Archive for março \31\+00:00 2011

O laboratório de computadores na escola

março 31, 2011

Hoje, ao ler matéria indicada por @profteresapapel o iPad na sala de aula: http://ow.ly/4qEuj – lembrei-me de velho texto de Gavriel Salomon: O Laboratório de computador: uma má idéia, hoje santificada. Muita coisa mudou depois que Salomon escreveu esse artigo. Mas, o fundo da questão, o otimismo bobo de tecnófilos, continua atualíssimo. Assim, acho que ainda vale a pena ler as considerações do autor sobre Lapislogia e suas relações com um espaço nobre para computadores na escola.

Salomon é pesquisador no campo das ciências do conhecimento. Criou, entre outras coisas, referências importantes para estruturação de modelos computacionais que podem ser de muita ajuda na aprendizagem. Coloco aqui figura da capa de obra editada por ele (tenho este livro e preciso re-estudá-lo assim que pintar oportunidade). Para mais informações sobre o citado livro, clique sobre a imagem.

Em rápida busca pela Internet, encontrei um texto curto de Gavriel Salomon sobre educação e valores. Reproduzo-o aqui. Num espaço bem pequeno, o autor diz coisas muito importantes.

GAVRIEL SALOMON Educating for Values

 

The truth is that we have quite a bit of expertise in the field of learning. But our expertise is limited to mainly scholarly learning, particularly the acquisition of facts, concepts, formulae and organized bodies of knowledge.

This kind of expertise we have is badly limited in three respects: (a) We know how information is acquired but know far less about how it is being transformed by the solo learner and by a team of learners into meaningful knowledge. Only recently have we come to realize that information is not knowledge and that the acquisition of the former is hardly a necessary and surely not a sufficient condition for the latter. (b) We know even less about ways of turning knowledge into usable, rather than inert knowledge. (c) Most importantly, though, is the fact that we know how intellectual stuff is learned, but we know far less about acquiring human values and learning to live by them.

There is expertise out there about the acquisition of values through authoritarian indoctrination, on the one hand, and on the effects of life-long socialization, on the other. However, the former counters our own democratic values while the latter is not in the hands of educators. So, no wonder that the domain of value education is not one in which we have enough expertise.

It is quite obvious that the first two shortcomings mentioned above need to be addressed as soon as possible. But addressing the third is less self-evident. Indeed, it may well be the case that value education is a less developed area of expertise simply because it is of lesser importance nowadays. In a world where economic growth depends on the accumulation of knowledge which is then used in merciless competitions for survival and domination, thus, a world in which information, skill and knowledge reign supreme, what role do values play and what need is there for value education? In light of such questions, do we really need expertise in the field of value education? There is no question about the gruesome and inhumane nature of the September 11 events, but should they need to arouse a new concern for and interest in value education? The answer ought to be a clear and loud “YES!”.

We have created a most sophisticated and complex culture and a technology that far exceeds in its demands of us our built-in capacities. Our brain is still mainly that of a reptile (or, if we are to be more generous – that of a horse) with a very thin layer that makes us human. The parts that deal with emotions and values lag behind the intellectual ones. In the absence of social values we are like walking computing machines which are great in problem solving and poor in dealing with feelings, stress, and other human beings.

No wonder therefore that the very success (if success it is) of the Western society and its economical system contains the seeds of its own troubles, or maybe even – its own destruction. The so-called rational world of globalization, profit-above-all and each one for him/herself, is a world in which Society sheds most of its responsibilities towards the welfare of the individual. You need medical insurance? Go buy it! You need fire protection? Go become a customer of a private fire fighting company (however, too small a monthly premium will cover flames no taller than 15 feet). One feels left out by Society to struggle and survive on one’s own. And where Society sheds its responsibility and commitments towards its members, the members shed all responsibilities and commitments towards the Society as a collective. The result – as Robert D. Putnam describes it in his recent book Bowling Alone [1] : the loss of social capital, manifested in phenomena like NIMBY, alienation, lack of empathy, and decline in social interdependence. These are among the less welcome bedfellows of affluent societies. Educational systems that emphasize intellectual learning to the exclusion of social values, scholastic achievements at the expense of social commitments, and cognitive development without emotional maturity, do not cause the loss of social values, but they reinforce the social trends of alienation and exacerbate its consequences: Violence, indifference, and a self-serving approach to life.

The way the Americans have suddenly discovered each other and the community to which they belong and which was so badly hurt, attests to the fact that alienation can be replaced by values long neglected. But it sounds a bit sad that we have to wait for major disasters to bring social values back to life. If we knew how to help youngsters acquire socially useful values such as mutual help, caring, shared responsibility, striving for greater equality, interdependence instead of self-serving independence, and their likes, we might see a more humane society, perhaps poorer in monetary possessions yet richer in social capital. Such a society might also show greater compassion for the rest of the world that feels left out, oppressed, and exploited. It is that part of the world that breeds enough hatred to send human missiles into towers occupied by unsuspecting, innocent human beings.

Gavriel Salomon
Past dean and professor of educational psychology
Faculty of Education, University of Haifa, Israel
Co-director of the Center for Research on Peace Education
Israeli National Award 2001 for Scientific Achievements
in Educational Research

October 31, 2001

Publicidade

Lobato: debate mundo afora

março 30, 2011

Referências sobre diversas fontes que discutiram “censura” à obra de Monteiro Lobato, incluindo post deste Boteco, apareceram em diversos idiomas. Acabo de ver uma que começa da seguinte forma:

Eo am-pamakiana ity lahatsoratra ity, maninona moa raha mba mihaino ihany koa ny hira Yellow Woodpecker’s Ranch (Sítio do Pica-Pau Amarelo) [pt], feonkira mahazatran’ny tantara mitohy amin’ny fahitalavitra Breziliana nalaina tamina bokin’ny ankizy nosoratan’i Monteiro Lobato.

Não sei que idioma é este. Sei que o caso mereceu matéria extensa que pode ser vista na íntegra em:

Timidez na Escola

março 29, 2011

Acabo de ver pio de @profmichel, retuitando @NOVA_ESCOLA: “Como agir em sala de aula c/ uma criança tímida? Telma Vinha responde”. Copio a seguir a resposta da especialista em Psicologia Educacional de Unicamp.

Luci, inicialmente, eu procuraria saber se ela é tímida também em seus outros círculos. Na maioria das vezes, um estudante é quieto na escola, mas em casa, por exemplo, pode se mostrar à vontade. É preciso considerar, ainda, que alguns alunos são introspectivos sem que esse comportamento interfira em seu aprendizado e sua socialização. De qualquer forma, a criança que pouco interage precisa de intervenções construtivas. Ela considera demais o juízo do outro, mas no íntimo quer ser valorizada e reconhecida. Um ambiente de aprendizado acolhedor, aberto a diferentes opiniões, é benéfico para qualquer um, especialmente para ela. Evitar expô-la contribui para que se sinta seguro e aceita. É importante valorizar as tentativas de participação, descrevendo fatos e sentimentos: “Interessante, não tinha pensado nisso. Explique melhor a sua ideia”. Atividades em pequenos grupos e jogos cooperativos também ajudam na interação.

A resposta parece ver timidez apenas no plano psicológico. Mas, timidez pode ser também indicador de desconforto de alunos de classes populares diante dos valores escolares calcados numa visão de mundo que privilegia cultura da elite. Assim, para oferecer um contaponto ao modo como a questão é tratada pela especialista da Nova Escola, copio a seguir trecho escrito pelos rapazes de Barbiana em Carta a Uma Professora.

Há dois anos, no primeiro ano, a senhora me dava medo.

De resto a timidez tem acompanhado toda a minha vida. De menino não levantava os olhos do chão. Grudava-me nas paredes para não ser visto.

A princípio pensava que fosse mania minha ou quem sabe de minha família. Minha mãe é daquelas que se intimidam diante de um formulário de telegrama. Meu pai observa e escuta, mas não fala. Mais tarde acreditei que a timidez era mal dos montanheses. Os camponenses da planície me pareciam seguros de si. Os operários nem se fala.

Depois vi que os operários dão aos filhinhos de papai todos os postos de responsabilidade nos partidos e todas as cadeiras no parlamento.Portanto, são como nós. E a timidez dos pobres é um mistério mais antigo. Não sei explicá-lo, eu estou dentro dele. Talvez não seja nem covardia nem heroísmo. Acho que é só falta de prepotência.

Esse trecho sobre timidez, escrito pelos adolescentes da escola de Don Lorenzo Milani, me deixou muito impressionado. Ele é um alerta sobre a timidez dos pobres, sempre receosos de falar diante dos poderosos. A atitude não é, como pensam muitos, sinal de humildade. É, muito mais, sinal de medo. É sinal de algo que muitas vezes a escola ignora: ausência de uma educação que dê aos pobres a capacidade de dizerem a sua própria palavra.

O tema merece mais conversa, sobretudo a partir da crítica feita pelos rapazes de Barbiana à incapacidade dos professores em considerar as raízes da timidez dos alunos pobres.

Quem estiver interessado na Escola de Barbiana e no trabalho educacional de Don Lorenzo Milani, sugiro resenha de três livros sobre o assunto que pode ser encontrada em:

No frigir dos ovos

março 22, 2011

Acabo de receber, via e-mail, mensagem com um texto criativo, interessante e  engraçado. O autor elabora escrito cheio de metáforas que vêm da cozinha, da horta ou do armazém.

Bom texto para aulas de redação. Professores de português poderiam, a partir dele, propor desafios para escritos que explorassem metáforas em outros campos. Por falar em outros campos: que tal futebol?

Para quem tem formação acadêmica rigorosa, lê inglês, e quiser explorar metáforas mais a fundo, sugiro leitura de Metaphors We Live By, de Lakoff e Johnson.

Acho que o que mais interessa aqui é o texto que recebi. Assim, sem mais delongas, reproduzo-o a seguir.

Autor: Guaraci Neves

Pergunta:
Alguém sabe me explicar, num português claro e direto,
sem figuras de linguagem, o que quer dizer a expressão
“no frigir dos ovos”?

Resposta:
Quando comecei, pensava que escrever sobre comida
seria sopa no mel, mamão com açúcar. Só que depois de
um certo tempo dá crepe, você percebe que comeu gato
por lebre e acaba ficando com uma batata quente nas mãos.
Como rapadura é doce mas não é mole, nem sempre você tem idéias e pra descascar esse abacaxi só metendo a mão na massa.
E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente, mandar tudo às favas.
Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é de grão em grão que a galinha enche o papo.
Contudo é preciso tomar cuidado para não azedar, passar do ponto, encher linguiça demais. Além disso, deve-se ter consciência de que é necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe. Afinal não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos.

Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca de criança e vai com muita sede ao pote.
Mas como o apressado come cru, essa gente acaba falando muita abobrinha, são escritores de meia tigela, trocam alhos por bugalhos e confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão.
Há também aqueles que são arroz de festa, com a faca e o queijo nas mãos, eles se perdem em devaneios (piram na batatinha, viajam na maionese… etc.). Achando que beleza não põe mesa, pisam no tomate, enfiam o pé na jaca, e no fim quem paga o pato é o leitor que sai com cara de quem comeu e não gostou.
O importante é não cuspir no prato em que se come, pois quem lê não é tudo farinha do mesmo saco. Diversificar é a melhor receita para engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos, literalmente.
Por outro lado se você tiver os olhos maiores que a barriga o negócio desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta chorar sobre o leite derramado porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua empadinha, não. O pepino é só seu, e o máximo que você vai ganhar é uma banana, afinal pimenta nos olhos dos outros é refresco…
A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir plantar batatas. Mas quem não arrisca não petisca, e depois quando se junta a fome com a vontade de comer as coisas mudam da água pro vinho.
Se embananar, de vez em quando, é normal, o importante é não desistir mesmo quando o caldo entornar. Puxe a brasa pra sua sardinha, que no frigir dos ovos a conversa chega na cozinha e fica de se comer rezando. Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata engorda..

Entendeu agora o que significa “no frigir dos ovos”?

Redação cooperativa: proposta interessante

março 9, 2011

Neste Boteco já escrevi diversas vezes sobre redação cooperativa. Meu ponto de partida para isso foi uma experiência que fiz com meus alunos. Tal experiência teve alguns desdobramentos criados por meus estudantes e por dois projetos de redação realizados em Portugal. Para refrescar minha memória e memória de alguns sócios aqui da casa, seguem alguns links de posts e páginas deste estabelecimento:

Hoje vi num blog espanhol informação sobre atividade bastante parecida com minhas sugestões sobre redação cooperativa. Trata-se de um projeto que recebeu o nome de Construyendo Histórias. A construção de histórias no caso tem um estrutura definida e regras de como produzir cada um dos seis segmentos. As redações ocorrem num ambiente de blog e podem envolver alunos de diversos países.

Para quem quiser dar uma olhada na proposta, aqui vai o link:

http://abru5-6.blogspot.com/2011/03/propuesta-proyecto-colaborativo.html

Share ou não share

março 4, 2011

O título deste post é uma expressão que gente de comunicação usa com frequência. Ela se refere à fatia de público que provavelmente consome ou vai consumir a notícia-mercadoria, a mercadoria, ou a propaganda de uma mercadoria. Em resumo: ela é a síntese da comunicação que se tornou escrava do mercado.

“Share ou não share” é o título de uma música de Paco Bandeira, cantor português.

Posto aqui considerações sobre “Share ou não share” por vários motivos:

  1. Revelar minha ignorância musical mais uma vez.
  2. Divulgar o nome de Paco Bandeira.
  3. Destacar, mais uma vez, um blog que merece ser lido: De Rerum Natura.
  4. Colocar aqui vídeo que mostra Paco Bandeira cantando a dita música.
  5. Divulgar a letra de “Share ou não share”.

Vamos ao primeiro item. Nunca tinha ouvido falar de Paco Bandeira. Ele é um importante cantoautor luso. Mas, como canta no idioma de Camões, não temos o privilégio de vê-lo divulgado por nossa mídia tupiniquim. Não preciso de muito falar sobre o segundo item. Este post inteiro divulga o nome de Paco Bandeira.

Vamos nos deter um pouquinho no terceiro item. Fiquei sabendo da existência de Paco Bandeira por causa de um post do De Rerum Natura, blog de um grupo português cuja finalidade maior é a de promover a razão, essa esquecida em nossos tempos de volta a crenças supersticiosas. Ler esse blog lusitano é sentir sempre um sopro de inteligência de gente que faz e vive ciência.

Inverto a ordem das coisas. Vou ao item 5. Aqui está a letra de “Share ou não share”:

«Viva Portugal do “deixa andar”
Viva o futebol cada vez mais
Viva a Liberdade, viva a impunidade
Dos aldrabões quejandos e que tais
Viva o Tribunal, viva o juiz
E paga o justo pelo pecador
Viva a incompetência, viva a arrogância
Viva Portugal no seu melhor

Refrão:
Viva a notícia, da chafurda social
De que o Povo tanto gosta
Espectáculo da devassa
Viva o delator sem fuça
É a morte do artista

Viva a pepineira do «show-off»
Dos apresentadores de televisão
Viva a voz do tacho de quem vem de baixo
Do chefe do ministro do patrão

E viva a vilanagem financeira
E a licenciatura virtual
Viva a corretagem, viva a roubalheira
Viva a edição do «Tal & Qual»

Refrão
E viva a inveja nacional
Viva o fausto, viva a exibição
Da dívida calada, que hoje não se paga
Mas amanhã os outros pagarão

Viva a moda, viva o Carnaval
olarilas, olarilolé
Viva a tatuagem, brindo à bebunagem
Que vai na Internet e na TV

Refrão
Calem-se o Cravinho e o bastonário
O Medina, o Neto e sempre o Zé
Viva o foguetório, conto do vigário
Que dá p’ra Aeroporto e TGV

Viva o mundo da publicidade
O «share» ou não «share» eis a questão
O esperto da sondagem, o assessor de imagem
Viva o fazedor de opinião»

Volto ao item 4.  Aqui está o vídeo:

Espero que alguém de comunicação passe por aqui e faça comentários. Há educadores que acham que um post como este nada tem a ver com tecnologia educacional ou educação. Afirmo que tem tudo a ver. Nossas últimas gerações são educadas muito mais pela mídia do que por escolas ou instituições parecidas. Assim, espero também comentários de profissionais de ensino.