Archive for junho \24\+00:00 2009

Tonucci so far

junho 24, 2009

Ontem, na banca de qualificação de doutorado de Lucila Mara Sbrana Sciotti, na PUC paulista, tive o prazer de fazer dupla com Ladislau Dowbor. Entre os assuntos que entraram na conversa extra-banca, falamos sobre iniciativas que contemplam a vida das crianças no espaço urbano. Dowbor mencionou projetos e autores que eu desconhecia. Mencionei Tonucci, autor com o qual meu colega de mesa no exame de qualifivação não estava familiarizado. Fiquei de encaminhar ao Professor Dowbor informações sobre o educador italiano e seu trabalho no projeto cidade da criança. Como algumas das indicações sobre Tonucci já foram publicadas aqui, resolvi recuperá-las neste post. Com a medida, visitantes deste Boteco podem ter uma visão geral de referências que fiz sobre o autor e, ao mesmo tempo, posso encaminhar ao Ladislau, num único post, parte das informações que lhe prometi.

Até agora, mencionei Tonuci e sua obra nos posts destacados na lista que segue.

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Blogs: conhecer e ser conhecido

junho 22, 2009

deskAcabo de limpar minha área de trabalho nas proximidades dos computadores. Faço isso vez ou outra para eliminar notas em  post-its, papéis avulsos, canetas sem carga, pilhas de livros e outros objetos que acompanham meu dia-a-dia na bancada onde estão dois computadores e uma impressora. Na faxina encontrei  nota feita com base em alguma referência de leitura em livro ou na internet.  Não anotei fonte, e minha memória não tem qualquer registro de onde vieram as idéias que rascunhei numa folha avulsa de A4. O rascunho tem um  título interessante:  “Blogs: como ser conhecido e conhecer gente na rede”. É possível que as anotações feitas sejam resultado de alguma leitura de excertos de posts de Lilia Efimova divulgando trechos de sua tese de doutorado: Passion at work: Blogging practices of knowledge workers. [BTW, Lilia defended her thesis today. Cogratulations, Lilia!].

Agora que me expliquei, vamos ao conteúdo de minhas notas.

  • Seu blog é você. O diário eletrônico que o blogueiro publica no ciberespaço representa-o para os outros. Blogar é uma forma de construir identidade. O blogueiro pode dizer: “sou meu blog”.  Em outras palavras, a identidade ciberespacial vai se construindo no blog. Convém reparar que o uso do futuro contínuo não é acidental aqui. O blog-identidade é um um processo que não cessa. Há mudanças no tempo, assim como ocorre com a formação de identidade em outros contextos. Para quem gosta de grandes palavras: apesar de mudanças contínuas no tempo o blogueiro se reconhce em sua obra por causa do fenômeno de genidentidade.
  • Visibilidade.  Ao publicar um blog, o autor torna-se visível para quem pretende se revelar. O autor quer ser conhecido por determinadas pessoas. Quer dialogar. Para tanto é preciso que apareça, que tenha presença no ciberespaço. O blog lhe dá essa condição.
  • Texto mutante. O texto de um blog ativo muda. Fica maior. Fica menor. Adota novas maneiras de dizer a palavra. Enfatiza mais ou menos certos temas. Tudo isso acontece em função da audiência que o blogueiro conquista.
  • Deixa andar. Blogs são como argila. Amoldam-se às circunstâncias, aos interesses da audiência, aos diálogos que se estabelecem no decorrer do tempo. A música de fundo para qualquer blog é ” Let it be”.  Ou seja, o blog não é controlado pela vontade do blogueiro. Ele vai ganhando vida de acordo com as conversações que “rolam no pedaço”.
  • Face e voz públicas. Muita gente define blogs como espaços públicos de conversação. Quem blogueia quer papo, quer conversa, talvez consigo mesmo. E a conversa acontece num espaço de livre acesso. Com isso o blogueiro ganha voz e cara públicas. Talvez essa seja uma das mais importantes características dos blogs.
  • Blog não é texto convencional. Muita gente acha que os blogs podem ser um bom ambiente para favorecer a escrita. Isso até pode ser verdade. Mas, não é toda a verdade. O texto de blogs não é texto no papel. Nem é texto que vai para a tela substituindo o velho papel. A contínua interação do blogueiro com sua clientela exige mudança do texto. Em outras palavras, a interação no ciberespaço altera o texto, pois o blogueiro precisa escrever numa linguagem que sua clientela potencial possa entender.
  • Limites do idioma local. Quem bloga em idiomas locais tem um problema:  audiência reduzida. Blogueiros que querem dialogar de modo mais planetário precisam blogar em inglês.

Até aqui vão as notas que encontrei. À medida em que fui arredondando a redação das ditas cujas para publicação neste post, a origem das idéias foi ficando mais clara. Estas minhas observações são mesmo resultado de leitura de excertos da tese da Lilia. A autora não tem culpa alguma de prováveis erros que eu possa ter cometido.

Espero que os pontos anotados sejam de alguma serventia para quem estuda blogs ou quer saber mais sobre tal forma de comunicação. Quem arranha o patois universal de comunicação no mundo de hoje pode aprender muito mais se der uma olhadinha na tese de Lilia Efimova.

Podcast, água e inglês

junho 16, 2009

harvardEstou escutando  podcast de entrevista com John Briscoe, pesquisador de Harvard.  Assunto: água. Revelação: 80% da água potável é usada em agricultura. O entrevistado dá diversos exemplos sobre Brasil. Bom para aprender mais sobre a importante questão de usos de água no planeta. Bom para treinar listening and comprehension em níveis avançados de inglês. Recomendo para alunos meus que dão aula de ESL.  Se quiser ouvir, aqui está o link:

Metodologia científica e linguagem

junho 14, 2009

abntÀs vezes ouço explicações sobre metodologia científica que me deixam preocudado. Os discursos de muita gente que fala sobre o tema valorizam em demasia a burocracia criada para controlar publicações em ciência. O que sinto, muitas vezes, é que gente dominada pelas normas burocráticas acredita que estas últimas são condição sine qua non para a produção de trabalhos investigativos de valor. Ou mais ainda, pensam que as normas burocráticas são metodologia científica. A situação merece uma análise demorada. Infelizmente não tenho agora tempo para embarcar em tal aventura. De qualquer forma, convido os frequentadores deste Boteco a ficarem atentos ao fenômeno.

Não posso, porém, deixar em branco uma das consequências do burocratismo em ciência. Com o tempo, dadas as preocupações com exatidão e objetividade, as convenções sobre comunicação científica foram ganhando um quadro normativo de como escrever “cientificamente”. Em parte, isso foi necessário. Em parte, tornou-se uma camisa de força que faz com que certos relatórios de pesquisa sejam enigmáticos. E não é só isso: gente que não sabe escrever acaba se escondendo atrás das normas burocráticas para justificar a pobreza comunicativa de seus textos.

A Folha de São Paulo publicou ontem notícia que retrata muito bem os males do burocratismo em ciência. A matéria, “Periódico científico aceita publicar trabalho forjado”, narra história de dois autores que utilizaram um software capaz de produzir textos que têm aparência de escritos científicos. A produção dos supostos autores foi aprovada para publicação por um grupo de pareceristas da revista The Scientist. O material, provavelmente obedecia a todas as normas de linguagem acadêmica. Parece que para os pareceristas pouco importou originalidade e conteúdo da falsa pesquisa. O artigo atendia a todas as “normas”.

Na notícia publicada pela Folha, a questão da linguagem me chamou a atenção. O jornal reproduziu um pequeno trecho para mostrar que o artigo não era sério. Mas quem está acostumado a ver certos artigos publicados em revistas científica acharia o texto bastante normal. Vamos à amostra divulgada pela Folha:

Simetrias compactas e compiladores amealharam tremendo interesse tanto de futuristas quanto de biólogos nos últimos anos. A falha desse tipo de solução, no entanto, é que os DHTs podem ser empáticos, extensíveis em larga escala.

Você  ainda não está convencido de que textos do gênero são padrão em artigos científicos? Sugiro um experimento. Copie o trecho que acabo de reproduzir, peça a algum amigo da academia que o leia, e pergunte a ele se há algo de errado com tal comunicação científica. Provavelmente ele vai lhe dizer que o termo “tremendo” não é adequado. De resto, achará tudo muito normal.

Você pode achar que meus comentários até aqui estão contaminados pelo caso acontecido com a revista The Scientist. Talvez ache que estou exagerando. Por isso, forneço exemplo de um caso real, uma tese de doutorado defendida e aprovada em uma de nossas melhores universidades. Já publiquei trecho da dita tese numa outra ocasião. Repito a dose para mostrar como o discurso da Academia, com pretensões de ser científico, acaba sendo apenas obtuso.  Veja a seguir trecho da tal tese:

Objetivando aduzir elementos para a reflexão em tomo da Pedagogia Histórico-Crítica na direção da dinamização do movimento teoria-prática-teoria e, mais propriamente, no que tange à verificação das possibilidades de estabelecimento da unidade da teoria e da prática num processo de alfabetização, foi realizada uma experiência docente durante um ano letivo em uma turma do 1º ano do I ciclo junto a uma escola da Rede Municipal de Ensino do município de (…). Tomando enquanto problemática o como estabelecer a referida unidade na perspectiva da teoria pedagógica em questão e, como hipótese, que esta unidade pode ser efetuada a partir de uma prática pedagógica mediada por uma didática escolar critica, a primeira parte deste trabalho aborda a Pedagogia Histórico-Crítica a partir da história de sua formulação no bojo dos acontecimentos sociais e políticos brasileiros, chegando à sua explicitação através do destaque dos elementos teóricos centrais que a corporificam e do levantamento de seus pressupostos teórico-metodológicos.

Informação e conhecimento. Nota sobre aula.

junho 13, 2009

Ano passado, para introduzir conversa sobre informação e conhecimento com meus alunos do primeiro ano de pedagogia, fiz um exercício no qual as pessoas buscam informações cujas fontes são outras pessoas. Após a aula, elaborei uma nota sobre a experiência. Não me lembro se a distribuí ou não para meus alunos. Ela ficou esquecida num  dos meus arquivos. Acabo de recuperá-la e resolvi compartilhá-la com fregueses deste estabelecimento.

Informação e Conhecimento

Notas sobre a aula de 16.02.08

Antes da matéria, música. Música por seus próprios méritos, não para apresentar algum conteúdo ou acalmar a classe. Uma campanha do professor: ouvir e valorizar mais a música. Alunas e alunos poderão colaborar. Temos uma meta: melhorar nossa apreciação musical em 2008.

Informação e conhecimento são palavras chave em educação. Educadores organizam informações na esperança de que os alunos elaborem conhecimentos desejáveis.

Matéria do dia: um exercício, conheço bem esta turma, sobre pessoas como fonte de informação. Observação: não se esqueçam deste exercício, ele será muito importante na hora de conversas sobre WebGincana, o trabalho prático que vamos realizar no primeiro semestre.

A partir do exercício, conversamos um pouco sobre o que é informação. O objetivo não era o de definir uma vez e para sempre informação. O objetivo era o de entendermos um pouco o que havíamos feito. Pintaram algumas definições:

  • Informação é um instrumento de comunicação (ato de colocar em comum). Colocar em comum o quê? O conhecimento.
  • Informação é um meio formado por recursos simbólicos (palavras, sons, gestos, imagens, figuras, expressão facial, textos) cujos significados são compartilhados pelas pessoas que se comunicam.
  • Sem o compartilhar de significados, a comunicação é impossível. Assim, recursos de informação aos quais somos incapazes de dar sentido (atribuir significado) não são informação para nós. Exemplo: uma palavra escrita em caracteres gregos nada comunica entre pessoas incapazes de lerem tais caracteres.

Numa primeira aproximação do conceito, foi isso que aprendemos. Parece pouco. Mas já é um bom começo.

Durante o exercício, muitas pessoas tiveram problema com respostas negativas. No caso de nosso exercício, respostas negativas eram “falta de informação”, não informação, pois não comunicavam aquilo que queríamos saber. Se procuro alguém que saiba qual é a capital do Quênia, de nada adianta saber que João, Maria e José não o sabem. Essas pessoas não nos darão a informação procurada. Mas se Manuel disser que tem certeza que a resposta para nossa busca é Nairobi, temos informação.

No primeiro parágrafo há uma menção a música. Trata-se de registro sobre outra experiência que fiz na ocasião : iniciar sempre as aulas com uma  música; nada diretamente relacionado com o assunto, apenas música que pudesse ser apreciada.

Melhoria e inovação em produtos tecnológicos

junho 12, 2009

emotional_design_440Fazia tempo que Emotional Design, de Donald Norman, esperava alguma disposição para minha leitura. Comprei o livrinho cinco anos atrás e só agora me organizei para lê-lo do princípio ao fim. Norman, sobretudo em suas obras destinadas a público mais amplo, é leitura indispensável para quem se interessa por tecnologia educacional. Nos  tempos de mestrado, Brock Allen, meu professor na San Diego State University, sonhou que uma investigação independente que fiz sobre metáforas poderia nos dar uma oportunidade de desenvolver um estudo com orientação de Donald Norman. Infelizmente, o relatório que produzi não tinha qualidade suficiente para iniciarmos um diálogo com o mencionado autor, na época (1982) nosso “vizinho” na University of  California at San Diego. De qualquer forma, me tornei admirador de Norman desde então.

Ainda não terminei de ler Emotional Design, mas há alguns trechos da obra que gostaria de compartilhar com frequentadores deste Boteco. Segue aqui a tradução de um trecho que achei interessante.

Se a preguiça não atrapalhar, divulgarei outros  trechos em ocasião oportuna.

Há dois tipos de desenvolvimento de produto:  melhoria e inovação. Melhoria significa pegar algo já existente e aperfeiçoá-lo. A inovação apresenta um modo completamente novo de fazer algo, ou um modo completamente novo de fazer algo até então impossível. Das duas, melhoria é, de longe, a mais fácil.

É muito difícil estruturar inovações.  Antes de aparecerem, quem achava necessárias coisas tais como máquina de escrever, computadores pessoais, máquinas copiadoras ou telefones celulares? Resposta: ninguém. Hoje em dia é difícil imaginar a vida sem esses itens, mas antes que existissem quase ninguém exceto o inventor podia imaginar finalidades para tais produtos, e quase sempre os próprios inventores tinham uma visão equivocada. Thomas Edison imaginou que o fonógrafo iria eliminar a necessidade de cartas escritas em papel. Julgava que os homens de negócio ditariam suas mensagens e que essas seriam despachadas em discos. O computador pessoal foi mal compreendido pelas maiores companhias da área que achavam-no dispensável. Algumas dessas companhias, fabricantes de grandes computadores, não mais existem. O telefone foi  visto no início como um instrumento de negócio, e nos primeiros anos as companhias telefônicas procuravam dissuadir as pessoas de usar o aparelho para meros bate-papos ou fofocas.

Não se pode avaliar uma inovação por meio de perguntas diretas aos potenciais clientes. Isso requer que as pessoas imaginem algo que nunca experimentaram. Suas respostas,  historicamente, tem sido erradas. Os entrevistados disseram que gostariam muito de produtos que acabaram sendo grandes fracassos no mercado. Da mesma forma, eles disseram simplesmente que não estavam interessados em produtos que se tornaram grande sucesso no mercado. O telefone celular é um bom exemplo. Inicialmente ele foi pensado como algo de valor para um número limitado de homens de negócios. Pouquíssimas pessoas  podiam imaginar-se carregando o aparelhinho para interações pessoais. Na verdade, nas primeiras compras de celulares, as pessoas  explicavam que não pretendiam usá-los a não ser para emergências. Prever a popularidade de um novo produto é quase impossível antes do fato, apesar das coisas parecerem óbvias depois que o produto se torna um sucesso.

Melhorias fundamentalmente se baseiam em observações sobre como as pessoas usam o que já existe, descobrindo dificuldades, superando-as depois. Mesmo aqui, entretanto, pode ser mais difícil determinar reais necessidades do que parece à primeira vista. As pessoas têm dificuldade para articular seus verdadeiros problemas. Mesmo que tenham consciência de um problema, elas não o pensam como um questão de design. Você já “brigou” com uma chave para saber que parte deve ficar para cima? Ou já deixou a chave dentro do veículo? Ou já trancou seu carro para descobrir depois disso que os vidros das portas ficaram abertos, e por essa razão teve que abrir o veículo novamente só para fechar os vidros? Em qualquer dos casos, você pensou que o problema era o de um design inadequado? Provavelmente não. Você deve ter se culpado pelo engano. Ora, todos eles poderiam ser corrigidos por meio de designs apropriados. Por que não desenhar chaves simétricas que funcionam adequadamente sem você se preocupar com parte de baixo e parte de cima? Por que não desenhar carros de tal maneira que seja necessária a chave para fechá-los, tornando impraticável a situação na qual a chave fique no interior do veículo depois de fechado? Por que não fazer com que seja possível fechar os vidros sem ter de abrir o carro novamente?  Todos esses designs agora existem, mas foram precisas observações muito sagazes para que os designers reconhecessem que os problemas podiam ser resolvidos. (p.71/72)

Norman escreve numa linguagem coloquial, clara, simples. À medida que lemos seus livros vamos descobrindo coisas que “já” sabíamos. Tão óbvias! E, ao mesmo tempo, tão longe de nosso conhecimento cotidiano. O desvelar de coisas aparentemente óbvias é uma das forças das obras populares do autor.

As observações normanianas têm tudo a ver com educação e tecnologia educacional. No trecho que traduzi há muito a ser comentado em termos de ambientes de aprendizagem. Mas não vou ocupar o leitor com meus comentários. Vou apenas deixar uma observação que pode ser objeto de debate. Ao examinar as invoções, Norman observa que dificilmente o cidadão comum irá determinar  necessidades delas. O novo é descoberto em atos de criatividade que, muitas vezes, parecem excentricidade ou desvios. Essa observação serve como uma luva para críticas a uma visão de que alunos e clientes sempre têm razão. Não é bem assim. Uns e outros têm dificuldade para enxergar coisas que saiam do senso comum. Se as vontades dos clientes ou dos alunos sempre fossem atendidas não haveria mudança nem na produção nem na educação.

Um médico deverá ser consultado

junho 8, 2009

chacrinha

Homenageio aqui o Velho Guerreiro, Aberlardo Chacrinha Barbosa, que dizia “eu vim para confundir, não para esclarecer”. Essa frase e o estilo do Chacrinha casa-se bem com certos usos  da voz passiva, objeto de conversa proposto por este post.

Você já viu certamente propaganda de remédio que termina com a frase que dá título a este post. Sempre que a vejo  fico incomodado. Os publicitários que a bolaram não agiram inocentemente. Usaram a voz passiva de caso pensado. A “mensagem” é a de um analgésico que pode ser comprado sem receita médica. Acontece que o próprio pode mascarar sintomas de doenças graves. Por essa razão, os órgãos de saúde exigem que o comprador seja informado sobre necessidade de consultar um médico caso o remédio não produza os  efeitos esperados. Em resumo, a propaganda tem dois momentos. O da promoção da venda. O de cumprimento de norma legal para manter consumidor bem informado. No primeiro momento a propaganda diz:

  • Compre X…

No segundo momento, a propaganda diz:

  • Um médico deverá ser consultado.

Por que voz ativa no primeiro caso e passiva no segundo? Simples. Voz ativa sugere ação (compre X). Voz passiva não determina quem é o sujeito da ação, determina apenas o objeto. Em situações nas quais pessoas ou organizações têm culpa no cartório, é comum o uso da voz passiva para deixar o freguês na ignorância. Caso famoso nesse sentido é um comentário de Nixon sobre WaterGate: “erros foram cometidos“.

Alguém deve estar perguntando qual o motivo desta entrada num blog cujo objetivo principal é falar de blogs e recursos tecnológicos em educação. Esclareço que tem tudo a ver. A propaganda que cito procura aliviar consequências danosas do medicamento que quer vender. Voz passiva é boa para isso. É provável que apenas pessoas bem educadas percebem o truque. Um outro motivo me leva a considerar o caso. Ele é um bom exemplo para analisarmos a questão da linguagem em materiais de ensino. Meus alunos, por exemplo, aprendem a escrever “cientificamente” na faculdade. A linguagem convencional de escritos científicos tem muitos trechos com voz passiva. O uso de tal voz é muito conveniente para não comprometer o autor com resultados da investigação. Há gente que pensa que isso é um modo de ser “objetivo” . Bobagem!

Tenho muita dificuldade para mostrar a meus alunos que textos de WebGincanas e WebQuests exigem voz ativa, principalmente em segmentos que dizem ao aluno o que este deve fazer (caso típico do Processo em WebQuests). Eles tendem a escrever WebGincanas e WebQuests de um modo acadêmico, com muitos usos da voz passiva. Afinal, durante anos aprenderam a escrever “cientificamente”.

Ao rever um velho material elaborado por meu amigo Brock Allen (POSIT – Principles for One-Stop Information & Training, San Diego: SDSU, 1997) cruzei com um texto muito útil que traduzo a seguir.

Use a voz ativa em vez da passiva

Na gramática, “voz” indica a relação do sujeito com a ação do verbo no interior da sentença. Quando o verbo está na voz ativa o sujeito age.

  • A tecla “home” levará você de volta à introdução.

O uso da voz ativa força o autor a nomear o agente específico da ação. A voz ativa é mais fácil de ler e processar porque as sentenças geralmente são mais diretas, contêm menos palavras, e utilizam a ordem sujeito-verbo-objeto mais comum em bom português.

Ao contrário, quando o verbo é escrito na voz passiva, o sujeito sofre a ação. A voz passiva inverte a ordem direta de agente-ação-meta e torna o texto menos fluente.

  • Você será levado de volta à introdução por meio da tecla “home”.

Os leitores têm grande dificuldade para entender a voz passiva porque ela tende a ser palavrosa e indireta. Mas, os autores podem utilizar a voz passiva de modo efetivo em algumas circunstâncias. Por exemplo: o autor pode escolher a voz passiva quando não quer apontar quem é responsável pela ação, em casos de agentes desconhecidos ou quando saber quem é o sujeito não é importante.

Textos meus em catalão

junho 8, 2009

Tenho amigos na Catalunha. Quase todos ciberamigos com os quais me encontro apenas via internet. Vez ou outra traduzem e publicam textos meus. Isso me deixa muito honrado e orgulhoso. Recentemente um blog catalão destaca trecho de uma entrevista que dei para um periódico aqui da terra e dois artigos que publiquei em Quaderns Digitals. Registro a a ocorrência por dois motivos. O primeiro para agradecer os citados amigos. O segundo para indicar, para  quem queira ver, o blog catalão que me deu tremenda colher de chá. Aqui vai o link da mensagem que dá destaque para os meus escritos:

Tonucci sugere como deve ser a escola

junho 7, 2009

A escola que temos parece, cada vez mais, um espaço do desaprender. Preocupados, tentamos novos caminhos. Mas nossas tentativas ainda são muito tímidas e modestas. Falamos muito. Mudamos pouco. E a situação precisa de um choque, de alterações radicais. Fora dos muros escolares as coisas vão acontecendo mais rapidamente. As alterações são profundas. Com isso, a escola fica mais atrasada ainda.

Faz algum tempo que venho insistindo na necessidade de reconsiderar os espaços escolares. Se eles continuarem com sempre foram, introdução de novos meios, de novas formas de comunicação, mudará muito pouco, quase nada. A escola comeniana (espelhada no moinho) é uma máquina poderosa de moer novidades. Já moeu o cinema e a TV.  Está moendo o computador.

Qual a mudança necessária? Acho que não sabemos muito bem. Há alguns pensadores que indicam rumos interessantes. Penso em Gardner, em seu The Disciplined Mind. Penso em Neil Postman, em seu Tecnopólio. Penso em Freire, em Pedagogia do Oprimido e Pedagogia da Esperança. Penso em Mike Young, em suas iniciativas, particularmente na School for Social Entrepeneurs. E penso em Francesco Tonucci, em toda a sua obra inspirada no olhar da criança.

tonucci esEste post foi planejado inicialmente apenas para indicar uma entrevista de Tonucci a um jornal argentino. Quando comecei a escrever, as coisas seguiram outro rumo. Acabei dando destaque ao desafio da criação de uma escola completamente diferente do modelo fabril que continua a dominar o cenário da educação. Tonucci sempre se colocou contra tal modelo.  Além disso, ao longo de sua vida, defendeu muitas idéias originais sobre a escola. Na entrevista que estou indicando, ele ressalta  o papel de fontes de conteúdo desempenhado pelos novos meios de comunicação. Afirma que a escola não tem condições de concorrer com as mídias eletrônicas e sugere alguns rumos interessantes para a educação. Numa de suas respostas, o educador italiano enfatiza a necessidade de mudar substancialmente o espaço físico da escola, dizendo que o local precisa ser bonito, agradável, com muito verde. Não vou resumir aqui as propostas de Tonucci. Interessados poderão vê-la no endereço que destaco a seguir.

Blogs não são ferramentas pedagógicas

junho 5, 2009

blogEscrevi a afirmação que dá título a este post numa entrevista cujo texto integral aparece na seção páginas deste Boteco. Minha intenção foi a de mostrar que o centro da discussão não deve girar em torno modos de converter blogs em ferramentas pedagógicas. A meu ver tal enfoque acaba empobrecendo o uso educacional dos blogs. No citado texto, tento apresentar argumentos que podem clarear a posição que assumi. Mesmo assim, há quem entenda que a afirmação que fiz é polêmica. Há quem a ache incorreta. Há quem imagina que não entendo muito de pedagogia. Há quem ache que pedagogia é mais importante que comunicação. Há, enfim, muitas outras formas de ver o assunto. Continuo a sustentar que a pedagogização dos blogs empobrece em demasia um instrumento muito poderoso de comunicação. Há bastante literatura que pode ser relacionada em apoio a essa minha posição. A mais recente é a tese de doutorado de Lilia Efimova, que pode ser encontrada em my dissertation online and in print.

Para quem passar por aqui, solicito comentário sobre o assunto a partir de duas referências: