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EaD e evasão

julho 31, 2009

AllisonRossettBioEntusiastas por EaD são gente de fé. Acreditam piamente nas muitas vantagens de cursos a distância. E acreditam muito mais quando os cursos acontecem em ambientes digitais. Boa parte da literatura disponível sobre EaD é escrita por estes fiéis. Por isso, quase nunca encontramos avaliações mais criteriosas sobre pontos positivos e negativos de e-learning e assemelhados.

Um dos problemas mais sérios em e-learning é a evasão. E o motivo maior para desistências não são circunstâncias de vida ou má qualidade do curso. O motivo maior é uma das virtudes de EaD, a flexibilidade que permite que os estudantes façam seus estudos em qualquer lugar, a qualquer tempo.

Alllison Rossett, professora de tecnologia educacional da San Diego State University e uma das mais importantes especialistas internacionais sobre análise de necessidades, estudou o fenômeno da evasão em EaD a partir de uma “investigação participante”. Fez isso para embasar artigo que lhe fora solicitado por uma revista para a tribo dos instructional designers. Traduzi o referido artigo logo depois que foi publicado no final de 2000. Distribui algumas cópias para educadores amigos. Agora, ao rever meus velhos arquivos reencontrei a obra da Doutora Rossett. Resolvi compartilhar o material. Para tanto, coloquei-o aqui nas páginas do Boteco em 021. EaD: evasão é um problema.

Na foto que abre este post, Allison Rossett pousa para uma de suas Bios publicadas na Web. Os amados gatos dela deram um tempo e não aparecem no retrato…

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Televisão não faz mal

julho 28, 2009

Continuo a mexer em velhos arquivos. Tento limpar minha máquina para ganhar mais espaço de memória. Nessa atividade acabo descobrindo velhos textos que ainda merecem uma chance de leitura. No final do século passado, escrevi uma sinopse para um programa de TV. Num outro escrito, comento essa sinopse. Tal comentário era início de um artigo que eu queria escrever. O artigo não saiu. Ficou um rascunho da introdução. Algumas das idéias apareceram em outros escritos (publicados). Outras continuaram arquivadas.

Acho que vale a pena submeter o referido comentário a prováveis leitores. Faço isso a seguir sem nada mudar do que escrevi há uns dez anos.

TELEVISÃO NÃO FAZ MAL

Em dezembro de 1998, produzi um conjunto de questões para subsidiar uma mesa redonda da TV Senac sobre o papel educacional da televisão. Os produtores da televisão senaqueana queriam que escrevesse uma ou duas páginas como referência para o âncora do programa. Fiz mais do que o esperado e acabei produzindo um conjunto de dez questões que, quase sempre, surgem em discussões sobre o tema televisão e educação. Não fiquei só nas perguntas. Tentei situar as questões, fazendo comentários que poderiam dar mais sentido às perguntas e, ao mesmo tempo, gerar muitas outras indagações.

Meu questionário revela alguns vieses. Assumo claramente posição não muito otimista quanto às possibilidades concretas de uma ‘televisão educativa’. O engano de Edison, imaginando que um conjunto de seis mil películas poderia substituir, com vantagens, a escola fundamental, tem nova versão. Educadores ilustres e leigos com boas intenções, impressionados com o suposto poder da TV, acham que uma televisão educativa bem feita seria um ótimo substituto para a escola fundamental que está caindo aos pedaços. Há nesta posição muitos equívocos. O poder da televisão não é tão avassalador quanto pensam os alarmados críticos dos produtos da telinha. É certo que ver muita televisão é fator que favorece a imbecilização das massas. Mas a TV não é o único meio capaz de conservar a ignorância. Muitos são os circos que podem ser utilizados para cevar sentimentos irracionais da turba ignara. Além disto, a escola fundamental pública não está caindo aos pedaços. Está, muito mais, passando por uma transformação radical que nós, educadores, não entendemos muito bem.

Não quero ser mal interpretado. A crise pela qual passa a escola pública é imensa. Não encontramos ainda um caminho adequado para tal escola desde a época em que ela passou a ser acessível para a maioria da população. O que estou querendo dizer é que a velha escola pública de elite não é um bom termo de comparação para a nova escola pública. Vou parar por aqui, uma vez que a questão da escola pública não é o centro deste trabalho. Voltemos à televisão.

TV E VELEIROS. Convém tentar explicitar os pressupostos que me levaram a elaborar as questões que serão aqui apresentadas. Quando meu filho tinha uns sete anos de idade, a TV brasileira foi invadida por uma enxurrada de  filmes B e C de lutas marciais. Em tais filmes predominava uma violência gratuita que envolvia, entre outras coisas, tortura e cabeças decepadas. Muita gente ilustre frenqüentava os meios de comunicação para condenar aquele lixo que conquistara nossas crianças. Os críticos condenavam sobretudo o poder da TV. Era ela, diziam eles, a promotora da violência. E infelizmente, continuavam, as crianças não tinham como escapar da influência avassaladora da telinha.

Em negociações familiares sobre o que fazer num final de semana, meu filho declarou que já tinha programa para o domingo de manhã: ver um clássico B de lutas marciais. A família desistiu de uma viagem ao litoral. Sabíamos que o garoto reclamaria o tempo todo no trajeto para a praia. Mas meu filho não viu o tal filme. Em vez de ver televisão, foi para uma represa velejar com dois colegas num barco pilotado por um membro da equipe olímpica do Brasil. [citar aqui o autor de Complexity and Simplicity?]

O caso do meu filho ilustra o problema da atração da TV. Preferimos a telinha quando não temos alternativas mais interessantes.. É claro que no dia do filme que meu filho tanto queria ver, milhares de garotos ficaram com os olhos grudados na tela, esmurrando o ar para imitar as técnicas de luta do herói, e gritando com entusiasmo a cada cena chocante de violência.. Mas eu tenho certeza de que todos eles trocariam a TV por aventuras parecidas com a possibilidade de velejar com um atleta olímpico. Não me parece que a alternativa fosse educar as crianças para que estas escolhessem programas educacionais com mensagens construtivas. Quem pensa nesta solução pouco entende de TV. E mais que isto, não entende que a televisão é uma alternativa de diversão que conquista corações e mentes quando não há algo mais interessante para fazer.

Há lugar aqui para um paralelismo. Nos anos setenta, no auge da discussão sobre a escola de tempo integral, Francesco Tonucci, secretário de educação de Roma, remava contra a corrente [referência de Cuadernos de Pedagogia, 1977/]. Para o educador italiano, a escola de tempo integral era sobretudo um modo de atender expectativa de pais que queriam proteger suas crias dos perigos da rua. [a visão da escola como agência de segurança ainda está muito presente!] Tonucci, convencido de que a escola é um local de re-elaboração do saber, defendia uma escola de tempo parcial, uma vez que é preciso experenciar o mundo em vez de tudo aprender em jogos de faz-de-conta. Por esta razão, denunciava as intenções protetoras da escola de jornada plena. E mais, afirmava ser necessário lutar pela recuperação da rua como um espaço de convivência e aprendizagem. Sem aprender na rua, não há o que re-elaborar na escola.

À semelhança da proposta de Francesco Tonucci para a questão do tempo escolar, é preciso deixar claro que a solução para os supostos males da televisão não é a de domesticar a TV, mudando a programação em vez de reexaminar a questão mais ampla das ofertas culturais. É preciso perguntar que outras alternativas culturais estão à disposição da população. Sem alternativas equivalentes ao veleiro olímpico que substituiu, para o meu filho, uma grande atração de TV, sobra apenas o discurso moralista que pede mais programas educacionais ou diversão televisiva familiar.

Primeiro ou segundo blog

julho 28, 2009

Mexo em velhos arquivos. Encontro referência a Poranduba, um dos meus primeiros blogs. O tal não pegou. Foi apenas um ensaio para aprender como produzir e editar. Fiquei no meio do caminho. Com o tempo, perdi a senha.  E o Poranduba se converteu num dos muitos blogs mortos precocemente. Ele ainda continua no ar. Para quem gosta de estudos arqueológicos na Web, aqui vai o endereço desse blog que não chegou à primeira infância:

http://poranduba.blogspot.com/

Boteco é cultura

julho 17, 2009

Na época da inauguração deste Boteco, minha amiga Ana Scatena escreveu um post esclarecedor sobre a etimologia do termo. Ele vem do grego apotheke, substantivo que designava os armazéns do porto de Atenas nos tempos da Grécia Clássica. A palavra deu origem a botica, boticário, botequim, butiquim, boteco enfim. Essa é uma dimensão cultural de boteco. A palavra , ao contrário do que se pode pensar, tem certa origem nobre. Tanto é verdade que uma firma importante no ramo de perfumes e cosméticos adotou o boticário (propietário ou trabalhador de botica) numa marca muito conhecida.

Sempre que posso, busco exemplos vivos do uso da palavra boteco. Dias atrás, andando pelas ruas de Wurzburg, cidade alemã onde estuda meu filho, vi diversos letreiros com o termo apotheke. A princípio achei que finalmente encontrara botecos com o nome original que tinham na Grécia. Mas ao ver o comércio por trás do letreiro, descobri que em alemão apotheke é farmácia, botica diriam nossos bisavós.

europa020

Viram a foto? Este é um dos muitos letreiros de fármácias de Wurzburg. Para que nossa cultura botequeira aumente, conheça o post citado de Ana Scatena clicando no endereço que segue:

http://budurl.com/j7ry

A morte da leitura. Escreveremos apenas para o Google.

julho 16, 2009

Plínio Fraga, numa crônica publicada na Folha de São Paulo dia 02/07/08, cita alguns dados alarmantes de pesquisa divulgada pelo Instituto Pró-livro. No Brasil, cerca de 77 milhões de pessoas dizem não gostar de ler. Razões:

  • 17% dizem que lêem muito devagar,
  • 11% não têm paciência para ler,
  • 7% não compreendem o que lêem,
  • 7% não têm concentração para ler,
  • os demais têm explicações outras.

Os poucos que lêem não chegam a concluir 5 livros por ano. E estes leitores, em média, não chegam a comprar 2 obras no mesmo período. Minha conclusão: a leitura está morrendo.

Os sinais de enfermidade da leitura não são recentes. Já faz algum tempo que os diagnósticos apontam sérias crises na área. Em Endangered Minds, por exemplo, Jane M. Healy mostra que as dificuldades de leitura entre os estudantes de países com EUA e França vêm crescendo desde os anos setenta. Em levantamentos feitos pela autora, professores revelam que os níveis de leitura de seus alunos estão sofrendo atrasos de 2 ou 3 anos. Em conversas informais, amigos meus contam que nos anos cinquenta as criança estavam lendo livros no final do primeiro ano escolar. Hoje muitos alunos ainda não estão alfabetizados no terceiro ano do ensino fundamental. E mais: há um número razoável de alunos de cursos superiores que não entendem o que lêem. Nas faculdades, professores pedem desculpas aos alunos quando têm de solicitar leitura de textos de umas duas dezenas de páginas para a aula da semana subsequente …

Gente otimista anda dizendo que há um revival da leitura com a internet. Acho que tal impressão é um equívoco. O que há é um crescimento muito grande de publicação, facilitado pelo ambiente web. Mas navegações pela internet não são sinônimo de leitura. Ou, pelo menos, não o são no mesmo sentido da leitura que foi promovida pela era da imprensa. O que a gente sabe é que há muito acesso. Mas uma clicada numa página web nada diz sobre processos de assimilação de seu conteúdo.

Trabalho bastante com projetos em laboratórios de informática. Quase sempre meus alunos estão fazendo algum projeto que depende de muitas consultas a fontes da web. Houve tempo em que achava que consultas a certas fontes iriam resultar em leituras atentas. Estava enganado. Nas minhas andanças pelo laboratório, constato que os estudantes vêem as páginas, mas não as lêem [pelo menos no velho sentido de leitura a que estávamos acostumados com os livros]. Mas, não se apressem, concluindo que sou um velho rabugento sempre pronto para criticar comportamentos da nova geração. Depois de descobrir que meus alunos mais vêem que lêem textos na web, percebi que faço a mesma coisa. O fenômeno nada tem a ver com estilos de uma ou outra geração. O fenômeno tem a ver com o ambiente. A web é imagética, não é textual. Nela o texto é uma imagem, talvez como uma sombra ou background para imagens mais brilhantes e atraentes. O ritmo de leitura na web é o ritmo de reconhecimento de imagens. Se a gente quiser continuar a falar em leitura neste caso, é preciso reconhecer que estamos falando numa nova espécie de leitura.

A leitura que está morrendo é a leitura da Galáxia Gutenberg, que foi se estruturando a partir do surgimento da imprensa. Para consumir os milhares de livros que a produção tipográfica podia colocar no mercado eram precisos leitores. E esses leitores já não eram mais nem os eruditos dos mosteiros nem os lentes que, em leituras públicas, facilitavam o acesso ao conteúdo dos livros. A partir de Gutenberg, era conveniente converter a leitura num ato silencioso e individual. Tal forma de leitura exigia dedicação, atenção, concentração, tempo, interpretação. Um leitor de livros separa-se do mundo e cria um universo próprio e pessoal na medida em que se concentra e procura dar sentido ao texto. Essa exigência promovida pelo livro impresso trouxe muitas vantagens. Generalizou acesso antes concedido apenas a uns poucos intelectuais. Possibilitou treino importante para concentração necessária no campo da produção científica. Promoveu possibilidades de desenvolvimento de capacidades analíticas. Abriu novos campos para vôos imaginativos. Popularizou a boa literatura. E muito mais.

Comunicação escrita não é “natural”. Ela não integra as estratégias básicas para reprodução e sobrevivência da nossa espécie. Precisa ser aprendida com certa disciplina e dedicação. Por isso a leitura sempre é uma atividade exigente. Fugir de obrigações de leituras “sérias” é, portanto, um mecanismo de defesa. Sempre que podemos, evitamos esforço (isso não é preguiça, é muito mais aplicação de uma lei de economia: nós, como qualquer outro animal não investimos espontaneamente em atividade que não flua de modo natural). Por outro lado, a escrita e a leitura são ferramentas que deram a nossa espécie oportunidades de saltos significativos em termos produção, armazenamento e acesso a informação. A riqueza de tais ferramentas não tem substitutos. Seres humanos incapazes de ler e escrever de modo competente perdem pontos em alguns jogos que tornam o viver mais rico e significativo.

Todas essas minhas constatações sobre a leitura promovida pelos livros deve gerar alguma reflexão por parte dos educadores. É possível que alguns trabalhadores continuem a precisar da leitura tipográgica. Parece, porém, que a grande maioria vai dispensar esse modo de ler. Lerá por cima, sem se aprofundar. Se um texto exigir concentração, a maior parte dos leitores irá dispensá-la, perguntando se não há outra maneira de aprender o conteúdo lá armazenado. Na busca de informações mais objetivas, com baixo teor interpretativo, isso já está acontecendo. Matérias publicadas na internet não são lidas, são gugladas.  A maior parte da pessoas usa buscadores para obter informações e em vez de procurá-las nas páginas apontadas, tenta encontrá-las nas linhas de resumo apresentadas pelo buscador. Tal circunstância me sugeriu uma hipótese muito provável: o que escrevemos na internet não é para leitores humanos. Escrevemos e escreveremos cada vez mais para os buscadores. Eles serão nossos leitores principais. Você, que chegou até aqui, é uma exceção.

Este texto deveria ser mais completo. Boa parte dele estava pronta em outubro passado. Cheguei a aproveitar um trecho para artigo que publiquei numa revista eletrônica. Hoje descobri que o texto imaginado na segunda metade do ano passado ainda esperaria alguns meses para chegar ao fim. Resolvi fazer uma cesárea. Cá está a criança. Ficará algum tempo no oxigênio, mas acho que ele já tem substância para boas conversas. A ver, como dizem os espanhóis.

Professores são tecnologia

julho 9, 2009

Não vou desenvolver o titulo deste post. Quero apenas colocar uma notícia aqui. Escrevi coisas sobre o tema em 2002. Recuperei tal escrito há pouco e  publiquei o dito cujo na seção Páginas deste Boteco. Interessados poderão ver o texto em 019. TIC’s e educação.

Internet e Liberdade

julho 8, 2009

Em post passado indiquei vídeo com fala de Edgar Morin Em intervenção no Sommet Mondial sur la Societé de L’Information, o filósofo analisa as relações entre informação, comunicação e conhecimento. Como sempre, o velhinho encontra faces interessantes em assuntos sobre os quais a gente achava que já sabia tudo, levantando lebres que o nosso senso comum não percebe.

Como a maioria dos frequentadores deste Boteco não entende francês, convoquei minha filha, Tais, que está passando uma temporada em Paris, para nos brindar com tradução da fala de Morin. O texto acaba de chegar e já está publicado em Páginas com o título   Edgar Morin e Internet. Há muita coisa na fala de Morin que merece conversa. Pretendo destacar pontos da citada fala em futuros posts. Por enquanto chamo atenção para  alerta do filósofo  sobre a necessidade de  uma Internet livre.

Morin fez uma intervenção de improviso. O texto publicado aqui é registro de uma fala. Tem algumas repetições e construções meio estranhas. Poderia ser melhorado com um pequeno copydesk. Mas resolvi deixar as coisas com estão. Assim, os interessados poderão ter contato com a fala autêntica que aparece no vídeo do velhinho.

Conhecimento selvagem

julho 8, 2009

Ás vezes faço menção à idéia de conhecimento selvagem, um conceito utilizado por Hutchins em seus estudos de comunidades de aprendizagem fora das escolas. Mas nem sempre sei explicá-lo muito bem. Para discutí-lo ou rediscutí-lo lembrei-me de comentários de Gabriel Kaplun em prefácio para o meu livro sobre educação profissional na versão em espanhol.  Sem mais, reproduzo o texto do Gabriel aqui.

APRENDIZAJE, AVENTURA Y CONSTRUCCIÓN

Este es un libro inquietante, útil y fascinante. Inquietante para quienes creen que los problemas pedagógicos son simples y se resuelven con un conjunto de métodos y técnicas bien aplicadas. Aunque tal vez no lean todo el libro, ya desde las primeras páginas se pondrán nerviosos: muchas de sus certezas empiezan a ser puestas en cuestión. Buen motivo, claro, para abandonar la lectura. Pero les costará dejarlo sin embargo: aquí juega el aspecto fascinante del libro.

Es también un libro útil. Útil para quienes ya estaban inquietos por los problemas educativos. Y se preguntan, por ejemplo, por qué hay tantas enseñanzas sin aprendizaje y tantos aprendizajes sin “enseñanza”. Es decir: por qué en tantas aulas se enseña mucho pero se aprende poco. Y, al mismo tiempo, por qué –y cómo– tanta gente aprende cosas sin la ayuda de una institución educativa o de una persona con título de educador.

Esto último ha llevado también a que muchos nos planteemos cuánto podríanlas instituciones educativas aprender de esas maneras de aprender “silvestres”, no domesticadas por la escolarización ni formalizadas en planificaciones, objetivos, competencias, etc. Este libro los ayudará a pensar cómo (re)incorporar esas otras maneras de aprender en las instituciones de formación profesional –y en las instituciones educativas en general–.

Un libro útil también para quienes, como yo, cuando nos preguntan si su curso será “teórico” o “práctico” no saben qué responder, porque les parece que esta separación ayuda muy poco a enseñar y a aprender. Y cuando escuchan a alguien sostener que los cursos teóricos –o los aspectos teóricos de un curso– deben ir primero y los prácticos después, se sienten doblemente incómodos.  Se sentirán, en cambio, muy cómodos con este libro.

Se trata, en fin, de un libro útil para quienes sienten que el aula puede convertirse en una jaula que aísla el mundo de la educación del mundo del trabajo y de la vida. Para quienes quieren salir de esas jaulas, en las que han entrado muchas veces sin querer. Para quienes sienten la necesidad de una renovación pedagógica radical, en la que renovación no signifique novelería y radical signifique, en buena medida, volver a las raíces. Recuperando, por ejemplo, algo de la sabiduría del aprendizaje comunitario tradicional. Construyendo espacios educativos que funcionen como comunidades de práctica y aprendizaje profesional.

Muchas de estas cosas, que aquí están enfocadas a la formación profesional, valen también, a mi juicio, para otros ámbitos educativos. Personalmente, por ejemplo, me he pasado muchos años construyendo y peleando en la Universidad por cosas similares a la que Barato plantea. Y también en otros muchos ámbitos, incluida la formación profesional.

Desde esa experiencia me gustaría discutir un día con Barato sobre algunas cosas que no comparto tanto con él. Por ejemplo: el papel del lenguaje en la construcción de conocimientos y el papel de la interacción grupal en el aprendizaje. Y, sobre todo, los caminos para superar la separación ente planificadores y ejecutores, algo crecientemente preocupante en un mundo retaylorizado informáticamente.

Su apego –en buena parte del libro– a algunas propuestas cognitivistas creo que lo llevan a construir, como él mismo parece admitir al final, un cuadro de referencia extremadamente formal, que arriesga a enjaular un pensamiento pedagógico sumamente creativo como el suyo.

Pero dije también que este es un libro fascinante, como un libro de aventuras. Una aventura profesional e intelectual en la que Jarbas Novelino Barato se involucró con alma y vida durante muchos años. Esta es la aventura de un largo aprendizaje, de una larga investigación, de esas que nos insumen la vida. Investigación- acción, como suele decirse, pero acción-investigación deberíamos decir, parafraseando al propio Jarbas cuando habla de hacer-saber.

Formación profesional ¿Saberes del ocio o saberes del trabajo? El libro es la novela de esa aventura, en la que relata su búsqueda incansable, inquieta hasta el final. Tanto que no debo aquí adelantar al lector ese final, la vuelta de tuerca en la que él mismo cuestiona algunas de las certezas provisorias que fue construyendo en el camino. Un final que es, entonces, abierto a nuevas preguntas y caminos de búsqueda.

Un libro que tiene, además, momentos de particular encanto y belleza. Por ejemplo, cuando la metáfora principal del constructivismo se encuentra consigo misma: aquí la construcción es, literalmente, la del albañil. Ese que construyó sus conocimientos en medio de hierro y ladrillos, mezcla y andamios. Ese que aprendió a construir construyendo, que es la única manera de aprender.

GABRIEL KAPLÚN

Montevideo, junio de 2005