Acabo de encontrar vídeo no Facebook que ilustra o tema da importância do brincar para a vida, para a aprendizagem, para o prazer de experimentar o mundo criativamente. Um elefante brinca de escorregar e parece ter grande prazer na brincadeira.
Já publiquei aqui tradução de um ótimo texto sobre jogo e epistemologia. Em alguns trechos, o autor ressalta caso em que os animais brincam. Copio alguns desses trechos:
Quarenta anos atrás ouvi Sir Julian Huxley descrever uma cena, observada por ele na Islândia, em que patos escorregavam pela corrente de água desde uma rampa de areia formada pela maré e voltavam ao topo para escorregar de novo. Papagaios, periquitos e canários gostam de tocar pequenos sinos de brinquedo. Certos pássaros colocam pequenas tiras de papéis coloridos entre suas penas, como se enfeitando. Já observei andorinhas saindo de suas torres para o pátio de um palácio na Lombardia, voando numa formação parecida com uma versão acrobática da brincadeira “siga o chefe”. Já vi também uma gaivota manca que parecia divertir-se com um jogo de desatar cordões de sapatos. Porém o canto e os rituais de cortejo dos pássaros, visto com ingênuo antropomorfismo por Huizinga como jogos, são encarados hoje pelos biólogos como produtos mortalmente sérios da evolução na seleção sexual. Por isto não sei se os pássaros jogam (ou brincam).
Talvez a mesma coisa ocorra com certas brincadeiras (ou jogos) observados entre os mamíferos. Mas eu acho, com um alto grau de certeza, considerada qualquer definição aceitável de jogo, que alguns mamíferos jogam (e brincam). Certamente os mamíferos parecem divertir-se com as coisas. Durante uma seca no Quênia, vi elefantes indo para um poço no começo da manhã, sozinhos ou em grupos de dois a seis, cobertos de poeira e alinhados em disciplinadas filas indianas sob a liderança de um animal mais velho. Quando chegavam ao poço superconcorrido, começavam a chapinar na água, a jogar jatos d’água uns nos outros, a rolar na lama, a enrolar suas trombas com as de seus amigos e parentes, como garotos levados numa praia. Cavalos e cães quando soltos, após reclusão em um lugar fechado, costumam correr em grandes círculos. Um texto clássico de ecologia descreve hipopótamos “brincando na água com sentimento de pura diversão”.
Todo esse brincar é de certa forma um reinventar do mundo. Embora não pareça, é um modo de aprender e de experimentar novos modos de ser, de ver, de se ver-no-mundo.
Há muitos anos, nossa equipe do PIE (Program de Informática e Educação) gostava de dizer que a gente precisava brincar com a os temas dos softwares que estávamos desenvolvendo. E a gente brincava muito. Lembro-me disso porque uma acadêmica mal humorada criticou esse nosso comportamento, estranhando que a gente bicasse com coisas tão sérias.
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