Há muita conversa sobre mudança em educação. Mas como é que a gente pode saber se certos discursos mudancistas resultam em algo novo? Uma das coisas que faço para conferir se as mudanças são para valer é olhar para a arquitetura (exterior e interior) dos ambientes escolares. Faz tempo que estou querendo fazer aqui uma observação sobre isso valendo-me de matéria que vi num dos números do New York Review of Books do ano passado. Procurei a publicação, mas não a encontrei. Resolvi, mesmo assim, abordar o assunto.
Reparem na figura abaixo.
Ela aparece em informe sobre uma instituição de ensino superior. A foto mostra um ambiente que conhecemos bem, o laboratório de informática. Há ambientes muito parecidos com esse em centenas de faculdades Brasil afora. Mas reparem numa coisa: essencialmente nada mudou na arquitetura de interiores da escola. A sala de aula com computadores e lousa digital continua sendo um auditório. Os computadores estão arrumados para usos individuais. Nada mudou na organização do ambiente de trabalho [ou de estudo, se quiserem]. As novas máquinas foram incorporadas ao velho modo de entender atividades de ensino e aprendizagem.
Comparem o ambiente aqui mostrado com ambientes bancários que incorporaram novas tecnologias de comunicação e informação. As novas agências pouco tem a ver com as velhas. Os espaços de trabalho e de serviços bancários foram inteiramente transformados. Ah!, nos bancos não há “laboratórios de informática”. Neles os computadores foram incorporados à uma nova forma de organizar o trabalho; e estão onde necessários às operações financeiras próprias de um banco em nosso tempo.
Há muito mais o que considerar sobre arquitetura e educação. Voltarei ao assunto oportunamente. Termino com uma nota que gostaria de ver desmentida: a arquitetura escolar é um assunto ignorado pelas faculdades de educação.
fevereiro 2, 2009 às 9:48 pm |
Jarbas,
Pior é que não é só a arquitetura dos labs, mais triste é perceber que o uso da tecnologia nas atividades propostas é, em mtos casos, apenas substituto do giz, lousa, caderno e caneta… nada que não seria feito com os últimos…
abço
fevereiro 2, 2009 às 10:01 pm |
Oi Miriam,
As práticas equivocadas que você aponta já estão embutidas na arquitetura. Em laboratórios de informática como o mostrado, trabalhos em grupo ou colaborativos são dificultados pelo ambiente. Ou por outra, o desenho arquitetônico é determinado por um modelo. Contrariar tal modelo num laboratório de informática é uma guerra. Abraço, Jarbas.
fevereiro 3, 2009 às 3:22 pm |
Aplausos para os professores que vez ou outra arrumam a sala em semi-círculo! E até mesmo para aqueles que caminham pela sala e convidam alguns alunos a irem à frente…
Acho que estas pequeninas ações (mais a primeira que a segunda..) ajduam a quebrar com a arquitetura antiga, até mais que os computadores espalhados pela sala.
fevereiro 17, 2009 às 1:00 am |
[…] acredito que o primeiro post do Boteco Escola sobre o assunto, Arquitetura e Educação, tocava em questão mais importante: o efeito do dispositivo arquitetônico sobre a situação de […]
fevereiro 18, 2009 às 11:48 pm |
[…] Escolar e Aprendizagem Criativa, um texto que surgiu de um comentário a um artigo da série sobre Arquitetura e Educação, que vem sendo publicado pelo blog Boteco Escola, falamos sobre o dispositivo arquitetônico que […]
setembro 11, 2009 às 2:46 am |
vocês conhecem o trabalho da arquiteta mayumi watanabe de souza lima?
setembro 11, 2009 às 11:24 am |
Oi Gabriel,
Não, não conhecemos. Você pode indicar referências? Abraço, Jarbas.
setembro 11, 2009 às 8:06 pm |
mayumi souza lima foi uma arquiteta excepcional. Tendo sempre se dedicado ao serviço público, ela trabalhou durante muito tempo para a antiga conesp (que depois viria a se desdobrar na FDE) e promoveu experiências interessantes relacionando arquitetura, educação e ação política.
O trabalho mais importante dela, porém, foi a criação do CEDEC, uma fábrica municipal de componentes pré-fabricados em argamassa armada. O CEDEC foi criado na gestão erundina e foi extinto no primeiro dia de governo do maluf. Enquanto durou, produziu uma enorme quantidade de bons projetos para creches municipais (antes daqueles projetos padronizados com as janelas circulares o CEDEC produziu creches e emeis cujos projetos tinham por premissa o contato com a realidade e com a população do local e seu envolvimento na construção).
No sítio “domínio público” há uma dissertação de mestrado sobre o trabalho dela bastante interessante: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=144062
também existe um livro chamado “arquitetura e educação” que reúne alguns dos textos de maymi sobre o tema e sobre o cedec. Infelizmente, porém, este está esgotado, mas pode ser encontrado na biblioteca da FAUUSP (http://dedalus.usp.br:4500/ALEPH/POR/USP/USP/DEDALUS/FULL/1366670?)
existe um outro trabalho – mas muito menos “freireano” e mais pragmático – que também questiona a relação estudante-espaço do designer bruce mau chamado “the third teacher”: http://www.brucemaudesign.com/work_third_teacher.html