Arquitetura e Educação

Há muita conversa sobre mudança em educação. Mas como é que a gente pode saber se certos discursos mudancistas resultam em algo novo? Uma das coisas que faço para conferir se as mudanças são para valer é olhar para a arquitetura (exterior e interior) dos ambientes escolares. Faz tempo que estou querendo fazer aqui uma observação sobre isso valendo-me de matéria que vi num dos números do New York Review of Books  do ano passado. Procurei a publicação, mas não a encontrei. Resolvi, mesmo assim, abordar o assunto.

Reparem na figura abaixo.

labinformatica

Ela aparece em informe sobre uma instituição de ensino superior. A foto mostra um ambiente que conhecemos bem, o laboratório de informática. Há ambientes muito parecidos com esse em centenas de faculdades Brasil afora. Mas reparem numa coisa: essencialmente nada mudou na arquitetura de interiores da escola. A sala de aula com computadores e lousa digital continua sendo um auditório. Os computadores estão arrumados para usos individuais. Nada mudou na organização do ambiente de trabalho [ou de estudo, se quiserem]. As  novas máquinas foram incorporadas ao velho modo de entender atividades de ensino e aprendizagem.

Comparem o ambiente aqui mostrado com ambientes bancários que incorporaram novas tecnologias de comunicação e informação. As novas agências pouco tem a ver com as velhas. Os espaços de trabalho e de serviços bancários foram inteiramente transformados. Ah!, nos bancos não há “laboratórios de informática”. Neles os computadores foram incorporados à uma nova forma de organizar o trabalho; e estão onde necessários  às operações financeiras próprias de um banco em nosso tempo.

Há muito mais o que considerar sobre arquitetura e educação. Voltarei ao assunto oportunamente. Termino com uma nota que gostaria de ver desmentida: a arquitetura escolar é um assunto ignorado pelas faculdades de educação.

8 Respostas to “Arquitetura e Educação”

  1. Miriam Says:

    Jarbas,

    Pior é que não é só a arquitetura dos labs, mais triste é perceber que o uso da tecnologia nas atividades propostas é, em mtos casos, apenas substituto do giz, lousa, caderno e caneta… nada que não seria feito com os últimos…
    abço

  2. jarbas Says:

    Oi Miriam,

    As práticas equivocadas que você aponta já estão embutidas na arquitetura. Em laboratórios de informática como o mostrado, trabalhos em grupo ou colaborativos são dificultados pelo ambiente. Ou por outra, o desenho arquitetônico é determinado por um modelo. Contrariar tal modelo num laboratório de informática é uma guerra. Abraço, Jarbas.

  3. Cássio Oliveira Says:

    Aplausos para os professores que vez ou outra arrumam a sala em semi-círculo! E até mesmo para aqueles que caminham pela sala e convidam alguns alunos a irem à frente…

    Acho que estas pequeninas ações (mais a primeira que a segunda..) ajduam a quebrar com a arquitetura antiga, até mais que os computadores espalhados pela sala.

  4. Arquitetura escolar e Aprendizagem Criativa « Germinal - Educação e Trabalho Says:

    […] acredito que o primeiro post do Boteco Escola sobre o assunto, Arquitetura e Educação, tocava em questão mais importante: o efeito do dispositivo arquitetônico sobre a situação de […]

  5. A Sala de Aula como Cenário « Germinal - Educação e Trabalho Says:

    […] Escolar e Aprendizagem Criativa, um texto que surgiu de um comentário a um artigo da série sobre Arquitetura e Educação, que vem sendo publicado pelo blog Boteco Escola, falamos sobre o dispositivo arquitetônico que […]

  6. gabriel Says:

    vocês conhecem o trabalho da arquiteta mayumi watanabe de souza lima?

  7. gabriel Says:

    mayumi souza lima foi uma arquiteta excepcional. Tendo sempre se dedicado ao serviço público, ela trabalhou durante muito tempo para a antiga conesp (que depois viria a se desdobrar na FDE) e promoveu experiências interessantes relacionando arquitetura, educação e ação política.

    O trabalho mais importante dela, porém, foi a criação do CEDEC, uma fábrica municipal de componentes pré-fabricados em argamassa armada. O CEDEC foi criado na gestão erundina e foi extinto no primeiro dia de governo do maluf. Enquanto durou, produziu uma enorme quantidade de bons projetos para creches municipais (antes daqueles projetos padronizados com as janelas circulares o CEDEC produziu creches e emeis cujos projetos tinham por premissa o contato com a realidade e com a população do local e seu envolvimento na construção).

    No sítio “domínio público” há uma dissertação de mestrado sobre o trabalho dela bastante interessante: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=144062

    também existe um livro chamado “arquitetura e educação” que reúne alguns dos textos de maymi sobre o tema e sobre o cedec. Infelizmente, porém, este está esgotado, mas pode ser encontrado na biblioteca da FAUUSP (http://dedalus.usp.br:4500/ALEPH/POR/USP/USP/DEDALUS/FULL/1366670?)

    existe um outro trabalho – mas muito menos “freireano” e mais pragmático – que também questiona a relação estudante-espaço do designer bruce mau chamado “the third teacher”: http://www.brucemaudesign.com/work_third_teacher.html

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