Conversa sobre ensino público, duas décadas atrás, era um assunto para acadêmicos. Não sensibilizava o público em geral, nem os professores. As coisas vem mudando nos últimos anos.
É bom sublinhar que não estou falando da situação brasileira. Minhas observações voltam-se para dois países: Estados Unidos e Chile.
Nos EUA, do final dos anos 80 aos dias de hoje, o ensino público vem sofrendo sérios ataques por parte de “reformadores” que acusam escolas públicas de ineficientes, e os professores de mal preparados, desinteressados, preguiçosos. E os reformadores não ficam apenas em acusações. Eles atuam pesadamente em algumas grandes cidades do país criando alternativas de cunho neoliberal e espírito privatizante.
Uma das soluções reformistas em terras do Tio Sam são as Charter Schools, projetos conduzidos por Ong’s, empresas ou fundações que se apropriam do dinheiro público prometendo educação de melhor qualidade. Estou aqui a simplificar a proposta das Charter Schools. Mas, seria demasiado longo examinar tal fenômeno. Prefiro ficar com uma caracterização geral para marcar um lado negativo que não costuma ser abordado por entusiastas do modelo aqui na terra (Gilberto Dimenstein, por exemplo).
Um dos motivos da promoção das Charter Schools é a flexibilização de contratos com os docentes. Em outras palavras, apesar do dinheiro dos projetos vir majoritariamente de fontes públicas, os docentes são tratados no caso como empregados de uma empresa particular. Mais especificamente, a flexilbilização dos contratos faz com que os administradores das Charter Schools se desobriguem de negociar com os sindicatos dos professores.
Os reformadores acusam os sindicatos dos professores de defenderem exclusivamente privilégios da categoria e de não se importarem com a qualidade da educação. Tudo vinha caminhando numa única direção, a de colocar sobre as largas costas dos professores a culpa pelo fracasso escolar. Isso vem mudando. Os docentes resolveram se organizar e mostrar que a ação dos reformadores não cumpre o que promete.
Não há aqui espaço para examinar mais de perto a questão docente nos EUA neste momento. Já abordei o assunto neste Boteco várias vezes, citando Mike Rose e Diane Ravitch, acadêmicos muito respeitáveis que defendem os docentes e a estrutura histórica do ensino público americano. Além deles, há outra educadora que acompanho e que vem mostrando que os privatistas usam argumentos contestáveis na defesa de suas teses e interesses. Trata-se da Professora Deborah Meier. É dela recente observação sobre críticas feitas por Steven Brill aos professores. Se quiser ver as considações da Professora Meier, clique aqui.
Vamos ao caso chileno. Durante a ditadura, a educação do Chile passou por um processo de grande privatização. Com a volta da democracia, os mecanismos privatistas não foram desativados. Mas, estudantes e população querem mudanças, querem ensino público, democrático e gratuito. Recentemente tem havido grandes manifestções contra o privatismo do ensino no pais. Em vez de comentar o que anda acontecendo no Chile, prefiro mostrar. Vejam esta imensa manifestação acontecida há pouco tempo lá, envolvendo quase um milhão de pessoas: