Archive for dezembro \23\+00:00 2022

Aprendizagem das palavras

dezembro 23, 2022

George Miller observa que, para grande parte da população, a façanha intelectual mais importante foi a aprendizagem da linguagem. De certa forma, ainda é um mistério como aprendemos as palavras e as usamos de modo significativo. E tudo isso acontece sem ensino. Boa parte do nosso vocabulário não foi aprendido em salas de aula, mas em eventos do dia a dia. Hoje me prometi que iria retomar um artigo de George Miller na Scientific American sobre desenvolvimento da linguagem. Antes de fazer isso, fui ao Google para ver o que vem sendo publicado sobre o tema ultimamente. Achei um artigo que vale registrar:

What does it take to learn a word?

Deixo aqui a referência para quem se interessar e para mim mesmo quando quiser ler sobre o tema.

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Memória em Umberto Eco

dezembro 8, 2022

Eco fez comentários que vale registrar sobre memória. Mais que isso, ele escreveu um romance em que o fio do drama são as aventuras vividas por um intelectual que perdeu a memória.

O grande pensador italiano lamenta a desimportância que se dá à memória nestes tempos em que (presume-se) tudo pode ser lembrado pelo Google. De certa forma, com as novas tecnologias, os seres humanos estão perdendo memória. Isso é uma tragédia. Perda de memória resulta em perda de muitos significados importantes para o viver. Eco sintetiza tal desdobramento numa frase de Santo Agostinho: “sem memória não há alma”.

Vale ver um vídeo curto (4 minutos) em que Umberto Eco conversa sobre memória, pontuando alguns aspectos muito importantes que são ignorados quando se entende memória como cópia do experimentado. Não funcionamos assim. Nossas memórias são construções. Da literatura sobre o assunto, vale considerar o clássico Remembering, de F. C. Bartlett.

BARTLETT, F. C. Remembering: A study in experimental and social psychology. New York: Cambridge University Press, 1932, 1995.

Há um trecho do livro de Bartlett que merece registro aqui:

All people who have at any time concerned with the nature and validity of everyday observation must have noticed that a great amount of what goes under the name of perception is, in the wide sense of the term, recall. Some scene is presented for observation, and a little of it is actually perceived. But the observer reports much more than this. He fills up the gaps of his perception by the aid of what he has experienced before in similar situation. He may do this without being in the least aware that he is either supplementing or falsifying the data of perception. Yet, in almost all cases, he is certainly doing the first, and in many instances he is demonstrably doing the second. (p. 14)

Volto ao Eco e copio aqui o vídeo em que ele fala de memória.

Na literatura científica, sempre tive dificuldade para entender o que é memória semântica e o que é memória episódica. Eco mata o bicho com imensa clareza em seu romance A Misteriosa Chama da Rainha Luana.

ECO. U. A Misteriosa Chama da Rainha Luana. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record, 2005

Embora seja um trecho muito longo, copio o que Eco diz sobre o assunto numa página de seu romance.

Veja, o senhor logo identificou o tubo de dentifrício, mas não se lembra de que é casado – e de fato lembrar o dia do próprio matrimônio e identificar pasta de dentifrício dependem de duas redes cerebrais diversas. Temos diversos tipos de memória. Uma se chama implícita e nos permite executar sem esforço uma série de coisas que aprendemos, como escovar os dentes, ligar o rádio e dar um nó na gravata. Depois da experiência dos dentes estou pronto para apostar que o senhor sabe escrever, talvez até dirigir. Quando a memória implícita nos ajuda, não temos nem consciência de que recordamos, agimos automaticamente. Depois tem a memória explícita, com a qual recordamos e sabemos que estamos recordando. Mas essa memória explícita é dupla. Uma é aquela que a tendência agora é de chamar de memória semântica, uma memória coletiva, aquela através da qual se sabe que uma andorinha é um pássaro e que os pássaros voam e têm penas, que Napoleão morreu quando… quando o senhor falou. E esta me parece que que a do senhor está em ordem, por Deus! talvez até demais, pois basta que lhe dê um input e já começa a a conectar lembranças que eu definiria como escolásticas ou a usar frases feitas.Mas essa é a primeira que se forma, , mesmo na criança, a criança aprende rapidamente e reconhecer uma máquina, ou um cão, e a formar esquemas gerais , portanto viu um pastor alemão uma vez e lhe disseram que é um cachorro, ela dirá cachorro mesmo quando ver um labrador. Mas por outro lado, a criança leva mais tempo para elaborar o segundo tipo de memória explícita, que chamamos de episódica ou de autobiográfica, Não é capaz, por exemplo, de recordar de imediato vendo um cachorro, de que no mês anterior esteve no jardim da avó e viu o cão e que foi ela própria que viveu as duas experiências. É a memória episódica que estabelece um nexo entre o que somos hoje e o que fomos, senão, quando disséssemos eu, estaríamos nos referindo apenas àquilo que sentimos agora, não o que sentíamos antes, que se perderia justamente na névoa. O senhor não perdeu a memória semântica mas a episódica, quer dizer, os episódios de sua vida. Em suma, diria que sabe tudo que os outros sabem. (p.18)

O que escrevi e citei, acho eu, já é suficiente para se ter uma ideia geral de como Eco vê a memória, essa capacidade tão malhada pela Escola Nova e pelos educadores que vieram depois dela.

Outro álbum de Claude Leveillee

dezembro 5, 2022

Mais uma das antigas gravações do grande cantor e compositor canadense.

Claude Leveillee

dezembro 3, 2022

Recuperei uma velha memória musical, graças fiapos de lembrança e ajuda do Google. Os fiapos de lembrança eram parte da letra que dizia “je veux ceinturer madame la Terre…”. Eu não sabia se era isso mesmo, pois meu francês não é lá estas coisas. Mas, estava certo. Minha lembrança se deve ao que eu ouvia na sala de música no seminário dos Sionistas do Ipiranga em 1967. Os padres de lá tinham laços com o Canadá, mais especificamente com o Quebec. Entre estes laços estava um álbum de Claude Leveillee.

Recuperei minha lembrança e posso, de novo, ouvir o dito álbum. Ele por ser encontrado no Youtube.