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Projetores de slides

outubro 9, 2017

slide

Eles sumiram da paisagem e até da memória. Mas, de 50 a 80 foram uma tecnologia de comunicação importante.

Vi a primeira projeção de slides em 1963, em apresentação de um médico abonado da Franca, contando suas aventuras de viagem à Europa. As fotos eram ótimas e o doutor sabia contar histórias cativantes.

Em 1976 vi uma projeção de slides muito criativa num show em Aracaju. O artista que a preparou sincronizava música com imagens, numa projeção que sobrepunha fotos com efeitos de fades sugerindo movimento. Me disseram que naquela apresentação eram utilizados oito projetores.

Finalmente, quero destacar coleção de slides que vi na San Diego State University em meus tempos de mestrado. Um ex-aluno da casa produziu, em 1979, coleção de slides que era mostrada aos estudantes de tecnologia educacional como exemplo. Num produto que sincronizava imagem e som, o autor, um negro alto, com voz profunda de barítono, e longas barbas brancas, contava a história da tecnologia educacional. A narração era muito criativa, numa história de nossa disciplina contada com linguagem do Gênesis. O autor atuava como Jeová…

Grande problema técnico dos projetores de slides era a lâmpada, sempre sujeita a se queimar por causa do super-aquecimento.

No geral, o uso de projetores de slides era burocrático, pouco tendo a ver com o três exemplos de sucesso que apresentei atrás. Assim como computadores ou outros recursos de TIC, os projetores de slides precisavam ser utilizados na perspectiva de tecnologia educacional correspondente à fórmula TECNOLOGIA = INSTRUMENTO + IMAGINAÇÃO.

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Informação X Conhecimento

outubro 7, 2017

VISÃO INTERATIVA DO SABER

 

 

Muita gente gosta de arranjar rótulos para períodos históricos. Em livros de história são comuns termos como “idade da pedra lascada”, “idade do bronze”, “idade do ferro”, etc. Nos dias de hoje, são frequentes as comparações entre Sociedade Industrial – uma era histórica cujos começos aconteceram três séculos atrás – e a Sociedade do Conhecimento – a novíssima era cujos começos aconteceram nos anos oitenta do século XX. Gente de empresa, por exemplo, declara que agora os produtos têm um “valor agregado”. E valor agregado, na nova era, é sobretudo conhecimento.

 

O uso da expressão Sociedade do Conhecimento está ligado a duas dimensões que nos interessam: informática e educação. Em muitos sentidos diz-se que a Sociedade do Conhecimento é um produto da informática. Computadores cada vez mais poderosos, acessíveis por meio de redes planetárias de comunicação eletrônica, colocam qualquer conhecimento humano ao alcance de todos. Quase tudo que um cidadão quer ou precisa saber, dizem os entusiastas pela Sociedade do Conhecimento, pode ser obtido de modo imediato. Basta entrar na rede!

 

Uma das características da nova era é a velocidade de produção. Diz-se que nos últimos trinta ou quarenta anos a humanidade produziu mais conhecimento que todo o período anterior de cem mil anos. Os entusiastas afirmam que o acervo de saber dos humanos irá dobrar em períodos cada vez mais curtos.

 

A formidável produção de conhecimentos, nos termos relatados até aqui, parece exigir mais educação. Assim, muitos futurólogos deste final de século insistem em dizer que o setor educacional será um grande campo de trabalho nas próximas décadas. O crescimento acelerado da oferta de conhecimento exigirá, de acordo com as visões futuristas, gente mais educada, capaz de fazer bom uso da formidável massa de conhecimentos que estará disponível para quem saiba aproveitá-la. Além disso, dizem as mesmas fontes, a educação deverá sofrer mudanças significativas para acompanhar as demandas da sociedade do futuro. Para exemplificar, cito a seguir trecho de um documento publicado pela Academia Americana de Ciência na WEB. O documento, um belo exemplo de publicação que usa os recursos computacionais disponíveis, chama-se Reiventing Schools: The Technology Is Now [www.nap-edu/readingroom/books/techgap]:

 

Professores, pais, administradores escolares, e políticos começaram a perceber que é necessário um modelo de educação inteiramente novo. Nesse novo tipo de escola, todos os estudantes irão chegar a altos padrões de aprendizagem porque todas as pessoas deverão estar preparadas para pensar pela vida inteira; todas as pessoas terão de ser capazes de aprender muitas novas habilidades durante o curso de suas vidas. Esse modelo de educação irá aumentar as ligações entre os estudantes e suas comunidades, fazendo com que a escola se envolva  com complexas decisões éticas, técnicas e cívicas que todos os cidadãos terão de fazer. O período e localização da educação será mais flexível para refletir e aproveitar vantagens de mudanças no mercado de trabalho. A distinção entre aprender dentro e fora da escola perderá sentido.

 

 

No trecho citado, fala-se de uma nova escola, de uma educação permanente e, sobretudo, de exigências de padrões educacionais muito altos para todos. Além de mudanças nos objetivos, a escola do futuro deverá usar recursos tecnológicos avançados. Deverá aproveitar a fartura de conhecimentos proporcionada pelos novos meios de comunicação. Isso tudo significa mais educação.

 

 

CONHECIMENTO OBJETIVADO

 

Antes de seguir em frente, quero listar algumas características de boa parte dos discursos sobre a nova era. Como veremos, mais à frente, tais características são muito importantes em qualquer discussão sobre como fazer educação. É bom notar que o discurso sobre uma Sociedade do Conhecimento, geralmente:

 

n  não distingue informação de conhecimento

n  não estabelece qualquer critério para avaliar qualidade de conhecimento/

informação

n  vê no conhecimento um produto que pode ser:

 

> armazenado

> vendido

> comprado

> transmitido

> doado

> controlado por donos ou proprietários

 

Tais características tem implicações sérias para a educação. A mais séria, no caso, é a implicação de que educar é um ato de transmissão. Não há muita novidade nisso; quase todos os livros de didática descrevem atividade sistemática de ensino como transmissão de conhecimento. Esse modo de ver o trabalho educacional supõe que os conhecimentos tem as características de produto que acabamos de ver.

 

Pensar o conhecimento com um objeto que independe de agentes do saber e de contextos de significação é uma abordagem que simplifica o entendimento do que é aprendizagem. Essa tendência acaba reforçando a ideia de que aprender é adquirir conhecimento. Na verdade, podemos adquirir informação. Mas o conhecimento só pode ser elaborado por agentes de saber. Essa temática vai merecer um estudo mais extenso na próxima unidade. Por enquanto, eu quero apenas deixar registrado que tratar o conhecimento como um objeto é uma tendência que empobrece nosso modo de ver o processo educacional.

 

 

VISÃO INTERACIONISTA

 

Neste curso, vamos estudar uma proposta à qual tenho dado o nome de abordagem interativa do saber.  Essa abordagem navega contra a corrente. Ao contrário das ideias predominantes, ela está baseada em pontos de vista que:

 

q não acham que o conhecimento humano está entrando numa fase de crescimento geométrico

q procuram estabelecer uma distinção nítida entre informação e conhecimento

 

q entendem que o conhecimento é uma  elaboração de sujeitos em atos de aprendizagem

 

q sabem  que há uma oferta imensa de informações, mas constatam que um número enorme de pessoas é incapaz de converter informação em conhecimento

 

Não vou expor a abordagem interacionista agora. Vou apenas apresentar um texto para reflexão, tentando mostrar que muita informação não produz, necessariamente, muito conhecimento.

 

 

 

FARTURA DE INFORMAÇÃO

 

Nosso tempo é uma época de muita fartura de informação. A famosa banca de jornais da Praça Villaboim oferece cerca de quinhentos títulos diferentes de livros, livretos, jornais, revistas etc. E essa oferta já não é tão nova, Caetano Veloso, em música muito conhecida, perguntava no fim dos anos sessenta: “quem lê tanta notícia?” A oferta de fontes de informação na Internet já se conta na casa dos milhões. Acadêmicos, como o professor Donald Norman, recebem em torno de dois mil e-mails por mês.

 

Tanta fartura é coisa recente na história. No século XIV, por exemplo, como conta S. Tuchman em A Distant Mirror, um rei francês deixou como principal item de herança um bem de preço incalculável: uma biblioteca com três centenas de livros! Hoje, qualquer professor universitário, tem bibliotecas pessoais que ultrapassam em muito a famosa coleção de livros do monarca francês de seiscentos anos atrás.

 

Há muita informação disponível. E o preço dessa mercadoria vem caindo sistematicamente. Isso não garante que estejamos ficando mais sábios e inteligentes. Sempre que vejo comentários sobre fartura de informação, lembro-me de dois nomes: Aristóteles e Santo Agostinho. Ambos foram gênios e produziram uma obra imensa. Aristóteles viveu a dois mil e quatrocentos anos. Agostinho, a mil e seiscentos. Possivelmente, nem um nem outro tinha biblioteca pessoal equiparável à de um intelectual do século XX. Não dispunham de muita informação. Apesar disso produziram uma obra que continua a ter grande importância para o pensamento de homens que vivem nesta virada de milênio.

 

 

 

Em vez de continuar com nossa conversa sobre conhecimento e informação, faço uma pequena pausa e proponho alguns exercícios, algumas vivências, como dizem os especialistas em treinamento.

 

 

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Exercício/Vivência

 

Ver informação e conhecimento como sinônimos é uma crença bastante generalizada. Em educação, costumamos pensar que o conhecimento está no texto dos livros. É comum, por exemplo, a expressão “apropriar-se de conhecimentos”. Essa apropriação se faz como um ato de tomada de posse do texto. E, ao fazer isso, o aluno se torna proprietário do conhecimento pois este está contido nas palavras escritas. A crença em foco não é produto de ingenuidade ou ignorância das pessoas. Ela é uma ideia dominante uma vez que as estruturas escolares que conhecemos reforçam a convicção de que o saber pode ser capturado pela linguagem, sobretudo a linguagem escrita.

 

Para encaminhar uma reflexão sobre as relações entre texto e saber, proponho aqui um exercício. Vou sugerir a leitura de um pequeno escrito dos pesquisadores Bransford e Johnson (1972), citado no livro The Constructive Metaphor (Spivey, 1997). É um trecho curto, sem nenhuma grande dificuldade de estrutura e de vocabulário.

 

O exercício é simples. Você deve:

 

n  ler o texto, tentando entendê-lo

 

n  descrever, em quatro ou cinco palavras, a atividade à qual o texto se refere

 

n  comparar sua resposta com a resposta fornecida pelos autores

 

Vamos ao trabalho!

 

COISAS DA VIDA

 

O procedimento é muito simples. Em primeiro lugar você separa as coisas em diferentes grupos. É claro que um único monte será suficiente, dependendo da quantidade a ser processada. Ir a outro lugar devido à ausência de equipamento poderá ser o segundo passo; se essa providência for necessária, você estará pronto para continuar. É importante não exagerar na dose. Ou seja, é melhor fazer poucas do que muitas coisas de uma vez. A curto prazo isto pode não parecer importante, mas complicações podem surgir facilmente. Da mesma forma, um erro pode custar caro. No começo, o processo inteiro parecerá complicado. Logo, porém, ele vai se tornar uma outra faceta da vida. É difícil prever qualquer fim para a necessidade dessa tarefa num futuro próximo; mas, quem pode afirmar isso com certeza? Depois que o processo estiver completo, você deve organizar as coisas em diferentes grupos outra vez. A seguir, elas podem ser colocadas em seus lugares. E, quase certamente, serão usadas de novo e um ciclo completo terá de ser repetido. Mas isso faz parte da vida.

 

Agora que você já leu Coisas da Vida, tente adivinhar a atividade descrita pelo texto. Procure escrever sua adivinhação em poucas palavras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LIMPAR
resposta
CONFIRMAR

 

 

 

 

Compare sua solução com o título dado pelos autores do texto, em

 

(V) resposta deve estar em localização que não permita ao usuário ter acesso à solução do problema antes de registrar sua (dele) tentativa. (V)

 

RESPOSTA PARA COISAS DA VIDA

 

§  Como lavar roupas (usando máquina de lavar)

 

 

REFLEXÕES SOBRE COISAS DA VIDA

 

Em experiências realizadas por Bransford e Johnson, os leitores de Coisas da Vida não conseguiam descobrir que o texto referia-se a atividade de lavar roupas. E isso acontecia porque os autores procuraram eliminar palavras que pudessem indicar contexto ao qual o texto se referia. Por essa razão, os leitores não conseguiam dar sentido ao texto.

 

Entender um texto (uma informação) requer iluminá-lo com conhecimento, dando-lhe sentido. Mas se encontrarmos um texto – fácil ou difícil – ao qual não possamos aplicar nosso conhecimento, é quase impossível o entendimento. Nessa altura acho que é bom citar uma explicação da professora Spivey (1997).

 

Entender um texto é um processo ativo de construir significado desde os sinais que o escritor fornece. E compor um texto é um processo ativo de construir significado para um texto e usar pistas  textuais para sinalizar significado para os leitores (p. 146)

 

Não vou falar muito sobre a experiência. Quero apenas insistir nas idéias de que:

 

n textos passam informação

 

n informação precisam ser interpretadas

 

n interpretações são atos de conhecimento

 

Se você quiser utilizar Coisas da Vida com um grupo de leitores e ver o que acontece, imprima o texto e boa sorte. Antes de seguir em frente, medite um pouco mais sobre Coisas da Vida. Está ficando claro, para você, a necessidade de distinguir claramente informação de conhecimento? Espero que o próximo exercício – SALA DE ESTAR –

(V) Se possível, usuário deverá poder acessar um cópia limpa de Coisas da Vida para imprimir e usar como sugiro (V)

 

SALA DE ESTAR

Exercício/Vivência

 

Vou descrever e fazer alguns comentários sobre SALA DE ESTAR, um exercício que utilizo com referência para discutir relações entre informação e conhecimento em processos educacionais. Se você tiver condições de conseguir voluntários que possam fazer o exercício, suas observações sobre a atividade serão de grande importância para a nossa conversa sobre a questão do conhecimento.

 

 

Como Fazer o Exercício

 

Em SALA DE ESTAR, a dinâmica de trabalho obedece a seguinte seqüência:

 

1.        os participantes são convidados a trabalhar em duplas num experimento de comunicação;

 

2.        nas duplas de trabalho, cada participante senta-se com as costas voltadas para as costas do respectivo parceiro;

 

3.        um dos componentes da dupla recebe o original de SALA DE ESTAR; o outro componente, uma folha de sulfite em branco;

 

4.        o componente que receber a figura original exercerá o papel de instrutor/professor; seu parceiro exercerá o papel de aluno/treinando;

 

5.        em hipótese alguma, o aluno poderá ver a figura em poder do professor;

 

6.        o professor deverá passar oralmente instruções que ajudem o aluno a desenhar SALA DE ESTAR, reproduzindo com a maior fidelidade possível a figura original;

 

7.        o trabalho das duplas devera durar de quinze a vinte minutos;

 

8.        terminado o trabalho de instrução e reprodução, as duplas discutirão a experiência por um cinco minutos.

 

 

Como disse, você poderá fazer essa experiência com alguns voluntários para verificar o que acontece. Além da dinâmica das relações entre professor e aluno em cada dupla, o que mais nos interessa aqui é o que o aluno produz a partir das instruções do professor.

 

Se você quiser fazer a experiência será preciso obter uma cópia do original de SALA DE ESTAR. Para obter sua cópia clique em original e imprima a página com a famosa figura.

 

(V) Será preciso garantir a possibilidade de acesso a uma página inteira com a figura original de sala de estar, pois assim o participante poderá imprimi-la para uso em experimentos que possa fazer (V)

 

Tenha você feito ou não a experiência proposta, convém ler os comentários que seguem:

 

Minhas Intenções com SALA DE ESTAR

 

Ao trabalhar com SALA DE ESTAR, procuro criar uma analogia que pode nos ajudar a pensar sobre as relações entre informação e conhecimento. Mas antes de falar sobre as relações que podem ser vivenciadas no exercício, quero explicar o significado dos elementos que integram SALA DE ESTAR.

 

n Desenho original: representa o conhecimento do professor.

 

n Instrução criada pelo professor: é informação produzida a partir de um determinado campo de conhecimento; na escola, damos a isso o nome de ensino.

 

n Posição dos pares – costa/costa: simula a impossibilidade do aluno ter acesso direto ao conhecimento do professor; simula também a impossibilidade do professor ter acesso direto ao conhecimento do aluno.

 

n Desenho produzido pelo aluno: representa o conhecimento elaborado pelo aluno a partir das instruções passadas pelo professor.

 

Minha principal intenção com SALA DE ESTAR é a de mostrar a diferença entre conhecimento (original) do professor e conhecimento elaborado pelo aluno. Além disso, é provável que já comece a ficar evidenciada a diferença entre informação e conhecimento, tema que pretendo discutir mais à frente neste curso.

Quem conseguiu fazer o exercício deve ter obtido figuras muito interessantes produzidas pelos alunos. Para nossa reflexão comum, mostro a seguir dois trabalhos elaborados por alunos num dos meus “experimentos”.

 

Figura original de SALA DE ESTAR

 

SALA DE ESTAR: Produção de Aluno A/2000

 

SALA DE ESTAR: Produção de aluno B/2000

 

Como a gente pode verificar, a distância entre a figura original e produções dos alunos é muito grande. Como explicar isso em termos das relações entre conhecimento do professor, informação ou ensino, e conhecimento produzido pelo aluno? Para responder essa questão de modo mais sistemático, vamos a nosso primeiro diagnóstico de aprendizagem.

 

 

DIAGNÓSTICO DE APRENDIZAGEM

 

Ao chegar até aqui, você deve ter lido meu texto e examinado dois exercícios (Coisas de Vida e Sala de Estar). Acho que já temos elementos para estabelecer uma visão compartilhada de entendimento sobre dois termos muito importantes, informação e conhecimento. E vamos fazer isso usando o Diagnóstico de Aprendizagem.

 

Não vou propor um exercício para saber se você domina o conteúdo. Vou, muito mais, sugerir uma atividade que possa servir de registro para os resultados de usa reflexões sobre o texto de leitura e os dois exercícios que integram essa unidade. Como SALA DE ESTAR é, a meu ver, um exercício muito rico, vou utilizá-lo como objeto de nossa conversa final nesta unidade.

 

 

ATIVIDADE

 

  • Como você pode verificar no exercício SALA DE ESTAR, há uma diferença muito acentuada entre conhecimento do professor e conhecimento elaborado pelo aluno. Considere a situação e escreva um pequeno ensaio (cerca de vinte linhas) sobre os porquês da diferença. Tente, em seu texto, definir o que é informação e o que é conhecimento. Quando terminar seu escrito compare o resultado de seu trabalho com o gabarito que criei.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Compare sua resposta com o gabarito

 

Há uma diferença acentuada entre conhecimento do professor e conhecimento do aluno. Como explicá-la?

 

Acho que uma boa resposta deve considerar:

 

1.    O conhecimento das pessoas não é diretamente acessível. Apenas o sujeito conhecedor tem visão clara e total daquilo que ele sabe. Nesse sentido, o conhecimento é subjetivo.

 

2.    Para tornar o conhecimento pessoal acessível, as pessoas produzem informação. Esta última é constituída por representações externas às quais conferimos significado. Quando duas ou mais pessoas se põem de acordo quanto ao significado de um item de informação (um símbolo, uma palavra, uma figura etc.) ocorre comunicação (algo conhecido é colocado em comum).

 

3.    Para produzir seu conhecimento, o aluno em SALA DE ESTAR conta com duas coisas: informação do professor e conhecimento prévio ou anterior. Ele interpreta as informações que recebe de acordo com seu entendimento (sua estrutura de conhecimento já constituída).

 

4.    Nem sempre as interpretações do aluno caminham na direção esperada pelo professor.

 

5.    Provavelmente, sempre haverá certa diferença entre conhecimento do professor e conhecimento elaborado pelo aluno.

 

6.    Parte do problema comunicativo em SALA DE ESTAR deve-se à falta de cuidado do professor na produção de informações. Muitas vezes os professores, na produção de informações, não consideram o ponto de vista dos alunos. Ao fazerem isso, geram informação que não comunica ou leva o aluno a interpretações não esperadas.

 

 

 

Educação Profissional: Uma Estória

outubro 6, 2017

História de um Plano de Educação Profissional

 

autor desconhecido

 

Era uma vez um educador formado por ótima faculdade de educação. Assim que recebeu o diploma, ele caiu na vida. Saiu a buscar emprego. Moço de sorte, não teve de procurar muito. Conseguiu colocação numa instituição de educação profissional. Salário bom, bem acima da média para recém-formados. Benefícios excelentes. Boas perspectivas de carreira. E, quase certamente, a instituição lhe daria apoio para ingresso no desejado mestrado na USP ou UNICAMP.

O chefe do jovem educador chamou-o pra uma conversa. Cara meio seco, falou pouco. Em síntese, o chefe queria que ele preparasse um plano de educação profissional para formar protéticos, soldadores e carpinteiros.

O moço saiu da sala do chefe ansioso para mostrar serviço. Sentou-se em sua mesa e começou a produzir o plano pedido.

O  jovem educador, antes de qualquer coisa, procurou deixar claros os princípios necessários para fundamentar o plano de educação profissional encomendado. Seu ponto de partida foi a ideia de que os educandos têm, cada qual, seu próprio estilo de aprendizagem. Em seguida, esclareceu que seria preciso levar em conta os tipos de inteligência de cada um dos alunos. Esses dois princípios, explicados pelo brilhante jovem em começo de carreira, sugeriam uma educação capaz de respeitar a individualidade dos alunos.

E logo veio a segunda parte do plano. O jovem educador mergulhou fundo nas competências. Para tanto, em entrevistas com pessoal de RH, levantou a relação de competências esperadas pelo mercado para protéticos, soldadores e carpinteiros.

Essa parte do plano ressaltava de novo a necessidade de personalizar o ensino, usando para tanto as novas tecnologias da informação e comunicação, pois cada aluno deveria aprender no seu próprio ritmo e de acordo com seus tipos de inteligência.

O plano, olhando para as atuais tendências de mercado, dava destaque a competências nos campos da sociabilidade, da comunicação, do trabalho em equipe, da capacidade empreendedora, da criatividade, da prontidão para adaptar-se a uma mundo em contínua mudança.

O jovem educador não se esqueceu de competências nos campos da sustentabilidade, da parceria, do comportamento ético, da cidadania, do respeito às diferenças, da prontidão para utilizar as novas tecnologias digitais. Além disso, deixou a porta aberta para a incorporação de mais competências gerais cuja necessidade aflorasse no mercado.

Na terceira parte, o plano contemplava competências associadas às técnicas próprias de cada ocupação. Mas, o jovem educador não deixou de expressar um alerta para os leitores do plano. Tudo muda, disse ele. O que o profissional aprende a executar hoje tem vida curta. Em pouco tempo, a ciência e a tecnologia criarão novos modos de produzir e os trabalhadores precisarão deixar de lado velhas manhas do ofício para aprender novas. Por esse motivo, dizia ele, não se deve enfatizar as competências técnicas. Frasista, concluía: as competências técnicas já nascem velhas.

Na quarta parte do plano, nosso herói estabeleceu as linhas gerais sobre docência. Sugeriu contratação de professores com sólida fundamentação pedagógica e ótimos conhecimentos técnico-científicos.

O jovem educador insistiu na ideia de que professores são mediadores, são pontes capazes de facilitar travessias de aprendizagens dos alunos. Sugeriu que, em programas de educação continuada, os docentes fossem incentivados a assumir, cada vez mais, seu papel como mediadores no processo de aprendizagem.

No capítulo docência, o plano ressaltava que os atores principais são os alunos. Chamava atenção dos professores para olharem para os interesses dos estudantes. E lembrava que já não cabe mais, em nossas escolas, docentes cuja virtude principal é o domínio de conteúdos. Em tom de brincadeira, mas com a necessária firmeza, gostava de dizer que conteúdo em nossos dias é território do Tio Google. Em vez de perguntar a professores, os alunos vão atrás do Tio que sabe cada vez mais e este pode dar respostas imediatas para suas pesquisas.

O plano tinha muito mais. Mas o leitor talvez não queira saber de tudo tim-tim por tim-tim. De qualquer forma, é bom dizer algumas palavras sobre o capítulo final: avaliação.

O ponto central da proposta avaliativa do jovem educador era o de que os docentes e outros agentes educacionais da instituição deveriam dar peso maior para avanços que os alunos individualmente vinham obtendo em sua aprendizagem, no sentido de desenvolver a autoestima da moçada. Não deixava de lembrar que cada um é cada um, e cada um deve ser comparado apenas consigo mesmo.

O plano do jovem educador foi aprovado, com elogios da alta direção. Virou referência na instituição. Outros educadores da casa foram incentivados a fazer planos parecidos. E o moço brilhante, que escreveu o plano, ganhou merecida promoção.

Leitores acostumados com histórias felizes como esta, devem estar achando que já é hora de encerrar a conversa com a moral da história. Mas, por causa de um acidente, é preciso continuar com a narrativa. Vamos, pois, ao acidente.

O elogiado plano foi parar nas mãos de um velho educador que começou sua carreira numa IREP (Inspetoria Regional do Ensino Profissional) no final dos anos de 1950.

Com a nova LDB de 1961, o velho educador, na época ainda muito novinho, foi removido para a diretoria de ensino livre da Secretaria da Educação, um setor sem importância e glamour que cuidava de cursos tais como os de datilografia, corte e costura, auxiliar de cozinha.

O velho se aposentou na função em 1995. Mas continua na ativa, atuando voluntariamente como coordenador de projetos de formação de trabalhadores no sindicato das costureiras.

Por um dos azares ou sortes da vida, o velho educador é tio avô do nosso herói. Por isso, depois de ler o plano, ele chamou o sobrinho para uma conversa turbinada por generosas doses de chope no Bar do Leo.

 leo

Foto do interior do Bar do Leo. Local onde vale a pena conversar sobre tudo, educação inclusa.

O velho falou muito, tentando encantar o sobrinho com outra visão de educação profissional. Segue aqui um resumo muito resumido da fala do antigo inspetor de IREP.

Na primeira e segunda parte, ele disse ao sobrinho, você enfatiza em demasia a noção de individualização na aprendizagem. Não aprendemos isoladamente. Aprendemos com os outros. Aprendemos em companhia. Aprendemos com os companheiros.

O sobrinho disse ao velho que a crítica dele era coisa antiga. O mundo mudou. Mas o tio era um idoso muito atualizado. Sacou de sua sacola de algodão um livrinho que foi eleito uma das dez melhores obras de educação da segunda metade do século XX: Common Knowledge: The developmentof understanding in the classroom, obra de de Derek Edwards e Neil Mercer, dos idos de 1989

 O estudo que o antigo inspetor mostrou para o jovem educador fornece evidências de que aprendemos em processo de compartilhamento de saberes, negociando significados. O sobrinho nunca tinha visto aquele livrinho. O tio lhe disse que os autores eram, e ainda são, pesquisadores importantes no campo do construtivismo.

O velho entrou com certa ironia na parte das competências. Disse ao sobrinho que o primeiro passo para conversar sobre conteúdos do trabalho é o diálogo com os trabalhadores, não com burocratas do RH.

Trabalho tem história. Trabalho tem arte. Trabalho tem compromisso. Trabalho tem sentido. Trabalho tem valor. O velho estava entusiasmado em sua oratória. Mostrou ao sobrinho que era preciso olhar para os trabalhadores com empatia, como gente que sabe, mas tem um saber que é invisível para intelectuais e senhores da academia. Recomendou a leitura de um belo livro de Mike Rose sobre o assunto: O Saber no Trabalho: Valorização da Inteligência do Trabalhador.

Mike (2007) vai até os trabalhadores. Os vê trabalhando. Conversa com eles simpaticamente. E vai descobrindo saberes muito ricos que podem ser vistos apenas por quem se aproxima dos profissionais, de sua história, de seus sonhos, de seus valores, de seu orgulho por trabalhos bem feitos, por sua arte.

Como Mike é um cara de esquerda, gente que o jovem educador olha com alguma desconfiança, o velho resolveu apresentar-lhe gente “neutra” que também faz alertas no sentido da necessidade de mergulhar profundamente nos saberes do trabalho.E para tanto, tirou da sacola um best-seller do New York Times, Shop Class as Soulcraft: An inquiry on the value of work, 2007.

O autor, Matthew Crawford, mostra que o trabalho de um mecânico que conserta motos antigas oferece desafios cognitivos muito mais aventurosos que o trabalho pseudo-intelectual de trabalhadores de escritório.

Ato contínuo, o idoso sacou de seu embornal mais um livro, de 2004, cujo autor insiste na ideia de que em educação profissional o ponto de partida essencial é o conteúdo do trabalho, a técnica, o fazer-saber: Educação Profissional: Saberes do Trabalho ou Saberes do Ócio?

O velho mudou de tom, deixou os livros de lado e disse ao sobrinho que o saber técnico é essencial. O esvaziamento,  do conteúdo trabalho, disse o educador das antigas, é uma estratégia para simplificar o trabalho e rebaixar salários. E isso não é novo. Taylor começou tal história há quase um século. Assim, atribuir pouco peso a competências técnicas não é uma sacada de modernidade, a não ser que o sacador ache que Taylor ainda deve ditar como o trabalho deve ser realizado.

Na terceira tulipa de chope, o velho inspetor ligou seus motores teóricos, ignorados pelo sobrinho até aquela conversa no Bar do Leo. E o tiozinho foi fundo. Começou a falar de uma teoria arcana. Citou Jean Lave  Etienne Wenger: Situated Learning: Legitimate Peripheral Participation .

Jean lave é responsável pela introdução do conceito de comunidade de prática no campo das ciências sociais. O conceito refinado por Lave teve como base o exame das aprendizagens que ocorrem no e pelo trabalho em ambientes onde os aprendizes aprendem fazendo.

[O tio seguiu em frente, mas, eu vou deixar a história de lado por um tempo e, em outra ocasião, comentarei com certa liberdade interpretativa as ideias de Lave no livrinho que ele apresentou ao jovem educador seu sobrinho]

O velho tinha um repertório imenso – para surpresa de seu sobrinho. Disse ao moço que estava meio cansado e que poderia continuar a conversa outro dia, talvez no Brahma ou num belo boteco chamado Juriti.

juriti

O Juriti é um boteco que fica no Cambuci, SP. Trago para cá foto do balcão da casa. Você não precisa ler cardápios para saber o que há de tira gosto na casa, basta olhar o que está exposto no balcão.

O jovem educador ficou abalado. Sentiu que suas convicções eram ingênuas, meio ceguetas. Prometeu que iria prestar atenção no saber dos trabalhadores dali para frente e começou a admirar a sabedoria do tiozinho que ficou tanto tempo cuidando da inspeção de cursos livres, atividade aparentemente pobre e pouco sintonizada com os avanços das ciências da educação. Mas, aprendeu a lição. Começou a olhar para seu plano como uma bobagem de educador que não se comprometeu com o trabalho e com os trabalhadores.

MORAL DA ESTÓRIA: o trabalho tem muitos saberes que não se manifestam para educadores que acham que a formação profissional é uma prima pobre da educação.

 

Perfil do aluno e lugar em sala de aula

outubro 6, 2017

Frato, sempre genial, mostra em poucos traços coisa que gastaríamos várias páginas para descrever. Na charge que trago para cá, ele mostra como se organiza o espaço em sala de aula, considerando os perfis dos alunos.

frato

Dez anos de Boteco

outubro 1, 2017

Vejo mapa com registros de visitas a este Boteco Escola, nestes dez anos. Fora do Brasil, acessos mais frequentes foram nos EUA: 35.016. E há algumas surpresas; Vietnã: 13, Namíbia: 8, Mongólia: 5. Ao todo, o blog foi visitado por gente de cento e trinta e seis países.