Archive for outubro \30\+00:00 2009

Garota da Uniban, educação, e barbárie

outubro 30, 2009

Em meu twitter tenho insistido que as agressões a uma estudante na Uniban é um caso de barbárie. Preciso qualificar esta minha insistência. Para tanto, copio aqui parte de um subsídio que escrevi para minhas aulas de filosofia em 2006.

Há um livrinho do Adorno que os educadores precisam conhecer. Trata-se de Educação e Emancipação, editado no Brasil pela Paz e Terra em 1995. Num dos capítulos da obra, o filósofo conversa sobre a questão “Educação e Barbárie”. Cito a seguir alguns trechos do mencionado capítulo:

Entendo por barbárie algo muito simples, ou seja, que , estando na civilização do mais alto desenvolvimento tecnológico, as pessoas se encontram atrasadas de um modo peculiarmente disforme em relação a sua própria civilização – e não apenas por não terem em sua arrasadora maioria experimentado a formação nos termos correspondentes ao conceito de civilização, mas também por se encontrarem tomadas por uma agressividade primitiva, um ódio primitivo ou, na terminologia culta, um impulso de destruição, que contribui para aumentar mais o perigo de que toda esta civilização venha a explodir, aliás uma tendência imanente que a caracteriza. Considero tão urgente impedir isto que eu reordenaria todos os outros objetivos educacionais por esta prioridade. (p. 155).

Eu começaria dizendo algo terrivelmente simples: que a tentativa de superar a barbárie é decisiva para a sobrevivência da humanidade. (p.156)

… porém entendo com sendo fatores objetivos neste caso os momentos sociais que, independentemente da alma individual dos homens singulares, geram algo como a barbárie. (p.156)

A forma de que a ameaçadora barbárie se reveste atualmente é a de, em nome da autoridade, em nome de poderes estabelecidos, praticam-se precisamente atos que anunciam, conforme sua própria configuração, a deformidade, o impulso destrutivo e a essência mutilada da maioria das pessoas. (p. 159)

Isto é, desacostumar as pessoas de se darem cotoveladas. Cotoveladas constituem sem dúvida uma expressão de barbárie. (p. 162)

Adorno entende que uma das principais (talvez a principal) finalidades da educação é  a de formar gente que evite a barbárie no mundo em que vivemos. Para sustentar essa posição não é possível partir de um entendimento de que  verdades ou princípios morais universais são impossíveis. Ou, para colocar a questão como o fiz no início deste subsídio, sem verdades a educação é impraticável.

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Novecento

outubro 29, 2009

1900

Aqui no Boteco os comentários chegaram a 1.900. Resolvi divulgar a façanha. Não quero elogios. Quero mais comentários. Minha meta: chegar a 2.000 comentários até o final deste ano. Tenho fé que chego lá, mas dependo de você. Que tal fazer um comentariozinho sobre este post de auto-promoção? O ego deste dono de boteco vai ficar inchado e satisfeito.

Blog sem comentário é como macarronada sem queijo, arroz sem feijão, amor sem paixão. Aproveito para dizer que isso tudo tem a ver com o aprender a blogar, pois os comentários são a forma mais usual de conversa cá na blogosfera. Vamos, portanto a um dedo de prosa. Prometo que no final do ano, se atingir a meta dos 2.000, convido os comentaristas para um chope no Amigo Leo.

Pesquisem na internet

outubro 22, 2009

O pedido ou ordem que aparece no título deste post é um dos indicadores de modernidade no ensino de nossos dias. Ou, pelo menos, é o entendimento de modernidade que predomina na mídia quando se fala em usos das novas tecnologias de informação e comunicação.Muita gente deve se lembrar de uma propaganda que tem tal indicador como fundo. Trata-se de uma história para promover um provedor de banda larga. No final da história, uma criança que não possui a maravilhosa novidade, é apresentada como um menino das cavernas entregando sua “pesquisa” gravada em blocos de pedra. Já a criança cujo pai assinou aquele serviço da internet apresenta um volume imenso de páginas com muito texto e ricas imagens.

Esse modo de mostrar as virtudes da modernidade é recorrente. Já o vi, por, exemplo, num vídeo educacional do Senac que aponta diferenças entre a antiga a nova secretária. A aprimeira tem um trabalho triste, dominado por máquinas velhas, lentas, feias. A segunda vive num ambiente de trabalho alegre,  e usa máquinas lindas.

No ano 2000, numa visita à Universidade de Guadalajara, recebi um vídeo institucional sobre trabalho docente. Nas primeiras cenas, em um mundo triste, preto e branco, um professor desastrado entra na sala de aula com uma valise surrada e usa um quadro negro que vai quebrando em pedaços um giz que não “pega”. Total desinteresse dos estudantes. Nas cenas finais, brilhantemente coloridas,  um mestre alegre usa datashow, encanta os alunos entusiasmados pelo que é ensinado. Há, ao que parece, um padrão único de script para todas essas histórias sobre modernidade em educação. Mas não vou analisar toda a paisagem. Quero apenas registrar observações sobre utilizações da internet.
Num post em seu blog,  meu amigo Bernie Dodge, tenta, mais uma vez, mostrar que não é um expert em Triângulo das Bermudas. A razão para esse cuidado do Bernie é o grande número de pedidos que ele recebe, via e-mail, de auxílios para trabalhos escolares sobre o misterioso (pseudo) fenômeno que alimenta diversas lendas sobre sumiços de aviões e barcos no trecho bermudense do Caribe. E por que alunos de diversas escolas recorrem ao professor da San Diego State University? Porque uma velha sinopse de WebQuest que teria o Triângulo das Bermudas como um chamariz para investigações de caráter científico, confrontando mito e história, continua no ar. E em tal página, Bernie aparece como coordenador do trabalho (instructor).

A sinopse não apresenta nenhum conteúdo sobre o suposto mistério do Triângulo da Bermudas. Apenas delineia possíveis caminhos que os autores da WebQuest deveriam percorrer para chegarem ao produto final. Mas alunos de várias escolas continuam a recorrer ao Bernie como fonte para “projetos” que têm o misterioso fenômeno como alvo. O pedido mais recente é o de uma luno de 7ª série que está produzindio um documentário sobre o famoso Triângulo. Como acha que descobriu via internet que Bernie é um expert no assunto, o interessado solicita uma entrevista via e-mail e quer resposta rápida pois o trabalho precisa ser entregue logo (dois ou três dias).
Situação parecida com a do professor da San Diego anconteceu com o Dr. Aquiles Von Zuben, da Unicamp. Aquiles mantinha um site sobre bioética, com materiais de interesse para seus alunos de filosofia no doutorado em educação. Volta e meia, estudantes de ensino médio pediam ajuda do professor da Unicamp via e-mail e fazendo referência ao site sobre bioética. Eis aqui um desses pedidos:

Prezado Professor Aquiles,
Sou aluno de curso médio. Procurei o sentido da vida na Internet. Nada encontrei. Mande-me, por         favor, uma resposta. Nada muito longo. Bastam duas páginas. E mande logo, tenho de entregar o         trabalho na próxima terça. Abraço,
Fulano de Tal.

O texto é autêntico. Eliminei apenas o nome do aluno e alguns erros gramaticais foram corrigidos.
Os dois casos aqui narrados retratam um padrão muito frequente nas escolas. Um professor, convencido de que seus alunos devem usar novas tecnologias, faz o grande pedido: pesquisem x (sentido da vida, Triângulo das Bermudas etc.) na internet. E os alunos acionam os poderosos buscadores. Aparece um lista imensa de fontes. Algumas dessas fontes são aproveitadas. Em muitos casos, professores, autores ou pesquisadores citados nas páginas listadas são convidados a colaborar. Mas, como mostram os casos de Bernie e Aquiles, os pedidos de ajuda não são bem informados. São mais mensagens de socorro emitidas por náufragos da internet. Tais resultados são consequência de um entendimento que o saber nascerá automaticamente de usos não estruturados das novas ferramentas de informação e comunicação. Isso mostra a necessidade dos professores dominarem modelos de apoio (andaimes, mapas, scripts, roteiros) capazes de fornecer apoio suficiente para pesquisas bem feitas e consequentes.Caso contrário, os náufragos do imenso mar informacional da rede internacional de computadores continuarão fazendo consultas equivocadas a professores como Bernie e Aquiles.
Ambos os casos sinalizam uma outra coisa. A página de Aquiles não era um sítio dedicado a questões como o sentido da vida. Era um repositório de textos e informações filosóficas. A página sobre Triângulo das Bermudas, construída por alunos do mestrado da San Diego State University, não é uma fonte de informação sobre o assunto. É um roteiro de planejamento de tecnólogos educacionais. Leitores competentes jamais concluiriam,  num ou noutros caso, que o coordenador da página era um expert no assunto pesquisado. Os pedidos de socorro feitos aos dois professores universitários aqui citados são sintomas ou de dificuldade de leitura ou de uma leitura muito desatenta. De qualquer forma, ambos os casos indicam problemas de leitura nessas atividades que as escolas convencionaram chamar de “pesquisa”.
Cabe aqui uma observação sobre o sentido de urgência que domina nosso tempo. Em ambas as consultas, os alunos querem respostas rápidas, pois os resultados precisam ser apresentados logo. Quando o professor Aquiles me contou a história aqui narrada, fez a seguinte observação: “filosofo há mais de quarenta anos sobre o sentido da vida, ainda não encontrei qualquer resposta satisfatória, aí aparece esse menino e quer uma solução imediata para o problema”.
Os dois casos aqui contados sugerem muitos caminhos de conversa e investigação nos meios educacionais. Esbocei apenas um começo.

Educação integral

outubro 20, 2009

Fala-se muito em educação integral Mas, no cotidiano escolar as coisas rolam de um outro modo. No geral pensamos mais em eficiência que em  ganhos intelectuais, consciência cívica e crítica, desenvolvimento cultural etc. No frigir dos ovos, cobramos bons resultados no ENEM, preparação para ingresso nas boas universidades e sucesso profissional. Eficiência.

No seu livro mais recente, Mike Rose, entra no mérito das questões que esbocei no parágrafo anterior. Comecei a ler a obra, Why School? Reclaiming Education for All of Us. Nas primeiras páginas, Mike faz uma defesa apaixonada (e correta) da escola pública. Mostra os desvios do individualismo neo-liberal (conservador e afastado do interesse público). Não tenho ainda condições de fazer um comentário mais arranjado do livro do grande educador americano. Para quem consegue arranhar o inglês sugiro escutar Mike falando sobre sua obra no VT do Youtube e que aparece logo abaixo.

Taxonomia de Bloom: invertam a pirâmide

outubro 8, 2009

bloom invertedAcabo de ver no Twitter de Bernie Dodge sugestão sobre um outro modo de considerar a taxonomia de Bloom. Tradicionalmente, as categorias propostas são apresentadas numa pirâmide cuja base é constituída por conhecimentos factuais, culminando com saberes de síntese e avaliação. A proposta não é de Bloom, mas de gente que tentou didatizar explicações sobre a mais famosa e útil taxonomia de saberes para a educação.

No artigo recomendado por meu amigo gringo, os autores sugerem uma inversão da pirâmide, exemplificando sua sugestão a partir de estudos de história. O artigo é interessante e provocativo. Vale leitura e reflexão. Para tanto clique nesta indicação de link.

Bullying: materiais de estudo

outubro 2, 2009

Acabo de elaborar proposta para uma atividade educacional sobre Bullying. Não tenho autorização para divulgar minha proposta. Posso, porém, divulgar algumas das descobertas que fiz ao levantar materiais sobre atos de violência (física e simbólica) no espaço escolar.

Quatro anos atrás, sugeri a um grupo de alunas da Licenciatura que considerassem o uso da música Don’t Laugh at Me, um dos hits de Peter, Paul and Mary, como instrumento de sensibilização na Introdução de uma WebQuest sobre Bullying que o grupo estava elaborando. As meninas aceitaram a sugestão. Econtraram um belo clip da música, fizeram download do mesmo e colocaram no vídeo legenda de tradução da letra de DLAM.

Descobri agora que a fonte de onde elas retiraram o vídeo é um portal criado pelo líder de PP&M, Peter, atendendo solicitação de educadores americanos. No portal estão relacionadas músicas do conjunto que podem ser um bom ponto de partida para conversas sobre inclusão social, justiça, solidariedade humana, direitos civis, ética, cidadania. A obra que dá nome à página é Don’t Laugh at Me, vista como uma bela maneira de sensibilizar alunos para conversas sobre respeito pelo outro. Lá está o clip que minhas alunas utilizaram. Além disso, Peter produziu outras versões da obra. Uma delas, um hip hop, é imperdível. Acesso ao portal criado pelo líder de PP&M pode ser feito com um clique neste LINK.

Outra descoberta que fiz foi a de um site brasileiro, o Observatório da Infância, que tem um segmento sobre bullying com material riquíssimo para professores e alunos. Para chegar lá, basta clicar neste LINK.

Encaixo neste post um VT que apresenta um documentário sobre a participação de Peter Paul and Mary nos movimentos sociais. Vale a pena ver e ouvir. Uma das canções, cantada por Mary, é belissíma.