CNE censura Monteiro Lobato

Li hoje na Folha de São Paulo que Parecer aprovado por unanimidade na Câmara de Ensino Básico do Conselho Nacional de Educação sugere censura a Monteiro Lobato. A iniciativa surgiu por causa de alegado racismo em obra do escritor distribuída pelo MEC.

Não disponho de tempo no momento para discutir mais pontualmente a notícia. De qualquer forma, ao que tudo indica, a medida parece ter todas as características de procedimentos de censura identificados por Diane Ravitch em seu The Language Police.

Tempos atrás escrevi uma resenha sobre o citado livro da professora Ravitch. Interessados  poderão acessar o que escrevi com um clique aqui. Uma outra resenha da mesma obra, com observações  muito pertinentes sobre perigos da censura a obras utilizadas em educação, foi feita por Palmira Silva, da Universidade de Coimbra. O texto da Palmira pode ser visto aqui.

15 Respostas to “CNE censura Monteiro Lobato”

  1. Doralice Araújo Says:

    Lerei com mais vagar os links indicados, prezado Jarbas, mas a medida é surpreendentemente antipática. Será que os membros do CNE leram a obra de Lobato? Fico agora com grandes dúvidas.

  2. Cleo Pisani Says:

    Caro Jarbas: A notícia é muito constrangedora. Se existe mesmo racismo em qualquer obra do porte de Monteiro Lobato, por que não discutir a questão em sala de aula? Para que servem, então, as aulas de Litreratura? Ou elas, também, já sumiram do ensino brasileiro?

    Abraço
    Cleo

  3. Adauto Says:

    Que será isso agora? A volta de Fredric Wertham com uma nova espécie de “Book Code”? Cresci lendo TODA a literatura de Lobato e nem por isso tenho quaisquer alienações do tipo TFP em minha vida…

    • jarbas Says:

      Alô Adauto,

      É isso mesmo. Uma senhora ilustrada da academia quer proibir Lobato. O próximo passo deverá ser o de fogueiras em praças públicas para queima cerimonial de obras proibidas. Fahrenhit 451 à vista.

  4. jarbas Says:

    Caras Doralice e Cleo,

    Me constrange comentar a censura a Lobato no CNE. O Parecer de censura foi aprovado na Câmara de Ensino Básico, presidida por meu amigo Francisco Cordão.

    A conselheira que tomou a iniciativa serviu-se de dados fornecidos por uma aluno de pós (um suposto “pesquisador”). A coisa toda tem cara de orientação para que na escola só sejam permitidas obras politicamente corretas. Isso é assassinato da literatura, pois a proposta sugere que os grandes escritores sejam julgados por comitês de correção ética e política de seus textos. Essa bobagem chegará ao rídiculo, como mostram exemplos de censura do gênero praticada nos EUA. Abraço pras duas, Jarbas.

  5. Renato Ferreira Says:

    Esta censura é perigosa e algo que todos deveriam refletir, ainda mais às vésperas de uma eleição presidencial.

  6. Tweets that mention CNE censura Monteriro Lobato « Boteco Escola -- Topsy.com Says:

    […] This post was mentioned on Twitter by Jarbas Barato and Jarbas Barato, Jarbas Barato. Jarbas Barato said: No meu blog, mais comentários sobre censura a Monteiro Lobato pelo CNE http://bit.ly/a2ULzQ […]

  7. Luciana Says:

    Se consideram sensata essa medida, que coloquem a obra de Hippolyte Rivail (Alan Kardec), O Livro dos Espíritos e A Gênese, também na berlinda. Neles, o autor compara negros com selvagens que mal se distinguem dos macacos e outras barbaridades.

  8. Franciele Bezerra Says:

    É estranho ler que Monteiro Lobato foi censurado,não conheço muita coisa do autor,mas ele é clássico.O que percebo são os interesses políticos inseridos nesses materiais didáticos,a história já é mostrada a partir dos interesses políticos,a literatura já está no caminho também,e com esses projetos de lei para criação de conselhos de comunicação social, governantes vão sutilmente vendando olhos e tapando bocas.

  9. Cláudia Marques de Oliveira Says:

    Olá pessoal, leiam o parecer na integra antes de fazerem cometários e julgamentos. http://portal.mec.gov.br/cne

    Uma nota explicativa como já é feita sobre outros temas na obra de Monteiro Lobato, como meio ambiente e a caçada à animais como a onça pintada, não pode ser considerada censura ou veto.

    E por que não, o mesmo tipo de nota sobre a questão racial??

    Porque a sugestão de uma nota explicativa sobre os estereótipos racistas e a inclusão da discussão na formação de professores está sendo considerada como censura??

    Cresci lendo e amando Monteiro Lobato, mas não posso negar que também foi pelas obras dele que tive as primeiras percepções sobre o ser negra como algo negativo e mais próximo de animais do que de seres humanos, seres ridículos, bestas sem inteligência e etc.

    Nossas crianças merecem ao menos que os professores tenham conhecimento do quanto mal esse tipo de estereótipo faz para a formação e identificação das crianças negras e possam fazer e propor uma leitura crítica desse clássico tão importante para a literatura infantil, de maneira a não incidir negativamente sobre seu pertencimento étnico-racial.

    • jarbas Says:

      Cara Claudia,

      Obrigado pela visita a este Boteco e por sua contribição para o debate.

      Fico tentado a retirar a palavra censura do título do post. Mas vou deixá-la como está. Se errei, deixarei que o registro de meu engano permaneça no ar. Essa decisão faz parte da idéia de um blog que registra minhas propostas de conversa.

      O Parecer, de fato, não sugere censura. O que temo é um início de julgamentos baseados em posições “politicamente corretas” de obras de arte. Consequências disso ficam evidenciadas na censura velada que domina a produção editorial americana de materiais didáticos. Nesse sentido, ler Diane Ravitch é essencial.

      Meu amigo Cordão, presidente da Câmara de Ensino Básico, já me enviou o Parecer e a nota que o CNE encaminhou à Folha de São Paulo. Voltarei ao assunto em outro post repropondo a discussão.

      Abraço grande,

      Jarbas

  10. Cláudia Marques de Oliveira Says:

    A polêmica sobre o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) sobre o livro “Caçadas de Pedrinho” fez emergir a hipocrisia que domina a grande imprensa no Brasil. Acusar o CNE de censurar a obra de Monteiro Lobato foi a forma usada pela imprensa para combater os que denunciam o “racismo cordial” (ou nem tão cordial) que vigora no Brasil desde o seu descobrimento em 1500.
    Uma rápida leitura do Parecer CNE/CEB nº 15/2010 é suficiente para esclarecer o caso:
    “A obra CAÇADAS DE PEDRINHO só deve ser utilizada no contexto da educação escolar quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil. Isso não quer dizer que o fascínio de ouvir e contar histórias devam ser esquecidos; deve, na verdade, ser estimulado, mas há que se pensar em histórias que valorizem os diversos segmentos populacionais que formam a sociedade brasileira, dentre eles, o negro”.

    Reparem que a “polêmica” divulgada pela grande imprensa serviu para esconder um outro caso relatado pelo Conselho Nacional de Educação na mesma data: “Denúncia de racismo na Escola Estadual Delmira Ramos dos Santos, localizada no Bairro Coophavilla II, Município de Campo Grande, MS. (Parecer CNE/CEB nº 16/2010)”:
    “De acordo com depoimento da Sra. Antonesia Maria dos Santos da Costa, no Boletim de Ocorrência, “as crianças há dois anos atrás estudavam na Escola Estadual Delmira Ramos dos Santos, no Bairro Coophavilla II, sendo que por diversas vezes seus filhos sofreram injúria por parte dos alunos da escola, os quais usavam palavreados pejorativos em relação aos seus filhos como ‘o seu cabelo é feito pra fazer bombril, sua pele é para fazer carvão e a carne para fazer comida de porco, pretos fedidos, frango de macumba e urubu” (p. 1).
    Ainda segundo o depoimento da mãe no referido Boletim de Ocorrência, cansada de tal situação, a mesma procurou a direção da Escola Estadual por diversas vezes, mas esta “fez pouco caso da situação, inclusive insinuava que o seu filho era “bandido” (p.1). Diante da inércia na resolução do problema por parte da direção, a mãe resolveu comunicar o caso para a imprensa, a qual compareceu à escola e realizou uma matéria jornalística sobre o acontecido.
    No seu depoimento, a Sra. Antonesia Maria dos Santos da Costa relata que a divulgação da reportagem gerou “ira por parte da diretora” e que ambas tiveram uma reunião tensa na qual as duas se exaltaram”.
    Conselho responsabiliza diretora por bullying e racismo
    Estudantes de escola estadual de Campo Grande sofreram agressões e discriminação racial

    Parabéns ao programa Balanço Geral (TV Record do Mato Grosso do Sul) por ter feito uma grande reportagem sobre o caso… Vejam os vídeos:
    – Adolescente de 13 anos alega preconceito racial em escola da Capital (28/06/2010);
    – Adolescente vítima de preconceito racial na escola não quer mais vo… (29/06/2010);
    – MP apura caso de racismo em escola estadual na Capital (06/07/2010).

    Mais algumas observações:
    1) Por que a imprensa não fez nenhum comentário sobre o fato da própria editora do livro ter colocado uma nota explicativa em relação às “caçadas de onças”?
    Vejam o texto: “Essa grande aventura da turma do Sitio do Picapau Amarelo acontece em um tempo em que os animais silvestres ainda não estavam protegidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), nem a onça era uma espécie ameaçada de extinção, como nos dias de hoje. (p. 19)”…
    Se até os animais silvestres mereceram uma nota para que as crianças não os caçassem, não seria necessário, também, uma nota explicativa para que as crianças ficassem sabendo que as praticas preconceituosas e racistas são crimes?

    2) O Parecer do Conselho Nacional de Educação não proibiu o uso do livro “Caçadas de Pedrinho” nas escolas. Foi exigido que as compras e distribuição do livro, quando feitas com o dinheiro público, exijam das editoras “a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos raciais na literatura. Esta providência deverá ser solicitada em relação ao livro Caçadas de Pedrinho e deverá ser extensiva a todas as obras literárias que se encontrem em situação semelhante”.

    3) Para quem acha que nossas professorinhas estão preparadas para serem mediadoras “entre o livro e seus leitores”, destacamos apenas o caso mais recente da Escola Estadual Delmira Ramos dos Santos, no Mato Grosso do Sul. A diretora da escola chega ao absurdo de acusar de “racista” a própria mãe das crianças que eram xingadas e humilhadas à vista de todos na escola…
    Será que esta diretora e suas professorinhas estão capacitadas para servirem de mediadoras nos caso de conflitos surgidos após a leitura de livros clássicos onde o “racismo cordial” era a regra vigente?

    4) Por último, destacamos que a questão da prática do preconceito e do racismo continua viva e forte nos dias atuais. Vejam a recente campanha promovida contra os “nordestinos”, por conta da grande votação da candidata Dilma Rousseff nas eleições presidenciais. Uma estudante de Direito chegou ao cúmulo de escrever: “Nordestino não é gente, faça um favor a Sp, mate um nordestino afogado!”…
    A estudante de Direito foi demitida do escritório de advocacia onde ela atuava como estagiária…
    Mas este não é um caso isolado. Já tem gente promovendo uma campanha “SP para os Paulistas”!!!

    As práticas preconceituosas ou racistas devem ser combatidas diariamente, principalmente nas escolas. O futuro do Brasil é muito importante para que deixemos nossas crianças abandonadas e indefesas, nas mãos de professorinhas ou diretoras que não sabem ou não querem enxergar as praticas de preconceito e de racismo.

    São Paulo, 05 de novemro de 2010.
    Mauro Alves da Silva
    Coordenador do Movimento Comunidade de Olho na Escola Pública
    http://MovimentoCOEP.ning.com

  11. Ana Cristina Says:

    O parecer do CNE não se refere a veto ou censura, como tem sido equivocadamente veiculado. É necessário ler o parecer com seriedade como sugerido pela Claudia, e ainda se certificar de que a denúncia foi realizada não por um “suposto pesquisador”, mas sim por uma pessoa que pesquisa as relações raciais brasileiras e a educação. É lamentável a forma deturpada na qual o debate está sendo realizado. Não se trata de “politicamente correto”, não há qualquer referência nesse sentido com a incorporação de uma nota sobre a proibição de caçada a onças que já existe na mesma obra de Monteiro Lobato. O que se indica é que se tenha o mesmo cuidado para evitar estereótipos com relação a determinados personagens, o que na obra de Monteiro Lobato é recorrente com relação a personagens negros.

  12. Censura “Pedagógica” « Boteco Escola Says:

    […] sobre censura em obras literárias por motivos supostamente pedagógicos. Registrei o ocorrido num post aqui no Boteco Escola. E mais, apontei uma obra indispensável sobre o assunto: The Language […]

  13. Monteiro Lobato VETADO! | Legal Says:

    […] menção ao assunto o copoanheiro virtual Jarbas – excelente crítico e educador – bem neste link, de onde nos remete para dois outros textos que tratam da obra The Language Police, de Diane […]

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