Archive for outubro \30\+00:00 2010

Gratidão

outubro 30, 2010

Professor, uma profissão difícil. Exige busca constante. É ofício para descontentes criativos, pois não basta saber o que está dando errado, é preciso inventar sempre novas soluções. É atividade contínua. Mesmo no escurinho do cinema, a diversão é substituída por pensamentos tais como: “eu posso usar esta cena nas minhas aulas”, “este filme tem umas coisas que podem deixar mais claro o conceito de ontologia para meus alunos”, etc.

O  professor não deve esperar qualquer reconhecimento ou gratidão. Pode, eventualmente, sentir imenso prazer quando vê seus alunos realizarem façanhas intelectuais interessantes.

Fiz uma longa introdução para efetuar um registro. Em 2004 ou 2005, Cícera Maria Santos Xavier me solicitou informações sobre assuntos que vinha estudando na sua investigação de mestrado em educação matemática na PUC/SP. Mandei-lhe minha colaboração. Mas, o tempo passou e eu já nem me lembrava mais do que fizera. Agora, passeando pela Internet, encontrei a dissertação de mestrado da Cícera com um baita agradecimento pela ajuda que lhe dei. Fiquei comovido. Como disse, no ofício de professor não esperamos manifestações de gratidão. Por isso, quando acontecem, elas nos emocionam. Obrigado Cícera por renovar meu entusiasmo pelo nosso ofício.

Interessados em conhecer a dissertação da Cícera poderão encontrá-la a partir de um clic no destaque que segue:

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CNE censura Monteiro Lobato

outubro 29, 2010

Li hoje na Folha de São Paulo que Parecer aprovado por unanimidade na Câmara de Ensino Básico do Conselho Nacional de Educação sugere censura a Monteiro Lobato. A iniciativa surgiu por causa de alegado racismo em obra do escritor distribuída pelo MEC.

Não disponho de tempo no momento para discutir mais pontualmente a notícia. De qualquer forma, ao que tudo indica, a medida parece ter todas as características de procedimentos de censura identificados por Diane Ravitch em seu The Language Police.

Tempos atrás escrevi uma resenha sobre o citado livro da professora Ravitch. Interessados  poderão acessar o que escrevi com um clique aqui. Uma outra resenha da mesma obra, com observações  muito pertinentes sobre perigos da censura a obras utilizadas em educação, foi feita por Palmira Silva, da Universidade de Coimbra. O texto da Palmira pode ser visto aqui.

Rádio e informação de qualidade

outubro 25, 2010

Nos Estados Unidos, desde cedo aprendeu-se que rádio e televisão não deviam ser educativos. Programas escolares nesses dois veículos são um porre que ninguém merece. Qual a saída? Rádio e TV públicos.

Durante os dois anos que vivi em San Diego, minha rádio preferida era a KPBS, uma emissora pública com programas fantásticos. Boa parte desses programas eram produtos para toda a rede NPR (National Public Radio), e muitos deles ainda continuam no ar (a ótima revista radiofônica Fresh Air, por exemplo).

A mudança ocorrida nos EUA, com o abandono de pretensões educativas para os dois veículos e inauguraçao de uma linha que recebeu nome de mídia pública é muito interessante para análises de educadores e profissionais de comunicação. Quem quiser mergulhar no assunto tem agora uma oportunidade, acaba de sair ótimo artigo sobre o assunto no blog do New York Review of Books. O texto em questão pode ser encontrado a partir de um clic no título que destaco a seguir.

E a experiência dos professores?

outubro 25, 2010

Mesmo que não tenham se formado numa boa faculdade, muitos professores experientes elaboram um saber que nasce de respostas que buscam para os problemas cotidianos nas salas de aula. Esse saber costuma ser ignorado por reformadores da educação. Nas reformas, os professores do chão de escola são vistos com trabalhadores que precisam mudar velhas práticas e entrar no mundo maravilhoso das invenções dos intelectuais iluminados dos gabinetes com ar condicionado.

A questão do saber elaborado por mestres que estão na linha de frente da educação é um tema levantado hoje por grandes educadores como Diane Ravitch e Mike Rose nos Estados Unidos. Por aqui, não vejo gente que leve tal saber em consideração. Aliás, não via. Acabo de ler artigo na Folha de São Paulo de um educador que levanta a bola em tal direção. Esse educador é Vladimir Safatle, do departamento de filosofia da USP. Interessados poderão ler o texto do professor Vladimir no destaque abaixo.

Botecos, aprendizagem e arquitetura escolar

outubro 23, 2010

Em pio de @JordiJubany, retuitado por por @carmebarba, via @cristinavalles, cheguei a uma registro que precisa constar entre os itens deste Boteco. Arquitectura Escolar, texto de Maruja Torres, começa com conversa sobre o aprender não regulado nos botecos da vida. E o exemplo de uma das aprendizagens acontecida no caso fala sobre o grande arquiteto catalão que revolucionou modos de planejar espaços escolares, Josep Goday Casals.

Reproduzo aqui parte do referido texto. Tudo a ver com minhas idéias sobre a importância dos botecos como espaços de aprendizagem e com a importância de rever espaços na escola tendo em vista aventuras de aprender.

Arquitetura Escolar (trecho)

Maruja Torres

Las personas de formación autodidacta tenemos una extraña forma de aprender. Lo hacemos con la piel, con la carne, con los sentidos. Aprendemos como si hacerlo fuera amar, y en realidad lo es. Se trata del único acto de amor en el que cuanto damos se nos devuelve aumentado con creces, multiplicado, fértil hasta la muerte. Es una forma de entrar en el saber que, aunque poco académica, me parece bastante simpática.

Por ejemplo, yo aprendo mucho en los bares que frecuento de la gente a la que allí conozco. Con sinceridad les diré que no recuerdo, de los tiempos en que era niña –por tanto, en edad de recibir conocimientos– y acudía a las iglesias, a nadie que me enseñara nada que me interesara y hoy pueda recordar. Nada y nadie, ni entre la tripulación ni entre el pasaje.

En los bares, sí. En el de mi esquina barcelonesa, en una pausa acosada –la pausa, y un poco yo– por los días de las últimas fiestas, me enrollé con un vecino de barra. Hablamos de política, naturalmente. Y él observó: “Todo está en la educación”. El hombre me dijo su nombre, Marc Cuixart, arquitecto, y dijo ser nieto de Josep Goday Casals, un nombre que daba vueltas en mi cabeza y que él tuvo la gentileza de situar: el creador de la arquitectura escolar que tanto enriqueció a Barcelona desde la Mancomunitat hasta la República. Hablamos de aquella concepción de la educación, enraizada en el noucentisme, que consideraba al niño como lo más importante de la escuela, y a ésta, como un espacio público de integración del niño en la sociedad a través del descubrimiento de sí mismo y de su formación completa como ser humano, merced al conocimiento y al desarrollo de sus posibilidades.

Antes de marcharse, Marc Cuixart me prometió un libro. Y éste –que recibí a los pocos días, con un “Visca l’Educaciò!” en la dedicatoria– resultó uno de los mejores regalos que he recibido en los últimos años. Su título es largo: Josep Goday Casals. Arquitectura escolar a Barcelona de la Mancomunitat a la República, y su tamaño, contundente. Su contenido, exhaustivo. Vio la luz hace dos primaveras, e Ignacio Vidal-Folch le dedicó un hermoso artículo en este periódico (El arquitecto ‘noucentista’, 17 de mayo de 2008). Yo me encontraba por entonces en Beirut, y se me pasó tanto lo uno como lo otro. Pero encontré el conocimiento en un bar, y lo quiero compartir con ustedes, lectores de toda España, porque sé que en otras comunidades cuentan también –eso espero– con un pasado remoto tan rico como el que se conmemora en este libro y, seguramente, por desgracia, con hombres tan olvidados como este arquitecto, que falleció de un infarto en otro mes de mayo, el de 1936, cuando tenía poco más de 50 años. Se ahorró la Guerra Civil, pero ésta y la dictadura pasaron por encima de su nombre dejando su pútrida hojarasca.

Para Ler Neil Postman

outubro 22, 2010

Acabo de preparar mais uma WebGincana. Talvez ela ainda tenha alguns problemas de concepção e erros de digitação. Mesmos assim resolvi publicá-la.

Hoje mesmo começo a utilizá-la com meus alunos de filosofia no curso de Comunicação Social. Se mundanças foram necessárias, irei fazê-las após alguns testes.

Para os interessados, segue aqui o endereço de Para Ler Neil Postman, uma WebGincana:

Qualidade no uso de TIC

outubro 16, 2010

Bateu uma grande saudade do amigo-irmão Steen Larsen. O sentimento é maior porque nos últimos tempos não tenho conseguido contato com ele.

Na busca de informações sobre o Steen na Web, acabei topando com um velho artigo dele que serve como uma luva para conversas sobre uso de tecnologias na educação de agora. Cito aqui o trecho inicial do esrito de meu amigo das lonjuras nórdicas:

A importância de altos padrões no uso de tecnologias para crianças com déficits de aprendizagem é auto-evidente. Porém, não se percebe normalmente que o fator crucial na utilização de recursos tecnológicos reside nas considerações por trás do uso, não na tecnologia em si mesma.  Assim, uma ferramenta específica para crianças com déficits de aprendizagem nunca pode ser de qualidade superior aos princípios pedagógicos nos quais se baseia. Como afirmou Pogrow (1990): “A sofisticação da aprendizagem produzida pela tecnologia depende da sofisticação das conversações que envolvem seu uso, não da sofisticação da tecnologia.”

Creio que não preciso explicar a sugestão de Steen. Ele deixa muito claro que, mais que ferramentas modernosas, precisamos de bases científicas sólidas e atualizadas para desenvolver uma educação com a qualidade requerida em tempos tão avançados como o nosso.

Numa conversa que teve com educadores aqui no Brasil, Steen Larsen procurou mostrar que não devemos ficar deslumbrados com as tecnologias. Devemos endendê-las e usá-las com naturalidade, guardando nossa admiração para descobertas sobre quem somos, como aprendemos , como lidamos com o saber.

Recreio com música

outubro 16, 2010

Já é tarde. Estou um pouco cansado. Doi o joelho que ralei, há pouco, em tombo nas cercanias do prédio do FHC. Será que ele me rogou alguma praga,dada minha ojeriza do PSDB?

Achei que merecia um recreio. E no recreio resolvi ouvir música delicada e bonita de alguém que já se foi, mas canta cada vez melhor: John Denver.

Paper Chase, the film

outubro 16, 2010

For those who understand English, here is a famous scene of  The Paper Chase, showing how Kingsfield have dealt with a difficult teaching situation.

Fill the classroom with your intelligence

outubro 16, 2010

Nos últimos dias andei buscando vídeos sobre programas que meus filhos viam nos Estados Unidos na época que moramos em San Diego, CA. Na onda de recordações, acabei me perguntando se haveria algo na Internet sobre uma das séries de TV que me encantavam na época: The Paper Chase. Fui à caça de informação e encontrei muita coisa.

The Paper Chase foi uma série de TV, baseada em livro homônimo, que contava aventuras de uma das classes de Direito da Universidade de Harvard. A série migrou da CBS para a PBS (onde vi, provavelmente os primeiros episódios dela) e posteriormente para a TV a cabo ShowTime, onde devo ter visto outras partes da famosa série.

Em The Paper Chase, a figura central é a do Professor Charles Kingsfield que desafia os alunos com problemas que os coloca numa situação de stress positivo. As questões postas por Kingsfield estão sempre no limite superior da capacidade de seus alunos. No início parecem insolúveis, difíceis. Mas o mestre sabe apresentar problemas de maneiras muito atrativas. Ele não faz concessões, sempre cobra muito dedicação e compromisso de seus estudantes. Não dá “matéria”. Não facilita. Não faz acordos de mediocridade. É um professor fantástico. Severo, mas justo. Exigente, mas sempre capaz de reconhecer méritos de trabalhos bem feitos. Ás vezes é irônico, mas sem ofender pessoalmente seus estudantes.

Quem fazia o Professor Kingsfield era John Houseman, um grande ator. Creio que boa parte do sucesso de The Paper Chase se deveu ao modo como Houseman construiu Charles Kingsfield na série. Vale a pena ver a citada produção só para conferir como um grande ator dá vida a um personagem.

Vi diversas vezes a cena inicial do primeiro filme da série. Ela mostra as características mais marcantes do estilo de ensino de Kingsfield.

Um aluno tímido, Hart, convidado a falar sobre o primeiro caso que os estudantes deveriam resolver não sabe o que fazer. Kingsfield é duro com ele. Pergunta se o pobre estudante esperava no primeiro dia uma aula expositiva. Hart diz que sim. O grande mestre comenta “nada presuma sobre minhas aulas”. Alunos mais antigos, levantam continuamente as mãos candidatando-se a responder as questões postas para Hart. Isso reflete o alto espírito competitivo existente na Universidade de Harvard (e parece que Kingsfield não se preocupa em eliminar tal atitude).

Kingsfield desenvolve uma metodologia peculiar de PBL (Problem Based Learning). Talvez um pouco personalista, mas extremamente efetiva. Do que me lembro na série, depois de buscas e um intenso trabalho coopertaivo, os alunos resolvem sempre os complicados problemas propostos pelo mestre. Vale a pena rever The Paper Chase para alimentar conversas sobre atividades de ensino. Kingsfield aparentemente é anárquico. Mas, com o tempo, os alunos reconhecem sua profunda mestria em criar interesse, em proporcionar oportunidades de descobertas prazerosas, em fazer com que os alunos entendam que eles são os autores de seu próprio saber.

Minhas lembranças da série que retrata aventuras intelectuais em Harvard despertaram interesse em revê-la. E descobri que isso é possível. Todos os filmes foram reeditados recentemente em DVD. Encomendei o DVD com filmes da primeira leva. Se alguém se interessar, cá está o link para o produto na Amazon.

Por coincidência minhas andanças para rememorar The Paper Chase aconteceram neste período em que comemoramos o dia do professor. Assim, este post é mais um ato de homenagem aos mestres.

Falta dizer uma coisa. O título deste post sugere que é preciso encher a sala de aula com inteligência. A expressão está numa recomendação irônica que Kingsfield faz a Hart. Mas, descontada a ironia, é isso mesmo que bons professores desejam: que seus alunos encham a sala de aula com manifestações de suas inteligências.

Para terminar, em benefício de quem nunca ouviu falar em The Paper Chase ou no fantástico mestre Charles Kingsfield, finalizo este post com o vídeo da cena inicial do primeiro filme da série.