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Ensino público volta ao palco

agosto 23, 2011

Conversa sobre ensino público, duas décadas atrás, era um assunto para acadêmicos. Não sensibilizava o público em geral, nem os professores. As coisas vem mudando nos últimos anos.

É bom sublinhar que não estou falando da situação brasileira. Minhas observações voltam-se para dois países: Estados Unidos e Chile.

Nos EUA, do final dos anos 80 aos dias de hoje, o ensino público vem sofrendo sérios ataques por parte de “reformadores” que acusam escolas públicas de ineficientes, e os professores de mal preparados, desinteressados, preguiçosos. E os reformadores não ficam apenas em acusações. Eles atuam pesadamente em algumas grandes cidades do país criando alternativas de cunho neoliberal e espírito privatizante.

Uma das soluções reformistas em terras do Tio Sam são as Charter Schools, projetos conduzidos por Ong’s, empresas ou fundações que se apropriam do dinheiro público prometendo educação de melhor qualidade. Estou aqui a simplificar a proposta das Charter Schools. Mas, seria demasiado longo examinar tal fenômeno. Prefiro ficar com uma caracterização geral para marcar um lado negativo que não costuma ser abordado por entusiastas do modelo aqui na terra (Gilberto Dimenstein, por exemplo).

Um dos motivos da promoção das Charter Schools é a flexibilização de contratos com os docentes. Em outras palavras, apesar do dinheiro dos projetos vir majoritariamente de fontes públicas, os docentes são tratados no caso como empregados de uma empresa particular. Mais especificamente, a flexilbilização dos contratos faz com que os administradores das Charter Schools se desobriguem de negociar com os sindicatos dos professores.

Os reformadores acusam os sindicatos dos professores de defenderem exclusivamente privilégios da categoria e de não se importarem com a qualidade da educação. Tudo vinha caminhando numa única direção, a de colocar sobre as largas costas dos professores a culpa pelo fracasso escolar. Isso vem mudando. Os docentes resolveram se organizar e  mostrar que a ação dos reformadores não cumpre o que promete.

Não há aqui espaço para examinar mais de perto a questão docente nos EUA neste momento. Já abordei o assunto neste Boteco várias vezes, citando Mike Rose e Diane Ravitch, acadêmicos muito respeitáveis que defendem os docentes e a estrutura histórica do ensino público americano. Além deles, há outra educadora que acompanho e que vem mostrando que os privatistas usam argumentos contestáveis na defesa de suas teses e interesses. Trata-se da Professora Deborah Meier. É dela recente observação sobre críticas feitas por Steven Brill aos professores. Se quiser ver as considações da Professora Meier, clique aqui.

Vamos ao caso chileno. Durante a ditadura, a educação do Chile passou por um processo de grande privatização. Com a volta da democracia, os mecanismos privatistas não foram desativados. Mas, estudantes e população querem mudanças, querem ensino público, democrático e gratuito. Recentemente tem havido grandes manifestções contra o privatismo do ensino no pais. Em vez de comentar o que anda acontecendo no Chile, prefiro mostrar. Vejam esta imensa manifestação acontecida há pouco tempo lá, envolvendo quase um milhão de pessoas:

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Música de botequim

agosto 23, 2011

Sidney Miller é um dos grandes nomes da MPB nos anos 60. Além de belas melodias, suas letras eram poesias tocantes e bonitas. Hoje me lembrei dele e, para não ficar apenas na lembrança, convidei amigos do Facebook para apreciar “Pois é, pra que?”, uma de suas obras, interpretada pelo MPB4. Isso rendeu alguma conversa e mais audições de outras músicas de Sidney Miller.

Meu amigo Antôno Morales, ao examinar VTs disponíveis de obra do Sidney, encontrou um samba chamado Botequim Nº 1. Conclui que o samba precisava estar aqui, pois este Boteco prestigia boa música e elenca canções que falem de botecos, botequins e assemelhados. Por isso, com vocês, Botequim Nº 1:

Poluição na Web: versão nacional

agosto 21, 2011

No post anterior comentei caso de webpágina que merece atenção por causa de intensa poluição visual, mau gosto na escolha de cores e imagens, excesso de f iguras em movimento etc. O contraexemplo é um site de uma senhora que ganha a vida com práticas aotodenominadas espiritualistas. Forma e conteúdo do referido espaço web parecem surpreendentes neste século XXI.

Da mesma forma que Bernie Dodge, meu amigo gringo que divulgou o referido contraexemplo, acho que devemos utilizar casos assim para aprender o que não fazer no campo de informação sustentada por computadores.

Por mero acaso, acabei encontrando mais um contraexemplo de webpágina. E desta vez o produto é genuinamente nacional. Não chega a ser um caso tão impactante como o descoberto pelo Bernie, mas tem algumas características que gritantemente nos dizem o que não fazer na Web. Por coincidência, trata-se também de um espaço de uma senhora que ganha seu sustento com atividades, sois disant, espiritualistas. Lá podemos encontrar cores que ferem os olhos, excesso de símbolos em movimento, design pobre, e conteúdo que contraria boa ciência. Para aprender o que não fazer em termos de produção de informação na internet, visite a tal página, clicando na figura de gosto duvidosos que de lá copiei.

 

Poluição na Web

agosto 20, 2011

Hoje, meu amigo Bernie Dodge, em pio no Twitter, indicou site que é um contraexemplo de página Web. Não há design de página, as informações se misturam sem ordem. As cores de fundo ferem os olhos. Há excesso de imagens e letras em movimento. Amontoam-se chamadas, links e vídeos em profusão. O textos aparecem em diversas  cores.  Frases inteiras são sublinhadas sem necessidade e, aparentemente,  sem critéro. Basta olhar para a página para dar inteira razão a uma observação do Bernie: “tem gente que devia ser proibida de se aproximar de um computador”.

Se você está planejando  publicar um blog, uma wikipage, um site, uma página pessoal ou qualquer outro tipo de espaço autoral na Web, dê uma olhada no contraexemplo indicado por meu amigo gringo. Você pode aprender muito com os erros alheios. Como qualquer outra coisa na vida, quando se publica na Web, beleza é fundamental.

Outro aspecto a se observar no citado site é o conteúdo. O espaço tem um nome grandioso, Spiritual Discovery and Spiritual Marketing. Aparentemente, a autora padece de narcisismo crônico e proclama a sua grandeza a cada passo. Os assuntos abordados são da espécie charlatanismo religioso. Um horror. Pior que há muita gente que engole mensagens do gênero, tantos séculos depois que Descartes sugeriu emprego da dúvida metódica para estabelecer verdades.

Vale a pena ver a página divulgada pelo Bernie. Para tanto, clique aqui.

Cultura digital e conversação

agosto 19, 2011

Tive o privilégio de conhecer Marcelo Brasileiro. O leitor tem todo o direito de perguntar: quem era esse senhor? Respondo com duas informações. Ele era tio do Tom Jobim. Aliás, o Tom passou boa parte da adolescência e da juventude na casa do Marcelo. Nascido em São José do Rio Preto, Marcelo Brasileiro converteu-se num típico boêmio carioca, um homem da noite. Não se lembrava, me contou, de ter chegado alguma vez em casa antes das três da madrugada.

Marcelo era bom de conversa. Mais que isso. Era bom contador de histórias. Quando o acompanhava em suas vindas a São Paulo, eu ficava horas a ouvir sua encantadora prosa.

O tio do Tom Jobim era representante de uma arte em extinção, a arte da conversação, a arte da boa prosa. Suas histórias tinham humor, molho, surpresa. Seu vocabulário era extenso e rico. Sua fala tinha um ritmo e musicalidade muito agradáveis.

A arte da conversação era produto da cultura oral. Foi refinada durante milênios. Os poemas atribuídos a Homero, por exemplo, eram, na origem, cantos recitados por poetas populares que atuavam numa Grécia ainda analfabeta (cf. Daniel Boorstin em The Creators). Mas, ela foi perdendo terreno na medida em que avançava a cultura letrada. Esta última acabou monopolizando modos elegantes de contar histórias. A prosa oral não desapareceu completamente, mas foi perdendo o charme. Restaram bolsões para a arte mais sintonizada com a oralidade, nos ambientes boêmios, nos cafundós dos sertões.

Rádio e, mais tarde, TV voltaram a enfatizar a comunicação oral. E, na medida em que tais meios de comunicação ganharam espaço, surgiram novas expressões de oralidade na arte comunicativa. Mas, já não eram mais produtos de conversação como as histórias que encantavam ouvintes, como aquelas  contadas pelo boêmio Marcelo Brasileiro.

Temos agora novos meios de comunicação hegemônicos. Eles funcionam numa imensa rede mundial sustentada por computadores. A maior parte das conversações é mantida hoje em tal rede. Porém, não temos ainda uma arte de prosa na internet, seja em telinhas ou telões, seja em áudios de computadores ou celulares. Escrevi sobre isso, anos atrás, comentando a arte de contar estórias de Dona Cypriana, uma analfabeta genial que me encantava. Cópia integral do meu texto, aparecido em número comemorativo de Hipona, revista que publicávamos em nosso curso de filosofia  no início dos anos sessenta do século passado, pode ser encontrado aqui, em Páginas deste Boteco. Caso o amável leitor não queira ler integralmente meu velho texto, cito aqui um trecho:

Na área mais pobre do bairro pobre, a Caixa D’Água, morava Dona Cypriana, caipira autêntica de pele amarela e longos cabelos negros. Mulher sem filhos, beirando os setenta, ela era um ídolo da criançada. A adoração que devotávamos à velha senhora devia-se a uma arte perdida: a arte de contar estórias. Num casebre de taipa da Caixa D’Água, quase todos os fins de  tarde, um grupo de meninos e meninas, quietos e maravilhados, escutava estórias de príncipes e princesas, bichos falantes, bruxas, sacis, gigantes, Carlos Magno e outros heróis. Impressiona-me até hoje a beleza das narrativas, as palavras densas, os enredos engenhosos, o ritmo emocionante da “ação”, a caracterização inconfundível dos personagens das estórias contadas por Dona Cypriana.

Numa cultura predominantemente oral, as estórias, além de passarem valores, crenças e modos de ver o mundo, eram um exercício maravilhoso de imaginação. Dona Cypriana era uma artista e nós, seus ouvintes, aprendíamos com ela a sonhar e imaginar para muito além das duras condições de vida da Santa Cruz.

Este post surgiu de pensares que me vieram depois de ouvir um causo do Geraldinho Nogueira, gênio da prosa oral, inserido aqui ainda há pouco com o título “Impacto das novas tecnologias: o causo do rádio”.

Marcelo, Cypriana e Geraldinho são referências importantes se quisermos refletir sobre a arte da conversação no mundo digital. Não se trata de reproduzi-los digitalmente. Trata-se de aprender com eles imaginação, humor, uso de recursos com sensibilidade, empatia com ouvintes. Temos muito que  aprender. Ao contrário de tecnófilos que acham maravilhosas quaisquer produções digitais, penso que ainda não fizemos arte. Nada no ar se assemelhe às maravilhas dos grandes artistas da prosa oral. E minha impressão é referendada por  um dos gênios da realidade virtual, Jaron Lanier, em seu livro recente, You Are Not A Gadget.

Para diversão dos freqüentadores deste Boteco e para que possamos todos apreciar boa prosa, trago para nosso espaço de conversa mais uma performance do Geraldinho Nogueira: O Causo da Bicicleta.

Impactos das novas tecnologias: causo do rádio

agosto 19, 2011

Geraldinho Nogueira foi um dos maiores humoristas brasileiros. Ouvir seus causos é uma delícia. Linguagem, vocabulário, gramática e música do idioma são do mais puro caipira, com fortes traços da cultura goiana. O personagem que ele faz parece saído das páginas de Guimarães Rosa. Ou, numa outra interpretação, Geraldinho parece um daqueles personagens que Guimarões Rosa capturou em seus livros.

Algumas das histórias de Geraldinho retratam impactos do ingresso de novas tecnologias no meio rural. No geral, elas mostram confrontos entre uma velha cultura e novos hábitos. Mas, às vezes, a velha cultura se aloja nos novos meios e há uma simbiose do antigo com o moderno. Este é o caso do causo do rádio.

Vídeos e audios de performances de Geraldinho podem ser muito bem aproveitados em aulas sobre linguagem. Neles sempre encontramos uma grande riqueza léxica e formas de expressão muito originais. Para além do humor, há nos causos do grande representante da cultura caipira elementos para a aprendizagem de brasilidade.

Uma última observação. Dois causos de Geraldinho, o da bicicleta e o do rádio, podem ser pontos de partida para conversas sobre impactos das novas tecnologias. Insiro aqui o causo do rádio, esperando que tecnólogos da educação possam apreciar uma obra prima do humor brasileiro, vendo nela uma lição de como a tecnologia se entranha na sociedade e cultura.

Sherlock Homes Censurado

agosto 16, 2011

Volta e meia surge um caso de censura em educação. Já abordei aqui alguns deles. A ocorrência não tem fronteiras. Há censura aqui. Há censura em outros países, sobretudo nos Estados Unidos.

Desta vez, conforme noticia do Los Angeles Times, o censurado é Sherlock Homes, mais particularmente uma das aventuras escritas por Conan Doyle sobre o famoso detetive britânico: A Study in Scarlet.

A censura ocorreu no distrito escolar de Albemarle County, no estado da Virgínia. A Study in Scarlet foi listado como leitura em programa de língua inglesa para alunos de nível equivalente a nossa 7ª série. A mãe de um aluno solicitou proibição da obra, alegando que a mesma apresenta os Mórmons de modo desfavorável. A alegação foi aceita e Sherlock foi banido do programa de leituras das escolas públicas do lugar.

É curioso notar que o trecho citado como desfavorável ás crenças mórmons diz que o personagem precisava manter secretas suas opiniões sobre aquele credo, temendo perseguição ou incompreensão.

Interessados poderão ver matéria completa do Los Angeles Times  sobre o assunto, clicando sobre a figura que segue.

Chope bem tirado

agosto 15, 2011

Aprende-se muito nos bares da vida. Por isso, este estabelecimento é Boteco Escola. Por época da inauguração da casa, conversei com leitores-frequentadores sobre o nome desse blog. Poupo-os de reiterações e vou direto ao assunto que interessa: como tirar um bom chope.

Acabo de ver em De Rerum Natura, blog de ciência e cultura, indicação interessante da Professora  Helena Damião, da Faculdade de Educação da Universidade de Coimbra: um vídeo que ensina como tratar bem o chope. Além de importância em estudos de botecologia, o material indicado por Helena é exemplo de bom material didático.

O personagem e narrador da história é Raul Solnado, humorista português bastante conhecido aqui na Terra de Santa Cruz. Afine bem o ouvido antes de ver o vídeo.O português de Portugal fica cada vez mais distante do português que falamos por aqui.

Blogs e aprendizagem de idiomas

agosto 15, 2011

No ambiente Web, os blogs são um recurso cuja utilização pode oferecer ajudas interessantes na aprendizagem de idiomas. Esses diários eletrônicos tanto podem ser ambientes criados por docentes, como ambientes criados por alunos.

Recente artigo na revista Quaderns Digitals, El blog como almacén de recursos para el aula de E/LE: una propuesta de materiales didácticos interactivos , aborda o tema, destacando características técnicas e fundamentos linguísticos. O texto é um bom ponto de partida para professores de idiomas interessados em propor uso de blogs em suas aulas.

No parágrafo anterior   já criei um link para o artigo. Mas, caso o leitor ainda não tenha clicado sobre o título da matéria publicada por Quaderns Digitals, repito a dose. Para acessar resumo do artigo e possibilidade de copiar integralmente o texto em pdf, clique aqui.

Divina humana música

agosto 14, 2011

Há sempre alguém buscando uma definição que nos distinga de todos os outros seres vivos. E as definições encontradas acabam sendo desmentidas por descobertas que nos dizem “isso não é especificamente humano”. Essa ameaça cresce agora com os computadores. É certo que certas qualidades atribuídas aos computadores são equívocos. Por exemplo, a capacidade humana de jogar xadrez foi desbancada pelo Deep Blue quando este venceu o grande mestre Kasparov.

Na verdade, apesar das aparências, Deep Blue não venceu. Razões? Não jogou com paixão e, mesmo vencendo, nunca soube que ganhou.

Lembro o caso do computador por causa da música. Dizem que há programas capazes de produzir música. Isso é um engano. Tais programas não musicam com paixão. São apenas agentes sem alma que reproduzem fórmulas numéricas que podem ser convertidas em som. Acho que capacidade de criar música é algo especificamente humana. Minto, é quase certo que a capacidade de criar música é especificamente divina.

Como este Boteco é frequentado por muita gente com cabeça científica, vejo-me na obrigação de apresentar evidência empírica para minha afirmação. Faço isso. Ouçam, a seguir, uma interpretação de Alayde Costa e Titulares do Ritmo. E depois me digam se música não é mesmo uma coisa divina.

Depois que publiquei o post, surgiu um erro, que não consigo sanar. Se ele persistir, interessados em ouvir Alayde e Os Titulares do Ritmo podem clicar direto no url do Youtube que segue: