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Curso técnicos prep p/ universidade…

agosto 24, 2021

Tempos atrás, o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, ao fazer propaganda de seus cursos técnicos, usava como argumento principal que seus alunos iam muito bem no ENEM. Nada a ver com a tradição da casa no campo da formação profissional. A propaganda apenas repetia uma verdade que todo mundo conhece: as escolas técnicas de boa qualidade são porta de entrada para as melhores universidades.

Notícia sobre ensino técnico no SENAC em jornal de Bauru:

“Em 2021, o Senac Bauru passou a ofertar o Ensino Médio Técnico em Informática, que integra a grade curricular do ensino médio a um programa de qualificação técnica em informática. O curso prepara o aluno para o Enem e o vestibular, e pode ajudar também a antecipar a entrada no mercado de trabalho, pois concede certificado de profissional técnico em TI.”

Reparem na ênfase dada a ENEM e vestibulares. Reparem no envergonhado “pode ajudar também…”.

Está aqui mais um argumento para minha velha tese de que a formação técnica deve ser pós secundária. Uso de cursos técnicos para adolescentes e jovens imberbes, em instituições que oferecem educação de qualidade, como degrau para ingresso em boas universidades não é novidade. Há um estudo clássico do Luiz Antônio Cunha sobre o assunto.

Perde-se muito tempo ensinando a esses jovens uma profissão que não lhes interessa. Os tais cursos deviam assumir sua função propedeutica sem o difarce da profissionalização. Nada tenho contra uma educação que bem prepare os alunos para enfrentar seleção de ingresso na universidade (pelo menos enquanto durar tal seleção…), embora eu seja contra os processos seletivos para tanto. Muito tenho contra investimentos em profissionalização para quem nela não está interessado.

Notícia completa sobre o curso técnico no SENAC de Bauru pode ser vista aqui.

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Mestres de oficina

agosto 24, 2021

Professores de formação profissional.Estou revendo texto que escrevi sobre atuação e formação de docentes em educação profissional e tecnológica. No escrito, sugiro nas entrelinhas que mestres de uma ofício, mesmo sem educação universitária e capacitação formal para o magistério, são os melhores docentes em oficinas. Mas, esses mestres estão desaparecendo das instituições de ensino e a legislação não permite que eles sejam docentes. Seu lugar está sendo ocupado por gente com formação superior, mas sem qualquer identificação com o ofício que supostamente ensinam. O problema é ignorado por acadêmicos que pontificam sobre formação de professores.

Não tinha intenção de escrever parágrafo tão longo para introduzir essa conversa. Mas foi preciso para situar o que segue.

Ao considerar o papel de mestres de ofício, me lembrei de experiência acontecida no Peru, década de 60/70. Uma ótima escola superior de administração preparou programa para pequenos empresários do Interior do país. Tal programa tinha como meta formar pessoas para modernizar os negócios em todos os aspectos. Para a missão foram preparados os melhores estudantes da instituição que partiram para os recantos remotos do país a fim de levar a boa nova da administração moderna. Os pequenos empresários frequentaram os cursos (tinham incentivos financeiros do governo para tanto). Resultado: retumbante fracasso. Os cursistas nada aprenderam.

Alguém teve a ideia de reformular o projeto. Em vez de estudantes universitários brilhantes para ensinar moderna administração dos negócios, este alguém sugeriu que pequenos empresários com sucesso no que faziam assumissem a docência. Isso foi feito. Resultado: grande sucesso no programa.Infelizmente, passado tanto tempo, não sei mais onde li o caso aqui contado. Será que alguém sabe?

Um exemplo de inclusão em educação

agosto 23, 2021

Sobre inclusão nas escolas.

Em 2014, em investigação que estava desenvolvendo sobre formação profissional e valores, projeto da UNESCO, estive numa turma de salgadeiros em escola do SENAI de Mato Grosso. O professor era um moço de vinte e poucos anos, sem formação universitária. As aulas aconteciam em torno de uma bancada de granito onde os alunos preparavam o salgado do dia. Quando lá estive era dia de pão de queijo. A massa estava semipronta. Era preciso prepara-la sobre a bancada e ir produzindo as porções que iriam ao forno.

Tudo correndo conforme o script esperado. Mas, havia na turma três cegos, um homem e duas mulheres. Segundo alguns intérpretes de situação como a que vi, seria preciso que o docente tivesse apoio de especialistas. Mas, ele não tinha. Tratava os alunos com deficiência visual com muita naturalidade, inventando modos de integra-los ao que estava sendo desenvolvido. O mesmo acontecia com os demais alunos.

Num primeiro momento, para um observador externo, seria difícil perceber que havia alunos sem visão naquela oficina de preparação de alimentos. Eu sabia desde o início que ali havia ali algo diferente porque a coordenação pedagógica me havia dito que a turma era muito especial por causa dos três alunos que não enxergavam. Para fazer as porções de massa que iriam ao forno, os alunos cegos teriam alguma dificuldade para separar quantidades adequadas para o trabalho. Precisavam de alguma pista. O jovem professor fez isso. Preparou tubos de massa suficientes para produzir várias porções de pão de queijo e os colocou frente a cada um dos alunos com problema de visão. Pediu a eles para manipularem aqueles tubos e os orientou para separar cerca de dois dedos de massa para cada porção. A partir disso deixou-os à vontade para fazerem a tarefa. Observei que os três alunos especiais estavam produzindo porções equivalentes às dos outros alunos. Além disso, produziam tanto ou mais que seus colegas.

Acampanhei outras iniciativas do docente para apoiar os alunos cegos. Ele fazia isso com naturalidade e sem prejuízo para aprendizagem dos demais. Estrevistei posteriormente os três aunos. Eles se sentiam perfeitamente integrados à escola e à turma dos salgadeiros. Uma das entrevistadas, mulher de cerca de 40 anos, me disse que usava com orgulho a camisa de uniforme do SENAI, pois era reconhecida como estudante no ponto de ônibus. Esse orgulho de voltar à escola na idade adulta foi observado por meu amigo Mike Rose nos EUA. É algo que emociona. E emociona muito mais quando a estudante é uma senhora que perdeu a visão aos 17 anos e voltou à escola naquele curso, vinte e três anos anos após abandonar o ensino médio.

Registro essa minha experiência para mostrar que o SENAI de Mato Grosso e o jovem instrutor do curso de salgadeiro viam a inclusão de alunos com necessidades especiais com muita naturalidade e encontravam caminhos para que alunos cegos pudessem participar da educação junto com outros alunos. Ao mesmo tempo, minhas observações e as entrevistas com os alunos cegos mostraram que os demais estudantes da escola (alunos de cursos de qualificação profissional, cursos técnicos e cursos tecnológicos) acolhiam sem problemas os alunos especiais. Vale finalmente registrar que os alunos cegos tinham rendimento igual ou superior aos demais.

Redigi este textão para mostrar que alunos cegos, surdos, mudos, cadeirantes etc.. não estorvam os demais. Eles, inclusive, oferecem lições de vida para os colegas. No SENAI de Mato Grosso, os três alunos cegos que entrevistei estavam educando seus colegas de escola de muitas maneiras.

Vinho da família

agosto 8, 2021

Gosto de bons vinhos. Tenho certa preferência pelos argentinos. E cultuo um tannat do Uruguai. Dos europeus, gosto mais dos italianos. Mas, com a inflação cada vez mais crescente e com o dólar que não para de subir, está bastante difícil encontrar vinhos de qualidade acessíveis. Enquanto isso, sonho com alguns vinhos que não posso mais comprar e com outros que não conheço, mas gostaria de experimentar. Entre eles, há os que levam o nome da minha família por parte do nono Santo Barato. Baratto é marca de uma vinícola da Austrália, e há um vinho italiano que também é Baratto. Quem sabe um dia eu possa degustar um Baratto australiano ou italiano.

Dia dos pais

agosto 8, 2021

Reproduzo obra de meu amigo Ary de Lazari. Ele, como eu, filho de pedreiro, resolveu produzir uma série de pinturas sobre o ofício do qual meu pai tinha muito orgulho. O profissional da foto lembra meu pai, magro, de chapéu, usando a colher, ferramenta símbolo de sua profissão. Este ano, meu velho chegaria aos 102. Partiu antes, perto de chegar aos 94. Era um artista no seu ofício, e com ele aprendi muito sobre a vida e sobre o trabalho.

Música e educação

agosto 2, 2021

Já abordei o tema aqui outras vezes. E o fiz a partir de um precioso livrinho que fala de uma bela experiência de introdução de música no ensino fundamental. O livro a que me refiro é “A well-tempered mind: using music to help children listen and learn”. Para informação sobre o conteúdo dessa obra, pode ser útil visitar resenha do livro, num escrito que produzi em 2008.