Dias atrás este botton recebeu algum destaque na comunidade do Facebook. Margarete Barbosa, minha amiga e ex-aluna, colocou o texto/imagem no mural dela. Assim que vi o botton, fiz o seguinte comentário:
Marga, a frase não é inteiramente correta. Apesar do significado da mensagem ser sempre um construto de quem a recebe, somos responsáveis sim pelas informações que criamos. Se aceita como está, essa frase livra a cara de comunicadores que deveriam buscar maior clareza e beleza no que dizem, escrevem e figuram.
A teoria da informação de Shannon foi reduzida a uma simplificação em cursos de comunicação, pedagogia e outras graduações cujos estudantes são candidatos a produtores de conteúdos para consumo de leitores, telespectadores, alunos etc. Todo mundo aprende que a comunicação ocorre na relação emissor<>canal<>receptor, geralmente apresentada em esquemas como o que segue:

Todos os aspectos de tratamento matemático dos componentes informacionais são esquecidos. E a análise de cada elemento da tríade fica reduzida a algumas considerações rasas.
Não tenho competência para discutir a teoria elaborada por Shannon no campo da engenharia da comunicação. Mas acho que posso apresentar algumas pistas para reflexão a partir de meus estudos no campo da tecnologia educacional. E, para não ocupar muito tempo do leitor, vou fazer observações apenas sobre a questão da emissão de informações.
Ao elaborar materiais ou roteiros de comunicação para fins educacionais, sempre enfrentamos a questão do que informar e de como organizar os conteúdos a serem transmitidos. Essa não é uma tarefa simples. Estilo e vocabulário são importantes. Importantes também são as estratégias de como apresentar o conhecimento alvo. No processo surgem perguntas tais como:
- que tipo de conhecimento está em jogo?
- o que se espera do receptor da mensagem?
- há alguma analogia que pode iluminar conceitos ou princípios em jogo?
- cabe humor na apresentação?
- é preciso ilustrar o conteúdo? com que imagens?
- que mídia ou conjunto de mídias é mais adequado para apresentar o conteúdo?
- há formas de trabalhar o conteúdo de modo interativo?
- como desafiar o aluno/leitor/espectador durante o contato com o material apresentado?
- é possível facilitar elaboração compartilhada do conhecimento por meio da informação apresentada?
- em que medida a organização da informação facilita realaboração do saber de quem está aprendendo?
- como a organização da informação pode ajudar aprendizes a realizarem auto-avaliação de sua aprendizagem durante o estudo do material?
Relacionei apenas algumas perguntas comuns em processos de elaboração de materiais – manuais, softwares, vídeos, páginas da internet etc. – por parte de profissionais de tecnologia educacional. Toda a preocupação desse profissional de comunicação tem como fundamento a convicção de que a qualidade da mensagem tem importância fundamental para vencer limitações do canal informativo e facilitar o trabalho de decodificação da mensagem por parte do receptor. As mesmas perguntas e preocupações entram em cena quando um professor prepara suas aulas.
Em capítulo sobre teoria de Shanon, no livro The Information, James Gleick conta uma história que mostra, com bom humor, a necessidade que tem o emissor de apresentar as informações de modo a encantar o receptor. Faço, a seguir, uma tradução/adaptação da história contada por Gleick.
Um estranho estava numa festa em que todos os outros convidados se conheciam desde o velhos carnavais. Ele ficou intrigado com algo que rolava no recinto. Alguém dizia “72” e os demais caiam na gargalhada. Algum outro convidado dizia “29” e a sala vinha abaixo. O estranho perguntou para alguém mais próximo o que estava acontecendo.
Pacientemente, o informante disse ao estranho que a turma se conhecia há muitos anos. Todos compartilhavam velhas piadas. Para poupar tempo, resolveram numerar as piadas compartilhadas. Quando se encontravam, bastava dizer o número de uma boa piada. Os amigos todos dela se lembravam e o riso era fatal.
O estranho resolveu se enturmar. Em voz bem alta, para que todos testemunhassem sua integração ao grupo, disse: “63”. Ouviu alguns risinhos discretos, nada mais. Decepcionado, perguntou a seu informante: a meia três não é uma boa piada. “Não, é uma das mais engraçadas”, respondeu-lhe seu interlocutor. “O problema é que você a contou muito mal”.
Não preciso comentar a história contada por Gleick (cf. The Information, p. 249). Ela ilustra bem tudo o que já disse e poderia dizer sobre a importância de cuidados especiais na hora de produzir informações para um ou mais receptores.