Archive for setembro \19\+00:00 2021

Crítica construtivista e linguagem

setembro 19, 2021

Predomina a ideia de que as palavras transportam o pensamento. Neste sentido, o bom leitor é aquele que entende bem o texto de acordo com as intenções do autor. Essa é uma visão não construtivista. Para mostrar como ela funciona, Michael Reddy escreveu um texto chamado The Conduit Metaphor: a case of frame conflict in our language about language. O escrito é hoje um clássico no campo de estudos construtivistas sobre metáforas. Tenho o original, publicado como capítulo em Metaphor and Thought, obra coletiva editada por Andrew Ortony. (ORTONY, M, (ed.). Metaphor and Thought. Cambridge University Press: Cambridge, 1979.). Alguém da Univerdade de Harvard copiou o texto de Reddy e o colocou na internet. Você pode vê-lo aqui.

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Analogias e pensamento

setembro 15, 2021

Em 1983, fiz no mestrado em tecnologia educacional estudo independente, orientado por Brock Allen, sobre analogias e metáforas. O Brock tinha grandes expectativas sobre o paper que que iria produzir e planejava uma discussão nossa com David Rumelhart, nome importante das ciências do conhecimento na época e professor da Universidade da Califórnia em San Diego (La Jolla). Infelizmente, meu estudo não ficou tão bom como o esperado o Brock perdeu oportunidade de encontro com Rumelhart. Para mim, porém, o que andei investigando foi um grande ganho. Aprendi muito sobre analogias metáforas e como elas influenciam nosso pensar.

Entre meus guardados há uma tradução do começo da Justificativa que escrevi para a proposta de estudo independente. Acho que vale reproduzi-la aqui.

Raciocínio Analógico e Estratégias de Aprendizagem

Jarbas Novelino Barato

ETL 798/1983 SDSU

Dois problemas gerais aparecem quando enfrentamos o desafio de ensinar conceitos. O primeiro refere-se à congruência entre o processo de instrução e o processo de compreensão de conceitos. Ou seja, numa situação de ensino, a ausência da paralelismo entre as maneiras escolhidas para apresentar informações conceituais e as maneiras que as pessoas utilizam para construir estruturas abstratas do conhecimento pode causar alguma dissonância que torna mais lento  o ritmo natural de aprendizagem. Esse é um caso que leva alguns críticos a dizerem que aprendemos apesar do ensino que recebemos. O segundo problema refere-se aos efeitos das estratégias instrucionais. Parece que as estruturas de conhecimento requerem não apenas uma dimensão estática do conteúdo do conceito, mas também uma dimensão dinâmica  dos modos pelos quais nós criamos relações, classificamos e aplicamos informações. Tradicionalmente, esse problema aparece na literatura como a questão da transferência (Dansereau, 1978). Praticamente, ele pode ser formulado como segue

  • Os alunos irão aplicar o conhecimento escolar a situações de trabalho?
  • Que habilidades conceituais preparam as pessoas para enfrentar as situações cotidianas num mercado de trabalho cambiante?

Não há respostas definitivas para essas duas questões. E as causa para essa ausência de solução clara decorre da complexidade do conhecimento assim como de dificuldades de verificar efeitos pós instrucionais da aprendizagem de conceitos. Apesar deste estudo não ser espaço adequado para discutir tais limitações, consideramos ser útil sugerir que:

  1. Teorias que lidam com a compreensão de conceitos são modelos probabilísticos, não verificáveis diretamente.
  2. Em atividades de ensino, sem uso de instrumentos desenhados especificamente para tanto, não há possiblidade de verificar congruência entre estratégias e os reais caminhos empregados para lidar com conceitos.
  3. Não há fórmula para determinar a priori todos os conceitos que uma pessoa precisará utilizar em futuras atividades. Do ponto de vista do ensino, isso significa que não é possível cobrir todos os conceitos dos quais uma pessoa necessitará, considerada a complexidade do trabalho alvo ou atividade para o/a qual se volta dada atividade educacional.

Até aqui, o quadro que pintamos parece levar as escolhas instrucionais do ensino de conceitos para um beco sem saída. Mas não acreditamos nessa decorrência pessimista. Acreditamos que as atuais descobertas sobre a cognição humana podem sugerir soluções aproximativas para os citados problemas. Esse estudo é uma tentativa para mostrar uma dessas soluções com as quais intructional designers podem contar quando confrontados com o desafio de criar materiais para o ensino de conceitos.

Nosso pressuposto é o de que o raciocínio analógico como ferramenta instrucional pode oferecer um caminho confiável  para se lidar não só com os conteúdos conceituais – a dimensão estática – mas também com a compreensão de conceitos – a dimensão dinâmica. Porém, cumpre assinalar que o raciocínio analógico não exclui outras estratégias de ensino.

Do ponto de vista do ensino, a solução ideal seria um formato instrucional que permitisse tanto o raciocínio analógico como outros caminhos instrucionais de acordo com as habilidades intelectuais dos aprendizes. Allen (1980) sugere que uma apresentação hierárquica de conceitos, por exemplo, pode ser um formato instrucional para lidar tanto com  forma menos avançada de aprendizagem de conceitos – aquela baseada em discriminação de conceitos – quanto forma mais avançada – aquela baseada em raciocínio analógico.

Educação radical no século 20

setembro 5, 2021

Uso o termo radical aqui para falar de coisas que vão à raiz. No caso da educação, falo de proposta que vão fundo, não ficam na superfície. Neste sentido, experimentos de educação radical são raros. No século que passou podem ser encontrados na Colônia Górki, na Escola de Barbiana, nos fazeres de Freinet. Todos estes experimentos nada têm a ver com a maior parte das reformas que aconteceram no século que passou. Tais reformas sempre foram superficiais e nada mudaram, exceto o discurso dos educadores. Na lista que faço de experimentos radicais de educação no século 20 sempre entra o Black Mountain College. Já falei aqui um pouco sobre ele. Desta vez apenas indico um vídeo muito bom sobre o BMC.

Há também um bom texto sobre o Black Mountain College, com informações que vale ver: https://www.widewalls.ch/magazine/black-mountain-college .