Escolas como fortalezas

A metáfora mais recorrente para os nossos ambientes escolares é a de que as escolas são como fábricas.  Acho que este modo de ver está sendo suplantado pela idéia das escolas como fortalezas. Muros altos, câmaras de vídeo por todo lado, seguranças enternados na portaria e nos corredores, guaritas, catracas eletrônicas etc. já são elementos comuns na paisagem das escolas privadas. Acredito que essa obsessão com segurança tem reflexos na arquitetura. Conheço pelo menos um caso que mostra isso.

Meu amigo Newton Bryan, na época em que foi secretário de educação de Campinas, achou muito estranha a planta de um prédio escolar para educação infantil. Ficou particularmente intrigado com a altura das janelas. Elas estavam muito acima do tamanho das crianças, bem no alto das paredes. Chamou o arquiteto para uma conversa. Explicou-lhe que janelas como as planejadas criariam um ambiente opressivo para as crianças. O arquiteto concordou, mas disse que janelas tão altas tinham uma explicação. Elas evitariam que alguma criança fosse atingida por bala perdida em caso de tiroteio no bairro.

As escolas fortalezas acabam sendo justificadas por causa das “ruas”. Estas se tornaram sinônimo de perigo físico e moral. Tanto que aceitamos pacificamente a afirmação equivocada de que “é preciso tirar as crianças da rua”. Faz bastante tempo que o educador italiano Francesco Tonucci denunciou esse erro político. Aceitar, sem nada fazer, a deterioração dos espaços urbanos é uma das causas da escola-fortaleza. E mesmo em prédios escolares que não tenham sofrido mudanças arquitetônicas significativas, o modo de ver e administrar o espaço é determinado pela paranóia da segurança. Uma das coisas que as crianças aprendem na escola-fortaleza é medo. A idéia da cidade da criança, projeto inspirado por Tonucci, do qual falei nos dois posts anteriores, procura recuperar as ruas como espaço de convivência.

Uma outra referência para pensar interferências nas cidades capazes de humanizar os espaços urbanos é a obra do arquiteto Aldo van Eick que criou playgrounds em áreas abandonadas da cidade de Amsterdam. Um desses playgrounds é mostrado na imagem que segue, contrastando o antes e o depois.

eick-antes

Uma resposta to “Escolas como fortalezas”

  1. Conceição Rosa Says:

    Oi Jarbas

    Tenho uma amiga arquiteta que ainda na época de estudante fez um projeto de escola, cheia de salas hexagonais abertas para o verde, com passarelas, nichos encantadores de lazer e prazer… que nunca saiu do papel. Uma pena! Mas há pelo menos 25 anos esta amiga, enquanto arquiteta, já professava uma certa concepção de aprendizagem.
    A escola em que estudei era tipo fábrica. Mas um dia, o portão estava aberto para a saída dos alunos, no mesmo horário em que uma boiada passava pela rua… Um boi assustado entrou na escola, e entre gritos, correrias e “toreadores” voluntários, diversão pura e nenhum aproveitamento didático! Mas, entre bois e balas perdidas, os espaços da escola sempre têm uma explicação…

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