Archive for the ‘Fundamentação’ Category

TV e Educação

dezembro 12, 2020

Em 1997 me pediram um texto para subsidiar pauta sobre TV e educação. Escrevi. Nada aproveitaram. Não sei porque. Possivelmente nada sugeri que fosse do interesse do pessoal de comunicação. Acho que esperavam que eu anunciasse temas otimistas com relação ao papel que a TV pode exercer em educação. Acho que o que escrevi ainda vale. Por isso recupero o velho escrito e o publico aqui.

TV & EDUCAÇÃO

Temas para debate

  1. Por que as TV’s educativas não deram certo?

Na década de 50 gastaram-se fortunas com programas educativos nos EUA. Aulas, cursos e palestras, com os melhores professores do país, resultaram num imenso fracasso. Coisa parecida aconteceu no Brasil quinze anos depois, as TV’s educativas tupiniquins colocaram aulas  e cursos no ar. Mas não houve nenhuma revolução na educação nacional. O mínimo que se pode dizer é que a TV educativa foi (e continua sendo) ignorada pelos educadores.

No início dos anos 70, o SENAC de São Paulo e a Fundação Padre Anchieta ofereceram um curso técnico pela TV. Era o curso técnico de comércio exterior. O Canal 2 colocava no ar, em rede aberta e horário nobre, as aulas do curso. O programa alcançava todo o Estado de São Paulo. Nas últimas semanas do tal curso tínhamos cinqüenta alunos! Mas nem todos eles viam o programa, pois achavam melhor estudar  a matéria no teleposto, com um professor e após a transmissão.

Japão, Inglaterra e Holanda possuem TV’s educacionais que parecem dar certo. Mas elas não são TV’s educativas. São, muito mais, na sua relação com as escolas, produtoras e fornecedoras de um rico material audiovisual integrado ao currículo. Os programas educativos da BBC e da NHK não são autônomos, embora alguns deles sejam bons shows de televisão.

2. De quem é a culpa  pelo fracasso das TV’s educativas: dos produtores de TV? dos educadores?

No início do século, Tomas Edison, entusiasmado com o potencial do cinema, previu que toda a estrutura escolar de 1º grau americana seria substituída – com muitas vantagens – por cerca de 5000 ou 6000 filmes que cobririam todo o currículo. Este sonho de Edison foi reavivado nos anos 40 com o surgimento da televisão. Mas a colaboração do novo meio para educação escolar tem sido muito modesta. A televisão nunca entrou na escola para valer.

O relativo fracasso da TV enquanto meio de educação é explicado de duas formas distintas. Uns acham que a TV produz um lixo cultural que deve mesmo ficar longe da escola. Outros pensam que os educadores, quase sempre muito ignorantes no que diz respeito às tecnologias da comunicação, jamais souberam criar meios didáticos para aproveitar o imenso potencial do veículo chamado televisão.

3. A televisão deseduca?

Professores de todos os níveis e de todas as matérias revelam um grande descontentamento com o desempenho de seus alunos em duas habilidades fundamentais: escrita e leitura. Ninguém quer ler, nem mesmo os livrinhos especialmente fabricados para quem se enfada depois da terceira página. E a escrita? Um amontoado de palavras desconexas, desconhecendo sintaxe, acentuação, concordância , regência e quetais. Culpados? Entre outros, dizem muitos educadores, a televisão.

Muitos educadores, além de políticos e gente do povo, acham que a televisão deseduca em  diversos sentidos. Vai aqui uma pequena lista.

A TV:

  • banalisa (e promove) a violência.
  • elimina (artificialmente) as diferenças culturais.
  • aniquila  valores éticos profundos
  • elimina o senso histórico, valorizando apenas o “aqui e agora” noticiável.
  • promove valores e costumes descartáveis e superficiais.
  • impede relações familiares mais autênticas.
  • ridiculariza valores morais tradicionais.
  • converte política em mero espetáculo.
  • promove uma visão espetacular da realidade.

4. A TV comercial deve educar?

É comum a expressão “TV é entretenimento”. Ou, em português: “TV é diversão”. Neste sentido, dizem os entendidos, o novo veículo não deve ter qualquer compromisso educacional.

Mas há quem cobre compromissos educativos da TV comercial. E que compromissos seriam esses? Essa pergunta, ressalvada as devidas diferenças, é parecida com a indagação: quais são os compromissos educacionais do circo?

Algumas vezes discute-se o “compromisso educacional” como sendo uma dimensão da responsabilidade social da TV. Mas, quase sempre, os “compromissos sociais” acabamsendo desculpa para aqueles que querem  promover censura (explícita ou velada) sobre o meio.

5. A educação exige uma linguagem própria de TV?

A televisão é um veículo com uma linguagem especial. Cria ritmos e seqüências que, para serem realistas, não respeitam a realidade.  TV, por exemplo, não é um bom veículo de análise. Quase sempre na TV é preciso fundir, sintetizar.

Quase sempre os conteúdos educacionais demandam análise, tempo real, espera, maturação. Será que é possível produzir uma TV com estas características? Será que é necessário uma linguagem didático-televisiva para a educação?

6. Por que o uso didático de certos gêneros televisivos é tão chato?

Nos anos setenta, a TV educativa e o Departamento de Ensino Supletivo do MEC produziram uma “novela didática”. Todo o enredo foi elaborado por educadores e autores do gênero, numa parceria muito bem intencionada. A novela pretendia educar adultos, oferecendo dentro das tramas conteúdos de português, matemática, ciências e estudos sociais. Ninguém mais se lembra disto. Apesar do entusiasmo dos  produtores, a novela didática foi um fiasco.

Outros gêneros de grande sucesso na telinha já foram didatizados. Sempre com o mesmo resultado: tremendo fracasso.

Fica, portanto, a pergunta, por que o uso didático dos gêneros de sucesso da TV é tão chato?

7. Há lugar para uma TV educativa?

As TV’s educativas, principalmente aquelas que seguem modelos escolares, são reconhecidamente um fracasso. Então por que mantê-las?

As TV’s públicas (modelo americano e canadense) não tem um alvo educacional definido. O Canal 2 de São Paulo transmitia o campeonato japonês de futebol! Será que isto é educativo? Futebol japonês também é cultura?

Estão em jogo aqui diversas coisas. Uma delas é a questão relativa à possibilidade de uma linguagem didática na televisão. A outra é a questão relativa ao modelo de TV’s culturais. Para terem audiência, essas TV’s devem se aproximar muito das TV’s comerciais. E quando desaparecem as diferenças, é adequado perguntar se o cidadão deve manter uma TV que não faz diferença.

Há alguns anos atrás (começo dos anos 90), o sistema americano de TV’s públicas (PBS) foi colocado em xeque. Seus opositores diziam que ele não fazia diferença. Além disto, o jornalismo da PBS chegava a ser (para alguns críticos) anti-americano!

Mas, afinal de contas, por que as TV’s públicas não podem fazer sucesso

8. Os educadores estudam TV seriamente?

A TV quase nunca entra na escola. E quando entra não exerce influência notável. Ao que tudo indica, os educadores são leigos em TV. Faculdades de Educação continuam a ensinar tradicionalmente. Nelas, a TV, quando muito, é simples curiosidade. Coisa séria é o quadro negro, o livro, o caderno e a fala do professor. Talvez a TV não eduque por esta razão. Os educadores não sabem como manejá-la. Preferem os velhos meios.

9. Uma antena parabólica em cada escola é uma medida necessária?

O projeto TV Escola é a menina dos olhos do atual ministro da educação. Milhares de escolas já dispõem de uma antena parabólica e de um aparelho de TV. Programas da TV Escola e produções de outras fontes poderão chegar facilmente às escolas. Professores poderão assistir cursos de atualização. Há planos de capacitação docente que privilegiam o veículo TV. Será que esta é uma forma correta de uso da televisão para fins educativos? A audiência ainda não é grande. Apenas 50 e pouco por cento das escolas antenadas estão ligando os aparelhos no horário escolar. Mas o ministro acha que isso é um sucesso. Será?

10. Quais são os limites da TV enquanto veículo de educação?

Muita gente, incluindo professores de usos educacionais da televisão, pensa que o veículo é muito limitado. Serve para apresentar grandes sínteses. É um bom recurso quando a imagem é a principal informação a ser trabalhada educacionalmente. É um bom veículo para apresentar conteúdos que podem ser dramatizados. Não é adequado para propósitos analíticos. Não é um bom veículo para a reflexão. Não é um bom material de estudo. Não é facilmente manipulável. Não é interativo.

Como  a TV é um veículo imensamente poderoso, a maioria das pessoas acha que ela  que poderia ser aproveitada de modo mais intenso em educação. Mas esta esperança (ou ameaça) não é verdadeira. A TV é um péssimo veículo para ensinar a pensar, refletir.  Esta, pelo menos, é a opinião de dois dos mais importantes cientistas da computação: Alan Kay e Donald Norman. Ambos acham que o veículo não é adequado para qualquer tipo de aprendizagem mais exigente.

São Paulo, 02 de dezembro de 1997.

 Jarbas Novelino Barato

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Definição de Tecnologia

agosto 18, 2020

Diversas vezes tenho insistido numa definição bem sintética de tecnologia educacional. Essa definição é a que segue:

 

TECNOLOGIA = FERRAMENTA + IMAGINAÇÃO

 

O terceiro elemento dessa fórmula é o que, na verdade, define tecnologia. Esta é acima de tudo imaginação, capacidade de inventar, capacidade de criar, capacidade de colocar as ferramentas a serviço dos sonhos humanos. Com essa definição ressalto que, em educação, tecnologia é sobretudo atividade dos professores. Sem essa atividade temos apenas uma abordagem instrumentista que deixa pessoas em segundo plano. Ou, para dizer de duas outras formas diferentes:

>>> Tecnologia é uma questão de cabeça, não de máquinas e equipamentos (Allison Rosset).

>>> Para que a tecnologia aconteça, é preciso que os professores tenham, concreta e figurativamente, a chave do laboratório (Al Rogers)

O que escrevi acima é uma introdução ao vídeo que acabo de descobrir e que foi gravado durante a Conferência de Aprendizagem Criativa, acontecida em Curitiba, 2018.

Programa Informática e Educação

maio 8, 2020

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Em 1986 propus ao Senac de São Paulo criação do Programa de Informática e Educação, vulgo PIE. Por sorte, minha proposta acabou sendo executada por uma equipe brilhante de jovens hackers e de professores que se entusiasmaram pela produção de softwares educacionais. Tenho certeza de que o PIE foi uma das iniciativas mais originais nos primórdios do uso de computadores na educação em nosso país. Acho, porém, que nosso mérito não foi inteiramente reconhecido, pois não tínhamos nenhum medalhão da academia envolvido com nosso trabalho. Outra coisa, desde o início, entendemos que tecnologia depende de capacidade de produzir. Por isso, o PIE produzia softwares educacionais. Além disso, nossa proposta tinha como uma de suas marcas a autoria docente. Ou seja, o que a gente produzia resultava de propostas dos professores da casa.

Há muito o que contar sobre a experiência do PIE. Mas, não farei isso no momento. Agora quero apenas deixar aqui um registro. O PIE nasceu de um documento que escrevi em 1 na metade dos anos de 1980. Recuperei tal documento e publico-o aqui no formato de imagens das páginas que o compõem.

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Uma nova didática?

abril 27, 2020

Reproduzo aqui as provas das páginas web da segunda parte – Uma Didática a Ser Superada – da matéria online – Comunicação e Aprendizagem – de curso online de que participei em 2004. O curso, coordenado pela Fundação Vanzolini, contava com outros sete professores, e estava voltado para docentes da rede pública de SP. Neste momento de isolamento social estou tentando recuperar algumas das coisas que escrevi sobre tecnologia educacional. O texto aqui reproduzido é uma delas. Pena que não dá para trazer para cá o texto definitivo, com as interações que ele permitia. Em outras ocasiões vou reproduzir aqui as outras unidades da matéria que desenvolvi.

Nessa unidade discuto um pouco a questão da didática. Sugiro que as categorias com as quais trabalho no curso – conhecimento e informação – exigem uma nova visão de didática.

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Educação online: observações de Tonucci

abril 14, 2020

No post passado apontei para um site onde há vídeo e entrevista de Francesco Tonucci sobre o que anda rolando com tanta criança em casa na crise do coronavírus. Mas, como muita gente talvez tenha dificuldade para acessar a matéria, resolvi copiar a entrevista do educador italiano aqui. A matéria saiu no jornal espanhol El Pais, 11 de abril de 2020.

Francesco Tonucci (Fano, 1940) es un experto en niños. Desde su casa de Roma, donde lleva cinco semanas encerrado, este psicopedagogo italiano contesta por videoconferencia algunas de las cuestiones que más afectan a los menores durante este periodo de encierro para combatir el coronavirus. Tonucci reconoce que son muchos los padres que piden consejos. Propone ideas como que tengan su propio diario secreto de confinamiento o un lugar, por pequeño que sea, para esconderse dentro de casa. El psicopedagogo se muestra crítico con la escuela y cómo está afrontando este encierro.

Pregunta. ¿Qué es lo peor del confinamiento para los niños?

Respuesta. Debería ser el no poder salir, pero es mentira porque lamentablemente tampoco antes salían. Los niños desean salir y solo pueden hacerlo de la mano de un adulto. Con lo cual es importante que los niños vuelvan a salir, dentro y fuera del coronavirus. Quedarse en casa es una condición nueva, no ser autónomo no lo es. Espero que los niños puedan mostrarnos con la fuerza de este encierro cuánto necesitan más autonomía y libertad. Es muy interesante cómo están reaccionando ellos. Durante los primeros días de confinamiento, envié un vídeo a nuestras ciudades de la red internacional de la ciudad de los niños animando a convocar los consejos para pedir su opinión y dar consejos a los alcaldes; me parecía un poco paradójico que todo el mundo pedía a los psicólogos consejos para los padres y a los pedagogos para los maestros y nadie pensaba en ellos. Los niños sienten mucho la falta de la escuela, es decir, no de los profesores y los pupitres sino la falta de los compañeros. La escuela era el lugar donde los niños podían encontrarse con otros niños. La otra experiencia en la que pude comprobar que la escuela era muy deseada para los niños fue cuando están en el hospital.

P. Entonces, considera que los políticos no tienen en cuenta a los menores para tomar sus decisiones.

R. Como siempre. Los niños prácticamente no existen, no aparecen en sus preocupaciones. La única preocupación ha sido que la escuela pueda seguir de forma virtual. En Italia, por ejemplo, la gran preocupación es demostrar que pueden seguir igual que antes a pesar de las nuevas condiciones, es decir, lo hacemos casi sin que den cuenta, sentados como estaban en la escuela frente a una pantalla haciendo clases y con deberes. Muchos no se han dado cuenta de que la escuela no funcionaba antes y en esta situación se nota lo poco que funcionaba. Los niños están hartos de los deberes y para las familias es una ayuda porque es lo que ocupa a los niños. Los deberes siempre son demasiados, no tanto por la cantidad sino por la calidad. Son inútiles por los objetivos que los docentes imaginan.

P. Si se hace todo mal, ¿qué propone?

P. Hice un pequeño vídeo ofreciendo consejos de sentido común. Tenemos una oportunidad. Los niños en la escuela se aburren y así es difícil que aprendan. Además, existe un conflicto entre escuela y familia, es un conflicto moderno, la familia siempre está lista para denunciar el colegio. Ahora la situación es nueva: la escuela se hace en familia, en casa. Propongo que la casa se considere como un laboratorio donde descubrir cosas y los padres sean colaboradores de los maestros. Por ejemplo, cómo funciona una lavadora, tender la ropa, planchar, aprender a coser…

P. Pero en este laboratorio, ¿los padres están trabajando también?

R. Pido cosas que hay que hacer en casa igualmente. La cocina, por ejemplo, es un taller de ciencia. Los niños deben aprender a cocinar. El maestro puede proponer que los alumnos cocinen un plato con su salsa y escriban la receta. Así estamos haciendo física, química, literatura y se puedo montar un libro virtual de recetas. Otra experiencia que me parece importante es que los niños hagan vídeos de su experiencia en casa. La otra experiencia, por supuesto, es la lectura. Cómo la escuela no consigue que los niños amen la lectura es un gran peso. La escuela debería preocuparse más, dar a sus alumnos el gusto de leer.

P. Eso supone enfrentarse a las pantallas, a los videojuegos.

R. Estamos pensando en una escuela que tiene que hacer propuestas a los niños encerrados en casa. Proponer a los niños que lean un libro debe ser un regalo, no un deber. Hay otra forma que es la lectura colectiva, de familia. Crear un teatro que tiene su horario y su lugar en la casa, y un miembro de la familia lee un libro como si fuera una telenovela. Media hora todos los días. Son propuestas que parecen poco escolares, pero todas tienen que ver con las disciplinas escolares. Estudiando las plantas de las casas se puede hacer una experiencia de geometría. Todo esto lo digo para que se entienda que se puede aprovechar la riqueza que tenemos ahora, la casa y la disponibilidad de los padres. Usted dice que los padres no tienen tiempo: no es verdad. A pesar de todo el tiempo que están ocupados, no saben qué hacer en el tiempo libre. Normalmente el tiempo que pasan con ellos es para acompañarlos a actividades y no para vivir con ellos. Otra propuesta es que jueguen, eso es lo más importante. Que inventen juegos. Llamar a los abuelos para que aconsejen juegos, ellos fueron niños cuando los juegos había que inventarlos.

P. Nunca habremos pasado con ellos tanto tiempo como ahora.

R. Por eso mismo. No perdamos este tiempo precioso dando deberes. Aprovechemos para pensar si otra escuela es posible.

P. ¿Qué tiene que hacer un niño el primer día que salga de este confinamiento?

R. Gritar, lanzar piedras, correr, y abrazarse con alguien; aunque eso último será complicado.

Inteligência das mãos

março 5, 2020

the handUm dos clássicos sobre a inteligência das mãos é The Hand: How Its Use Shapes The Brain, Language And Human Culture. Voltei a estudar tal obra por ocasião da pesquisa que fiz para a UNESCO sobre valores e educação profissional. Nos meus cadernos de notas há registros de vários trechos do livro. Num dos registros lê-se:

… qualquer teoria da inteligência humana que ignore a interdependência da função da mão e do cérebro, as origens históricas dessa relação, ou do impacto dessa história no desenvolvimento nos humanos modernos é estupidamente equivocada e estéril. (p. 7).

A mão foi esquecida na educação. Desapareceram das escolas os velhos trabalhos manuais, ainda presentes no ensino primário nos meus tempos de menino. Segundo Wilson, autor de The Hand, isso é estúpido e equivocado.

Voltarei com mais trechos do livro em outros posts. Por ora fica uma primeira provocação para que pensemos sobre a questão.

Jerome Bruner, psicologia e educação

fevereiro 19, 2020

Jerome Bruner foi um dos expoentes da psicologia cognitiva, do construtivismo. Sua importância para a educação é imensa. Mas, por outro lado, as lições que ele deixou ainda não foram inteiramente aprendidas.

Ao pesquisar Nathan Zimmerman, autor de Small Wander (um livro necessário sobre a história e mitos da escola rural de sala única), acabei encontrando alguns artigos interessantes dele no The Atlantic. Entre tais artigos, destaco um precioso ensaio sobre Bruner e a educação. Como muitos amigos não leem inglês com facilidade, traduzi o artigo de Zimmerman. É uma tradução ligeira que não foi revista por gente mais capacitada em inglês do que eu. Mas, acho que o resultado não deixa a desejar.

Segue a tradução.

Jerome Bruner: Uma busca inacabada em educação

Jerome Bruner promoveu a psicologia cognitiva, uma ideia que as escolas ainda lutam para adotar.

 

Jonathan Zimmerman

The Atlantic, June 7, 2016

bruner

Alguns anos atrás, Jerome Bruner visitou um curso de pós que eu coordeno na New York University sobre pesquisa educacional e política. Eu disse a Jerry que concordava com quase tudo que ele escreveu sobre educação, mas temia que muitos americanos não concordassem com tais ideias. O que aconteceria se o país não aceitasse o que ele estava propondo?

“Bem”, disse Jerry com um largo sorriso: “então você teria em mãos uma boa história”.

A própria história admirável de Bruner chegou ao fim na segunda feira passada, quando ele faleceu aos 100 anos. Filho de imigrantes poloneses, ele foi uma criança sem visão até que uma cirurgia o livrou da cegueira aos dois anos de idade. Bruner dedicou toda sua vida estudando a percepção humana, e os modos pelos quais as histórias que contamos sobre o mundo influenciam como pensamos e aprendemos sobre ele.

Ao longo do caminho, ele ajudou a revolucionar a psicologia americana. Quando Bruner foi para sua pós-graduação na Harvard University, nos anos de 1930, predominava uma pesquisa psicológica que examinava o comportamento que as pessoas exibiam frente a pressões externas e estímulos. Mas tal modelo não levava em conta nossa mente individual, que filtra e interpreta tudo que experimentamos.

Bruner decidiu estudar o que ele chamou de “psicologia cognitiva” – como as pessoas pensam e raciocinam, não apenas como reagem e respondem. Para a educação, particularmente, as implicações eram enormes. Bruner descobriu que mesmo as crianças muito novas construíam seu próprio conhecimento – ou seja, davam sentido a novas informações com base em experiências e entendimentos prévios. O trabalho dos professores era o de ajudar os estudantes construir conhecimento sobre o que já sabiam.

Não fazia sentido então empanturrar as crianças com fatos, que elas esqueceriam assim que a prova terminasse. A meta era ajuda-las  a reconhecer relações entre fatos. Você não precisa ser um físico ou um historiador para entender a gravidade ou a Guerra Civil. Mas você precisaria de um professor que pudesse ajuda-lo a pensar como um físico ou como um historiador, ordenando e analisando as informações como eles fariam.

Meio século depois que Bruner propôs essas ideias em sua obra mais importante, The Process of Education, elas acabaram sendo aceitas como “melhores práticas” nas escolas americanas. Mas poucos professores e alunos as praticam. Há um enorme fosso entre a história que os Estados Unidos conta sobre educação e o caminho em que ela realmente percorre.

A primeira razão tem a ver com a preparação de professores no país. Para instruir os alunos da maneira imaginada por Bruner, você precisa ter um profundo conhecimento da matéria que ensina. Sou professor de educação numa grande universidade, mas eu não poderia ensinar biologia no curso secundáio. Eu poderia fazer com que os alunos memorizassem partes de um átomo ou de uma célula, mas não poderia ajuda-los a entender como a biologia funciona: como ela levanta questões, delineia teorias, reúne evidências.

E aqui há um fato deprimente: boa parte dos professores do país não tem esse tipo de conhecimento. Embora em muitos estados se exija que os professores sejam formados na matéria que lecionam, a legislação não demanda que os mestres dominem de fato os saberes próprios de sua disciplina. Provenientes dos grupos de baixo e médio desempenho de distribuição de desempenho acadêmico, muitos professores americanos simplesmente carecem de um forte background de saber específico para ajudar os alunos a mergulharem na disciplina que estudam.

Enquanto isso, professores que possuem a necessária expertise são prejudicados pela besta da “accountability”. Desde que o Congresso aprovou a lei conhecida como No Child Left Behind em 2001, normas federais e estaduais atrelaram o financiamento das escolas – e, em alguns lugares, o salário dos professores – ao desempenho dos alunos em testes padronizados [algo parecido com o nosso ENEM]. Particularmente nas comunidades mais pobres, o resultado tem sido a antítese do que Bruner imaginava: uma pedagogia triste de memorização apenas prepara os alunos para o próximo teste padronizado.

Finalmente, não é claro que os cidadãos americanos – essa gente que paga impostos e elege os membros de conselhos escolares – desejam o tipo de instrução que Bruner desejava. Ele aprendeu isso de maneira bastante dura quando desenvolveu um currículo financiado pelo governo federal nos anos de 1960, chamado Man: A Course of Study (MACOS), que usava exemplos de diferentes lugares e eras para gerar questões básicas sobre o comportamento humano e a moralidade – especialmente sua descrição dos Netslik Eskimos, que praticavam infanticídio e eutanásia – chamou atenção dos conservadores, que queriam que a seus filhos fosse ensinado um único código moral. O Congresso acabou cancelando o financiamento do MACOS, o que nos faz lembrar dos perigos de encorajar as crianças a pensarem por elas mesmas. Elas podem terminar discordando de seus pais, e muitos americanos – talvez a maioria – não querem isso.

No final de sua carreira, Bruner se voltou para a questão da cultura e educação, examinando como diferentes sociedades influenciam o crescimento e desenvolvimento humanos. Meu temor é o de que a cultura americana não aceite verdadeiramente a estória que Bruner nos contou sobre o ensinar. Mas, sempre serei agradecido a ele pelo que disse, insistentemente, na esperança de que a nação um dia aprendesse a lição.

Para quem quiser ver o original em inglês, indico o link: An Unfinished Quest in Educaction.

 

Imagens de escolas rurais

fevereiro 18, 2020

Estou relendo Small Wonder: The little red schoolhouse in history and memory, de Jonathan Zimmerman. No livro há muitas referências sobre imagens das Little Red Schools, pinturas e fotos. As pinturas, geralmente, passam uma imagem idealizada das escolas rurais. As fotos, se recentes, mostram prédios recuperados que não são mais utilizados em educação, mas funcionam como museus para atrair turistas interessados na antiga cultura rural dos EUA.

Percorri na web diversos sites com imagens de escolas rurais. Com isso, creio que construi certa visão de como eram as escolas rurais americanas, ou como os americanos idealizam uma de suas instituições nacionais, a Little Red Schoolhouse.

Selecionei algumas imagens que trago para cá, como registro do que estou estudando, e como mostra de imagens que podem ajudar prováveis leitores a a apreciarem a escola de sala única.

log radical

Começo com um log cabin, uma cabana de toras, que foi bastante comum nas áreas pioneiras. A construção era rústica e aproveitava material disponível, árvores, sem necessidade de grandes transformações.

log school 1

Aqui está outra log cabin school, menos rústica que a primeira.

log school 2

Como se vê, esta log cabin está abandonada. É rústica como as demais, tem poucas janelas. Estudar dentro dela não devia ser muito confortável.

log school 3

Esta imagem é um pintura. Mostra uma cabin log que talvez não fosse uma escola, mas uma moradia. De qualquer modo, a imagem capta bem o tipo de construção que se fazia com troncos de árvores.

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Essa é uma cabin log school impressionante. Está num terreno pouco atraente. A hora do recreio nessa escola não devia ser muito convidativa. É preciso registrar que muitas dessas escolas não tinham banheiros. A introdução de “casinhas”, uma para meninos e outra para meninas, só acontece na segunda metade do século XIX.

log school turistica

Essa não é a imagem de uma log cabin autêntica. Trata-se de uma construção recente que procura mostrar como eram as antigas escolas rurais americanas. Reparem que as professoras estão vestidas a caráter. Nesse prédio acontecem performances que emulam o ensino que se fazia nas velhas escolas rurais. Visitantes podem passar por parte do curso que faziam os alunos da roça no século XIX.

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No imaginário americano, as escolas rurais de sala única eram vermelhas. Porém, poucas eram as escolas dessa cor no campo. Essa é uma little red school. É autêntica e corresponde ao padrão das antigas escolas rurais. Tem uma pequena torre onde poderia se alojar um sino. Como tal objeto era caro, nem sempre chegava a ser instalado. Os sinais da escola eram comandados pela sineta manual do professor ou professora. Esse prédio parece abandonado. Provavelmente não funciona mais como escola.

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O cartaz diz que esta é uma little red school. Ela, porém, não é vermelha. Na origem deve ter sido branca, mas o tempo a coloriu de preto. Detalhe, essa escola está sendo deslocada de seu terreno original. Provavelmente está sendo deslocada para área em que pode ser mostrada mais facilmente para turistas. Cabe reparar que as escolas quase sempre eram construídas em terrenos inóspitos, porque mais baratos.

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Mais uma little red school, certamente recuperada para atrair turistas. Esta construção retrata uma das particularidades da maioria das escolas rurais: elas ficavam em cruzamentos de estradas.

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A imagem acima é um quadro do pintor Winslow Homer, o artista que mais contribuiu para a romantização das escolas rurais, com destaque para sua apresentação como prédios vermelhos.

red homer 2

O destaque aqui, também numa pintura de Homer, é a professora, não o prédio escolar. Dois detalhes: durante muito tempo (no século XIX), as professoras não podia ser casadas; em razão da primeira condição, as mestras geralmente eram adolescentes (muitas vezes, ensinavam para alunos mais velhos que elas).

red modernizada

Esse é o interior de uma red little school interinamente modernizada. Provavelmente funciona como museu para atrair turistas.

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Eis outra imagem de uma little red school autêntica. Está abandonada.red school white 3 painting

Essa é uma pintura de uma little red school. Reparem que ela não é vermelha, mas branca…

red school yellow

Outra pintura de antiga escola rural. A cor é amarela…

red white

E esta é branca…

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Esta não é uma escola americana, é brasileira e atual. Há muitas escolas assim no Norte do país. Vale estuda-las. Cabe aqui uma olhada sobre reportagem que aborda condições das escolas rurais no Brasil

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Foto de outra escola rural brasileira, em funcionamento nos dias de hoje.

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Interior de uma little red school. Nenhum conforto. pouco recursos.

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Outra foto de interior de uma little red school. Reparem que há mais conforto que na imagem anterior.

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Interior de uma escola de sala única, pintura de Homer. Não há carteiras. As mesinhas dos alunos estão voltadas para a parede. Os bancos não têm encosto. A imagem retrata uma little red school da metade do século XIX.

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Desenho do século XIX. A disciplina nas little red school podia ser rigorosa e os castigos físicos eram muito comuns.

Apresentei aqui uma seleção de imagens que andei pesquisando. Espero que o conjunto nos ajude a compreender melhor a histórias das escoas rurais, particularmente das escolas que os gringos chama de little red schools.

Escola de roça

fevereiro 18, 2020

No velhos tempos, com uma população que vivia no campo, desenvolveram-se escolas de  sala única, nas quais apenas um professor ou professora era responsável pelo ensino de alunos de diferentes níveis. Nos Estados Unidos essas escolas acabaram sendo conhecidas como Little Red Schoolhouse. Na metade do século XIX, havia mais de duzentos e cinquenta mil escolas de sala única no país do Norte.

A maior parte das escolas de sala única não era vermelha, mas a imagem das red schoolhouse acabou predominando no imaginário da população. E isso foi reforçado por pintores. O caso mais famoso nessa direção é uma pintura de Winslow Homer. Trago para cá essa pintura famosa.

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Reparem nos meninos descalços se divertindo num gramado florido. O espaço é masculino. As meninas aparecem no fundo, brincando de maneira contida. E no centro da obra está a Little Red School.

Essa imagem bonita da escola de roça pouco corresponde à realidade. As condições dos espaços escolares não eram lá muito boas. A disciplina era rígida. Os castigos corporais eram comuns. Mas, tudo isso foi esquecido depois que a ideia de uma escola de sala única romantizada passou a predominar no imaginário dos americanos.

A escola rural atraente e memorável acabou também sendo celebrada na música. No começo do século passado, Gus Edward, autor de musicais, compôs uma música que celebra a Little Red School: School Days. Mais de dois milhões de cópias da partitura dessa música foram comercializadas. E depois, com o advento do cinema e do disco, ela foi gravada muitas vezes. Segue aqui uma das gravações, com imagens da partitura e com a letra da música famosa. Há quem diga que ela foi uma das mais importantes melodias do século XX nos EUA.

 

Meu objetivo neste post foi o de mostrar como as artes e os meios de comunicação promoveram uma imagem positiva da Little Red School. Devo essas informações a Nathan Zimmerman, autor de Small Wonder: The Little Red Schoolhouse in HIstory and Memory, livro que merece leitura dos educadores.

A melhor escola

janeiro 25, 2020

 

Ótima fala de Tonucci sobre crianças, escolas, educação. Há um trecho da fala que merece muita análise. Em tal trecho, o educador italiano diz que a melhor escola é a que está mais próxima de casa. Vale ouvir e refletir sobre isso. Não consegui trazer o vídeo para cá. Por isso, apenas o indico. Interessados poderão vê-lo com um clique aqui.