Em 1983, fiz no mestrado em tecnologia educacional estudo independente, orientado por Brock Allen, sobre analogias e metáforas. O Brock tinha grandes expectativas sobre o paper que que iria produzir e planejava uma discussão nossa com David Rumelhart, nome importante das ciências do conhecimento na época e professor da Universidade da Califórnia em San Diego (La Jolla). Infelizmente, meu estudo não ficou tão bom como o esperado o Brock perdeu oportunidade de encontro com Rumelhart. Para mim, porém, o que andei investigando foi um grande ganho. Aprendi muito sobre analogias metáforas e como elas influenciam nosso pensar.
Entre meus guardados há uma tradução do começo da Justificativa que escrevi para a proposta de estudo independente. Acho que vale reproduzi-la aqui.
Raciocínio Analógico e Estratégias de Aprendizagem
Jarbas Novelino Barato
ETL 798/1983 SDSU
Dois problemas gerais aparecem quando enfrentamos o desafio de ensinar conceitos. O primeiro refere-se à congruência entre o processo de instrução e o processo de compreensão de conceitos. Ou seja, numa situação de ensino, a ausência da paralelismo entre as maneiras escolhidas para apresentar informações conceituais e as maneiras que as pessoas utilizam para construir estruturas abstratas do conhecimento pode causar alguma dissonância que torna mais lento o ritmo natural de aprendizagem. Esse é um caso que leva alguns críticos a dizerem que aprendemos apesar do ensino que recebemos. O segundo problema refere-se aos efeitos das estratégias instrucionais. Parece que as estruturas de conhecimento requerem não apenas uma dimensão estática do conteúdo do conceito, mas também uma dimensão dinâmica dos modos pelos quais nós criamos relações, classificamos e aplicamos informações. Tradicionalmente, esse problema aparece na literatura como a questão da transferência (Dansereau, 1978). Praticamente, ele pode ser formulado como segue
- Os alunos irão aplicar o conhecimento escolar a situações de trabalho?
- Que habilidades conceituais preparam as pessoas para enfrentar as situações cotidianas num mercado de trabalho cambiante?
Não há respostas definitivas para essas duas questões. E as causa para essa ausência de solução clara decorre da complexidade do conhecimento assim como de dificuldades de verificar efeitos pós instrucionais da aprendizagem de conceitos. Apesar deste estudo não ser espaço adequado para discutir tais limitações, consideramos ser útil sugerir que:
- Teorias que lidam com a compreensão de conceitos são modelos probabilísticos, não verificáveis diretamente.
- Em atividades de ensino, sem uso de instrumentos desenhados especificamente para tanto, não há possiblidade de verificar congruência entre estratégias e os reais caminhos empregados para lidar com conceitos.
- Não há fórmula para determinar a priori todos os conceitos que uma pessoa precisará utilizar em futuras atividades. Do ponto de vista do ensino, isso significa que não é possível cobrir todos os conceitos dos quais uma pessoa necessitará, considerada a complexidade do trabalho alvo ou atividade para o/a qual se volta dada atividade educacional.
Até aqui, o quadro que pintamos parece levar as escolhas instrucionais do ensino de conceitos para um beco sem saída. Mas não acreditamos nessa decorrência pessimista. Acreditamos que as atuais descobertas sobre a cognição humana podem sugerir soluções aproximativas para os citados problemas. Esse estudo é uma tentativa para mostrar uma dessas soluções com as quais intructional designers podem contar quando confrontados com o desafio de criar materiais para o ensino de conceitos.
Nosso pressuposto é o de que o raciocínio analógico como ferramenta instrucional pode oferecer um caminho confiável para se lidar não só com os conteúdos conceituais – a dimensão estática – mas também com a compreensão de conceitos – a dimensão dinâmica. Porém, cumpre assinalar que o raciocínio analógico não exclui outras estratégias de ensino.
Do ponto de vista do ensino, a solução ideal seria um formato instrucional que permitisse tanto o raciocínio analógico como outros caminhos instrucionais de acordo com as habilidades intelectuais dos aprendizes. Allen (1980) sugere que uma apresentação hierárquica de conceitos, por exemplo, pode ser um formato instrucional para lidar tanto com forma menos avançada de aprendizagem de conceitos – aquela baseada em discriminação de conceitos – quanto forma mais avançada – aquela baseada em raciocínio analógico.