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Não há material didático a prova de professores

setembro 30, 2013

Em 1986, o grupo de educação da  SUCESU/SP, resolveu fazer algumas reuniões preparatórias para o EDUCANDO – o maior evento de educação e tecnologia da época – a partir de comunicações provocativas. Tenho cópia da comunicação que escrevi para tal fim. Acho que ela ainda é bastante atual. Por isso, vou reproduzi-la aqui.

A escola que conhecemos- modelada no século XVI – é sobretudo uma promotora da tecnologia da imprensa. Porém, essa característica de nossas organizações educacionais não é completamente explicitada. É verdade que nos escandalizamos com os pífios resultados no ensino de “ler e escrever”. E esse fracasso parece contrariar a hegemonia da imprensa no espaço escolar. Mas, para além da capacitação em habilidades ideais de domínio do código escrito, a escola promove os valores associados à Galáxia de Gutenberg – sequência, lógica, história, exposição, objetividade, ordem e disciplina – e procura eliminar as tecnologias concorrentes (acima de tudo as tecnologias de imagem).

Quando examinamos a história da tecnologia educacional, um movimento que se estrutura com base na tecnologia da imagem, nascido por volta da primeira metade do século passado, constatamos que a escola:

  • reduz os recursos da imagem a “meios auxiliares de ensino”,
  • exerce um papel extremamente eficaz como máquina de moer novidades, domesticando, para citar um caso clássico, a televisão de tal maneira que esta se converteu em exemplo definitivo de deseducação,
  • condena severamente todos os meios de formas de comunicação de massa.

É interessante notar que os educadores profissionais, para servirem a imprensa, não precisam saber que as linotipos estão agonizando, dando lugar à composição fria e convertendo-se em uma espécie em extinção.

Fiz esta longa abertura para ressaltar os seguintes pontos:

  • nosso paradigma escolar ainda está vinculado à imprensa,
  • a escola promove, a partir da tecnologia que a sustenta, certos modos de ver o mundo,
  • os profissionais de educação não são, nem precisam ser, especialistas em produção,
  • a escola é um batalhão de elite na guerra contra os novos meios de comunicação,
  • os educadores procuram domesticar os novos meios de comunicação.

Penso que as observações atrás registradas são completamente ignoradas quando se discute capacitação de professores tendo em vista a informática. Não se leva em consideração a guerra tecnológica. Tenta-se ensinar um sucedâneo de linotipia – linguagens de programação, aplicativos etc. – para que os professores possam utilizar a nova tecnologia. Repete-se, mais uma vez, que o novo meio é um recurso auxiliar de ensino. Todas essas providências tem comometa a domesticação dos computadores, reduzindo o potencial da informática a banalidades luxuosas e caras.

Não analisei, propositadamente, o papel dos professores enquanto especialistas na promoção do saber. Provavelmente essa linha de análise poderia amenizar as seguintes provocações com as quais encerro minha comunicação:

  • para uso adequado de computadores em educação, apenas os bons professores são treináveis,
  • os servidores menos qualificados da tecnologia da impresnsa lutarão a última batalha contra a tecnologia da imagem,
  • embora ainda resista, a escola que conhecemos tende a desaparecer,
  • no momento, boa parte dos usos de computadores em educação não capacitam os professores e são estratégias para sabotar a informática,
  • sem destruir a escola que conhecemos, há pouca esperança de ingresso consequente das novas tecnologias na educação sistemática,
  • não há material didático à prova de professores.
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