Archive for maio \16\+00:00 2020

Baratos na música

maio 16, 2020

Meus primos, Vavá e Mirim, voltam a atuar como dupla na música. Eles, como eu, são Baratos, descendentes de Santo Barato que veio do Vêneto em 1896.

Políticas de educação profissional

maio 11, 2020

Sempre aparecem tentativas de estabelecer uma política nacional de educação profissional. Essas tentativas quase sempre têm como base motivações econômicas e, ao mesmo tempo, pouca preocupação com a educação dos trabalhadores. Nas duas imagens que eu trouxe para cá há um texto que escrevi nos idos de 1981, Limites e possibilidades de uma política nacional de formação de mão de obra, publicado no Estado de São Paulo, edição de 1 de dezembro daquele ano.  A matéria aborda o documento de uma política nacional proposta pelo Ministério do Trabalho. Tal documento foi apresentado em evento realizado em Brasília.

Depois do evento, ao regressar da capital federal, redigi relatório para o Senac de São Paulo. Amigos acharam que o texto merecia ser divulgado e encontraram acolhida do Estadão para publicação do meu escrito. Fiz as necessárias mudanças para converter meu relatório em artigo. Cópia integral da matéria aparece abaixo no formato de imagem.

Há muito o que comentar sobre o que escrevi no distante 1981. Mas não vou amolar o leitor com um comentário completo sobre o artigo. Por, quero ressaltar um dos pontos que abordei. O documento do MTB insistia numa tese que é muito popular: é preciso que a educação – particularmente a voltada para formação de mão de obra – seja congruente com o mercado de trabalho. Isso é uma grande bobagem, pois a educação não se subordina a interesses econômicos imediatos. Vale copiar aqui o que escrevi sobre o assunto no artigo em pauta.

A QUESTÃO DA CONGRUÊNCIA

O Documento de Trabalho parece ter como certa a possibilidade de congruência entre estrutura produtiva e formação profissional. Entende a estrutura de formação profissional como inteiramente dependente da estrutura produtiva e considera a correta adequação entre ambas apenas como um problema técnico.

Não ignoramos que a formação profissional deva estar voltada para a produção. Entendemos, porém que esta relação não significa dependência absoluta. Além disso, uma dimensão necessária da formação profissional – contribuir para mudanças necessárias na estrutura de produção – não se realiza a partir da dependência.

A impossibilidade de congruência deve-se, entre outros, a aspectos tais como: características psicossociais, aspirações sócio-econômicas e grau de escolaridade da clientela; diferença acentuadas entre métodos mais eficazes de capacitação profissional e normas de produção; possibilidades reais de formação e diversificação muito extensa das ocupações no mercado de trabalho.

Até aqui apontamos, em linhas gerais, aspectos impeditivos de uma congruência conteúdo da formação/conteúdo do trabalho. A adequação perfeita entre estoques necessários de mão de obra/efetivos formados também é impraticável. Neste caso, além do grau de incerteza das pesquisas quanto a necessidades de recursos humanos, constituem obstáculos à congruência a capacidade de adaptação do ser humano a novas situações e a possibilidade de transferência de aprendizagem, dois fatores que escapam a qualquer controle.

É preciso dizer que a impossibilidade de congruência a elimina a necessária relação entre estrutura produtiva e formação profissional. Nessa relação, porém, a primeira não atua como determinante da segunda, mas como indicadora de caminhos a serem  percorridos.

Acreditar na congruência é uma convicção a ilusão pedagógica, privilegiando soluções educacionais como exclusivas ou 0redominantes no enfrentamento de problemas sócio-econômicos.

A perspectiva congruente confere elevado “status”à ações educacionais. A não satisfação daquilo que ela promete gera uma revisão que, mais uma vez, procura adequação onde não há adequação d minimiza outras dimensões que não se situam na estrutura produtiva. Um exemplo clássico neste sentido é querer resolver problemas de desemprego com mais educação, partindo pressuposto de que melhores níveis de qualificação garantem, automaticamente, fácil acesso ao mercado de trabalho. 

Propomos que na definição de uma política nacional de formação de mao de obra fiquem evidenciados:

  • a relativa independência da formação profissional frente à estrutura produtiva;

  • a caracterização das necessidades econômicas (e prioridades governamentais) como indicadoras e não como fatores determinantes para a formação profissional;

  • o papel auxiliar da formação profissional nas mudanças da estrutura produtiva;

  • o papel complementar e necessário, embora não determinante, da formação profissional na solução dos problemas sócio-econômicos;

  • a existência um espaço próprio da formação profissional do qual decorrem finalidades e objetivos específicos.

Na releitura que faço do meu velho escrito, noto que o texto reflete cuidados para não gerar conflitos com o MTB e o Senac. Além disso, a versão que trago para cá foi escrita para ser aceita pelo Estadão. Por isso, muitas das críticas que fiz precisam ser lidas nas entrelinhas. Certamente, nos dias de hoje, eu abordaria com muito mais clareza a questão da congruência. Quem sabe eu ainda volte a ela ee escreva novo artigo sobre o assunto…

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Ciência e educação profissional

maio 9, 2020

Em muitos discursos sobre educação profissional acentuam-se as bases científicas do trabalho. Daí se passa para propostas de ensino de ciências que podem ter efeitos desastrosos na educação dos trabalhadores. O filósofo André Gorz chama atenção para o problema num artigo que escreveu opondo-se a uma proposta pseudo-marxista sobre organização do trabalho [conf. GORZ, André. Para una crítica de las fuerzas productivas: respuesta a Mark Rakonski. El Cárabo, 13-14, 1979].

Gorz em seu artigo comenta que a ciência costuma ser ensinada para mostrar ao trabalhador ele é incapaz de entender o saber científico. O filósofo francês entende que tal modo de ensinar afasta o aprendiz do saber. Alunos concluem no final do processo que ciência não é para o bico deles e deve ser deixada para os teóricos que são capazes de entendê-la.

Para conferir o que diz Gorz basta ir até uma sala de aula e acompanhar como os professores ensinam conteúdos científicos em cursos de educação profissional. Jã fiz isso algumas vezes e constatei que os alunos boiam o tempo todo. Outro modo de conferir a crítica de Gorz é a de examinar material didático escrito para ensinar ciências para os trabalhadores. Também  fiz isso e vou mostrar aqui um exemplo bastante concreto de como provar que ciência não é para o bico dos trabalhadores.

No final dos anos de 1980 acompanhei a reestruturação dos cursos de cabeleireiro no Senac de São Paulo. Fiz isso depois de um trabalho que houvera coordenado para envolver todos os docentes do curso na elaboração de um manual de técnicas básicas do ofício de cabeleireiro. O trabalho que propus e coordenei partia do princípio de que o saber fundamental na formação dos profissionais de salão era a técnica. E mais, que o saber técnico era um patrimônio que a organização vinha desenvolvendo com base nos conhecimentos de seus docentes. No processo, todos os docentes contribuíam para a confecção do manual, escolhendo um ou mais técnicas nas quais se julgavam peritos. Não vou aqui contar a história do projeto. Vou apenas assinalar que conseguimos elaborar um manual que tinha autoria compartilhada de todos os docentes do Senac paulista.

Sepois que encerrei minha participação no processo de explicitação do saber técnico dos docentes do curso de cabeleireiro, pessoas que assumiram a coordenação da área de Beleza na organização criticaram muito o manual produzido. Além disso, proclamaram que era preciso garantir boa fundamentação teórica ao  curso. Para tanto, partiram para a elaboração de manuais relacionados com as ciências que “sustentam” o saber dos cabeleireiros.

Os manuais teóricos não foram elaborados pelos docentes da casa. Consultores externos –  professores da Faculdade de Farmácia da USP – foram contratados para a tarefa. Esse consultores elaboraram manuais de biologia e química sobre saberes supostamente relacionados com o ofício de cabeleireiro. E o resultado foi aquele criticado por Gorz, a forma ciência utilizada no material provava cabalmente que ciência não é saber para o bico dos trabalhadores.

Não vou analisar aqui todos os manuais produzidos. Fiz isso por volta de 1988 e escrevi um pequeno resumo de minhas impressões; Mais à frente vou reproduzir tal resumo aqui. Agora quero apresentar um exemplo de como os manuais voltados para as bases teóricas do curso de cabeleireiro mostravam que ciência era assunto para pessoas mais preparadas e inteligentes que os profissionais de salão. No manual de Citologia e Anatomia da Pele encontrei, entre outras, a seguinte joia:

DERME

A derme é a camada intermediária da pele, dando-lhe resistência mecânica. É formada por um gel: a substância amorfa onde estão mergulhadas as fibras colágenas (95%) e as fibras elástica (5%).

É na derme que encontramos ainda:

  • Nervos: responsáveis pela sensibilidade à pressão tátil, térmica e dolorosa.

  • Vasos sanguíneos: distribuídos em um plexo mais profundo no nível dermo-hipodérmico e um plexo mais superficial na derme papilar. Têm função de nutrição da pele e regulação da temperatura corporal.

  • Vasos linfáticos: condutos de fundo cego – capilares – que confluem entre si, levam a linfa a vasos de maior calibre e possuem válvulas para impedir o refluxo. A linfa transporta patógenos e células tumorais até gânglios linfáticos que funcional como filtros.

  • Glândulas sudoríparas: produtoras de suor, um líquido incolor, sem cheiro, composto 99% por água e 1% Na, CI, K, uréia, Ca, P, Fe e lipídios. Existem dois tipos> écrinas, que desembocam diretamente na superfície cutânea e estão localizadas em toda a pele especialmente nas palmas das mãos e plantas dos pés, e apócrinas, que desembocam nos folículos polissebáceos e estão localizadas em axilas, região perimamilar e região anogenital.

O trecho que reproduzi tem alguns problemas de redação. Mas isso é o de menos. O que importa mesmo é a forma ciência do material. O texto passa para os alunos de um curso de cabeleireiro que a ciência é um assunto que está muito além da capacidade de compreensão deles. Há aqui muito o que comentar sobre ensino de ciências a partir de uma material como esse. Mas, isso é uma tarefa que deixo a cargo do amável leitor…

Como disse atrás, escrevi por vota de 1988 ou 1989 uma nota sobre o assunto, criticando o material e, ao mesmo tempo, fazendo algumas indicações sobre caminhos para o ensino de ciências no curso de cabeleireiro. Reproduzo, a seguir, tais notas.

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Programa Informática e Educação

maio 8, 2020

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Em 1986 propus ao Senac de São Paulo criação do Programa de Informática e Educação, vulgo PIE. Por sorte, minha proposta acabou sendo executada por uma equipe brilhante de jovens hackers e de professores que se entusiasmaram pela produção de softwares educacionais. Tenho certeza de que o PIE foi uma das iniciativas mais originais nos primórdios do uso de computadores na educação em nosso país. Acho, porém, que nosso mérito não foi inteiramente reconhecido, pois não tínhamos nenhum medalhão da academia envolvido com nosso trabalho. Outra coisa, desde o início, entendemos que tecnologia depende de capacidade de produzir. Por isso, o PIE produzia softwares educacionais. Além disso, nossa proposta tinha como uma de suas marcas a autoria docente. Ou seja, o que a gente produzia resultava de propostas dos professores da casa.

Há muito o que contar sobre a experiência do PIE. Mas, não farei isso no momento. Agora quero apenas deixar aqui um registro. O PIE nasceu de um documento que escrevi em 1 na metade dos anos de 1980. Recuperei tal documento e publico-o aqui no formato de imagens das páginas que o compõem.

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