Periféricos de celulares

Há muito tempo, falava-se em periféricos de computadores: teclados, mouses, joy-sticks etc. Periféricos eram instrumentos cuja existência só se justificava por suas ligaçõs com a CPU, o coração do computador. Periféricos sem CPU não tinham vida. Ainda há periféricos, mas falar neles perdeu importância.

Mais recentemente a idéia de periféricos migrou para outros entes. Com o advento dos celulares, os periféricos ganharam estrutura de carne e osso, eles são o que antes chamávamos de gente. Por enquanto a comunicação em rede entre bilhões de celulares só acontece se houver periféricos capazes de operá-los. Importa que a rede funcione, esteja ativa o tempo todo. Não importa o teor da comunicação. Não importa sequer a comunicação. É preciso que as redes pulsem o tempo todo. O resto é detalhe sem interesse. Acho que num futuro próximo, robôs especializados farão trabalho melhor que os periféricos de agora. Mas, aí será tarde para recuperar os modos de comunicação próprio de primatas pelados.

O problema com gente convertida em periféricos de celulares é o de que sobra pouco tempo para aquelas velharias de contato face a face: dançar de rosto colado, papear com amigos, jogar conversa fora no balcão de um boteco, rir de uma piada bem contada, fazer careta de contentamento/descontentamento diante de uma cara que agrada/desagrada, e muito mais.

Meus amigos conhecem minhas ojerizas de celulares. Acham que sou ranzinza, mal humorado, desatualizado. Mas, acho que tenho alguma razão para as minhas observações sobre esse treco que virou obrigação pra todo mundo.

Há pouco recebi uma série de fotos do meu amigo Carlos Seabra. Tais fotos são evidência empírica para minha tese de que os humanos se converteram em periféricos dos celulares. Por isso, em vez de continuar a me explicar, vou reproduzir as fotos que o Seabra me mandou.

Café com amigos

Almoço de confraternização

Apreciando obras primas numa galeria de artes

Curtindo uma praia

 

Torcida fiel

Namoro de muito amor e carinho

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5 Respostas to “Periféricos de celulares”

  1. Doralice Araújo Says:

    Ah…prezado Jarbas. Como eu gosto de vir aqui e encontrar ressonâncais temáticas que tanto pulsam sob o meu agrado.

    Mantenho um celular comigo, sim; ele é um intermediário que favorece a chegada de novos alunos de redação, uma vez que sou profª autônoma, mas concordo com as suas evidentes críticas à sujeição descontrolada dos humanos, ora transformados em “periféricos” ambulantes. As fotos enviadas pelo CSeabra são exemplares; espelham a realidade cotidiana.

    Receba o meu abraço saudoso e com destaque ao tempo dos seus tuites ou quando aparecia no NaMiradoLeitor, mas estou sempre aqui no seu Boteco; muitas vezes leio e não deixo comentário, mas sempre leio refletidamente as suas observações, querido amigo.

    Saúde e Alegrias!

  2. Aline Rodrigues Says:

    Guardei na memória (na cabeça mesmo) três cenas: um laptop sobre a mesa no restaurante de frutos do mar. Um laptop no colo de banhista sentado na areia a beira-mar. Um laptop sustentado nos braços de rapaz na fila do cinema. De repente, as caras grudadas no celular já não me espantam, mas talvez sejam ainda mais inconvenientes…

  3. Deksandro TI Says:

    Quando for fazer uma matéria, peça para alguém revisar antes de publicar, de preferência uma pessoa que saiba escrever devidamente nossa lingua portuguesa, pois se o intúito desse blog é educacional, então é obrigação ter ao menos um texto escrito de forma correta. Quando se faz uma matéria ou um artigo escrito errado, deixa em questionamento a credibilidade e confiança a ser julgada pelo leitor em relação aos fatos. Em sugundo lugar, consulte também um especialista no assunto, nesse caso, um técnico de computador e um de celular/smartphone, pois está passando algumas informações erradas nesse artigo. Obrigado pela atenção e considere isso como uma crítica construtiva para melhorar o desempenho de seu trabalho.

    • jarbas Says:

      Obrigado pelo alerta. Eu até achava que escrevia razoavelmente. Achava… Pelo que vi, tenho que melhorar muito. Se puder, indique, por favor, os erros de português que cometi nesse post. Prometo corrigi-los. Quanto a celulares, periféricos, computadores e assemelhados, mantenho o que disse. Não confio nos profissionais do ramo, principalmente quando sofrem de tecnofilia. Por outro lado, respeito muito os cientistas da área, como Donald Norman e Joseph Weizenbaum, craques em ciência da computação, que não deixam de criticar os muitos desvios de certo delírios tecnológicos.

  4. jarbas Says:

    Ouso, de vez em quando, fazer resenhas de obras sobre impactos das tecnologias na vida. Quando faço isso, quase sempre há alguém que revisa meu texto para eliminar prováveis gatos, principalmente os sintáticos e ortográficos. Mesmo assim, algum erro fica. Segue aqui um exemplo de resenha que escrevi de livro do Richard Coyne. O texto foi aceito por uma revista acadêmica… Copiei apenas a primeira parte. O texto integral pode ser visto em https://bts.senac.br/bts/article/view/231 .

    RESENHA DE LIVROCOYNE, Richard. Designing information technology in the postmodern age: from method to metaphor. Cambridge, MA: MIT Press, 1997. 399 p.

    Ouve-se com frequência a explicação de que a tecnologia é neutra. Pessoas que acreditam nisso dizem que uma mesma ferramenta pode ser utilizada de muitas maneiras, para propósitos completamente diferentes. Predomina no caso uma visão de que decisões humanas determinadas por motivos e finalidades dão sentido às tecnologias. Nos meios educacionais, por exemplo, usos de computadores e de tecnologias da informação são vistos como inteiramente subordinados a finalidades pedagógicas. Por outro lado, de modo aparentemente contraditório, pessoas que acreditam na neutralidade da tecnologia costumam declarar que o uso de novas ferramentas é inevitável, pois não se pode deter o avanço do progresso.

    As duas tendências aqui mencionadas refletem um pensar que desvincula tecnologia de suas raízes históricas e sociais. A crença de que as ferramentas só ganham sentido a partir de usos supostamente racionais ignora motivos que deram origem aos artefatos que funcionam como instrumentos de mediação nas ações humanas. A crença numa suposta inevitabilidade tecnológica entende que a história é uma contínua sucessão de invenções cada vez mais perfeitas e úteis. Ambas as tendências revelam um olhar ingênuo que não problematiza rumos que a tecnologia vem assumindo em nosso mundo. O resultado disso costuma ser um entusiasmo que afasta do horizonte qualquer avaliação crítica, qualquer entendimento que não seja o pensa-mento hegemônico caracterizado pela ideia de neutralidade das ferramentas e de inexorável ingresso de tecnologias cada vez mais perfeitas em todas as atividades humanas.

    Para mudar o modo de ver acima delineado, é preciso abordar a questão tecnológica a partir de uma ótica que não ignore história e filosofia. Uma obra capaz de nos ajudar nessa necessária mudança é Designing Information Technology in the Postmodern Age, de Richard Coyne. O autor, professor de Arquitetura Computacional na Universidade de Edinburgo, examina o design de programas de computadores e de tecnologias da informação sob a ótica da filosofia, mais particularmente a partir do pensamento rotulado de pós-moderno.

    Coyne enfatiza as concepções de tecnologia apresentadas por Heidegger, mas no percurso analisa contribuições de muitos outros filósofos de nosso tempo e de cientistas da área de informática que elaboram visões críticas de sua disciplina.

    Ao examinar em que parte do Mundo está o ciberespaço, Coyne faz uma observação que sintetiza as análises presentes em sua obra: “qual é o status ontológico dessa entidade [ciberespaço] estranha e poderosa?” (p. 151).

    O livro em pauta mostra que nosso entendimento do que é tecnologia sofre influências das concepções metafísicas iniciadas por Platão. Tal entendimento busca encontrar categorias não contaminadas pela mudança, pelo fluxo contínuo do ser. Essa busca resultou numa solução que encontra na razão modos seguros de evitar a insegurança da contínua mudança do que chamamos de realidade. No caso de Platão, a possibilidade de chegar a seres imutáveis acontece por meio de acesso ao mundo das ideias.

    As consequências dessa ontologia, que não reconhece mudança, contradição e dialética de manifestação do ser, são entendimentos que se traduzem na formalização da ciência como um sistema de verdades definidas a partir da correspondência entre proposições e as entidades às quais as mesmas se referem. Um dos resultados desse modo de pensar é a separação entre mente e corpo, teoria e prática.

    Essas ideias são marcadas por uma ontologia [uma visão do ser] cujas consequências são assim descritas por Coyne:… “o verdadeiro ser, o que é constante e essencial, reside fora do tempo e da história. O ser é conservado, não importando as vicissitudes da existência do dia a dia. Esta visão conservadora afirma que há constâncias por trás da história. A maneira como as pessoas veem a si próprias e o seu mundo em diferentes períodos históricos está sujeita a perspectiva que variam, mas por trás dessas perspectivas há um fio constante e uniforme. (p. 6)” A produção tecnológica, na perspectiva conservadora, tem princípios permanentes, não contaminados por uma história marcada por um ser sempre em mudança. Isso sugere, por exemplo, a suposta neutralidade das ferramentas. Estas, vistas como entidades cuja existência não é contaminada pela história, podem ser usadas para atender necessidades definidas pela vontade soberana de sujeitos que lhes dão sentido aqui e agora. Isso implica uma tecnologia que concede aos seres humanos domínio crescente do mundo e anula as manifestações do ser.

    Na perspectiva heideggeriana, essa solução tão comum de encontros entre sujeito e objeto só é possível quando se adota uma visão metafísica que anula manifestações do ser. Em outras palavras, o entendimento de que a realidade é apreendida por formalismos racionais característicos do racionalismo e do positivismo lógico é reducionista.

    Em informática, por exemplo, esse reducionismo reconhece como verdade apenas aquilo que pode ser programado; ou seja, dimensões do real que podem ser manipuladas pela razão instrumental. Apesar de diferenças de acento em suas análises, alguns dos mais importantes cientistas da computação foram direta ou indiretamente influenciados pelo pensamento de Heidegger. Entre esses cientistas, destacam-se nomes como os de Winograd e Flores, Alan Kay e Joseph Weizenbaum. Esses autores, assim como outros que criticam a abordagem conservadora, voltam-se contra tendências imperiais de um racionalismo que entende que toda a realidade pode ser convertida em informação armazenável em sistemas computacionais. Eles vêem os computadores como ferramentas de comunicação em vez de máquinas capazes de empacotar e distribuir informação.

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