Educação: informação ou conhecimento?

Acabo de recuperar um resumo de palestra que escrevi por volta do ano 2000. Publico-o aqui, pois acho que o mesmo ainda tem atualidade.

 

Na sociedade da Informação, as representações externas do saber (as formas de registro) estão sendo confundidas com o próprio saber. Assim, as novas filosofias de tal sociedade estão reduzindo o conhecimento aos mecanismos capazes de armazenar, ordenar, recuperar e transmitir informações. Este reducionismo acaba elegendo o raciocínio instrumental como única forma válida de pensar.

A filosofia atrás esboçada elege como valores a produção industrial da informação e a transformação do conhecimento em mercadoria.

Dentro deste contexto, o conhecimento é equiparado à informação, os sistemas informativos são vistos como próteses mentais; quantidade e velocidades da produção são eleitas como critério de validade do saber.

Num plano mais concreto vemos a Filosofia da Sociedade da Informação em situações tais como:

• É VERDADE, DEU NO JORNAL

Esta crença popular passa a idéia de que o registro no papel é o critério de verdade. Não importa o fato social ou histórico. Importa a versão elaborada para o jornal ou outro meio de comunicação.

• TRABALHADOR INFORMADO NÃO FICA DESEMPREGADO

Este bordão do antigo MOBRAL vê a informação (teoricamente sempre disponível) como caminho certo para o sucesso. E se alguém está sem trabalho o problema é a falta de informação… Em outras palavras, a vítima é culpada.

Os dois exemplos atrás apontados mostram o predomínio da idéia de que “pensar é processar informação”. Este modo de ver as atividade mentais gera, entre outras coisas, propostas de uma educação sem conteúdos e de um imperialismo das lógicas formais. Ou seja, uma das consequências mais graves da Sociedade da Informação é a concepção de uma educação sem qualquer compromisso com significados.

Há mais consequências. Uma delas, analisada por Daniel Boorstin em The Image, é a de que, cada vez mais, a realidade processada (informação) ocupa o lugar da realidade vivida (experiência). Outra, analisada por Steen Larsen, é a de que o avanço tecnológico resulta sempre num “não mais fazer”, pois máquinas ou sistemas passam a substituir ação humana. Por isto deixamos de aprender fazendo, abandonamos o concreto pelo abscreto, perdemos a autenticidade.

Uma outra consequência: O DESPERDÍCIO É SABEDORIA. O sintoma disto aparece em situações onde vemos claramente a convicção de que “novo é certo; velho é errado”.
Dentro deste novidadismo não há lugar para a História. Na raiz desta fome insaciável por novidade está a velha estratégia do desperdício do Capitalismo. Em termos de capacitação humana, tal estratégia procura sucatear a educação.

Minhas críticas à Sociedade da Informação procuram mostrar que informação não é conhecimento. Na aprendizagem humana é preciso que a informação morra para que o conhecimento nasça. Assim, para uma educação de verdade, a escola de amanhã deverá promover significados em vez de insistir no armazenamento de informação. Finalmente, é preciso deixar claro que pensar não é simplesmente processar informação.

Não apresento aqui propriamente um resumo da minha comunicação. Apresento mais pistas para reflexão desde uma coleção de transparência sobre o tema. Para mim, o ponto central de discussão é distinguir claramente informação de conhecimento. E por esta razão não há saber sem agentes de conhecimento capaz de transformar informações disponíveis em significados.

Entre outras coisas, as consequências educacionais de uma distinção clara entre conhecimento e informação são:

• nos processos técnicos e tecnológicos, mais importante que a artefactos e sistemas, é a capacidade humana de realizar coisas, de transformar informação e experiência;
• a quantidade imensa de informação armazenada e veiculada pelos meios eletrônicos não garante “per se” elaboração do saber;
• não precisamos de mais informação; precisamos de mais conhecimento;
• possivelmente as escolas estão no ramo da distribuição de informação e não no ramo da elaboração do saber;
• é preciso ficar claro, do ponto de vista educacional, que os meios devem ser mais veículos de expressão que veículos de transmissão;
• apesar de toda informação disponível, corremos o risco de ficar cada vez mais ignorantes;
• as escolas deveriam desempenhar um papel mais decisivo na promoção do saber;
• as questões postas pela sociedade da informação deveriam revolucionar nossas escolas;
• professores e outros educadores são (ou deveriam ser) profissionais do conhecimento, não agentes do sistema de informação.

2 Respostas to “Educação: informação ou conhecimento?”

  1. TICs na Educação » Blog Archive » O desperdício do uso das Mídias Sociais na Educação Says:

    […] especialistas em mídias sociais (sic), e toda gente que dá pitaco em educação cometem o erro de acreditar que informação é conhecimento… que tecnologia é educação, que aprende-se mais com “broadcasting” de […]

  2. Sérgio F. de Lima Says:

    Prof. Jarbas sempre atual e preciso… Seu texto me motivou a escrever sobre como as mídias sociais estão sendo desperdiçadas na educação por conta destas confusões.

    abraços

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