Archive for julho \20\+00:00 2015
Um exemplo de ética do cuidado
julho 20, 2015Referência em site argentino
julho 19, 2015Utilizo este espaço como “arquivo” para registrar referência a um de meus livros,Formación profesional: ¿Saberes del ocio o saberes del trabajo? , em site argentino. A referência aparece num material sobre educação de adultos, na seção sobre educação profissional. Segue link para o site:
Sociedade da imagem
julho 14, 2015Orgulho de ser estudante outra vez…
julho 12, 2015O título deste post deveria ser mais extenso, pois eu queria ressaltar dois casos que observei em oficinas em estudo que fiz para a UNESCO sobre valores e educação profissional e tecnológica. Resolvi ficar apenas com “orgulho de ser estudante outra vez” porque este é um aspecto que os educadores não costumam notar quando falam de EJA ou de nova oportunidade de estudos para adultos que voltam à escola para fazer um curso técnico ou uma qualificação profissional. Mas eu queria também mostrar profundo envolvimento com a obra que pode ocorrer na aprendizagem de profissões manuais. Para tanto, eu queria ter colocado no título “satisfeito com seu feito, o menino acaricia a madeira que acaba de emendar num móvel”. Mas, isso não cabe no espaço e títulos de blogs.
Toda a conversa do parágrafo anterior foi uma introdução para que eu pudesse falar sobre um roteiro que fiz para minha fala, dia 07/07/2015, no Conselho Nacional de Educação, apresentando meu livro Fazer Bem Feito. O tempo era muito curto, por isso tive que preparar algo que coubesse nos vinte minutos que me foram concedidos. Resolvi então deixar de lado o Powerpoint e preparar um roteiro que me ajudasse a usar o tempo de maneira bem proveitosa. Tal roteiro não foi projetado. Funcionou apenas como um guia para a minha fala. Mas, acho que ele pode ser publicado, pois o mesmo mostra uma das faces do que pode merecer ênfase no estudo que fiz para a UNESCO. Nas linhas que seguem reproduzo o tal roteiro.
Fazer Bem Feito
Em vinte minutos não é possível oferecer um painel bastante completo do estudo que realizamos para a UNESCO, nem apontar todos os aspectos que merecem atenção no livro. Optei por apresentar alguns aspectos que podem provocar maior interesse e/ou um levantar de sobrancelhas de quem estuda e reflete sobre valores em educação.
Escolhi um caminho dividido em dois tempos. No primeiro tempo apresento dois casos exemplares. No segundo, apresento três direções que me parecem interessantes.
Antes de ir para os casos, uma observação. No estudo que fizemos, procuramos não ficar apenas na ÉTICA. Procuramos também examinar ESTÉTICA e AXIOLOGIA. Cumpre reconhecer, porém, que a tentação de ficar apenas no campo da ética é muito grande.
Estrutura geral:
1. Dois casos:
• A moça que amava o uniforme da escola.
• O menino que acariciava madeira
2. Três direções:
• Espaços de aprendizagem são essenciais no desenvolvimento de valores.
• A aprendizagem, de conceitos, competências, valores é um empreendimento coletivo, por isso é de fundamental importância a comunidade de prática para que os alunos se façam trabalhadores.
• O fazer das instituições profissionais sugerem que o desenvolvimento moral dos alunos é orientado pela ética do cuidado.Casos
Caso 1: A moça que amava o uniforme da escola.
Curso de salgadeiro. Senai do Porto, Cuiabá. Escolhi a turma que tinha cinco deficientes visuais. Conversei longamente com uma moça de quarenta e poucos, cega desde os dezenove. Alegre, de bem com a vida. Ama dançar. Feliz no curso. Aprendendo muito e cobrando uma política complementar para o PRONATEC: fonte de financiamento para que os salgadeiro pudessem comprar equipamentos profissionais. O ambiente de trabalho/aprendizagem no Senai do Porto é ótimo. De primeiro mundo, diriam alguns. Além disso, os alunos tinham diversos apoios para que pudessem frequentar o curso. E o Senai forneceu uniforme, um camisa bem transada, com nome da escola e do curso. A moça me disse que vestia aquela camisa com maior orgulho. [A camisa representava todos os cuidados que ela estava recebendo]. A revelação foi inesperada. Alguém talvez esperasse um discurso de caráter econômico, de expectativas quanto a ganhos que o trabalho de salgadeiro poderia trazer. Mas, a moça quis falar principalmente sobre seu orgulho de voltar à escola, ser publicamente reconhecida como estudante em uma instituição de respeito.
Como diz Mike Rose, citando fala de um aluno adulto que teve uma segunda chance escolar:“VOCÊ É CAPAZ DE SE DESCOBRIR ALGUÉM QUE NUNCA IMAGINOU SER.”
O caso dessa aluna me permite tirar o foco do aluno e propor reflexões sobre valores no plano institucional. Oportunidade para falar sobre arquitetura e educação. Sobre respeito que transparece naquilo que as instituições oferecem como condições materiais d trabalho/aprendizagem em EPT.
Muito o que falar sobre a moça e o orgulho de uma adulto que volta à escola e encontra condições muito dignas para aprender.
Caso 2: O aluno que acariciava madeira.Curso de marcenaria. Oficinas artesanal e industrial exemplares. Alunos aprendem fazendo uma obra a cada semestre. Vi a turma desenvolvendo um rack. Comecei a prestar atenção num aluno muito pequeno, apesar de seus 16 anos, que às vezes não conseguia alcançar o painel de controle das máquinas. Ele havia feito um emenda de madeira no fundo do seu rack. Ficou perfeito. Leigos não conseguiriam ver a emenda. Ele passava continuamente a mão sobre a emenda, num gesto de carícia e admiração. O professor chegou. E ele também acariciou a madeira. Muitas leituras para o gesto. Mas vou resumir a ópera: no gesto o menino pequeno revelava admiração pela obra.
Estética e ética num mesmo evento. Compromisso. Engajamento. Admiração. Autoestima. Respeito pela obra. Fazer bem feito, mesmo num fundo de móvel que ninguém vai ver.
Direções
Recomendações. Políticas. Indicações didático-pedagógicas.
1. Espaços de trabalho/aprendizagem. Em EPT necessariamente espaços de trabalho/aprendizagem. Importância fundamental da arquitetura, das ferramentas, dos insumos, das obras. Os valores estão entranhados em tais espaços e nas tramas que neles ocorrem. Sem tais espaços, temos uma EPT pobre, precária, sem dignidade. Um chamado para considerar arquitetura e educação em conversas sobre valores.
2. Comunidades de prática. Ao entrar num curso de EPT, caso a aprendizagem aconteça em oficinas, o aluno ingressa numa comunidade de prática [prática social] que tem obras no horizonte. Não aprende o QUE. Aprende a SER. Não aprende simplesmente a fazer móveis, aprende a ser marceneiro.
3. Ética do cuidado. Cuidado com quem? Cuidado com o que? Quem: companheiros e beneficiários. Que: a obra, as ferramentas, o ambiente [meio ambiente e ambiente profissional], os insumos.
Trabalho é dignidade
julho 12, 2015A foto mostra o mecânico de motos Matthew Crawford em sua oficina. Não é um mecânico qualquer. Ele é doutor e mestre em filosofia. Foi executivo de uma ONG que lhe pagava altos salários. Mas, deixou a vida engaiolada para reparar velhas motos, a maior parte delas fora de linha.
Crawford não foi para a oficina por falta de trabalho compatível com sua formação acadêmica. Ele foi para a oficina porque acha que sua atividade como mecânico, além de digna, lhe dá muita satisfação e traz desafios intelectuais prazerosos.
Não estou romantizando a vida desse mecânico tão diferente. Minhas observações sobre ele decorrem de um livro escrito por um filósofo que escolheu viver com as mãos sujas de graxa, em vez de usar ternos caros e atuar em escritórios chiques de Washington. O livro de Crawford chama-se Shop Class as Soucraft: an inquiry into the value of work e virou bestseller nos EUA.
Já li o livro de Crawford diversas vezes. É uma obra muito bem escrita e surpreendente. Merece atenção de quem está envolvido com formação de trabalhadores. Por essa razão, escrevi resenha de Shop Class as Soulcraft para o Boletim Técnico do Senac. Julguei que análise do livro de Crawford merecia referência a outra obra que apresenta visão muito positiva do trabalho braçal: How Starbucks Save my Life: a son of privilege learns to live like everyone else, escrita por um ex-publicitário, Michael Gates Gill, que na idade madura e desempregado aceitou trabalho como barista. Nas duas obras, fica muito claro que trabalho é dignidade.
Para amigos que queiram ler minha resenha desses dois ótimos livros, segue link:
Valores em educação profissional
julho 11, 2015A UNESCO acaba de publicar Fazer Bem Feito: valores em educação profissional e tecnológica, síntese dos resultados de estudo que fiz a partir de observações em oficinas em escolas que formam trabalhadores. O tema vem sendo discutido bastante por educadores. Mas, no geral, a discussão desconsidera os valores engastados na ação. Meu estudo procura evitar tal desvio, pois fui para ambientes de trabalho/aprendizagem para identificar como alunos e professores vão tecendo valores na medida em produzem obras.
O livro está disponibilizado para download livre em site da UNESCO. Para interessados, segue link para o site a a partir do qual é possível acessar texto integral da obra:
>>> Fazer Bem Feito, edição UNESCO, autor: Jarbas Novelino Barato
Crianças, escolas, Tonucci
julho 5, 2015O educador italiano Francesco Tonucci tem ideias muito interessantes sobre crianças, escolas e educação. No final dos anos de 1970 li entrevista dele e fiquei impressionado com suas opiniões sobre escola de tempo integral. Ao contrário da maioria, Tonucci se colocava contra o plano de manter crianças na escola o tempo todo. Um dos argumentos que ele usou foi o de que o papel da escola é oferecer oportunidades para que os alunos reelaborem a experiência. “Mas, que experiência irão elaborar se passarem o dia todo dentro dos muros escolares?”, perguntava ele.
A posição de Tonucci quanto à escola de tempo integral é um desdobramento de sua visão quanto à vida na cidade. Para ele, é preciso que a cidade mude para que as crianças possam por ela circular livremente, sem tutela de adultos. Para ele as crianças devem brincar nas ruas, devem ocupar espaços que hoje estão dedicados a automóveis. O educador italiano vê com profunda ironia a escola-fortaleza, esse lugar de proteção das crianças que achamos tão natural.
Há muito mais o que dizer sobre Tonucci e seu alter ego cartunista, Frato. Mas, vou parar por aqui e sugerir ao leitor que dê uma olhada em preciosa entrevista que ele concedeu a um órgão de imprensa argentino. Para tanto, vou colocar link da entrevista aqui. Porém, antes disso, ofereço a quem chegou a este ponto um aperitivo, um trecho bem interessante da conversa de Tonucci com seu entrevistador:
–¿Qué piensa como “niñólogo” acerca de las hipótesis del “fin de la infancia”? ¿Estos niños que saben demasiado, que descolocan a los adultos, están diciendo que se acabó la infancia?
-En efecto, hoy los niños tienen dificultades para vivir la infancia porque, por un lado, acceden a conocimientos adultos de una forma muy precoz; y por otro lado, se quedan inmaduros porque no desarrollan capacidades autónomas de moverse, arreglarse; por lo cual llegan a la adolescencia con una cabeza enorme y con brazos y piernas pequeñitas. Esto significa que la infancia ha cambiado; yo creo que hoy la infancia está presa, no desaparecida. Si la dejamos, vuelve. Esta es la experiencia que siempre encontramos en el proyecto de la Ciudad de los Niños. Nosotros proponemos que los niños vayan a la escuela sin ser acompañados por adultos. El éxito es impresionante, porque esto produce bienestar social y seguridad en la ciudad. Los padres suelen tener miedo de que los niños salgan a la calle porque hay inseguridad. Al contrario, si van afuera producen seguridad. Por otro lado, los niños que se mueven solos recuperan también una manera de vivir la infancia. Dos aspectos siempre me llamaron la atención. Los niños que van solos al colegio son más puntuales que los demás, se hacen cargo. El otro aspecto divertido es que esta pequeña autonomía se transforma en un espacio social que los niños disfrutan. Los niños de Roma se organizan para llegar un cuarto de hora antes a la escuela, para jugar juntos enfrente. Cuando se les pregunta por qué les gusta tanto ir a la escuela solos, muchos contestan: “Porque así podemos hablar entre nosotros”. Por lo cual, yo creo que no es verdad que la infancia está perdida, sino que está presa y tenemos que liberarla. La infancia vuelve si las condiciones lo permiten.Clique aqui para ver a entrevista toda.
TV e Show
julho 3, 2015A televisão foi, no tempo, criando formas de fazer show. E mudou muito nesse processo. Vale ver shows dos velhos tempos para comparar com o que vemos na telinha hoje. Há muito o que dizer sobre o assunto. mas, como se sabe, uma imagem vale mais que mil palavras. Por isso, proponho aqui que o leitor veja essa apresentação de PP&M nos anos sessenta e faça pontes com o que aparece hoje nas TV’s.
Jornalismo e entretenimento
julho 2, 2015Os novos meios de comunicação mudaram completamente o jornalismo. Já não basta noticiar fatos, é preciso conquistar o público por meio de fórmulas do espetáculo. E fica parecendo que os fatos é o que menos importa.
Faz alguns dias que um vídeo com uma moça do tempo tornou-se viral na internet. A apresentadora, Yanet Garcia, com um vestidinho provocante mostra as previsões do dia. Em comentários que vi no Facebook, a maioria das pessoas brinca dizendo que não se lembra do conteúdo apresentado. A moça é espetacular e poderia estar falando de qualquer outro assunto. Um dos meus ex-alunos, economista, escreveu sobre o segmento de vídeo que trago para cá e disse que é difícil acompanhar o que ela diz sobre movimento da bolsa. Inocentemente, escrevi para ele que ela era uma moça do tempo. E ele me respondeu que só então notou que ela falava de temperatura, chuva e outros detalhes.
Yanet é talvez um caso extremo de transformação da notícia em espetáculo. mas, se olhamos para a TV brasileira, notaremos que todas as apresentadoras de previsão do tempo são moças atraentes. Não basta noticiar, é preciso apresentar a notícia com charme, beleza. Nos velhos tempos, um senhor meio calvo, especialista no ramo, Narciso Vernizzi, era quem nos passava informações meteorológicas. Hoje ele não teria qualquer chance na telinha. Narciso Vernizzi não era homem do espetáculo.
No segmento sobre meteorologia, as marcas do espetáculo são bem evidentes. Mas, em todo o noticiário predomina o tom de entretenimento. Importam menos as informações factuais. Isso acontece na TV. Não se restringe, porém, a ela. Nos meios impressos, houve também grande penetração do espetáculo. Em 1983, por exemplo, apareceu o USA Today, um jornal que emulava a TV, com muitas imagens, muita ilustração e textos curtíssimos. A espetacularização das mídias agora é soberana na internet. O assunto merece reflexão por parte de jornalistas e educadores. Acho que o vídeo da performance da moça do tempo de uma TV mexicana pode ser um bom ponto de partida para conversas sobre o tema.
O vídeo viralizado, parece, foi retirado do ar. Por isso, coloco aqui outro vídeo com as atuações de Yanet Garcia sobre o clima.