015. Educação, Tecnologia e Gestão

Nuevas Tecnologías para la Gestión Educativa

Notas para palestra no evento

III Seminario Internacional de “Gestión Exitosa para el Tercer Milenio

Escuela de Post Grado de la Universidad Nacional del Centro de Perú

Huancayo. 29 de noviembre de 2008

Jarbas Novelino Barato

OBSERVAÇÕES

No processo de elaborar a comunicação, fui reunindo diversas informações relacionadas com meus estudos sobre tecnologia educativa e projetos no campo de aplicações das novas ferramentas da informação e comunicação. Resolvi converter tais informações num texto. Elas são um registro do que considerei para minha comunicação.

O texto que segue não é definitivo. Nem está organizado numa argumentação seqüente. Ele é um conjunto de notas resultantes de um brainstorm. É possível que eu não use todos os elementos nele relacionados. Mas vou oferecê-lo aos participantes como um ponto de partida para as reflexões que pretendo sugerir.

FOCO. Nosso foco é a gestão da educação, não a gestão das instituições escolares. Não se trata de reforma da escola, trata-se de reformar radicalmente o processo educacional. Isso é muito importante. Com as novas tecnologias houve e continua a haver câmbios radicais nos modos de produzir e distribuir informação e comunicação. O impacto que tais câmbios trazem para a educação ainda não é bem compreendido. Mas sabemos que antigos modelos de gestão da educação não são adequados para integrarem novas tecnologias nas práticas didáticas e pedagógicas de nossas instituições educacionais.

Há um problema. Os velhos modelos de administração da educação, cujas raízes remontam a Comenius, são fabris. Funcionaram bem por quase quinhentos anos e ainda são muito resistentes. A maior parte das dificuldades para realizar câmbios significativos em educação tem sua origem em tal resistência.

É impraticável mudar (cambiar) o processo educacional sem câmbios profundos na estrutura e administração da educação.

ECOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÂO. Novas ferramentas ingressam no ambiente: periódicos populares, rádio, TV, computadores. Cada uma dessas ferramentas teve impactos substanciais no ambiente (cf. Neil Postman). O conceito de ecologia da informação e comunicação é importante aqui. Novas ferramentas não são aditivas, elas são disruptivas. Mudam tudo. Assim, por exemplo, depois dos anos de 1950 não temos a mesma sociedade + televisão. Temos um mundo com profundas alterações provocadas pela presença da TV. Nos lares (hogares) já não se conversa tanto. Parte importante do tempo é dedicada a ver TV. Mas não é só isso. Surgem novos valores, novos heróis, novos meios de ver o mundo. Coisas importantes do passado são secundarizadas: livros, leituras, conversas com os amigos, heróis das produções impressas, valores ligados á Galáxia Gutenberg. O ambiente sofreu alteração radical. Em 1966, Chico Buarque, o grande compositor brasileiro já via o câmbio causado pela TV com muita clareza. Na canção ” A Televisão” ele diz:

Os namorados
Já dispensam seu namoro
Quem quer riso
Quem quer choro
Não faz mais esforço não
E a própria vida
Ainda vai sentar sentida
Vendo a vida mais vivida
Que vem lá da televisão…

O homem da rua
Por ser nego conformado
Deixa a lua ali de lado
E vai ligar os seus botões
No céu a lua
Encabulada e já minguando
Numa nuvem se ocultando
Vai de volta pros sertões…[1]

Câmbios radicais estão acontecendo agora com a universalização do uso de telefones celulares. O contato face a face já não é tão importante. As pessoas sentem-se obrigadas a permanecerem continuamente conectadas numa rede telefônica. Pode parecer apenas folclórico, mas o uso dos telefones móveis está alterando profundamente as comunicações humanas.

ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE COMPUTADORES. Há diversos câmbios devidos a ingresso dos computadores em nossa vida cotidiana. O primeiro deles acontece no âmbito das mensagens de modernidade. Não importam finalidade e usabilidade. Em diversos ambientes há computadores com muito mais recursos que os necessários para as tarefas a serem executadas (cf. Norman). O que se pretende no caso é passar uma mensagem de modernidade. Não importa muito se as novas ferramentas são usadas, nem se os profissionais sabem utilizá-las de modo efetivo. No ambiente escolar, laboratórios de computadores foram colocados nos locais mais nobres dos edifícios. Além disso, portas e paredes têm amplos visores de vidro para que os passantes vejam a “tecnologia” adquirida pela escola.

Em alguns ambientes, o uso das máquinas transformou completamente a arquitetura de interiores. Penso aqui particularmente no fenômeno que aconteceu com os bancos no Brasil. O interior de um banco de hoje nada mais tem a ver com o interior de uma agência bancária de 20 ou 30 anos atrás. Quase não há mais caixas atendidas por funcionários. Predominam os terminais eletrônicos.

Os mesmos bancos são exemplos de transformações na estrutura e conteúdo do trabalho. Metade ou mais da mão-de-obra bancária perdeu emprego. Além disso, os trabalhadores que permaneceram tiveram suas tarefas muito modificadas. Provavelmente trabalham mais. Provavelmente mantêm menos contatos face a face com os clientes. Provavelmente ganham menos se comparados com os bancários de 20, 30anos atrás. Parte do trabalho foi transferida para os clientes. Estes agora, em terminais eletrônicos ou via Internet, verificam extratos bancários, transferem dinheiro, pagam contas, fazem aplicações financeiras etc. Câmbios profundos, radicais.

Em outra área profissional, o jornalismo de TV, as transformações também não param. Com a informatização, jornalistas (periodistas) fazem roteiros, escrevem noticias, operam câmeras, produzem. Três ou quatro profissionais, antes necessários, foram dispensados. O periodista agora pode fazer ”tudo”. Mais trabalho com menos gente.

Outro exemplo. No âmbito da produção de artigos para algumas revistas científicas, autores escrevem, editam e fazem arte final de seus próprios textos. Tudo isso graças a programas de computadores que dispensam revisores e artistas gráficos especializados no processo de produção.

Há uma transformação física e organizativa por causa do uso de computadores em diversos setores.

RESISTÊNCIAS AO CÂMBIO. Novos equipamentos não provocam necessariamente alterações no mundo e na sociedade. Uso te tecnologias é uma ocorrência social marcada por contradições e conflitos (cf. Kaptelinin & Nardi). Uso de ferramentas retrata interesses, intenções. Um caso: introdução de ambientes wireless no campus da Universidade de Cornell. Estudantes tomam consciência de que as possibilidades de uso de seus laptops os afastam de um trabalho local. Tais possibilidades conflitam com compromissos de estudo.

Exemplo de Cornell mostra que espaços preferenciais de comunicação já não são físicos. São virtuais. Comunicações mediadas por artefactos passam a predominar. Quais são as conseqüências? No plano dos espaços de convivência? No plano de acesso a informações? No plano da produção e distribuição de informações?

MEDIAÇÔES DAS FERRAMENTAS PERMITEM CONSTITUIÇÂO DE OBJETOS ANTES INTANGÍVEIS. Na Teoria da Atividade, o que mais importa é a relação sujeito↔objeto. Mas há objetos que estão na outra margem, só podemos alcançá-los graças à mediação de certas ferramentas. Neste sentido, certas ferramentas constituem novos objetos, pois fornecem ao sujeito uma ponte que lhe permite alcançar o objeto. Entre tais ferramentas, os computadores são as mais interessantes. Eles permitem uma extensão de conhecimento até então impensada (cf. Norman).

Há aqui uma observação importante a fazer: muita gente pensa em computadores apenas como instrumentos para fazer as coisas convencionais, antigas. E, de fato, eles podem realizar tal façanha. Mas esta não é uma grande novidade. A grande novidade é a criação de um novo modo de saber, e a instituição de novos tipos de conhecimento, novos modos de ver o mundo.

MUDANÇAS EM ATIVIDADES TRADICIONAIS. Com novas tecnologias de informação e comunicação, muitas habilidades ganham e perdem. Vejamos a escrita, por exemplo. Quem escrevia à máquina produzia textos de um modo diferente que as pessoas que escreviam à mão. Agora quase todos nós escrevemos com (ou em) processadores de texto. Há uma diferença profunda entre produção manual e produção computacional de textos. Certamente com perdas e ganhos. E nossos textos vão ficando muito diferentes. Diferença maior acontece quando se aprende a escrever para ambientes de hipertexto. Neste último caso, o desafio ainda é enorme para a maior parte das pessoas. Num curso recente, desenvolvido para o ambiente web, eu era o único professor, entre oito, cônscio da necessidade de escrever para a tela (pantalla) e com indicações de links. E, é claro, apesar de cônscio, ainda não sei escrever bem para tal ambiente. Alguém sabe?

Há mais exemplos de mudanças. Um deles está em como buscar informações. Periodistas, professores, estudantes, cidadãos comuns quando confrontados com a necessidade de buscar informações tendem a ir para a Internet. Outros deles estão no tratamento de fotos e imagens, na diversão, nos jogos, nas comunicações pessoais. Todas essas práticas sociais ganham e perdem com as novas tecnologias. E, sobretudo, ficam cada vez mais diferentes.

No âmbito da Internet há um fenômeno preocupante: as pessoas tornaram-se dependentes dos buscadores (Google, Yahoo etc.). O nível das ”investigações” é muito limitado. Muitos investigadores ficam no limite das ferramentas. Lêem pouco. Não interpretam textos. Não fazem descobertas pessoais nas fontes de informação disponível. Nicholas Carr mostra isso de modo provocativo em “Is Google Making Us Stupid?” :

http://www.theatlantic.com/doc/200807/google

Em poucas palavras: o Google está escolhendo o que é ou não é importante. Muitos autores abordaram a questão Alan Kay levanta dúvidas e num futuro próximo seremos capazes de entender o que está atrás da informação. Dúvida semelhante foi formulada por Daniel Boorstin. Buscadores de informação, muito efetivos para dar sentido à desorganização que é a Internet, podem estar criando uma dependência que cria sérias barreiras para a construção do conhecimento.

UM NOVO ESPAÇO PÚBLICO: BLOGS. Os weblogs (bítacoras, diários eletrônicos) não são páginas comuns da Web. Não são, como parecem, diários. São uma nova forma de constituir o espaço público. Neles qualquer cidadão pode dizer sua palavra, sem censura, sem obedecer a hierarquias. Assemelham-se aos cafés dos séculos XVII e XIX da Europa. Essa característica do blogs é bem exemplificada no mundo político. Um caso famoso é

http://riverbendblog.blogspot.com/

Dizer a própria palavra num espaço público é uma experiência interessante. Além dos blogs, outras ferramentas podem proporcionar tal experiência. Há aqui, sem dúvida, um ganho extraordinário. E fica a lição: blogs não são diários eletrônicos de adolescentes…

NOVOS HORIZONTES DO TRABALHO. Novos meios de informação e comunicação podem ser utilizados para alterar a organização do trabalho. Um exemplo disso na área de educação é um fato noticiado há uns três anos atrás: professores americanos estavam enviando, eletronicamente, trabalhos de seus alunos para serem avaliados por professores indianos. Estes eram mão-de-obra barata utilizada para aliviar as tarefas de docentes americanos nos finais de semestre.

Na rede fast food Jack in the Box, o atendente de pedidos em drive through pode ser alguém de um estado distante ou até mesmo de um outro país (Índia, outra vez). O princípio por trás de tal prática é o de que o empregado, atendendo por meio de recursos online, pode cuidar de mais clientes que o atendente de uma loja (tienda) local.

Outra coisa: com o uso de computadores a possibilidade de controlar o que fazemos trabalhadores aumentou muito.

LIGAÇÕES COM EDUCAÇÃO. Os aspectos até aqui relacionados apontam para muitos câmbios no mundo em que vivemos. Há mais. Bastam, porém, os apontados para que estabeleçamos uma quadro de mudanças cujas implicações exigem uma nova educação ou sugerem modos de organização educacional bastante diferentes da escola fabril que ainda é o modelo predominante de nossos sistemas de ensino.

DIFICULDADES, ENGANOS E DESAFIOS EM USOS EDUCACIONAIS DAS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO.

Velhos carros (coches) assemelhavam-se às carruagens movidas por força animal. Mudava-se apenas a força motriz. O veículo continuava com o mesmo desenho. Não se percebia que os carros a motor eram uma nova espécie de veículos, exigindo aerodinâmica própria. Esse é um caso clássico de como a introdução de novas tecnologias muitas convive com fórmulas antigas. Em educação, certas tentativas de uso de TV como veículo educativo tinham tal característica. Deixava-se de lado a linguagem própria da televisão e fazia-se gravação de exposições tradicionais de professores. Hoje fenômeno similar está acontecendo com os computadores. Muitas vezes, formatos próprios da cultura tipográfica são transferidos para a tela (pantalla).

Examinemos mais os computadores. Eles têm um imenso potencial de expressar saberes humanos, assim como pianos têm imenso potencial de expressar musicalidade humana (cf. Alan Kay). Pianos não executam música autonomamnete, dependem de pianistas e compositores que “fazem” música. Da mesma forma computadores não produzem conhecimentos. O romance do saber é um sonho humano. O principal aqui e criação, invenção imaginação. Sem isso, produtos de informação e comunicação veiculados por computadores são banais. Muitos usos de computadores em educação vão nesse rumo.

Outro fenômeno que merece um olhar (mirada): a questão da domesticação pedagógica das ferramentas. Em contextos alheios à educação, usos de computadores ou de mídias integradas são inovadores e até apaixonantes (caso dos jogos eletrônicos segundo James Gee):

http://www.wwwords.co.uk/pdf/freetoview.asp?j=elea&vol=2&issue=1&year=2005&article=2_Gee_ELEA_2_1_web

Em tais casos, os autores utilizam a “força selvagem” dos computadores. Ou seja, utilizam o potencial de um instrumento digital que pode imitar praticamente qualquer invenção humana, pode criar universos nos quais hipóteses podem ser testadas, princípios podem ser verificados. Mas há uma limitação na educação, geralmente os educadores “domesticam” a ferramenta, reduzindo seu potencial em nome da didática. Exemplo: empobrecimento dos blogs quando utilizados apenas como ambientes para “promover a escrita” ou o intercâmbio entre professores e respectivos alunos.

Outra questão: submissão ignorante às novidades tecnológicas, em vez de utilização criativa. Muitos educadores aceitam as novas tecnologias com entusiasmo sem compreendê-las, sem qualquer crítica, sem julgamento. (cf. Allison Rosset) Isso alimenta expectativas inteiramente erradas sobre logros de usos das tecnologias no espaço escolar.

O QUE CAMBIAR NOS ESPAÇOS ESCOLARES?

Ambientes físicos. Eles estão organizados para o que meu amigo Steen Larsen chama de “auditório”. Na maior parte das escolas, até os laboratórios de informática convertem-se em auditórios.

Grupos supostamente homogêneos de estudantes. A organização da escola em grupos homogêneos que receberiam instrução padronizada (programas escolares, grades curriculares) consagrou o modelo industrial (a fábrica) como referência. Estudantes e conteúdos eram (e ainda são) tratados como matéria prima que precisa ser processada de modo ordenado, regulado, seqüencial. Esse modelo não se casa com as novas tecnologias de comunicação e informação. Mas ainda não foi superado e talvez seja um dos maiores impedimentos para usos mais conseqüentes das novas tecnologias em educação.

A própria idéia de ambientes de aprendizagem. Mudanças são necessárias no plano físico. Mas é preciso entender que para uso dos novos meios de comunicação é preciso criar ambientes virtuais para a educação. Isso não é educação a distância. É muito mais. É incluir nos projetos educacionais, de modo imaginativo, ferramentas que já e são disponíveis sobretudo na Web.

Localismos. Hoje situamos a educação num local. Num campus. Num ou mais edifícios. Num grupo local. Com os novos meios isso pode ser mudado. Nossos professores não precisam ser necessariamente os que estão “aqui”. Podem ser de qualquer lugar, sem nunca freqüentarem nosso campus ou nosso edifício. O mesmo raciocínio vale para estudantes. Esse é ainda um campo muito pouco explorado.

Tempo. Temos tempos fixos. Anos. Semestres. Horas. Para usar bem novas tecnologias, no mínimo é preciso flexibilizar o tempo. (cf. minhas experiências com WebQuests e WebGincans).

Modos de co-laboração. No geral as práticas educacionais não são co-laborativas. Assim, uma primeira providência deve ser a de instaurar co-laboração como princípio. E a partir daí começar a utilizar as possibilidades co-laborativas das ferramentas digitais.

UMA QUESTÂO POUCO DISCUTIDA. Usos de computadores e multimídias em educação, se quisermos aprofundar estudos e investigações com tais ferramentas, dependem de estruturação de modelos de representação e de plataformas capazes de simular funcionamento de construtos científicos. Há pouco investimento nisso nos centros de investigação. Motivo: tais projetos custam muito dinheiro e as políticas educacionais não costumam incluí-los em suas prioridades (cf. Barato, caso do projeto Microguerra).

UM OUTRO ENFOQUE. Levantei diversas questões ligadas ao uso de novas tecnologias em educação. Caminhei por um caminho que conheço bem,o de projetos de introdução de novas tecnologias nos espaços educacionais. E minha impressão pessoal é a de que o maior obstáculo para usos conseqüentes e criativos é a gestão. Ou seja,as pessoas que tem algum poder nas escolas (directores, coordenadores, orientadores) querem uso de novas tecnologias. Esperam resultados espetaculares. Mas não percebem que o modelo administrativo da velha educação não se casa bem com os novos meios de comunicação, com a cultura da sociedade da informação. Querem o novo, mas sem alterar as velhas práticas de gestão escolar. Acabam colocando a culpa nos professores. Mas o grande obstáculo são eles próprios.

UM CAMINHO: REVER PRINCÍPIOS. Há alguns princípios que precisam ser promovidos para que as novas tecnologias da informação e comunicação tenham bom uso no ambiente educacional. Tais princípios são vistos apenas como pedagógicos. Mas acho que eles também são princípios que deveriam iluminar caminhos da gestão.

Comunidades de prática. A educação que fazemos está muito centrada em indivíduos. Importa o desenvolvimento individualidade cada um. Há pouca produção coletiva autêntica no âmbito da educação. Nesse sentido, educação é bem diferente de trabalho. Nos ambientes laborais os projetos geralmente são coletivos, exigem colaboração real para serem concretizados. No trabalho fica bastante evidente a construção social do conhecimento. Estudos sobre conhecimento e aprendizagem em ambientes laborais deram consistência a um conceito muito utilizado atualmente: comunidades de prática (cf. Jean Lave e Etienne Wenger). Precisamos investir em elaboração de obras coletivas para converter os ambientes educacionais em comunidades de prática.

Transformação da informação. Há muita informação disponível. Muita gente acha que basta aprender a usar o vasto acervo informacional. Mas informações só fazem sentido se forem interpretadas. Um modo eficaz de aprender a interpretar informações é o exercício de transformá-las. Não basta, por exemplo, recorrer à Web para verificar as informações de que necessitamos. Por isso há uma necessidade de invenção de atividades de estudo que nos obriguem a transformar informações para alguma finalidade. [WebQuests, modelo criado por Bernie Dodge, é um exemplo de como podemos implementar no ambiente educacional atividades de transformação de informações]

Tempo flexível. Atividades com bom aproveitamento de recursos informacionais das novas tecnologias não cabem no tempo da escola-fábrica. É preciso aceitar tempos bastante flexíveis para realizar atividades mais adequadas aos novos meios de buscar, armazenar, processar e transformar informações [cabe aqui um exemplo do uso de WebGincanas,modelo que muitas vezes não é utilizado de modo mais efetivo porque tudo tem de caber nos formatos de administração escolar do tempo].

Autonomia. Auto-nomos é a palavra, significando “que faz suas próprias normas”. Professores e estudantes devem ser autônomos para negociar seus compromissos de produção.

Desprogramação. Nada de currículos prontos e acabados. De programas para serem cumpridos dentro de tempos rígidos. Necessidade de desprogramar a educação.

Orientação para a obra. Recuperam-se hoje os valores do artesão. O principal deles é o de que a obra é uma forma de exaltar valores do trabalho bem feito. [obra recente derichard Sennett, The Craftsman, trata do assunto, inclusive citando como trabalho “bem feito” atividades open source na Internet]. Em qualquer nível educacional seria adequado introduzir práticas voltadas para obras. Tal medida facilitaria a criação de comunidades de prática promoveria construção social do conhecimento. [Em parte, o modelo WebQuest pode ser uma alternativa interessante para uma educação que tenha como princípio orientação para a obra].

Negociação de significados. Negociação de significados ocorre em processos educacionais mesmo quando, mesmo quando educadores e estudantes não tomam consciência disso. Adotada como princípio ela valoriza a dimensão estudo, um pouco esquecida nos dias de hoje.

Principais câmbios decorrentes das novas tecnologias da informação e comunicação.

Câmbios nas estruturas de comunicação, principalmente fora da escola.

Novos meios de comunicação mudam modos de organizar e apresentar informações. A TV, talvez, seja o veículo que mais mudou formas de apresentar informações. E as mudanças feitas pela TV, mais imagem, mais emoção, menos análise, importância do momento, perda de perspectiva histórica invadiram outras mídias (cf. Edgar Morin). Jornais (periódicos como USA Today) passaram a imitar a televisão. Mesmo livros didáticos (com muita imagem e pouco texto) sofreram os efeitos da “sociedade da imagem” promovida pelaTV. No geral,tais câmbios não chegam à escola. Esta continua a trabalhar comunicação de modo tradicional, mesmo quando utiliza ferramentas modernas como TV, rádio, computador.

Novos meios promovem novos valores. Comunicações rápidas, por exemplo, exigem o imediato. A história perde espaço. A imagem, em todos os sentidos, passa a ser mais importante que a palavra, escrita ou falada. Câmbio, não importa para que ou porque, se torna regra de vida [vejam o exemplo do trabalho. Antes o valor era a estabilidade: começar e terminar a vida laboral num mesmo lugar; hoje é a mudança contínua; teóricos de administração pregam contínua mudança de empresas e até de carreiras profissionais].

O que conservar das antigas referências?

Valor da obra.

Texto como fonte de informação que exige interpretação, transformação.

Comunidades de prática, modeladas à semelhança das antigas corporações de artesãos.

Demandas de negociação de significados.

Verdade, Beleza e Bondade. Como ainda não desenvolvi nada sobre estas três palavras, vai aqui um escalrecimento. Howard Gardner,famoso em todo onundo por suas teoria de inteligências múltiplas, escreveu uma obra sobre educação: The Disciplined Mind. Nela Gardner diz que a educação deve preocupar-se apenas com três coisa: verdade, beleza e bondade. Verdade justifica a necessidade de aprendermos ciência. Beleza justifica a necessidade de termos uma boa educação no campo das artes. E bondade justifica a necessidade de aprendermos valores éticos.

E como fica o tema proposto: novas tecnologias para a gestão educativa?

Minha proposta é de um enfoque um pouco diferente do que foi proposto. Acho que um estudo voltado exclusivamente para a gestão tende a conservar os modelos educacionais que temos. Aperfeiçoa-se o antigo com novas ferramentas. E essa é uma tendência que julgo deva ser evitada.

A prioridade é mudar a gestão para que as novas tecnologias possam ter um papel mais efetivo na educação. Computadores, por exemplo, estão entrando nas escolas de modo tradicional. Nada mudam na arquitetura das escolas (único lugar em nossa sociedade onde há laboratórios de computadores). Nada mudam na elaboração de conhecimentos.

Minha hipótese, construída após muitas observações sobre introdução de novas ferramentas de informação e comunicação nas escolas, é a de que o principal obstáculo á inovação é um modelo de gestão que procura conservar o velho modelo fabril de escola.


[1] Los enamorados/ Ya dispensan su enamoramiento/ Quien quiere risa, quien quiere lloro/ no hace más esfuerzo no/ Y la propia vida/ Aún se va sentar sentida/ Viendo la vida más vivida/ Que viene allá de la televisión/ El hombre da la calle/ Por ser un tipo conformado/ Deja la luna allí de lado/ Y va a conectar sus botones. [trad.Pablo Gárrulo Rico]

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2 Respostas to “015. Educação, Tecnologia e Gestão”

  1. Nas Nuvens « Boteco Escola Says:

    […] reordenar um dia na forma de artigo. Por enquanto, se interessar a alguém, pode ser visto em Educação Tecnologia e Gestão, aqui mesmo, neste […]

  2. joao Says:

    como eu posso distinguir os ensinamentos de comenius da antiguidade, que diz todo ensinamento de ser para todas as classes sociais. com os ensinamentos de hoje .

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