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Machinima: imaginação e tecnologia

abril 29, 2008

Sem imaginação as ferramentas tecnológicas podem, quando muito, dar margem a exercícios de virtuosismo para nerds e assemelhados. Por outro lado, a imaginação ganha muito espaço quando podemos contar com ferramentas capazes de concretizar nossos sonhos. Um mestre nas artes de usar ferramentas tecnológicas com imaginação é meu velho amigo Bernie Dodge. No momento ele está coordenado um seminário para professores no qual o centro das atenções é a Machinima.

Traduzo aqui, com certa liberdade, a descrição do referido seminário:

Uso de jogos (e.g., The Sims 2, World of Warcraft) e ambientes virtuais (e.g. Second Life) para criar filmes de animação. O curso aborda Machinima como uma ferramenta de auto-expressão para estudantes do ensino médio, como um método para criar histórias animadas curtas, e como um meio para prototipar produção de vídeos. É preciso adquirir software indicado para as atividades de produção.

O seminário coloca os professores no fascinante mundo da produção cinematográfica, abrindo caminho para a criação de propostas de aprendizagem muito interessantes. Confesso minha incompetência no ramo. Ao mesmo tempo, acho que o uso do Machinima pode ser uma aventura interessante sob a coordenação de alguns ferquentadores deste Boteco como o Nivaldo, o Marco, o Luis Vila, a Carla, a Miriam Salles, a Su e a Sintian. Taí, gente: desafio lançado. Alguém se habilita?

No material relacionado entre os recursos que Bernie está utilizando, há um vídeo que vale a pena ser visto:

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Redação cooperativa: complemento 2

abril 29, 2008

Continuo conversa sobre redação cooperativa. Desta vez apenas uma breve nota. Nosso correspondente de Portugal, Luis Vila, fez uma sessão de redação cooperativa com seus alunos. Obteve bons resultados. Mais informações sobre o trabalho do Luis podem ser encontrados quando você clica aqui.

Espero que todos os interessados continuem a conversa sobre o assunto. Há ainda muitas observações a serem feitas.

Para pesquisar blogs

abril 28, 2008

A blogosfera cresce sem cessar. E os blogs são criados com muita liberdade, sem amarras e controles (DSL!). E nesse mundo caótico podem surgir perguntas como: Fui citado na Blogosfera?  Tem gente falando do meu blog? Minha escola ou organização é falada em blogs? Dificilmente encontraremos respostas para tais questões se utilizarmos buscadores genéricos como o Google. Mas alguém já pensou no problema. Faz algum tempo que temos buscadores especiais para pesquisas na blogosfera. Um destes buscadores é o Technorati. Conheci o dito cujo logo que nasceu graças a uma indicação de Bernie Dodge.

A gente sempre acha que certas coisas são conhecimento comum (todo mundo sabe…). E isso às vezes nos leva a cometer enganos. O mais comum deles é o de citar obras, autores e agora ferramentas web achando que estamos falando de coisas de domínio público. Já cometi tal tipo de engano ao falar do Technorati. Agora estou mais cuidadoso. Sábado passado, antes de falar na ferramenta, perguntei a meus alunos se eles a conheciam. Apenas dois estudantes levantaram a mão. Os demais, incluindo alguns blogueiros recém evangelizados, ignoravam o buscador. Por isso estou escrevendo este post, sugerindo a meus alunos e outros interessados pesquisas na tal ferramenta. Para tanto comecem a aventura clicando na palavra Technorati.

Censura continua

abril 26, 2008

Outro dia eu quis ler num computador da salas dos professores da universidade onde leciono um texto (acadêmico) que escrevi sobre blogs e educação. Nada feito. O acesso estava boqueado. Motivo: coloquei no título do meu paper uma palavra maldita, blog. O tal de sistema, aprovado por uma misteriosa diretoria, acha que blog é coisa do demônio. Assim, se alguém quer saber de blogs precisa de permissão especial. Não me conformo. Reclamo. Esperneio.

Boa parte dos bloqueios da Internet, utilizados por escolas e empresas, é apenas censura. Há um moralismo que informatas procuram disfarçar como necessidade técnica que resulta em atos ridículos de censura. Um exemplo: os sistemas de bloqueio odeiam as palavras jogo e games. Resultado: meus alunos de educação física não podem pesquisar normalmente assunto como jogos olímpicos nos computadores da universidade. Vocês não acham que isso é um limite inexplicável à liberdade de pesquisa?

Volto ao assunto porque acho que estamos perdendo sensibilidade para atos de censura. No momento estou relendo o magnífico livro The Police of Language, obra de Diane Ravitch. A autora faz uma levantamento sobre a censura exercida sobre a publicação de livros didáticos nos Estados Unidos, num movimento que une fundamentalistas religiosos e esquerda radicalóide. Resultado: os livros didáticos são cada vez mais textos sem qualquer cor ou sabor.

Não podemos aceitar qualquer tipo de censura. Liberdade é fundamental para a vida e dignidade humanas.

Não mate o blog

abril 19, 2008

Ensino e/é paixão

abril 19, 2008

Veja esta coleção de slides. Ela é obra de Gabriel Perissé. Qualquer acréscimo de informação que eu possa fazer é desnecessário. Por isso me calo. Curta a sua paixão.

Redação cooperativa: complemento 1

abril 17, 2008

Quem frequenta este Boteco deve estar achando estranhas todas as mensagens mais recentes. Parece que parei de considerar o eixo aqui do lugar: ensaios sobre blogs. Na verdade não me esqueci do eixo. Desde o começo estou trabalhando com a definição de blogs como espaços conversacionais. E os assuntos recentemente postados aqui são exemplos de conversa. A atividade com redação cooperativa, realizada com meus alunos de pedagogia e licenciatura, teve bastante repercussão. Alguns de meus estudantes utilizaram a técnica espontaneamente em seu trabalho docente. Outros, também espontanemante, deixaram comentários neste Boteco ou papearam comigo sobre a matéria após as aulas E alguns ciberamigos, a Miriam (de Campinas), o Marco (de São Paulo) e o Luís Villa (de Portugal) entraram na roda. Compareceram com informações valiosas sobre experimentos que já fizeram ou prometeram aplicar a técnica brevemente. Ou seja, o assunto gerou uma conversa muito produtiva. Estou aprendendo muito com isso – e tal ocorrência mostra de modo bastante concreto uma dimensão importante do blogar: aprendizagens não estruturadas.

Para ser breve e direto: as muitas conversações em torno da redação cooperativa estão mostrando “no processo” a dinâmica conversacional dos blogs. Portanto, não saí do eixo. Dito isto, voltemos à técnica em foco.

Miriam relata que seus alunos revelaram certo desconforto com a redação cooperativa. Esse desconforto apareceu sobretudo como dificuldade gerada pelas alterações de rumo na redação causada pelas mudanças dos autores (as idas para um outra máquina a fim de continuar um texto com idéias bastante diferentes das do escrevinhador recém chegado). O Marco aborda a mesma questão observada numa prática com seus alunos. E na experiência que narra, alguns escrevinhadores fizeram algo radical, apagaram o que seus antecessores tinham escrito. Finalmente, num relatório de experimentação da técnica, Débora Regina, Elaine Cristina e Luceilane, minhas alunas do 4° de pedagogia, colheram depoimentos de escrevinhadores revelando que consideram desagradável mudar de lugar e ter de dar sequência à linha de pensamento de outra pessoa.

Será que o desconforto observado em três diferentes experiências é um ponto negativo da técnica? Acho que não. Mudar de lugar e ter de dar sentido a uma redação cujos trechos anteriores não são da lavra do escrevinhador é uma situação que evindecia aquilo que Piaget chama de conflitos sócio-cognitivos. Nosso aprender é caracterizado por processo sucessivo de desiquilibração e equilibração crescente. Em outras palavras, aprendemos quando nosso pensar (e nossas aparentes certezas) é confrontado com o pensar alheio. Nesse encontro com outro certas construções que elaboramos são colocadas em xeque. Nossas crenças “balançam”. Mas a gente segue em frente, sobe mais um degrau a partir de um novo arranjo resultante do confronto entre o que pesávamos e o que pensavam os outros. Esse processo muitas vezes não é perceptível. Uma das vantagens da redação cooperativa é a possibilidade de evidenciar conflitos sócio-cognitivos. A cada mudança de máquina, o escrevinhador se vê obrigado a negociar significados de modo consciente. O texto do outro está lá, contrariando linha de pensamento que o escrevinhador vinha seguindo até trocar de máquina.

Aprendizagem é um processo de mudança. E mudar não é um desafio qualquer. Em anos recentes, segundo meu amigo Steen Larsen, os pesquisadores reparam que boa parte de nossos padrões de visão do mundo já está estruturada por volta dos seis anos de idade. E tais padrões nos dão conforto e segurança. Por isso resistimos. Não queremos deixar o seguro pelo desconhecido. Assim, ao contrário de algumas esperanças de que a mudança acontecerá com certa facilidade, o aprender verdadeiro (a alteração daquilo que Gardner chama de scripts) não é algo banal. Ou para dizer de uma outra forma: aprendizagens significativas sempre passam por zonas de desconforto.

Teorizei um bocado a partir de contribuições e comentários de alunos e ciberamigos. Mas o papo não terminou. Gostaria de saber como é que vocês estão entendendo esta minha maneira de ver explicitação de conflitos sócio-cognitivos na redação cooperativa. Entrem na roda. Ainda há lugar para muita conversa sobre o assunto.

Redação Cooperativa

abril 15, 2008

Para exemplificar minha afirmação de tecnologia é imaginação, e para melhor ambientar meus alunos no laboratório de informática, fiz recentemente um exercício de redação cooperativa. Tal exercício foi construído para mostrar que o Word pode ser um bom ambiente de aprendizagem. As linhas gerais da redação cooperativa são as seguintes:

  • O professor cria ou seleciona um inicio de texto – um ou dois parágrafos – que sugere diversos caminhos a serem trilhados na continuação do escrito.
  • Cada aluno, integrando uma bancada de cinco participantes, recebe cópia do citado texto e é desafiado a continuar a redação no ambiente Word.
  • Dez minutos depois de iniciada a redação, os alunos são convidados a trocar de lugar em sua bancada e continuar o texto no ponto em que ele estiver.
  • Outros dez minutos depois, os alunos são convidados a trocar de lugar de novo.
  • Mais rodadas de trocas são efetuadas a cada dez minutos até que os alunos passem por todas as máquinas.
  • Quando chegarem à última máquina, os alunos são convidados a terminar o texto.

O resultado final de tal exercício pode ser utilizado de diversas formas. Basta imaginação. Exemplos: a bancada pode eleger a melhor redação e trabalhar sobre ela para publicá-la; cada bancada pode ser convidada a eleger o melhor trabalho e lê-lo para que a classe toda aprecie o texto; cada bancada pode escolher o melhor texto a ser publicado num “livro” coletivo que a classe irá preparar. O exercício tem bons fundamentos. A troca constante de lugares faz emergir conflitos sócio-cognitivos que evidenciam uma constante negociação de significados. A produção coletiva numa bancada tem efeito de emulação que leva pessoas que não gostam muito de redigir a se engajarem na produção. A situação toda tem toques de humor; isso torna o escrever bastante prazeroso. Redação cooperativa pode ser utilizada, é óbvio, para aprender a redigir. Mas serve também para outras coisas. Para minha surpresa e contentamento, os alunos gostaram muito dessa minha versão de redação cooperativa. Alguns dos meus estudantes já utilizaram-na de imediato em seu trabalho docente. Outros me disseram que vão utilizá-la em breve. Legal! Há diversos pedidos para que eu compartilhe todos os textos que utilizei no exercício. Por isso, numa página ali do lado, com o título Redação Cooperativa e Histórias Infantis, publico o material que utilizei precedido de uma introdução explicativa. Peço a quem já experimentou a proposta ou pretende experimentá-la para deixar aqui comentários que possam enriquecer futuros trabalhos na linha da redação cooperativa.

Ética e Tecnologia Educacional

abril 14, 2008

Comecei a navegar pelos mares da tecnologia educacional (edtech) no início dos anos de 1980 quando fui aceito no mestrado de Edtech na San Diego State University. No começo fiquei preocupado, achando que a nova disciplina pedagógica era coisa para ratos de laboratório (uma idéia que ganhou concretude quando comecei a reparar que uma colega do programa, branca como um rato albino, passava dez ou mais horas diárias no lab dos Apple IIe). Para meu consolo, aprendi então que os pesquisadores da área não definiam tecnologia a partir de máquinas ou equipamentos, mas a partir das capacidades humanas de criar materiais que ajudassem as pessoas a aprender mais e melhor.

No ambiente edtech da década de oitenta, ética era um assunto que pouco aparecia em nossas discussões. Mas lembro-me de um artigo escrito por um dos ex-alunos do departamento que situava a questão ética a partir de uma experiência acontecida assim que buscou emprego como tecnólogo educacional. Ele passou num concorrido processo seletivo de uma indústria do Novo México. Empresa moderníssima. Setor de tecnologia educacional com muita grana e recursos. Mas ele desistiu do trabalho. Motivo: descobriu que a empresa fazia parte da indústria bélica americana. Razão: não pretendia colocar seus talentos de especialista em tecnologia educacional para formar pessoas no campo da fabricação de artefatos cuja finalidade última era matar gente. Numa palavra, recusou um ótimo emprego por motivos éticos.

A história com que abro este post me veio à cabeça assim que vi a nova definição de tecnologia educacional elaborada pela AECT (Association for Educational Communications and Technology). Tal definição é o objeto de um livro recente: Educational Technology – A definition with commentary:

Tecnologia educacional é o estudo e a prática ética para facilitar a aprendizagem e melhorar o desempenho pela criação, uso e administração de processos e recursos tecnológicos.

Esta é a primeira vez que a dimensão ética aparece com destaque numa definição elaborada por uma associação que congrega alguns dos mais importantes nomes da tecnologia educacional. Para oferecer minha modesta colaboração no assunto, proponho que interessados em tecnologia educacional considerem como um dos pontos de partida para a reflexão sobre o compromisso ético em educação o poema que vem a seguir:

Para refletir…*

Soren Kierkegaard**

Se quero ter êxito

ao acompanhar um ser com um fim preciso,

devo ir até onde este ser está

e começar desde lá a caminhada.

Quem não sabe fazer isto, engana a si mesmo

quando pensa que pode ajudar os outros.

Para ajudar um ser

devo certamente saber mais do que ele

mas antes devo compreender o que ele compreende.

Se não chego lá,

de nada adianta

ser mais capaz e sábio que ele.

Se desejo acima de tudo mostrar

aquilo que sei

é porque sou orgulhoso

e quero ser admirado pelo outro

não ajudá-lo.

Todo apoio começa com humildade

diante daquele que quero acompanhar

porque devo compreender

que ajudar

não é querer dominar

é querer servir.

Se não chego lá

não posso ajudar o outro.

* Poema proposto por Britt-Mari Barth, en “Le Savoir en Construction: former à une pédagogie de la compréhension”, como ponto de partida sobre a questão da construção do saber numa relação pedagógica.

** Filósofo existencialista dinamarquês, 1813-1855.

Teste

abril 14, 2008

Por causa da recente mudança nas ferramentas de publicação no WordPress, estou aqui testando indicação de material no Slideshare. Para o teste ficar mais bonitinho e para matar saudade de um lugar inesquecível, escolhi uma coleção de slides com fotos de Niagara Falls. Vale a pena ver. E quem puder um dia ver ao vivo, saberá por que digo que o lugar é inesquecível.