010. Boteco Escola: outra entrevista
Em 30 de outubro do ano passado anunciei duas entrevistas sobre o Boteco
Escola. Uma delas foi encaminhada para uma publicação eletrônica da rede
Pueri Domus. A outra , para a revista Profissão Mestre. Transcrevi o texto
original da primeira aqui nesta coluna de páginas e prometi que
publicaria, no mesmo espaço, a segunda. Para cumprir a promessa estava
aguardando informação da revista Profissão Mestre sobre publicação de minha entrevista. Não recebi a informação
esperada, mas sei que a matéria já foi publicada (visitantes deste Boteco
me deram a notícia). Não tenho certeza se a jornalista conservou o texto
original que lhe enviei ou se editou minha fala. De qualquer forma,
registro aqui a conversa original que tive via e-mail com a representante
da Profissão Mestre.
– Gostaria que você me contasse como foi a criação do Boteco Escola. O que originou a idéia.
Em 2005 comecei a trabalhar a questão do uso de blogs na educação com meus
alunos do 4° ano de pedagogia. Durante dois anos utilizei uma abordagem
semelhante à utilizada por Bernie Dodge, da San Diego State University, e
David Carraher, da Universidade de Harvard, enfatizando a questão da
escrita. Eu estava convencido de que blog é sobretudo um espaço que pode
criar grandes incentivos para a escrita e a leitura. Mas não fiquei
satisfeito com os resultados obtidos. Meus alunos, assim como os alunos do
Bernie e do David, assumiram a tarefa de produzir blogs como um dever
escolar. O resultado foram espaços burocráticos (feitos para ganhar uma
nota, nada mais) e sem alma. Neste ano resolvi mudar. Porém não sabia
como. Por causa de minha insatisfação comecei a re-estudar blogs nos
campos da comunicação e da educação. E descobri uma coisa nova. Descobri
que os blogs são sobretudo lugares organizados para promover boas
conversas. Resolvi passar essa mensagem para os meus alunos.Se a gente acredita em algo é bom dar exemplo. Por isso, em vez de apenas
pedir a meus alunos que criassem espaços para conversas interessantes,
resolvi criar um blog especial para conversar com meus estudantes e com
educadores interessados em usos de meios para se comunicarem no
ciberespaço. No começo a ficha não caiu. Eu estava fazendo um blog
tradicional, apesar de saber que a maior atração da blogosfera é a
conversa, o papo sem compromisso. Aí resolvi encontrar espaços de conversa
que pudessem inspirar meu trabalho. E descobri que em nossa terra o melhor
exemplo de espaço para bons papos é o boteco. Descobri mais coisas. Há
muitos blogs inspirados pela idéia de que bares, botecos e tascas é um
exemplo a seguir na construção de locais de encontro na blogosfera.
Conseqüência? Meu blog passou a se chamar Boteco Escola. Estou cada vez
mais convencido que o clima de liberdade, de bom humor, de amizade, de
gosto de viver presente em bons botecos pode ser uma fonte de inspiração
para os educadores.
– Você dá aula há quanto tempo?
Dou aula desde 1967. Comecei com professor do antigo ginásio e do curso
normal. Mas fiquei fora do magistério durante bastante tempo (de 1972 a
1992), época em que exerci cargos de supervisão e direção no Senac de São
Paulo. Em 1992 voltei à sala de aula, desta vez na universidade,
lecionando de tecnologia educacional nos cursos de pedagogia e
licenciatura. Mas mesmo nos meus tempos de supervisão e direção não deixei
de todo o trabalho docente. Muitas e muitas vezes atuei como docente em
cursos de formação em serviço para docentes do Senac, da Secretaria de
Educação e de outras instituições.– De que maneira trabalha para ajudar seus alunos a se interessarem por
assuntos educativos na internet?
Me esforço muito para mostrar a meus alunos que tecnologia é uma
articulação entre a ferramenta (a internet o computador, os softwares
etc.) e a imaginação. Nesse sentido acho que simples uso da internet não
produz bons resultados em termos de aprendizagem. Isso pode resultar em
trabalho correto, mas sem encantar o aluno para que este mergulhe no mundo
de conhecimentos que precisa aprender.
Navego bastante pelo ciberespaço procurando coisas novas ou conferindo
espaços que já conhecia. Seleciono exemplos que podem ajudar meus alunos a
melhor entenderem como utilizar a rede mundial de computadores. Às vezes,
por exemplo, peço a meus estudantes para criarem suas próprias obras no
SlideShare, aquele espaço da internet onde as pessoas podem compartilhar
suas obras em Powerpoint. Outras vezes mostro recursos como o Geography
Zone, um software que oferece bons desafios para a aprendizagem de
geografia política e humana num clima de jogo. E assim por diante.
Meu trabalho principal no campo de tecnologia educacional relacionada com
a internet, além de experiências com blogs, acontece sobretudo em projetos
voltados para as WebGincanas (um modelo de organização da informação que
estou desenvolvendo desde 2004) e para as WebQuests, a genial invenção de
Bernie Dodge. Confesso que meus alunos nem sempre se entusiasmam com tais
propostas. Mas não desanimo. Sei que usos imaginativos das novas
ferramentas tecnológicas não são algo que se possa aprender num curso ou
num projeto. Exigem muito mais. Exigem mergulhos profundos no mundo da
comunicação humana.
– Já sofreu alguma retaliação por parte de seus colegas ou recebe mais apoio?
Não. Nunca tive problemas com colegas de magistério por causa de meu
envolvimento com as novas tecnologias da informação e da comunicação. Na
universidade, mesmo os educadores que não conhecem bem as novas mídias me
incentivam muito e pedem para que eu apresente para os alunos mais
alternativas de uso das ferramentas tecnológicas.
– Conte-me um pouco sobre suas principais crenças quando o assunto é
educação.
Minhas convicções educacionais são muito parecidas com aquelas indicadas
por Gardner num livrinho chamado The Disciplined Mind. Acho que a educação
é uma atividade que deve promover três coisas importantes para a
humanidade: a verdade, a beleza e a bondade. Podemos desenvolver verdade
por meio de uma aprendizagem das ciências. Podemos desenvolver gosto pela
beleza por meio de programas que ajudem nossos alunos a apreciar as
grandes obras de arte criadas por gênios com Mozart, Aleijadinho,
Portinari, Machado de Assis etc. etc. Podemos promover bondade por meio de
programas que ajudem nossos alunos a crescerem em termos de educação
moral. Não precisaria acrescentar mais nada. Mas ouso fazê-lo. Creio que
educação é atividade que deve fazer com que as pessoas desenvolvam mais e
mais suas capacidades para encontrar o sentido das coisas e o sentido da
vida. O sentido das coisas está ligado à nossa capacidade de entender o
mundo por meio da ciência. O sentido da vida está ligado às nossas
capacidades de buscar sempre o melhor possível (busca ética), e de
apreciar a beleza das coisas e das produções humanas (busca estética).
Essas coisas simples são tudo que a gente precisa ensinar…
– Dados pessoais
Sou professor. Mestre em tecnologia educacional pela San Diego State
University e Doutor em Educação pela Unicamp. Escrevi dois livros, um
sobre tecnologia educacional, outro sobre educação profissional.
Participei de diversos projetos de produção de softwares para e educação.
Sou blogueiro velho e uso bastante o ciberespaço para conversar com
educadores e gente de comunicação aqui no Brasil e em outras partes do
mundo. E apesar dos atuais vexames da equipe, continuo a ser um devoto
corintiano.
(texto escrito em outubro de 2007)
fevereiro 24, 2008 às 11:43 am |
GOSTEI MUITO
abril 24, 2009 às 9:39 pm |
Blog é uma parte que ocorre entre duas ou mais pessoas para conversarem sobre qualquer assunto de maneira nãoínformativa, mas interativa. Segundo Jarbas, blog é uma ferramenta de comunicação. Na verdade é “onde” se conversa de maneira espontânea, livre e direta: um bate-papo informal sobre qualquer assunto, em que o objetivo é jogar conversa fora, nada pedagógico ou didático. Desta maneira abre-se uma conversa virtual sobre um assunto em que ambos estão afins. aprend´-se brincando, uma vez que a comunicação flui claramente no nosso universo do conhecimento. O importante no blog é escrever o que pensa e encontrar parceiros que tem o mesmo em comum. É o início de uma grande jornada com amigos que caminham os mesmos caminhos.