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Muitos caciques para poucos índios

junho 26, 2014

Nos anos de 1980, o pesquisador Martin Carnoy fez uma observação interessante sobre seu filho. O rapaz tinha acabado de concluir o curso de história na famosa Universidade de Berkeley. O que poderia fazer com a formação recebida? Nada. Se ele quisesse trabalhar, suas chances maiores eram as de ser entregador de pizzas ou atendente de posto de gasolina. E o diploma universitário? Segundo o pai, o documento apenas atestava que o filho sabia mais história que a média dos americanos. Para profissionalizar-se, o novo historiador precisaria cursar dois anos numa faculdade de educação antes de se candidatar ao cargo de professor na rede escolar da Califórnia, ou de investir cinco anos em estudos de pós-graduação para vir a ser um pesquisador na área.

O caso do filho de Martin Carnoy ilustra uma crescente “desprofissionalização” dos cursos superiores nos Estados Unidos. Muitas são as explicações para o fenômeno: encolhimento do mercado de trabalho, desejo crescente da população por mais educação, aumento da idade de ingresso de jovens em atividades produtivas etc. Não interessa aqui entrar no mérito dessas causas. Interessa, porém, constatar que um percentual expressivo dos cursos superiores se converteu numa continuação da educação geral do cidadão, sem qualquer compromisso imediato com o trabalho.

Será que isso também está acontecendo no Brasil? Parece que sim. O número de advogados e pedagogos formados que não exercem as respectivas profissões é grande. E isso não é conseqüência apenas de falta de planejamento ou de má qualidade do ensino. O que vem acontecendo no mundo todo, como observou o sociólogo Alberto Moncada no distante ano de1978, é que há muito mais gente com diploma superior que as necessidades do mercado de trabalho. E não há sinais de que esse movimento vá cessar. Sem perspectivas de profissionalização imediata, muitos cursos superiores convertem-se num item de “consumo”, importante do ponto de vista de status e de formação cultural.

Não há nada de errado com a tendência aqui apontada. Ela é o resultado de dinâmicas econômicas e sociais. O que há de errado, no caso, é a construção de expectativas de que a formação universitária é sempre o melhor caminho para o paraíso ocupacional.

Nos velhos tempos de oferta pequena de vagas nas universidades, esperar um bom emprego ou trabalho bem remunerado por causa do diploma universitário era uma esperança justificada. Hoje, isso quase sempre é uma ilusão. A maior parte dos formandos, se já estiver trabalhando, continuará a fazer o que já fazia antes do sonhado diploma.

Segundo Moncada, criar vagas escolares é mais barato que criar novos empregos. Os investimentos públicos são menores ainda quando a expansão escolar se dá sobretudo por meio da rede privada. Posso acrescentar que criar ensino superior não profissionalizante é muito mais barato que criar cursos de capacitação profissional de nível técnico vinculados a necessidades imediatas do mercado de trabalho. Essa é uma questão que precisa ser bem entendida por pais, jovens, mídia e elaboradores de políticas educacionais.

Dirigi uma escola que oferecia, entre outros, o curso de técnico em óptica. Cada turma desse curso comportava no máximo quarenta alunos. Por essa razão a escola tinha uma oficina de óptica com quarenta bancadas e dois outros laboratórios um de montagem, outro de aplicações computadorizadas. O custo de montagem de tais ambientes de ensino giravam em torno de US$500,000.00 (quinhentos mil dólares). Os avanços técnicos em óptica demandavam atualizações de equipamentos a pelo menos cada quatro anos. Na mesma escola havia outros cursos (técnico em prótese dentária, técnico em podologia, técnico em radiologia médica, técnico em farmácia etc.) com demandas parecidas de ambientes especiais de ensino. Com cerca de oitocentos alunos nos cursos técnicos, a referida escola tinha um parque de laboratórios muito maior, completo e atualizado que muitas universidades privadas da cidade de São Paulo. Vale reparar que essas universidades tinham em média cerca de dez mil estudantes.

Observo,mais uma vez, que não há nada de errado com os fenômenos aqui apontados. Erro há quando as leituras do que vêm acontecendo reforçam falsas esperanças com relação a emprego e trabalho.

É preciso fazer uma observação antes de seguir em frente. Os cursos técnicos de uns vinte anos para cá mudaram muito. Eles já não são mais cursos secundários para adolescentes. São programas de capacitação para jovens e adultos que concluíram o ensino médio. Pelo menos essa é a realidade numa das maiores redes de ensino técnico do país, o Senac de São Paulo, por exemplo. Os alunos de tais cursos técnicos são jovens na casa dos vinte anos (uma pesquisa nacional na década de noventa mostrava que a idade média de alunos do Senac em todo o país era 23 anos).

Os cursos técnicos aos quais estou me referindo concentram-se exclusivamente nos conteúdos profissionais. Não comportam assuntos como Introdução à Psicologia ou Introdução Sociologia. Quase tudo o que é ensinado acontece em ambientes nos quais o aluno produz alguma coisa (uma lente, uma prótese dentária, uma peça de uma máquina etc.). A formação completa do profissional dura cerca de um ano e meio. Os currículos são bastante flexíveis e as escolas não precisam seguir calendários semestrais ou anuais (os cursos podem começar e terminar em qualquer mês do ano).

Essa nova formação técnica, em cursos pós-secundários mas não universitários, tem muitas vantagens. Entre elas, merecem destaque: relação muito próxima com o mercado, capacitação de profissionais capazes de fazer, orientação didática voltada para o saber fazer. Além disso, os alunos que escolhem tais cursos têm maturidade e uma visão bastante clara das oportunidades de trabalho na área.

Há duas ameaças ao tipo de ensino técnico que descrevo aqui: 1. volta aos antigos cursos técnicos para adolescentes no ensino de nível médio, 2. migração das formações para o nível superior. No primeiro caso, volta-se para uma oferta de ensino que, em nome da qualidade, acaba sendo um bom curso para preparar os filhos da classe média para os concorridos vestibulares das boas escolas de engenharia. O fenômeno já foi estudado por Luis Antônio Cunha nos anos de 1970, numa pesquisa que mostra que boa parte dos formandos das escolas técnicas federais tinha como destino as escolas politécnicas. No segundo caso, o desejo corporativo por mais status e o uso de requisitos de mais estudo como elemento de controle para ingresso no mercado de trabalho acabam empobrecendo a formação técnica dos profissionais, uma vez que os currículos das faculdades tendem a privilegiar o “falar sobre” em vez do “fazer”.
O quadro que esbocei neste texto mostra a emergência de um novo ensino técnico que poderia ser melhor aproveitado pelos sistemas educacionais, pelos candidatos a emprego e pela economia do país. Mas ignorância e preconceitos acabam criando obstáculos nesse sentido. Uma das conseqüências é a interpretação de que o ingresso no paraíso dos bons empregos passa necessariamente pelas faculdades. Mas, como mostrei logo no início, o ensino superior vem desempenhando, cada vez mais, funções de educação geral, sobretudo nas áreas das ciências humanas. Não há nada de errado nesse movimento. As dinâmicas sócio-populacionais estão exigindo que as pessoas passem cada vez mais tempo nas escolas para não pressionar demasiadamente um mercado de trabalho que cresce de modo muito lento.

A sabedoria popular nos ensina que excesso de superiores gera situações em que há “muito cacique para poucos índios”. Ou seja, muita gente capaz de planejar, coordenar e gerir. Mas pouca gente capaz de fazer, produzir. Talvez seja hora de virar esse jogo.

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Melhores microcontos de 2012

junho 26, 2014

No final de 2012, selecionei um conjunto de microcontos que escrevi e publiquei no Facebook. Meus amigos do pedaço escolheram os melhores. A lista final dos escolhidos é a que segue:

 

>>> Cada vez que sua mulher retorna da visita semanal ao dentista, o marido nota que o sorriso dela está mais radiante.
>>> Depois que ele deixou a amante, seu casamento começou a desmoronar.
>>> Ao acordar na outra vida, o cachorro soube que estava no Inferno, pois não havia qualquer poste à vista.
>>> Expulsa do cardume por causa de suas preferências sexuais, a sardinha gay escapou da rede do pescador.
>>> Ela não é frígida; mas, nada sente porque ele acaricia com entusiasmo apenas suas próteses de silicone.
>>> Súbito calor derreteu o objeto da sua paixão. Tudo que ele amava naquela mulher era maquiagem.
>>> A bruxa que enfeitiçou o príncipe é uma sapa que foi beijada uma única vez na vida.
>>> Depois de quatro úlceras, o velho ainda engole desaforos, mas vomita-os antes da digestão.
>>> A repórter não mentia, ela apenas acrescentava qualidade literária ao seu texto.
>>> O doente terminal segura o gemido de dor para não acordar sua mulher, esgotada por excessos de dedicação e cuidados.

Intelectualismo e preconceito

junho 24, 2014

livro jarbasHá na praça  ideia de que o conhecimento é apenas intelecto. Essa ideia elimina do horizonte o saber fazer, reduzindo-o a mecânica fisiológica. Essa ideia alimenta preconceitos contra trabalhos que exigem habilidade manual.

No parágrafo anterior, introduzi o tema de outra questão que me foi feita em entrevista sobre meu livro Educação Profissional: Saberes do Ócio ou Saberes do Trabalho? Sem mais explicações, copio aqui pergunta e minha resposta.

• O senhor acha que habilidade substitui conhecimento?

Em meu livro procuro mostrar que habilidade é uma forma de conhecimento, não algo diferente ou resultante do mesmo. Em outras palavras, defendo a ideia de que aquilo que chamam de prática não decorre daquilo que chamam de teoria. Essa é uma ideia de difícil aceitação. Estamos tão acostumados a pares como teoria/prática e conhecimento/habilidade que propostas de uma mudança radical de modos de ver o saber são ignoradas.

Durante todos os anos em que andei investigando a questão, a maioria das pessoas me dizia que a solução seria uma integração de teoria e prática ou de conhecimento e habilidade. O que não conseguiam entender é que meus estudos mostravam que as velhas fórmulas eram inadequadas para descrever o saber humano.
Coloque sua questão no contexto da mecânica. Como parece que você aceita que habilidade não é conhecimento, provavelmente diria que conhecimentos de mecânica são um discurso tecnológico e científico dominado por engenheiros de escolas politécnicas. Habilidade, dentro do mesmo contexto, seria aquele domínio de fazeres por parte de um bom mecânico de automóveis. Para quem entregar um carro com problemas? Quase todo mundo não tem qualquer dúvida: leva o automóvel ao mecânico, não ao engenheiro formado pela Poli.

Quando a gente pensa um caso como esse fica muito difícil continuar insistindo na ideia de que o mecânico é apenas um profissional com grande perícia ou habilidade. O que ele faz certamente é conhecimento. Não ignoro que o engenheiro de nosso exemplo também tem conhecimento de mecânica, mas é um saber diferente do saber utilizado por profissionais que trabalham em oficinas de automóveis.
Em estudos contemporâneos sobre o saber humano costuma-se fazer algumas distinções que podem ser úteis aqui. Uma delas é a que estabelece diferenças entre o conhecimento declarativo e o conhecimento processual. O primeiro é constituído por proposições verbais que se encadeiam em estruturas lógicas capazes de explicar fenômenos e situações que nos cercam. Esse é um tipo de conhecimento que caracteriza o que chamamos de ciência. O segundo é aquele conhecimento que é constituído por uma série operações sequenciais utilizadas para se obter um produto ou resultado. Esse é um tipo de conhecimento ao qual damos o nome de prática, técnica ou habilidade. O primeiro explica o mundo. O segundo muda o mundo. O primeiro caracteriza o saber do engenheiro. O segundo, do mecânico.
Mais uma vez minha resposta precisa vir precedida de uma longa explicação. Você me faz uma pergunta com base num modo de pensar que rejeito em meu livro (o modo de pensar que acha, por exemplo, que o conhecimento precede temporal e psicologicamente a habilidade). O que procuro mostrar é que habilidade também é conhecimento. Ou, colocando as coisas com mais clareza, habilidade é conhecimento processual, uma forma de saber que independe do saber “científico”.

Educação e mercado

junho 23, 2014

livro jarbasEm 2006, a Editora SENAC.SP convidou um jornalista para me entrevistar. O objeto da conversa seria meu livro Educação Profissional: Saberes do Ócio ou Saberes do Trabalho? 

O jornalista não leu o livro e me fez aquelas perguntas que predominam  no modo como a imprensa  sugere conversas sobre educação, enfatizando questões econômicas. Respondi, por escrito e com muita paciência, as perguntas que ele me fez. Procurei não criticar as questões postas, quase sempre equivocadas. Vou trazer para cá a dita entrevista, publicando uma pergunta e respectiva resposta de cada vez. Começo com a pergunta sobre educação e mercado.

* Na sua opinião ainda existe uma lacuna entre a qualificação profissional e as
exigências do mercado de trabalho? Por quê?

Essa preocupação de relacionar qualificação profissional com demandas do mercado é um falso problema. Quem pensa desse modo acredita que é possível uma relação mecânica entre mercado e educação. Educação conseqüente não é uma preparação para um aqui e agora, é uma tentativa de preparar pessoas para um futuro incerto, dadas as muitas possibilidades que os homens têm de construir a história. Mercado é apenas uma indicação, não um destino ou fatalidade.

O importante em educação é pensar o potencial humano de produzir conhecimento e mudar o mundo (incluindo o mercado de trabalho). Sua pergunta parte do princípio que educação, sobretudo a profissional, deve estar a serviço do mercado. Não posso respondê-la, pois se o fizesse estaria me colocando ao lado de pessoas que têm a visão mecanicista que procurei situar no início de minha resposta.
É bom reparar que o argumento da lacuna entre mercado e qualificação profissional aparece principalmente em épocas de desemprego. Essa é uma forma sutil de culpar as vítimas pelo seu destino (o número de gente muito bem qualificada e desempregada em nossos dias, incluindo jornalistas, não é pequeno). As altas qualificações de que tanto se fala atualmente são requisitos apenas para um segmento muito pequeno do mercado de trabalho.

Os modos de produzir ficaram muito mais simples que as velhas formas de trabalhar para a maioria dos casos. Ou será que alguém acredita honestamente que montar sanduíches numa cadeia de fast food (assim como muitas outras funções criadas nos últimos tempos na indústria e em serviços) é trabalho que demanda qualificação profissional expressiva? Na verdade, o trabalho vem perdendo conteúdo na maioria dos casos.

O discurso da mudança contínua, de demandas tecnológicas aceleradas, de competências amplas e mutantes vale apenas, como disse, para uma elite de trabalhadores. E isso não é novo. Já nos anos setenta do século passado, o sociólogo espanhol Alberto Moncada nos informava que ocupações cognitiva e psicologicamente compensadoras representavam apenas dez por cento do mercado de trabalho. O resto eram oportunidades de um trabalho rotineiro e muito pouco exigente do ponto de vista de exercício da inteligência. Não há qualquer evidência de que as tendências apontadas por Moncada tenham mudado. Assim , ao contrário do que se diz, quando olhamos os grandes números o que acontece hoje é uma contradição que tende a aumentar cada vez mais: a escolaridade das pessoas avança significativamente e o conteúdo do trabalho regride de modo significativo. Infelizmente, a tendência analítica que aponta o problema que estou tentando colocar aqui mal é ouvida (este é o caso, por exemplo, da obra primorosa de Cláudio Salm, Escola e Trabalho, publicado no final dos anos setenta).

Prova de tecnologia educacional

junho 22, 2014

Entre os meus guardados, tenho provas que fiz para cumprir o dever de elaborar instrumentos que pudessem me ajudar a dar nota para os alunos. Eu nunca fui muito rigoroso em dar notas. Sempre utilizei critérios para que meus estudantes já partissem para a prova com nota 4, pois ninguém é ZERO. Nunca cheguei a dizer isso claramente para meus alunos. Eu partia da nota 4 como mínimo, o que tornava muito difícil a reprovação de quem eu avaliava. Neste post não vou conversar sobre avaliação. Vou apenas matar saudades, reproduzindo uma prova de tecnologia educacional que elaborei em 2006.

Tecnologia Educacional 4apgn
Avaliação Semestral

Universidade São Judas Tadeu
Curso de Pedagogia
Prof. Jarbas N Barato
Parte 1 (3 pontos)

Nas questões que seguem, escolha a melhor alternativa.

1. Atualmente, com a divulgação das novas TIC’s –Tecnologias da Informação e Comunicação – é comum um modo de pensar que pode ser chamado de instrumentismo. Esse modo de pensar pode ser caracterizado como:
___a) um entendimento de que os novos meios são “apenas ferrramentas” cujo uso depende de planejamento didático-pedagógico.
___b) a idéia de que basta adquirir e usar as novas ferramentas para que haja tecnologia no espaço escolar.
___c) a tendência de achar que o uso de novas ferramentas faz com que os alunos aprendam mais e melhor.
___d) a idéia de que usar ou não as novas ferramentas de comunicação é indiferente.
___e) a convicção de que os educadores precisam necessariamente utilizar as novas ferramentas.

2. Com as novas tecnologias da informação e da comunicação:
___a) passamos a contar com mais ferramentas para diversificar a comunicação dos conteúdos de conhecimento
___b) começamos a reorganizar os conteúdos e a estruturar maneiras inéditas de pensar
___c) podemos tornar a aprendizagem mais divertida, obtendo conseqüentemente melhores resultados
___d) passamos a enfrentar o desafio de maior dispersão e falta de atenção dos estudantes, dada a superficialidade dos novos meios
___e) assistimos a uma mudança radical no papel do professor.

3. Na história da educação, o deslumbramento causado pelo cinema oferece ótimo exemplo de erros de avaliação quanto ao papel que os novos meios de comunicação podem desempenhar em termos de aprendizagem. Isso fica muito claro em declarações de:
___a) Albert Einstein
___b) Henry Ford
___c) Thomas Edison
___d) Santos Dumont
___e) Emile Freinet

4. Cinema e TV, dos meios de comunicação que se desenvolveram no século XX:
___a) tiveram papel importante na educação escolar
___b) foram usados apenas por educadores inspirados pela Escola Nova
___c) ficaram restritos a programas de educação a distância
___d) educaram as pessoas fora dos muros escolares
___e) sofreram sérias resistência dos educadores

5. Visões negativas caracterizam os blogs como:
___a) forma de comunicação restrita a quem gosta de escrever
___b) publicações que incentivam promoção pessoal, superficialidade e fofocas
___c) instrumento de comunicação que exige muito conhecimento do funcionamento da Web
___d) moda passageira que não criará raízes no universo da comunicação humana publicações que incentivam promoção pessoal, superficialidade e fofocas
___e) produção muito trabalhosa, considerados os resultados de aprendizagem que proporcionam

6. Na linha de crítica ao instrumentismo, especialistas em tecnologia educacional chamam nossa atenção para o fato de tecnologia é:
___a) uma opção entre muitas outras
___b) é inteligência humana, não máquinas e equipamentos
___c) uso bem planejado dos recursos disponíveis
___d) opção que exige muita pesquisa do educador
___e) uso adequado dos novos meios de comunicação

7. O ingresso de novos meios de comunicação não tem efeito aditivo (antigo mundo + nova ferramenta). Há no caso mudança profunda comparável a:
___a) ruptura de paradigmas na ciência
___b) revoluções no campo do comportamento e dos costumes
___c) reformas substanciais na estrutura da educação
___d) alteração profunda de visão de mundo
___e) impacto ecológico de um novo organismo no meio ambiente

8. Especialistas preocupados com os rumos que a utilização dos novos meios de comunicação e informação vêm tomando, previnem-nos contra:
___a) a desumanização provocada pela tecnologia
___b) a idéia de que informação e conhecimento são sinônimos
___c) a perda de valores importantes promovidos pelas antigas tecnologia
___d) a idéia de que toda a aprendizagem precisa ser divertida
___ e) a ilusão de que os novos meios nos tornam mais inteligentes

9. Para serem usados com sucesso em educação, os blogs:
___a) precisam ser entendidos primordialmente como meios de comunicação com virtudes próprias
___b) devem ser replanejados para atender a finalidades específicas de aprendizagem
___c) precisam passar por uma atenta supervisão dos educadores para evitar superficialidades
___d) devem atender a orientações pedagógicas previamente definidas
___e) precisam ser produzidos de acordo com normas éticas e de bom gosto

10. Blogs, se usados como espaço de conversação, promovem aprendizagens não reguladas. Tais aprendizagens são conseqüência:
___a) da liberdade que o aluno ganha ao se tornar efetivamente um autor
___b) da experiência de redação que o aluno vai desenvolvendo à medida que publica seus posts
___c) da interação que vai acontecendo à medida que seus posts repercutem no ciberespaço
___d) das amizades virtuais que vão surgindo à medida que sua obra fica conhecida
___e) do efeito causado pela reflexão necessária à produção de suas mensagens

11. Blogs exigem produção textual. Mas não desenvolvem apenas redação no sentido tradicional. Eles são um instrumento importante para:
___a) familiarizar os alunos com o ambiente Web
___b) desenvolver sentimento de autoria
___c) desenvolver gosto pela redação
___d) aperfeiçoar estilo dos alunos-autores
___e) oferecer oportunidade para aprendizagens de produção hipertextual

12. Nas alternativas que seguem, assinale aquela que não corresponde a um entendimento correto do uso de blogs em comunicação e educação:
___a) eles (os blogs) são uma ferramenta para jovens
___b) para publicá-los, não é necessário muito conhecimento de informática, computadores e internet
___c) conversar, esta é a idéia central da produção e uso de blogs
___d) antes de usar, é preciso que os educadores compreendam a natureza comunicativa dos blogs
___e) ingressar na blogosfera é um meio de exercer cibercidadania

Parte 2 (4 pontos)

O mote de nossa disciplina este ano é a fórmula tecnologia = ferramenta + imaginação. Esse modo de pensar é um pouco diferente dos modos hegemônicos de ver o uso das novas ferramentas comunicativas no processo de ensino-aprendizagem. Explique, num ensaio de pelo menos vinte linhas de texto, as direções que a mencionada fórmula sugere para a atuação dos educadores.

 

Escola e Internet

junho 22, 2014

Reproduzo texto do meu amigo Bernie Dodge. É um escrito antigo, mas ainda muito atual.

 

Escolas, Habilidades e Andaimes na Internet*
Bernie Dodge
SDSU
A Internet e mais especificamente a World Wide Web, é sem dúvida a tecnologia mais comentada desde a invasão da televisão ocorrida após a Segunda Grande Guerra. Atualmente, mesmo os americanos mais tecnofóbicos ou mais excluídos sabem algo sobre ela, e ouviram mais de uma metáfora empregada para descrevê-la. Assim como aqueles cegos que examinavam o elefante, nós algumas vezes percebemos a Internet como uma auto-estrada, outras vezes como uma loja de jogos ou playground, outras vezes ainda como o mais atraente passeio de compras.

Desde um ponto de vista educacional, a Internet se parece com a maior biblioteca do mundo, ou pelo menos como a mais surpreendente livraria. Ela traz para as salas de aula uma imensa quantidade de informação, algumas delas mais frescas que o noticiário do jornal da manhã… outras enviesadas, outras apenas completamente erradas. Ao mesmo tempo (e de certa maneira relacionando-se com a qualidade da informação) a Web faz com que seja possível a todos, com acesso e habilidade, tornar público seu pensamento para uma imensa audiência. Não há editores, distribuidores ou gasto de grana com papel. Isso derruba os muros das salas de aula em ambas as direções: os alunos têm acesso a muito mais informação que nas épocas anteriores, e, ao mesmo tempo, têm uma imensa audiência para seus produtos.

Parece útil pensar então na Web, de ambos os lados de nossas escolas, como uma vasta fonte de dados e uma porta para milhões de leitores. O que está no meio disso tudo é a transformação da informação. Como é que isso tudo se compara com a escola tradicional dos longos e negros anos A. W. (Antes da Web)? Num certo sentido, as escolas parecem estar hermeticamente fechadas para o mundo exterior. As crianças ficam limitadas a livros e revistas da biblioteca escolar como fontes de informação, fontes que nunca são muito atualizadas nem profundas. Em termos de demonstração, a criatividade dos alunos não costuma ir além de uns cartazes pregados nas paredes de escola. E, nas piores salas de aula, a informação raramente foi transformada, na maior parte das vezes foi apenas gravada por tempo suficiente para se passar na prova.

O que faz nosso tempo uma ocasião muito interessante para o educador é a parte da entrada de informações (input) do modelo (de transformação de informação). Apesar da Web estar ainda na sua infância, nos já temos a oportunidade de analisar os mesmos dados que estão sendo trabalhados por cientistas ou operadores da Bolsa.

Nós podemos preparar experiências que requeiram o estudo de material que nossas escolas jamais poderiam comprar. Nós podemos mostrar-lhes museus, obras de artes e fotografias. Nós podemos afogá-los numa enchente de notícias mais detalhadas que as que podem ver na tela da TV em suas casas. De acordo com David Jonassen e associados, os contextos mais efetivos de aprendizagem são aqueles baseados em problemas ou casos, que engajam os alunos na situação requerendo deles a aquisição de habilidade ou conhecimento para resolver o problema ou manipular a situação.

Fazer o melhor uso de todos os novos inputs requer dos alunos certas habilidades; e no entusiasmo para trazer a Internet para a sala de aula, nós nos esquecemos de preparar os alunos para o trabalho. Isso pode nos levar para aquilo que podemos chamar de aprendizagem virtual, na qual os alunos estão muito ocupados explorando a Web ou conversando (via Internet) com especialistas distantes, mas não suficientemente preparados para aprender muito com a experiência.

Se há uma idéia chave nesta apresentação, ela é a de que os alunos de qualquer idade precisam ser apoiados (ajudados) na aquisição da habilidade de processar informação na medida em que integrarmos tecnologia às nossas escolas. O que distingue atividades excelentes de telecomunicações das apenas boas é o grau de apoio dos educadores no processo.

 

 
*Original: Schools, Skills and Scaffoldind on the Web
Tradução: Jarbas Novelino Barato
novembro/2002

 

Blogs e tecnologia educacional

junho 22, 2014

Em 2007 dei uma entrevista para a revista Mestre. Do que escrevi, em reposta às perguntas que me fizeram, pouca coisa foi publicada, apenas uma nota sob uma foto minha que ocupava uma página inteira da revista. O texto integral ficou entre meus guardados e eu até já tinha me esquecido dele. Hoje, vendo velhos arquivos, reencontrei a entrevista. Publico-a aqui na sua forma integral.

– Gostaria que você me contasse como foi a criação do Boteco Escola. O que originou a ideia.

 

Em 2005 comecei a trabalhar a questão do uso de blogs na educação com meus alunos do 4° ano de pedagogia. Durante dois anos utilizei uma abordagem semelhante à utilizada por Bernie Dodge, da San Diego State University, e David Carraher, da Universidade de Harvard, enfatizando a questão da escrita. Eu estava convencido de que blog é sobretudo um espaço que pode criar grandes incentivos para a escrita e a leitura. Mas não fiquei satisfeito com os resultados obtidos. Meus alunos, assim como os alunos do Bernie e do David, assumiram a tarefa de produzir blogs como um dever escolar. O resultado foram espaços burocráticos (feitos para ganhar uma nota, nada mais) e sem alma. Neste ano resolvi mudar,. Porém não sabia como. Por causa de minha insatisfação comecei a reestudar blogs nos campos da comunicação e da educação. E descobri uma coisa nova. Descobri que os blogs são sobretudo lugares organizados para promover boas conversas. Resolvi passar essa mensagem para os meus alunos.
Se a gente acredita em algo é bom dar exemplo. Por isso, em vez de apenas pedir a meus alunos que criassem espaços para conversas interessantes, resolvi criar um blog especial para conversar com meus estudantes e com educadores interessados em usos de meios para se comunicarem no ciberespaço. No começo a ficha não caiu. Eu estava fazendo um blog tradicional, apesar de saber que a maior atração da blogosfera é a conversa, o papo sem compromisso. Aí resolvi encontrar espaços de conversa que pudessem inspirar meu trabalho. E descobri que em nossa terra o melhor exemplo de espaço para bons papos é o boteco. Descobri mais coisas. Há muitos blogs inspirados pela idéia de que bares, botecos e tascas é um exemplo a seguir na construção de locais de encontro na blogosfera. Conseqüência? Meu blog passou a se chamar Boteco Escola. Estou cada vez mais convencido que o clima de liberdade, de bom humor, de amizade, de gosto de viver presente em bons botecos pode ser uma fonte de inspiração para os educadores.

 

– Você dá aula há quanto tempo?

 

Dou aula desde 1967. Comecei com professor do antigo ginásio e do curso normal. Mas fiquei fora do magistério durante bastante tempo (de 1972 a 1992), época em que exerci cargos de supervisão e direção no Senac de São Paulo. Em 1992 voltei à sala de aula, desta vez na universidade, lecionando de tecnologia educacional nos cursos de pedagogia e licenciatura. Mas mesmo nos meus tempos de supervisão e direção não deixei de todo o trabalho docente. Muitas e muitas vezes atuei como docente em cursos de formação em serviço para docentes do Senac, da Secretaria de Educação e de outras instituições.

 

– De que maneira trabalha para ajudar seus alunos a se interessarem por assuntos educativos na internet?

 

Me esforço muito para mostrar a meus alunos que tecnologia é uma articulação entre a ferramenta (a internet o computador, os softwares etc.) e a imaginação. Nesse sentido acho que simples uso da internet não produz bons resultados em termos de aprendizagem. Isso pode resultar em trabalho correto, mas sem encantar o aluno para que este mergulhe no mundo de conhecimentos que precisa aprender.
Navego bastante pelo ciberespaço procurando coisas novas ou conferindo espaços que já conhecia. Seleciono exemplos que podem ajudar meus alunos a melhor entenderem como utilizar a rede mundial de computadores. Às vezes, por exemplo, peço a meus estudantes para criarem suas próprias obras no SlideShare, aquele espaço da internet onde as pessoas podem compartilhar suas obras em Powerpoint. Outras vezes mostro recursos como o Geografhy Zone, um software que oferece bons desafios para a aprendizagem de geografia política e humana num clima de jogo. E assim por diante.
Meu trabalho principal no campo de tecnologia educacional relacionada com a internet, além de experiências com blogs, acontece sobretudo em projetos voltados para as WebGincanas (um modelo de organização da informação que estou desenvolvendo desde 2004) e para as WebQuests, a genial invenção de Bernie Dodge. Confesso que meus alunos nem sempre se entusiasmam com tais propostas. Mas não desanimo. Sei que usos imaginativos das novas ferramentas tecnológicas não são algo que se possa aprender num curso ou num projeto. Exigem muito mais. Exigem mergulhos profundos no mundo da comunicação humana.

– Já sofreu alguma retaliação por parte de seus colegas ou recebe mais apoio?

Não. Nunca tive problemas com colegas de magistério por causa de meu envolvimento com as novas tecnologias da informação e da comunicação. Na universidade, mesmo os educadores que não conhecem bem as novas mídias me incentivam muito e pedem para que eu apresente para os alunos mais alternativas de uso das ferramentas tecnológicas.

– Conte-me um pouco sobre suas principais crenças quando o assunto é educação.

 

Minhas convicções educacionais são muito parecidas com aquelas indicadas por Gardner num livrinho chamado The Disciplined Mind. Acho que a educação é uma atividade que deve promover três coisas importantes para a humanidade: a verdade, a beleza e a bondade. Podemos desenvolver verdade por meio de uma aprendizagem das ciências. Podemos desenvolver gosto pela beleza por meio de programas que ajudem nossos alunos a apreciar as grandes obras de arte criadas por gênios com Mozart, Aleijadinho, Portinari, Machado de Assis etc. etc. Podemos promover bondade por meio de programas que ajudem nossos alunos a crescerem em termos de educação moral. Não precisaria acrescentar mais nada. Mas ouso fazê-lo. Creio que educação é atividade que deve fazer com que as pessoas desenvolvam mais e mais suas capacidades para encontrar o sentido das coisas e o sentido da vida. O sentido das coisas está ligado à nossa capacidade de entender o mundo por meio da ciência. O sentido da vida está ligado às nossas capacidades de buscar sempre o melhor possível (busca ética), e de apreciar a beleza das coisas e das produções humanas (busca estética). Essas coisas simples são tudo que a gente precisa ensinar…

 

– Dados pessoais

 

Sou professor. Mestre em tecnologia educacional pela San Diego State University e Doutor em Educação pela Unicamp. Escrevi dois livros, um sobre tecnologia educacional, outro sobre educação profissional. Participei de diversos projetos de produção de softwares para e educação. Sou blogueiro velho e uso bastante o ciberespaço para conversar com educadores e gente de comunicação aqui no Brasil e em outras partes do mundo. E apesar dos atuais vexames da equipe, continuo a ser um devoto corintiano.

A escola que não frequentei

junho 17, 2014

No post anterior falei de minha escola primária, o Grupo Escolar Coronel Francisco Martins. Era um escola ótima e o acesso a ela era muito democrático.

Na minha infância, grande parte das crianças sonhava apenas em tirar o primário, um diploma de quatro anos de escola. Aprendia-se a ler, escrever e contar. E com isso, partia-se para a vida. No caso de Franca, partia-se para a fábrica de sapatos, destino ocupacional da maioria da população operária da cidade. Pobres não sonhavam em tirar o ginásio, os quatro anos de escolaridade para adolescentes  dos 11 aos 15 anos. Muito menos sonhavam com o colegial.

Para ingressar no ginásio era preciso passar no exame de admissão. Quem tinha recursos,  pagava um curso preparatório para os filhos. Quem não tinha buscava meios para que os filhos aprendessem uma profissão. Em 2006 escrevi sobre essa situação num artigo que recebeu o título de A Volta do Aprendiz. Logo na abertura do texto, eu descrevia nosso destino depois do grupo da seguinte forma:

Corria o ano de 1952 numa pacata cidade do Interior de São Paulo. A mãe operária entra numa oficina mecânica e conversa com o dono, seu Belloni. Uma prosa comum: a chuvarada do fim de ano, crise nos curtumes, briga dos velhos leiteiros com a usina, o padre novo da matriz. Já de saída, a mãe faz um pedido: “eu queria que o senhor arrumasse um lugar para o Tavinho aqui na oficina”. Seu Belloni diz que não sabe se tem vaga para mais um moleque. A comadre insiste: “não tem precisão de pagar nada para ele, a gente só quer que o menino aprenda o ofício”.

Tavinho ia completar doze anos. Tinha acabado de tirar o diploma do curso primário. Ir para o ginásio era impossível, pois a família não podia pagar o curso de admissão. Sobravam poucas saídas: trabalhar de engraxate na praça, vender doces da tia Olga de casa em casa, conseguir vaga de ajudante na oficina mecânica do seu Belloni ou na gráfica do Aristarco. Se nada disso fosse possível, o destino era a vida vadia até os quatorze anos à espera de emprego nas fábricas para ganhar um salário de menor.

Seu Belloni arrumou a vaga pedida, mas avisou que nada podia pagar. A família agradecida começou a sonhar com o ofício que o menino iria aprender. E os bons sonhos ganharam corpo e vida. Tavinho não só aprendeu o ofício como se tornou um operário da indústria automobilística. Hoje, aposentado, ele ainda trabalha na sua própria oficina mecânica ali na Barra Funda.

Não cheguei a sonhar com o ginásio. No quarto ano de grupo, meu professor, João Madureira, já nos havia dito que estávamos destinados à vida de trabalho. Ele, porém, nos disse que tal destino nada tinha a ver com inteligência. Nós éramos, segundo ele, tão ou mais inteligentes que os meninos que iriam para o ginásio. Nosso problema, nos dizia o bom Madureira, era a origem operária e a falta de condições de estudo em nossas casas.

As crianças pobres da década de 1950 já podiam ter acesso a boas escolas primárias. Mas, o ginásio e o colegial eram praticamente inacessíveis para elas. Vale dizer que em todos os casos estou falando de escolas públicas. Havia ginásios e colégios públicos de boa qualidade. Todos eles, porém, tinham quase que exclusivamente filhos de classes abastadas. Nós, para evitar ingresso precoce no mercado de trabalho tínhamos uma única saída: o seminário. Fui para o seminário.

A história que estou contando não é apenas um detalhe da minha biografia. Ela é um momento importante da história da educação no Brasil. Havia na época escolas de qualidade. Mas o acesso a elas era muito difícil. No campo e em cidades sem muitos recursos, os pobres sequer conseguiam cursar o grupo escolar de quatro anos. Por toda parte, os meninos pobres não conseguiam chegar ao ginásio.

Não vou me deter em análises sobre qualidade da educação e qualidade das escolas públicas. O tema é um assunto interessante, mas fica para outra ocasião. Por ora quero apenas terminar este post indicando o que foi que o motivou. No grupo Apaixonados por Franca do Facebook foi colocada uma foto do Instituto de Educação Torquato Caleiro, o IETC. Vi a foto e me lembrei que o IETC no meu tempo de menino não era para o meu bico. Só filhos de gente com dinheiro conseguiam entrar lá. Por isso ela foi uma escola que não frequentei. Para curiosos ou amigos que conheceram o IETC de Franca, segue aqui a foto que encontrei no Facebook.

ietc

Educação de pé no chão

junho 15, 2014

Trago para cá velha foto de um grupo de alunos da escola em que fiz o curso primário, o Grupo Escolar Coronel Francisco Martins, de Franca, SP. Não é coisa do meu tempo. A turma mostrada é da década de vinte do século passado, eu frequentei a escola na metade dos anos cinquenta. Tenho dois objetivos com a iniciativa: homenagear o velho Coronel e refletir um pouco sobre um detalhe da foto. Com o registro, minha escola da infância já fica homenageada. Vamos ao segundo objetivo.

Há na turma vários meninos de pés descalços. Certamente suas famílias não tinham recurso para comprar calçados. Eles iam para escola com os pés cascudos e grossos que, quando muito, viam uma botina na missa dos domingos. A constatação tem um lado triste e um lado alegre. A tristeza é a de que aquela molecada de pé no chão devia ser muito pobre. A alegria é a de que, apesar da pobreza, os meninos descalços tinham acesso à educação e conviviam com crianças de todas as extrações sociais.

No meu tempo, trinta anos depois, ainda havia muitos meninos descalços no Coronel. Eu era um deles. Faço este registro sem qualquer mágoa. O Coronel era uma escola muito boa e eu fiz um ótimo curso primário. Além disso, como os meninos pobres dos anos vinte, convivi com crianças de todos os segmentos sociais. No meu quarto ano, por exemplo, além dos muitos filhos de operários, nossa classe tinha filhos de donos de fábricas, de proprietário de um hotel, de médicos, de fazendeiros. Acho que essa diversidade não mais existe em nossas escolas públicas. Os filhos das classes abastadas estão hoje em escolas particulares.

Convido os leitores a olhar bem os pés dos meninos descalços. Não são pés compactos. Os dedos estão bem separados pois não foram formatados pelos sapatos. Olhem também as caras da meninada. Há brancos, há mestiços, há caboclos, há negros. Essa composição possivelmente ainda exista na escola pública. Mas, é improvável que ocorra na escola privada.

A contemplação da foto sugere muitas outras reflexões sobre educação. Convido os leitores a fazê-las, examinando detalhes desta foto histórica à beira do centenário. E, se quiserem colaborar com suas reflexões, registrem-nas aqui em comentários.

pé no chão

 

Vai ter copa

junho 13, 2014

vai ter