Universidade.

Em cursos que procuram capacitar pessoas para o trabalho, as vantagens da educação cooperativa são evidentes. Entre outras coisas, o sistema:

 

·         aproxima as empresas da instituição educacional;

·         proporciona experiência profissional durante o curso;

·         articula de modo concreto trabalho e aprendizagem

·         garante uma atualização constante dos conteúdos curriculares;

·         sugere diversos possibilidades inovadoras de organização das situações de ensino-aprendizagem;

·         dinamiza o processo educacional a partir das experiências de trabalho dos alunos;

·         cria, nas empresas participantes, um clima de inovação nos setores que contam com trabalhadores-estudantes;

·         traz para as empresas participantes informações atualizadas e imediatas, elaboradas por pesquisadores e especialistas;

·         facilita a seleção de talentos nas empresas;

·         forma jovens com experiência diversificada;

·         facilita avaliação constante dos cursos oferecidos pela instituição educacional;

·         desperta nos docentes  o interesse por uma atualização constante.

 

Todas essas vantagens, e muitas outras que poderiam ser listadas, decorrem de dinâmica que pode modificar substancialmente as estruturas escolares. Cursos organizados desde a ótica da educação cooperativa devem, necessariamente, abandonar boa parte daquelas práticas  que caracterizam negativamente as escolas. Todo o conteúdo deverá ser atualizado. O aluno não será mais alguém interessado em preparar-se para um trabalho que faz parte da sua formação. Além disto, não será necessário inventar situações de aplicação do conhecimento; as idas constantes dos alunos ao mercado de trabalho trarão para as escolas diversas alternativas de aplicação do saber. E tudo isto não precisa ser planejado em detalhes, basta existir uma boa estrutura que garanta articulações da instituição educacional com as empresas.

 

Vale comentar um pouco mais a última observação do parágrafo anterior. Há, nos dias de hoje, um movimento significativo na busca de métodos capazes de garantir maior congruência entre capacitação profissional e demandas do mercado de trabalho. No Canadá, assim como em boa parte dos países do primeiro mundo, estudos sobre competências por áreas ou grupos ocupacionais são a principal resposta ao problema da congruência. Supõe-se que competências, amplamente pesquisadas e objetivamente descritas, sejam matéria  prima indispensável para a realização de exames nacionais de certificação e para o desenho de currículos de formação.

 

No caso do Canadá, cada grupo ocupacional pesquisado é descrito por um repertório de 300/400 competências. Cada pesquisa dura de um a dois anos. Assim, mesmo com ênfase em setores ou áreas em vez de ocupações, com a consequente redução do número de perfis ocupacionais (de cerca de 5000 para uma cifra em torno de 500), estudos sobre competências exigem grande investimento de tempo e dinheiro. Além disso, as pesquisas no geral descrevem um momento do passado. Não são, portanto, muito confiáveis como descritores do trabalho no futuro. O regime de educação cooperativa, por sua vez, exige apenas a organização de cursos que articulem educação e trabalho de modo sistemático em blocos sucessivos de atividades acadêmicas e de engajamento produtivo no mercado de trabalho. Esta providência, aparentemente simples, garante a atualização constante de conteúdos e acesso, por parte do estudante, às demandas ocupacionais das empresas.

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Universidade a Distância

janeiro 20, 2014

Fui convidado em 1998 para falar sobre universidade a distância. O assunto não era algo que eu soubesse bem. Fiz então uma exploração do tema usando a rede mundial de computadores e construi o roteiro de conversa que apresento a seguir.

UNIVERSIDADE A DISTÂNCIA

(Roteiro)

 

¨      Não sou um especialista. Entendo de novas tecnologias em educação, mas não milito na área de educação a distância. Por isto, resolvi estudar a matéria, tendo em vista esta apresentação. E resolvi fazer este estudo utilizando exclusivamente a INTERNET, a famosa rede de informações que permite contato instantâneo com diversas fontes em quase todas as partes do mundo.

¨      Comecei meus estudos utilizando um recurso de procura, o Yahoo. Digitei a expressão Distance Learning e obtive uma lista de milhares de fontes, a maioria nos EUA e muitas outras no Canadá e Europa. Poucas na América Latina e algumas na Austrália. Muitas das coisas citadas eram mais venda a distância que educação a distância. Muitos produtores de materiais didáticos eletrônicos estão usando a rede internacional de computadores para criar vitrines de seus produtos. Nada contra. Mas não era o que eu estava procurando.

¨      Optei por algumas alternativas que poderiam me fornecer dados mais significativos. Neste sentido, viajei um pouco pelos seguintes lugares:

      Espanha (Universidade de Madrid e institutos espanhóis de educação a distância).

      AT&T, uma das multinacionais das telecomunicações que tem um programa especial sobre Novas Tecnologias e Educação a Distância.

      Universidade Aberta da Inglaterra

      Universidade de Newcastle, no norte da Inglaterra.

      Departamento de Tecnologia Educacional de San Diego State University.

¨      Ao utilizar apenas esta pequena mostra de endereços da Web ( a grande teia de edição eletrônica de tudo que a gente pode imaginar em termos de informação) aprendi algumas coisas que vou relacionar aqui, voltei a ser aluno da San Diego State University e  comecei a fazer um curso na Universidade de Newcastle.

¨      Ao entrar nos endereços da San Diego, descobri que poderia estudar de novo uma matéria chamada JOB AIDS. Mas além de estudar , eu poderia fazer exercícios e testar a minha compreensão do conteúdo. Minhas respostas e comentários foram “corrigidos” e avaliados imediatamente. Além disto eu pude copiar toda a matéria na minha impressora.

¨      Ao entrar na Newcastle pude verificar como estão alguns departamentos que eu já conhecia. Vi  programas de estudo 96/97 e mostras de conclusão dos trabalhos de alunos dos cursos de Design Gráfico e Design de Moda. Além disso matriculei-me em um curso dado inteiramente via INTERNET. Um curso, aliás, que ensina como utilizar a rede internacional de computadores…

¨      Vi pouca coisa na Espanha. Mas lembrei-me que a Universidade de Madri já faz educação a distância desde o século passado. Por volta de 1910, Antonio Machado, um dos maiores poetas do século XX, começou seus estudos universitários na Universidade de Madri. Ele não ia à escola. Seguia um roteiro de estudos. Eventualmente enviava correspondências a seus professores. E mais eventualmente ainda comparecia a Universidade para contatos pessoais com seus orientadores. Machado começou seus estudos universitários aos 54 anos de idade…

¨      Na Universidade Aberta da Inglaterra encontrei argumentos contra a idéia de educação a distância. Inicialmente os ingleses pretendiam criar uma instituição a distância. Mas no processo de inventar um novo modo de fazer educação acabaram criando a UNIVERSIDADE ABERTA. Parece que este é um conceito muito mais rico. Volto a ele no final desta comunicação.

¨      Na AT&T encontrei bastante informação sobre projetos que a empresa desenvolve com diversas universidades americanas. Mas, no final do processo, resolvi aproveitar o serviço de artigos que a AT&T fornece aos usuários de sua página Web sobre educação a distância. Escolhi quatro artigos. Imprimi-os para estudá-los no papel de modo mais tranquilo e tradicional.

¨      Resumo aqui esta minha aventura de procurar na INTERNET informação sobre Educação a Distância:

      consultei um recurso de procura;

      recebi uma lista imensa de fontes;

      constatei que muitas fontes eram dispensáveis;

optei por uma mostra pequena de organizações em três partes do mundo: Espanha, EUA e Inglaterra;

      “virei” estudante de duas Universidades,  uma nos EUA, outra na Inglaterra;

      descobri, na história da Universidade Aberta e nos artigos da AT&T, que o conceito de educação a distância é muito limitado.

¨      Tudo isto retrata como está a questão da educação a distância neste momento. A idéia mais básica neste campo é a idéia de COMUNICAÇÃO. O modelo  escolar que conhecemos insiste numa comunicação dentro do limitado espaço da sala de aula ou do laboratórios. Mas a comunicação hoje está eliminando espaços físicos e privilegiando determinadas vias de informação. Vias de informação, aliás, que ao eliminarem a necessidade de espaço eliminam também a idéia de distância. Não estou fazendo um curso a distância na Universidade de Newcastle. O computador que está controlando meus estudos está a mais de 12.000 quilômetros de São Paulo, mas eu tenho acesso imediato “às aulas” e minhas “provas” são corrigidas no ato.

¨      Há um entendimento tácito de que educação a distância é uma opção que elimina todas as coisas aborrecidas que acontecem na escola. Há também um entendimento de que tal educação favorece mais os indivíduos que querem aprender em ritmo próprio. Estas idéias são muito limitadas. Eles ignoram sobretudo que educação é uma relação (gente só aprende com gente, não com experiência e informações acumuladas de modo individualista). Por esta e por muitas outras razões e melhor falar em UNIVERSIDADE ABERTA.

¨

Docentes, Valores e Educação Profissional

janeiro 19, 2014

Para interessados, trago para cá relatório parcial de estudo que estou fazendo sobre Valores, Trabalho e Educação Profissional:

Relatório 6 docentes

 

Internet em 1981

janeiro 16, 2014

Usamos a internet. Mas, não costumamos pensar nela como novidade. Parece que a rede mundial de computadores esteve sempre aí, disponível, rica em informações. Mas, a coisa não é bem assim.

No vídeo que trago para cá, editores e outros envolvidos em tramas informativas na cidade de São Francisco comentam e mostram as possibilidades informativas da internet no ano de 1981. Tudo parece muito precário. O acesso ainda era feito por meio de telefone. E, para tal, era preciso utilizar um aparelho de telefone para estabelecer a conexão. Na tal, aparecem processadores de textos sem muita beleza, quase toscos. O entusiasmo dos envolvidos, porém, é grande. Há muita esperança quanto às vantagens de comunicação espontânea que a rede de computadores pode oferecer.

Tudo é muito diferente do que temos agora. Ou, talvez não, pois apesar das telas feinhinhas e das dificuldades para se conectar, a semente do que temos agora já estava viva.

http://www.wimp.com/theinternet/

Tecnologia na escola

janeiro 3, 2014

O pensamento hegemônico acha que o primeiro passo do ingresso de novas tecnologias na escola é a compra de equipamentos, se possível, os mais modernosos que o mercado pode oferecer. Esse é um raciocínio infeliz. Lembro-me de um velho artigo, publicado há uns quarenta anos por uma revista popular de tecnologia da computação, mostrando que em algumas escola computadores estavam funcionando como porta bonés. Depois de comprados, as escolas não conseguiam descobrir usos eficientes para as maquinetas em termos de aprendizagem.

Equipamentos são importantes? São. Mas, não trazem por si sós qualquer mudança significativa no panorama educacional. Antes deles vem o engenho e arte dos educadores. Vem a imaginação, componente essencial de qualquer proposta tecnológica na escola ou em qualquer outra instituição social. Já escrevi longamente sobre isso num artigo que foi publicado por Quaderns Digitals.

Acabo de ver e recomendo excelente artigo de David Thornburg sobre o assunto. Não deixem de ler:

Educational Technology’s Wild Card