Tempos atrás amigos de Espanha me convidaram para participar do projeto @bazarlocos. O convite envolvia a redação de texto curto sobre Twitter para publicação em livro cujo título era El Bazar de los Locos. Aceitei o convite e prometi que escreveria um pequeno artigo como era de lei. Tinha até um tema para meu escrito: Tipologia dos Tuitantes.
O tempo passou. Não me veio inspiração. Veio alguma preguiça. Além disso, eu não consegui elaborar uma lista significativa de tipos marcantes da tribo tuiteira. Meu texto não veio à luz.
Agora, em andanças matutinas, me vieram algumas idéias. Talvez elas ainda não correspondam ao que sonhei escrever. Mas, as mesmas são um começo de taxonomia de gentes tuitantes.
Escolhi um título esnobe para este post: Twitter’s Personae. Utilizo, no caso, jargão teatral que vem desde a velha Grécia. Persona (plural Personae) significa máscara, recurso que era utilizado pelos atores gregos para sugerir uma personagem. A psicologia se assenhorou da palavra e conceito para criar o termo personalidade. Twitters’s Personae pretende mostrar algumas das máscaras utilizadas por tuiteiros que conheço.
A taxonomia que apresento não é completa. Nem é definitiva. Além disso, quase todos os tuiteiros utilizam mais de uma máscara, sobrepondo tipos ou personae.
Até o momento, consigo vislumbrar os seguintes tipos ou personae no espaço Twitter:
Linkador. Este tuiteiro escreve todos os dias dezenas de mensagens para indicar recursos da Internet. Obstinadamente. Pelo número de indicações feitas diariamente, desconfio que o linkador não lê tudo que recomenda. Apenas emprega o recurso do hipertexto para piar com grande freqüência.
Narciso. Tem gente que gosta muito de espelho. Isto é, gosta muito de se ver, de se admirar. E descobriu que o Twitter pode espelhar sua maravilhosa figura diversas vezes ao dia. Não pia pra ninguém. Pia para si mesmo. Não escuta pios alheios.
Intelectual. Pia com superioridade. Desconsidera pios que não venham da academia ou de celebridades das ciências e das letras. É surdo para pios de gente comum. Sugere que seus pios sempre são manifestações de inteligência. Parece que faz um favor quando pia. Pia com freqüência, pois a ignorância do povão ainda é muita.
Boca grande. Não para de piar. Tuita centenas de vezes ao dia. Não precisa de assunto. Produz muita informação sem significado. Segue, consciente ou inconscientemente, um princípio shannoniano. É redundante. Repetivo. Parece pinto com bico descontrolado, incapaz de ficar fechado por alguns minutos.
Cometa. Entusiasmado com a ferramenta começa a tuitar. A farra dura dois ou três dias. Depois o tal desaparece. Viaja para uma nuvem de Orth da qual parece que nunca mais retornará. Mas, ninguém sabe. Pode voltar algum dia, talvez com cauda nova e brilhante.
Ex-militante. Já tuitou muito. Era bom piador. Tem contribuições importantes no ciberespaço. Contribuiu para o sucesso do Twitter. Ouviu pios alheios. Conversou. Fez muitas amizades. Mas, a vida o levou para outros caminhos. Hoje aparece pouco no Twitter, com pios fracos. Continua no pedaço apenas para marcar presença.
Cidadão de tecnópolis. Fanático por qualquer novidade que pinte no ciberespaço ou no mercado de bugigangas digitais. Tem fé inabalável. É um evangelista que busca converter todo mundo. Fica espantado quando alguém levanta alguma dúvida sobre a Boa Nova. E, claro, usa o Twitter como veículo para converter os pagãos que relutam em abandonar velhas crenças.
Tenso entediado. Pode ter mais de vinte anos. Mas, é um adolescente. Pia muito: centenas de vezes ao dia. Pia alto. Ás vezes pia em bando. Seus pios parecem samba de uma nota só. No frigir dos ovos, todos os seus pios podem ser reduzidos a duas palavras: “Tédio” e “Tenso”.
Observador oculto. Tímido? Preguiçoso? Medroso? Muito ocupado? Sei lá! É um passarinho mudo. Talvez escute os pios alheios. Nunca comparece no pedaço. Está registrado no Twitter. Ás vezes o sistema até o recomenda. É conhecido fora do ciberespaço e até papeia com certa desenvoltura. No Twitter, porém, é um espia que se recusa a piar.
Biógrafo egocêntrico. Anuncia sempre o amanhecer. Depois conta como se desenrola seu dia. Eventualmente registra pensamentos (próprios) menos profundos que espelhos d’água. Acha que seu cotidiano precisa ser conhecido pelos outros. Compartilha seu viver, quase sempre sem grandes aventuras.
Citador. Usa o Twitter para reproduzir pensamentos de celebridades. Há uma subespécie religiosa dessa persona. Reproduz textos bíblicos ou platidudes que se pretendem teologicamente profundas.