Archive for agosto \31\+00:00 2009

Cena ou sena?

agosto 31, 2009

hiratic

Nos últimos dias a weblândia foi invadida por uma banda barulhenta de blogueiros, tuiteiros e outros, comentando um erro ortográfico da filha da Xuxa. A menina escreveu em seu twitter algo mais ou menos assim:

  • Vou gravar sena com cobra.

A ortografia oficial para “unidade de ação de uma peça” (Houaiss) é cena, não sena como a menina grafou. Um erro banal, comum, explicável. Crianças de dez anos de idade, se ousarem escrever, escorregam com frequência nas muitas cascas de banana da ortografia da última flor do Lácio. Suponho que escorregariam em qualquer idioma. Ortografia é um sistema de convenções que exige memorização da “escrita correta”. Mesmo adultos, bem escolados, de vez em quando não sabem como grafar certas palavras. Se você nunca viu a grafia de serótina, uma das horas canônicas, aposto que não saberia se a dita cuja se escreve com c ou com s. Será que sabe com certeza se o correto é ierático ou hierático? Se nunca ouviu este sinônimo de sagrado, é quase certo que não saberia se o h deve ou não entrar na história. Falar nisso, uma dica: hierático tem a mesma raiz que hieróglifo. Logo, o h é de lei nesse caso. Peço que me perdoe a erudição boba. Quis apenas mostrar que não há terra firme para nos dar certeza de como um termo desconhecido (para nós) deve ser escrito.

Na weblândia a maior parte dos comentários revelou censura à educação da filha da Xuxa. Os comentaristas posaram de intelectuais e disseram que grafar cena com s é um escândalo educacional. Essas críticas revelam um entendimento equivocado do que é boa educação. Revelam o que chamo de “síndrome da escolinha do Golias”, um modo de pensar que reduz a aprendizagem escolar à memorização de datas, nomes, definições, e correção ortográfica. Ou seja, toda escola caricaturada na TV mostra professores conferindo armazenagem de informação, não entendimento. Este último, aliás, é um processo arisco em cenas de espetáculo circense ou televisivo. Cabe notar que a mesma concepção de saber predomina em programas sobre “conhecimentos”. Aquele segmento folclórico de um dos dos velhos shows do SS, pergunte aos universitários, conferia exclusivamente memorização de informações. Os críticos da filha da Xuxa fizeram seus comentários com base nessa concepção do saber.

Não venho aqui defender a Xuxa. Aliás, a explicação que ela deu para a escorregada de sua pimpolha foi infeliz. A velha rainha dos baixinhos disse que sua herdeira tem dificuldades com o vernáculo porque foi alfabetizada em inglês. Nada a ver. Ela é simplesmente uma criança de dez anos. Comete erros de ortografia como qualquer outra criança na mesma faixa etária. O episódio indicou apenas que a ortografia derruba muita gente. Derruba muito mais crianças que ainda não foram expostas durante tempo suficiente a informações escritas para incorporarem repertório expressivo de “escrita correta” das palavras. Para mim, o pior da história foi a crítica de gente que se acha intelectual porque supostamente sabe grafar com correção. O pior da história foi a reafirmação de uma concepção educacional que acha que aprender é empanturrar-se de informação cujo sentido é ignorado por essa gente que se sente bem educada.

No mesmo período, dois outros acontecimentos ocuparam muito espaço em blogs e twitters: Vanusa cantando o hino nacional num evento público, e vídeo de uma professora baiana em dança erótica numa boate. No primeiro caso, em VT divulgado no Youtube, a estrela da velha jovem guarda tropeça na letra e melodia do hino  nacional. Espetáculo deprimente de pessoa com algum problema decorrente de excesso de medicação ou álcool (prefiro a primeira versão). Os comentários de gente que viu o feio espetáculo são aterradores. Alguns comentaristas chegaram a propor fuzilamento da pobre cantante por causa de suposto desrespeito a um símbolo nacional. No caso da professora baiana, dois desdobramentas: ela perdeu o emprego, e os comentaristas de sua aventura dançante, divulgada via Web, manifestam um moralismo assutador (além de gracinhas machistas). As patriotadas dos comentaristas do vídeo de Vanusa mostram uma gente severa com os outros, e que defendem (cinicamente) símbolo nacional que não tem lá grande prestígio (falar nisso, a letra do nosso hino é quase que uma ofensa ao idioma de Camões…). A conclusão da grande maioria dos comentaristas de que a professora dançarina não pode dar aulas para crianças é no mínimo ofensiva ao direito de ter vida pessoal fora do ambiente de trabalho (professoras não precisam ser santas freirinhas para exercerem com dignidade seu ofício, e o que fazem em ambientes adultos não prejudica per se sua atuação docente).

As reações aos três episódio me deixaram preocupados. Elas mostram gente cujas convicções são fossilizadas. No caso da filha da Xuxa, os comentários havidos mostram uma concepção enviesada do que é educação, além de uma severidade em julgamento de erros ortográficos que só pode ser fruto de uma cultura cuja profundidade não vai além da primeira camada de verniz. No caso da Vanusa, há completa ausência de uma virtude cada vez mais necessária, compaixão, além de manifestações patrioteiras que colocam símbolos nacionais acima das pessoas. Finalmente, no caso da professorinha baiana, os moralistas de plantão se apressam em condenar pessoa que não conhecem, além de censurarem a vida pessoal de uma docente em nome de princípios equivocados do que é o ofício do magistério.

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Dia do blogueiro

agosto 31, 2009

Comemoração de blogueiros peruanos. Dia internacional do blog. Comemoro junto com eles.

Tecnologias da informação e literatura

agosto 31, 2009

Novas tecnologias mudam o mundo da cultura. Mudam valores. Mudam modos de ver a vida. Não são apenas instrumentos que podem ser usados de acordo com os desejos humanos. Na verdade, elas mudam também os desejos. As dimensões de mudanças profundas causadas pelas TI’s não são, creio eu, por enquanto bem entendidas. Sobre a questão, há ainda outro aspecto a ser considerado: a naturalização dos desdobramentos sócio-historicos das novas tecnologias. Há muita gente que vê as mudanças em curso como decorrências “naturais”, ignorando completamente cultura e história. Ás vezes fico com a impressão de que certos analistas – educadores inclusos – entendem as novas tecnologias da informação como uma dádiva de “deuses astronautas” (conf. http://budurl.com/3wph), não uma criação histórica dos homens.

Análises sobre TI’s e cultura já foram feitas por alguns pesquisadores importantes. Gosto particularmente das abordagens de Joseph Weizenbaum, Alan Kay e Neil Postman. Mas acho que esses autores não foram suficientemente lidos. E, muitas vezes, quando lidos, são vistos como inimigos das novas tecnologias. Já vi essa crítica feita principalmente a Weizenbaum, em que pese a contribuição fundamental dele à ciência da computação.

diagnosisAcho que nosso entendimento das dimensões culturais associadas às novas tecnologias ficará mais claro na medida em que obras de ficção tratarem do assunto. E essas obras começam a aparecer. Uma delas é The Diagnosis, da Alan Lightman. Para os interessados, indico um link que aponta no Google para a tradução de diversas fontes mostrando quem é Lightman, e para comentários sobre a obra desse autor:

Estou relendo pela segunda vez a obra em tela. É um romance imperdível que merece várias leituras. Quando o li pela segunda vez, fiz alguns registros sobre o aproveitamento de ambientes informativos da Web em sua estrutura narrativa. Esses registros apareceram em dois posts do Aprendente destacados a seguir:

Em minhas observações de 2006 não abordei uma dimensão de TI que aparece no romance da Alan Lightman: os aspectos da cultura da informação que integram a trama da história de Bill Chalmers, executivo acometido por uma paralisia progressiva cujas causas não são diagnosticadas.

Chalmers trabalha como executivo júnior numa empresa cujos negócios não ficam muito bem evidenciados na narrativa. Mas, a natureza de sua profissão é desvelada num diálogo que ele mantém com seu psiquiatra. No diálogo havido na primeira sessão, o médico pergunta a Chalmers:

  • Qual a natureza do seu trabalho?

A resposta do paciente é interessante considerado o tema deste post:

  • Eu processo informação.

E o diálogo prossegue:

  • Sim, informação sobre o quê?
  • Todo tipo de informação. Sobretudo informação na área de negócios … não toda ela.
  • Para quem?
  • Para todo tipo de gente. Eu faço negócios com clientes do mundo inteiro.

O psiquiatra faz uma pausa para atender a um chamado de urgência. Quando retoma o diálogo com Chalmers, pergunta:

  • Você estava me falando sobre seu trabalho. Você analisa informação. Você também recolhe informações?
  • Não, há outras pessoas e companhias que as recolhem. Nós não temos pesquisadores nesse ramo.
  • Você envia informação de A para B, qual é o valor agregado? Parece que você é um intermediário. Eu não entendo (…)

Temos pois um herói cujo trabalho profissional é processar informação. Tal tipo de trabalho supõe um mundo no qual as informações foram convertidas em mercadoria. Talvez seja isso que o psiquiatra diz não entender. Mas, o trabalho de Chalmers tem uma outra dimensão que precisamos considerar. Ele diz que processa informação. Esse trabalho é contratado por organizações e pessoas que não entendem muito bem o sentido de informações já existentes. A tarefa de Chalmers é a de dar sentido à informações fornecidas por seus clientes. A situação descrita lembra observação feitas por Alan Kay. Este autor, em artigo que escreveu para a Scientific American nos anos 90 observa que corremos o risco de ter uma população muito informada mas sem nenhum conhecimento. E Kay vai mais longe. Ele afirma muita gente não saberá dar sentido à informação. Saberá apenas reconhecer a existência desse bem de consumo.

Não vou aprofundar a conversa sobre uma sociedade que precisa de profissionais que processem informação. Em tal sociedade, os não especialistas dependerão de tais processadores para tomarem decisão, para entenderem o mar informacional que os cerca. Esse cenário, que não é uma invenção ficcional de Alan Lightman, mas aproveitamento dramático de uma tendência cada vez mais evidente, tem consequências sérias para a educação. Temo que os educadores não estejam muito conscientes do problema. Talvez precisem do auxílio de profissionais capazes de processar as informações existentes…

Boteco Escola em reportagem

agosto 28, 2009

O Instituto Claro acaba de publicar reportagem sobre blogs educacionais. Este Boteco foi um dos espaços que mereceram destaque na matéria. Agradeço a distinção. E meus agradecimentos são ainda maiores pela companhia na qual a reportagem me colocou. Todos os blogs destacados são objeto da minha admiração, escritos por edublogueiros que são referência nacional e grandes amigos virtuais. Recomento a reportagem e os blogs que mereceram atenção da equipe do Instituto Claro. Para ler a reportagem, clique no destaque que segue.

Saber do trabalho não está nos livros

agosto 28, 2009

Faz algum tempo que entrevistei o escritor e educador americano Mike Rose. Na conversa, via muitos e-mails, falamos sobre o saber do trabalho. No final da conversa, o papo foi transformado numa entrevista que apareceu em publicação comemorativa dos cinquenta anos do SENAC. Em aula recente, conversei com meus alunos de filosofia sobre o dualismo epistemológico que domina nossa cultura, separando corpo e mente, conhecimento e habilidade, teoria e prática. Tal dualismo vê o trabalho manual como simples repetição mecânica de algo que foi concebido por mentes mais brilhantes que as dos trabalhadores. Em estudos filosóficos a questão é nova. Mas deixemos esses estudos de lado para ouvir o Mike. Para tanto reproduzo aqui as dois últimos comentários do educador americano às minhas provocações.

Na sua opinião, de onde vem a dificuldade de entender o conhecimento que é produzido na ação? No Ocidente, desde Aristóteles, vivemos uma longa tradição cultural que faz distinções dicotômicas entre conhecimento puro e aplicado, teoria e prática, educação acadêmica e profissional, cérebro e mão. Mas quando você se aproxima do trabalho – o trabalho de um cabeleireiro ou de um cirurgião – essas distinções começam a perder sentido. Existem muitos momentos de pensamento abstrato, envolvendo conceitos e resolução de problemas, no trabalho de um bom cabeleireiro. Perguntei a um profissional da área o que ele faz quando uma pessoa aparece com um corte ou uma coloração malfeita por outro cabeleireiro. “A primeira coisa que você tem que fazer”, ele disse, “é descobrir onde o outro profissional estava tentando chegar”. Considere todo o conhecimento e o pensamento hipotético que entram em ação nesse caso. Vejamos outro exemplo: o trabalho do cirurgião. Passei um verão observando residentes em cirurgia e me deparei com o fato de que o conhecimento considerável que eles tinham sobre anatomia e fisiologia retirado do livro-texto tem pouca utilidade até o momento em que conseguem convertê-lo em habilidades tácteis. Eles têm de desenvolver uma sensibilidade para a aparência e a consistência do tecido, além de uma destreza manual considerável. Precisam converter todo o conhecimento do livro em conhecimento sensorial. Os conceitos precisam tornar-se concretos. Eles precisam resolver de maneira muito concreta problemas envolvendo um grau elevado de aprendizagem abstrata sobre doenças. Observando tudo isso, é difícil saber onde a teoria e a abstração terminam e onde a habilidade manual e sensorial começa.

O que pode ser feito para superarmos preconceitos contra o trabalho manual? Superar essas distinções problemáticas entre tipos de conhecimento é um enorme desafio. As distinções entre mão e cérebro estão arraigadas na cultura e são reforçadas por distinções de classes sociais e status ocupacional. Nós, educadores, temos de examinar nossos próprios preconceitos, porque crescemos com eles. Temos de discutir a dimensão cognitiva do trabalho, olhar para a teoria da atividade elaborada pelos sucessores de Vygotsky, estudar as descobertas recentes nas ciências do conhecimento e da aprendizagem, áreas nas quais os pesquisadores estão desafiando maneiras simplistas de entender o trabalho e classificar o conhecimento. Uma vez que entendam bem esses assuntos, os educadores poderão voltar-se para metas educacionais, objetivos e currículos. Já sabemos que em bons programas de educação profissional os alunos desenvolvem perspicácia na percepção, descobrem as capacidades e limitações das ferramentas, melhoram suas habilidades para planejar e priorizar tarefas, resolver problemas rotineiros e eventuais, usar e comunicar uma variedade de símbolos, inclusive símbolos matemáticos. Servem-se da matemática para fundamentar seu planejamento e a resolução de problemas, e da leitura e da escrita para auxiliar a aprendizagem e a execução de tarefas. Aprendem a se comunicar e a trabalhar cooperativamente. Refletem sobre suas próprias ações para evitar prejuízos e erros. Desenvolvem valores estéticos e profissionais. Nossa missão como educadores é colocar em primeiro plano a dimensão cognitiva do trabalho. E realizar um grande esforço para influenciar políticas públicas e promover discussões sobre a inteligência e o conhecimento dos trabalhadores.

Olimpíada em História do Brasil

agosto 26, 2009

Thiago Oshiro, frequentador deste Boteco, colocou em um comentário mensagem sobre a Olimpíada em História do Brasil. O evento é muito interessante e merece ampla divulgação. Por isso, reproduzo aqui o texto que o Thiago me mandou.

“Olá colegas,
Deixo aqui a divulgação da Primeira Olimpíada Nacional em História do Brasil, iniciativa inédita no país, organizada pelo Museu Exploratório de Ciências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com o apoio do CNPq. A Olimpíada é para escolas públicas e particulares e acontece pela internet, com equipes formadas por estudantes do oitavo e nono anos do ensino fundamental e por estudantes do ensino médio, juntamente com seu professor. As inscrições já estão abertas!
http://www.mc.unicamp.br
Obrigado”

Ensino público, de qualidade

agosto 25, 2009

sao-joseO ensino público brasileiro anda mal das pernas. Meus alunos da licenciatura contam horrores vistos em seus estágios de observação em escolas da rede estadual de educação : indisciplina, ausência de professores, patrimônio dilapidado, violência, desinteresse (de alunos, de professores, de diretores). Uma paisagem triste. Sem esperança. Mas, isso não é uma fatalidade. Pode ser diferente. Nessa linha de raciocínio, Mike Rose fez uma pesquisa muito bonita sobre sucessos do ensino público americano. O trabalho de Mike pode ser visto no livro Possible Lives: The promisse of public education in America.

continenteAlgo parecido com a pesquisa de Mike Rose poderia ser feito no Brasil. É verdade. Não me diga que é impossível. Acabo de chegar de uma semana de entrevistas para um estudo sobre educação tecnológica no Brasil. Conversei com alunos, ex-alunos, professores, gestores e empregadores. Boa parte das minhas entrevistas foram feitas em escolas do Intituto Federal de Santa Catarina (sucessor da antiga Escola Técnica Federal). Estive em três campi (Floripa-Ilha, Floripa-Continente e São José). Escolas limpas e bonitas. Gestores comprometidos e entusiasmados. Professores muito competentes. Alunos articulados e bem formados. Ex-alunos muito bem capacitados. Empregadores que elogiam sempre os alunos que recebem do Instituto. Alguém dirá que é exceção. Não concordo. Educação pública de qualidade é uma questão de decisão política. Escolas públicas de bom nível, para todos, não é um sonho. É uma possibilidade que, em parte, depende de nosso empenho cidadão.

Uso este espaço para agradecer a forma gentil com que fui recebido pelos educadores do Instituto Federal de Santa Catarina. Uso-o mais ainda para deixar registrada minha admiração por um trabalho educacional excelente. Parabéns gestores, professores e alunos de Floripa e São José. Vocês reativaram minhas convicções de que toda a nossa educação pública pode ser tão boa e digna como o trabalho que vocês fazem.

A primeira foto retrata a escola do campus de São José, a segunda, o campus de Floripa-Continente. Prédios bonitos, limpos e com equipamentos de primeira para uma educação pública de ótimo nível.

Relógio do mundo

agosto 24, 2009

Quanta gente nasce e quanta gente morre no mundo a cada instante? Quanta floresta se vai? Quanta floresta é replantada? Quanta gente usa a internet no planeta? Estas e muitas outras perguntas são respondidas num relógio que as vai contando continuamente na tela. Matéria interessante para aproveitarmos dados numéricos como ponto de partida para reflexões sobre a vida no planeta. Para ver o relógio do mundo, clique no destaque que segue:

Redação: imaginação para começar

agosto 12, 2009

Nestes dias conversei com meus alunos de filosofia sobre resultados da prova do primeiro semestre. Disse-lhes que não fiquei muito seguro na hora de julgar resultado do que escreveram. A razão principal de minha insegurança é a orientação de que as provas nos cursos de Comunicação Social privilegiem redação. Concordo com a orientação, mas acho que alunos que escrevem bem já entram na prova com certa vantagem. Por outro lado, os alunos que não redigem de modo satisfatório perdem pontos mesmo que dominem o conteíudo da matéria. A aparente punição para redatores com limitações tem valor educativo. Alunos de comunicações precisam escrever bem. Isso é uma exigência profissional. Jornalistas, radialistas e publicitários com texto ruim têm pouca ou nenhuma chance profissional. Assim, alunos com déficit no campo da escrita precisam saber desde o começo que melhoria no escrever é uma necessidade para eles.

Alguns alunos conversaram comigo para saber como melhorar. Outros, ao se manifestarem, acharam que eu estava falando de gramática ou ortografia. Para estes últimos, respondi que a meu ver a boa redação começa pela imaginação e capacidade de se comunicar com clareza. A gramática não é essencial neste sentido. Algumas vezes sinto que professores universitários fazem a mesma confusão. Acham que boa redação se define a partir de padrões gramaticais. Isso tem a ver com ensino de redação que ressalta em demasia correção formal. Acho que o ponto de partida é outro. Neste blog, um exemplo de ensino de redação que enfatiza a criatividade aparece em registros feitos sobre redação cooperativa (com uso de recursos tecnológicos). Se quiser ver o que já escrevi sobre isso, comece por aqui.

FRATO: Com olhos de criança

agosto 10, 2009

artmed_frato_40anosUma das belas propostas de Francesco Tonucci, grande educador italiano, é a de tentarmos ver escola, saberes, vida “com olhos de criança”. Muitas vezes vemos as coisas pelas crianças. Mas essa solução ignora como as crianças vêem ou gostariam de ver o mundo. Escrever sobre tal proposta é bom. Mas, melhor ainda é mostrar como as crianças vêem o mundo, ou como as visões dos adultos muitas vezes contrariam sonhos e vontades infantis. E Tonucci faz isso, atuando como FRATO, um cartunista genial que , com humor e ironia, mostra olhares de crianças ou olhares equivocados de adultos que acham que sabem o que é melhor para seus herdeiros.

FRATO já produziu mais de mil charges sobre os olhares infantis. Algumas delas foram encomendadas para ilustrar obras de outros educadores. Muitas delas ilustraram livros do próprio Tonucci. Todas elas são modos importantes de denunciar equívocos ou mostrar novos caminhos em educação. Publicação recente reúne os mais expressivos desenhos de FRATO. E, é claro, o nome da obra não poderia ser outro que não Com olhos de criança.

Acho que Tonucci (e seu alter ego FRATO) precisa ser mais conhecido nos meios educacionais brasileiros. Divulgo como posso a obra desse exemplar educador italiano. Uma de minhas inciativas mais recentes neste sentido foi a elaboração de uma resenha do livro Com olhos de criança. Minha amiga Ana Lúcia Bosisio, editora do Boletim Técnico do Senac, aceitou tal resenha para publicação. Se quiser ver o texto do que escrevi sobre a obra de FRATO clique aqui.