De uns tempos para cá observamos que o uso de celulares acontece dentro de certo padrão. Eles se tornaram instrumentos indispensáveis. No geral, os usuários não os desligam e atendem imediatamente qualquer chamada. Esforços para evitar celulares ativos em sala de aula, igrejas, restaurantes e teatros dão com os burros n’água. Argumentos de segurança parecem ter alguma credibilidade nos aviões. Passageiros desligam criteriosamente seus aparelhos assim que a atendente de bordo anuncia que é chegada a hora de dar um tempo para os amados aparelhinhos. Mas, assim que o avião taxeia na chegada, todo mundo está de celular em punho para não perder um segundo sequer assim que o uso do mesmo for liberado.
É claro que os celulares não são mais apenas telefones. São ambientes de jogos eletrônicos. Instrumentos de navegação na internet. Máquinas fotográficas. Armazéns de variadas informações. Etc. Assim, enquanto um telefonema não vem, os usuários costumam utilizar a maquineta para múltiplas tarefas de comunicação ou recreação. O notável nesta história toda é que as pessoas estão reduzindo consideravelemente contatos face a face para ficarem na rede o maior tempo possível. Flagrantes do cotidiano mostram isso à exaustão. Trago para cá de novo foto que explica tudo isso imageticamente. É bom lembrar que a dita imagem, como me alertou um amigo, provavelmente foi feita a partir de um celular!
Parece que o uso de celulares é inescapável. Parece que os comportamentos de dependência da maquineta, que observamos continuamente em toda parte, também é inescapável. Essa dependência tecnológica foi muito bem analisada pelo Unabomber, Ted Kaczynski. Em What Technology Wants, Kevin Kelly não se intimida por causa de prováveis críticos. Ele utiliza diversas citações do Manifesto de Kaczynski para indicar alguns dos sintomas da crescente dependência das novas tecnologias. Eis aqui uma mostra da análise cortante que o o matemático que se tornou terrorista fez;
[…] a tecnologia é uma força social tão poderosa que, dentro do contexto de uma dada sociedade, as pessoas normalmente se tornam dependentes dela, a não ser que a mesma seja substituída por inovação ainda mais avançada. As pessoas se tornam dependentes de um novo item de tecnologia não apenas no plano indivídual, mas, acima disso, o sistema como um todo se torna dela dependente.
Quando um novo item de tecnologia é introduzido como uma opção, um indivíduo pode ou não aceitá-lo, mas, assim que o escolhe, ele não mais PERMANECE opcional. Em muitos casos, a nova tecnologia muda a sociedade de tal maneira que as pessoas eventualmente se veem FORÇADAS a usá-la. (p. 203-204)
Kaczynski cometeu vários crimes na tentativa de eliminar a tecnologia do horizonte. Isso, porém, segundo Kevin Kelly, não desqualifica suas análises. Vale ler e pensar sobre o assunto, até mesmo olhando para uma tela de celular…