Acompanho no Twitter mensagens do meu amigo Bernie Dodge dizendo que estudos recentes mostram que métodos baseados em estilos de aprendizagem são uma balela (a crock).
Estudo recente, Learning Styles: Concepts and Evidence, realizado por Harold Pashler , Mark McDaniel , Doug Rohrer , e Robert Bjork e publicado pela revista científica Psychological Science, mostra que a literatura sobre métodos baseados em estilos de aprendizagem carece de validade científica. Para economizar explicações, copio declaração dos autores do artigo em foco:
The authors of the present review were charged with determining whether these practices are supported by scientific evidence. We concluded that any credible validation of learning-styles-based instruction requires robust documentation of a very particular type of experimental finding with several necessary criteria. First, students must be divided into groups on the basis of their learning styles, and then students from each group must be randomly assigned to receive one of multiple instructional methods. Next, students must then sit for a final test that is the same for all students. Finally, in order to demonstrate that optimal learning requires that students receive instruction tailored to their putative learning style, the experiment must reveal a specific type of interaction between learning style and instructional method: Students with one learning style achieve the best educational outcome when given an instructional method that differs from the instructional method producing the best outcome for students with a different learning style. In other words, the instructional method that proves most effective for students with one learning style is not the most effective method for students with a different learning style.
O estudo coordenado por Harold Pashler, professor da Universidade da Califórnia em San Diego, mostra que o entusiasmo dos defensores das abordagens metodológicas adequadas para cada tipo de aprendizagem não é confirmado cientificamente. Um bom comentário sobre a matéria aparece em artigo do The Chronical. Na citada matéria aparecem opiniões dos mais afamados pesquisadores de estilos de aprendizagem. Alguns deles não aceitam os resultados do estudo de Pashler. Outros admitem que não há há uma passagem mecânica do reconhecimento de que as pessoas podem ter diferentes estilos de aprendizagem para a adoção de métodos específicos de ensino.
Nos comentários do Bernie e nas matérias sobre o artigo publicado em Psychological Science, há observações de que métodos voltados para estilos de aprendizagem fizeram furor nos meios educacionais e de desenvolvimento de recursos humanos. Neste último nicho, sempre sintonizado com gritos da moda, estilos de aprendizagem acabou virando uma palavra de ordem, um artigo de fé. Parece que agora, a moda que consquistou muitos pedagogos e treineiros tem uma oposição séria e bem fundamentada. Já era hora.

Método é antes de tudo uma função de tipos de conhecimento. Em outras palavras, mais que particularidades dos aprendizes, o que mais importa em processos de ensino-aprendizagem é a natureza do saber que precisa ser apropriado pelas pessoas. Essa orientação tem como base a convicção de que compartilhamos certas características de nossa espécie. Em outras palavras, qua homo sapiens, todos nós percorremos caminhos equivalentes para aprender os tipos de conhecimentos historicamente desenvolvidos pela humanidade. Isso, de certa forma, nos iguala e, por outro lado, não nega nossa individualidade. Podemos ter e temos estilos pessoais de aprender, mas essas qualidades individuais não se sobrepõem a tipos de saber.
Não há aqui espaço para mais escrever sobre o assunto. Mas quero ainda fazer uma observação. A discussão sugerida pelos comentários do Bernie é central no campo da tecnologia educacional. É muito mais importante, por exemplo, que conversas sobre qual plataforma escolher para cursos de EaD. O centro da tecnologia educacional não é constituído por artefatos. Ele é constituído por conversas sobre quem somos nós, como aprendemos, que saberes elaboramos. Sem essas conversas tecnologia educacional não faz sentido.