Archive for janeiro \31\+00:00 2012
Recursos para educadores
janeiro 31, 2012O Conselho Nacional de Cinema do Canadá coloca no ar muitos recursos que podem ser aproveitados por educadores atentos. Entre as coisas que o Conselho oferece para uso livre, há um bom número de curtas e desenhos animados. Acabo de ver um deles, Every Child, desenho feito para desenvolver sensibilidade a respeito do direito que as crianças tem a um nome, uma nacionalidade, uma vida digna. Como acontece com a maior parte dos desenhos disponibilizados pela instituição canadense, o material é completamente imagético, o que dispensa conhecimento dos idiomas inglês e francês. Tudo o que precisa ser dito é dito por meio de imagens.
Convido interessados e curiosos a verem Every Child. Para tanto, basta clicar aqui.
Revolução Deliciosa: complemento
janeiro 29, 2012No post anterior, apresentei um vídeo sobre o projeto Edible Education. A título de complemento, acrescento aqui vídeo do programa 60Minutes, reportagem sobre Alice Waters, a chef de cozinha que sugere um belo caminho de aprender fazendo, com crianças metendo as mãos na terra. A reportagem traça perfil de Alice, mostra como ela promove comida saudável, ilustra imageticamnete o que ela pensa. E, na parte final, destaca o trabalho educacional da chef de Berkeley.
Revolução Deliciosa
janeiro 29, 2012Hoje resolvi navegar por latitudes do slow food movement. E, por acaso, descobri uma bela interface entre o movimento que batalha por uma alimentação mais saudável (e gostosa) e a educação. Descobri Edible Education (educação para comer bem), um projeto no âmbito da Revolução Deliciosa. Tudo isso aparece em vídeo que conta um pouco da história de um projeto educacional conduzido pela chef Alice Waters, uma das pioneiras do Slow Food Movement.
Alice e uma grupo de educadores de Berkeley, CA, converteram em jardim (prefiro jardim à horta, em minha tradução, apesar do contexto sugerir a segunda palavra) um terreno abandonado, onde crianças cuidam da terra, plantam e colhem o produto de seu trabalho. E, claro, levam tal produto para cozinha, onde elaboram uma comida gostosa. O projeto de Alice Waters pode ser uma inspiração para educadores que queiram mudar as coisas neste tempo em que a alimentação, merenda escolar incluída, perdeu significado cultural e prejudica a saúde.
As imagens do vídeo que trago para cá já são suficientes para que se perceba o essencial do projeto Edible Education. Para leitores que tem alguma dificuldade com o idioma gringo, traduzi livremente alguns trechos que mostram princípios pedagógicos do que vem sendo feito por Alice e seus colaboradores.
O projeto:
- ajuda as crianças a reconectar-se com as fontes de alimentação
- oferece oportunidade de aprender com as mãos
- concretiza o velho preceito do aprender fazendo
- oferece ás crianças oportunidade de aprender com prazer, trabalhando na e com a terra
- ajuda as crianças a aprender que o alimento precisa ser comprendido como elemento da Natureza e da Cultura
- permite que as crianças conectem concretamente jardim (horta), cozinha e mesa
Na proposta de Alice Waters, está presente uma das coisas essenciais em educação: aprender com prazer.
Interessados em conhecer melhor essa bonita experiência educacional, podem recorrer ao livro Edible Schoolyard.
Criança Feliz
janeiro 27, 2012Faço uma excessão aqui no Boteco. O assunto não é educação. Não é tema de recreio. Não é música para amenizar a chatice da vida. Estou postanto uma foto de Marlene Bergamo, feita num abrigo dos ex-moradores do Pinheirinho, um imenso terreno com casas simples e barracos de gente pobre. O local foi desocupado por uma força policial de dois mil soldados. Os moradores não tiveram tempo para esboçar qualquer reação e foram retirados à força do lugar em que viviam. Seu retorno, para retirar pertences (os objetos de algum conforto que a vida moderna pode proporcionar a quem os compra), começou apenas 24 horas depois da ocupação da polícia militar, sob controle estrito.
Os ex-moradores do Pinheirinho foram abrigados em locais provisórios e precários. A meninha da foto estava num abrigo.
Faço um registro para chamar atenção de pessoas que não irão reparar num detalhe. Há, no braço da criança, uma pulseira verde. Ela foi colocada por funcionários da prefeitura nos ex-moradores cadastrados pela municipalidade. A explicação para tal medida é a de que isso facilita rápida identificação dos desabrigados do lugar, agilizando medidas de assistência social. Acho que a medida é de uma profunda violência simbólica. Medidas parecidas foram utilizadas para “marcar” os judeus na Alemanha nazista. Digo isso com muito cuidado. Cito o caso dos judeus apenas para lembrar que certas medidas de controle trazem em seu bojo discriminação. Tais medidas, num estado democrático, precisam ser criticadas. Quem as toma nem sempre tem consciência do peso de violência simbólica que elas carregam.
Nos últimos dias, muito se discutiu sobre a desocupação do Pinheirinho. Fui uma das pessoas que, nas redes sociais, dedicou certo tempo em conversas e dicussões do ocorrido. Mas, de tudo que vi até agora, a foto da Marlene é a acusação mais contundente contra o tratamento desumano dado aos moradores do Pinheirinho. Artistas conseguem ver dramas da vida com mais clareza que pessoas que não tem sensibilidade para, nos detalhes, perceber a natureza e extensão dos dramas da vida.
Acrescento um complemento: a foto aqui mostrada é material de aprendizagem que a maioria dos educadores não tem qualquer competência para produzir. Assim, embora eu tenha dito no início que não iria falar de educação, sou obrigado a reconhecer que a Marlene com sua obra nos educa a todos. Nos educa a ver com maior sensibilidade a vida de cada dia.
Como não usar o Power Point
janeiro 11, 2012Como muita gente usa o Power Point contrariando todos os princípios básicos de comunicação, acho que um curso de como não usá-lo é muito mais necessário que um curso de como utilizá-lo.
Lançar mão de contra-exemplos no caso parece ser a saída. Acho que ao ver absurdos travestido de tecnologia, muita gente poderá melhorar seus roteiros. Acabo de ver no Face – cortesia de minha ex-aluna Ludymila Graziela – uma demonstração de como não usar Power Point. Divulgo-a aqui, na esperaça de que professores e conferencistas nos poupem de pseudo-competência tecnológica
Cultura portuguesa
janeiro 9, 2012Da cultura popular além fronteiras, recebemos quase tudo da Grigolândia. Isso, às vezes, gera conceitos equivocados. Um deles: informação das nossas rádios sobre música internacional. A produção planetária de música, se acreditarmos no que vai pras ondas do rádio, resume-se ao que vem dos States, com pequena contribuição do Canadá e Reino Unido. Nada da Espanha, nada da Irlanda, nada da França, nada de Portugal.
Sou, como a maioria dos brasileiros, um ignorante da cultura popular lusa. Pouco sei da música, do teatro e da literatura atual do país de Cabral. Mas, procuro sanar minha ignorância recorrendo aos recursos da internet. Foi assim que descobri um grande intérprete chamado Pedro Barroso. Segue aqui uma mostra da beleza de voz e de interpretação desse moço lusitano.
Rapidez, inteligência e sucesso
janeiro 7, 2012Há umas quatro semanas os jornais de São Paulo publicaram notícia de que pais estavam indo à justiça para que seus filhos ingressassem no primeiro ano do ensino fundamental antes da idade estabelecida por lei. O fato é um dos sintomas de uma sociedade que tudo quer acelerar. Muitos pais pensam que, se iniciarem a educação formal com seis meses acima da idade mínima para ingresso no primeiro ano, seus filhos ficarão atrasados. Esses pais querem acelerar a educação de seus herdeiros.
Aceleração e velocidade são vistas como marcadores positivos de inteligência e sucesso. Consideramos mais inteligentes pessoas que resolvem problemas em tempo mais curto que a média. Essa convicção reflete-se em testes de conhecimentos, pois estes geralmente tem um tempo máximo de realização. Na vida profissional, consideramos mais brilhantes pessoas que ascedem na carreira em poucos anos.
Quando ingressei no Senac de São Paulo em 1973, a organização tinha um Divisão de Formação Acelerada (DFA). Tal divisão foi criada seguindo tendência sugerida por estudos da OIT (Organização Internacional do Trabalho). E qual era a sugestão? A OIT entendia que o mundo do trabalho estava mudando rapidamente. Por isso, a formação de trabalhadores não podia ser demorada. Era preciso preparar mão-de-obra que acompanhasse uma economia em constante mudança.
Em todas dimensões do viver, a velocidade acabou se convertendo num valor indiscutível. E dá-lhe fast food, aviões supersônicos, TGV’s. Mas, acontece que a aceleração crescente ignora ritmos naturais da vida.
Contra o mito da velocidade, começaram a surgir movimentos que propõem um viver mais lento. Tudo começou com a afirmação dos prazeres do slow food, numa iniciativa que destacava as vantagens de preparação e ingestão de comida sem correria, sem pressões de compromissos que não deixam tempo para apreciar com gosto as artes da boa mesa. Do slow food as coisas evoluiram para o slow sex, slow medicine, slow music, slow cities e muitas mais propostas de ritmos que permitam um fruir mais humano da vida.
Apanhado muito bem feito do slow movement aparece num livro de Carl Honoré: Elogio de la lentitud. Li-o faz alguns anos. A obra é boa pedida para pessoas envolvidas com TIC’s. As tecnologias digitais reafirmaram um sentimento de aqui-agora que já estava presente na cultura de massas. Usá-las, cada vez mais, é visto como uma decorrência natural de um mundo que elegeu a velocidade como virtude cardinal. Honoré mostra que tal caminho nem sempre é saudável. A vida, ás vezes, exige pausas, exige tempo para pensar, tempo para desfrutar sem pressa certos prazeres cuja natureza demanda experiência que não se mede obssessivamente em segundos, minutos, horas ( na primeira metade do século passado, o filósofo Bergson introduziu um conceito – la durée – que guarda algumas semelhanças com a idéia de um tempo que não se submete ao relógio).
Carl Honoré fala sobre suas idéias e seu livro numa num vídeo TED que reproduzo aqui para os interessados.
História Viva
janeiro 5, 2012No post anterior trouxe pra este Boteco um vídeo que mostra o Grupo Escolar Romão Puiggari, a primeira escola pública do Brás. Ao percorrer o Youtube para ver material sobre a escola, acabei descobrindo uma sequência de belos vídeos que contam a história do bairro mais italiano da cidade de São Paulo. Os vídeos estão baseados numa crônica de Lourenço Diaféria. O conjuto todo é um material riquíssimo para dar vida a aulas de história. Bom para quem mora no Brás. Bom para quem queira conhecer um pouco da história da cidade de São Paulo. Bom para quem queira conhecer um pouco da história dos italianos em nossa terra.
Espaço escolar e dignidade
janeiro 5, 2012Aqui neste Boteco já anotei diversas observações sobre arquitetura e educação, tema que deveria merecer mais atenção dos educadores. Um aspecto importantíssimo é o das mensagens que o espaço escolar transmite.
Alumas vezes, educadores ilustres se equivocam e elegem soluções arquitetônicas muito pobres para espaços escolares. Esse é o caso, por exemplo, de Moacyr de Góes em seu belíssmo “De Pé no Chão Também se Aprende a Ler”. Nessa obra, ele fala com entusiasmo de barracões de palha que foram utilizados como escolas nos bairros periféricos de Natal, RN, durante o governo de Djalma Maranhão (começo dos anos 60). Confesso que achei que aqueles barracões, fruto de recuperação de técnicas de cosntrução popular, eram um resposta adequada para a falta de escolas. Muitos anos depois da publicação de “De Pé no Chão…” conversei com Moacyr sobre os barracões. Chegamos à conclusão de que aquela solução aquitetônica nada tinha de progressista. Ela marcava a educação popular como uma educação pobre.
Prédios escolares precisam mostrar a importância da educação. Um prédio digno educa muito mais que discursos bem intencionados de educadores. Ele mostra para os alunos como eles são “considerados”. Um prédio mal construído ou soluções de emergência como as escolas de lata ensinam o contrário. Ensinam a “desconsideração”.
Não vou insistir no tema. Acho melhor mostrar. Acabo de ler “Italianos no Brás: Imagens e Memórias”, de Suzana Barreto Ribeiro, obra que articula fotos e história oral para mostrar um momento -década de 1920 a 1930 – da cultura italiana no bairro paulistano do Brás. O livro narra que a maior parte das crianças do bairro era educada no Grupo Escolar Romão Puiggari, uma escola bonita, projetada por Ramos de Azevedo e construída no final do século XIX.
O Romão Puiggari ainda está de pé e funcionando com escola pública. Fotos dele sugerem que as crianças de um bairro operário receberam a mesma atenção que as crianças da elite paulistana que estudava no Caetano de Campos. Como disse, é melhor mostrar. Vejam o Romão Puiggari neste vídeo: