Archive for 16 de fevereiro de 2010

Simples e complexo: conhecimento e aprendizagem

fevereiro 16, 2010

Materiais didáticos, sejam eles livros ou objetos de aprendizagem, costumam simplificar o conhecimento. Mas, considerações sobre complexidade e simplicidade no campo epistemológico não acontecem apenas na educação. Acontecem na ciência. Sobre o assunto, há um livro precioso, Simplicity and Complexity in the Games of  Intellect. Copio aqui trecho de resenha dessa obra:

Slobodkin proposes that the best intellectual work is done as if it were a game on a simplified playing field. He supplies serious arguments for considering the role of simplification and playfulness in all of our activities. The immediate effect of his unfailingly captivating essay is to throw open a new window on the world and to refresh our perspectives on matters of the heart and mind.

Jogos de simplificação ou complexificação acontecem com grande frequência nas aventuras científicas. Ás vezes o jogo nos permite melhor entender o mundo. Ás vezes o resultado é confuso e nosso entendimento vai para o brejo.

O tema da complexificação foi objeto da introdução da fala de Alan Kay, em março de 2007, no TED. Neste post procuro repassar algumas das idéias apresentadas por Kay na ocasião. Prováveis erros e enganos são culpa minha, seja por causa do meu inglês enferrujado, seja por causa das minhas limitações para entender o pensamento do autor. O que segue tem destaque convencional de citação no WordPress. Mas não se trata de citação. Trata-se de minha versão da parte introdutória da conversa de Alan Kay no evento maior do TED em 2007.

Para considerar simplicidade e complexidade, Kay iniciou sua palestra com observações sobre nossos enganos. E, em alguns casos, gostamos de ser enganados. Vamos ao teatro para isso. Queremos ser engandos pelos atores, acreditando na história que apresentam no palco. O mesmo acontece em shows de mágica. Bons espetáculos, no caso, são aqueles que nos enganam completamente.

Ser enganado é muito divertido no mundo do espetáculo. Mas a diversão acaba quando falamos de enganos sobre nós mesmos e sobre o mundo em que vivemos.

Ilusões de ótica são um bom exemplo para constatarmos nossas tendências a enganos. No material que apresenta, Kay mostra duas mesas desenhadas em diferentes perspectivas. Elas parecem ter tampos completamente diferentes em tamanho e forma. Mas, os tampos são exatamente os mesmos. A única forma de constatar isso é medir. Melhor ainda é recortar um dos tampos e sobrepô-lo ao outro. Kay faz isso utilizando um sofisticado programa de computador. Uma amiga dele faz o mesmo com tesoura, recortando o tampo de uma das figuras. No final de sua fala sobre as duas mesas, Kay observa que praticamente ninguém consegue ver os tampos como perfeitamente equivalentes, mesmo que já tenha visto a figura algumas centenas de vezes.

Dois dias após escrever o parágrafo acima, resolvi pesquisar a ilusão de ótica (table tops) comentada por Kay. Encontrei diversas versões. Segue aqui uma delas. Para que não fique dúvida, repito a informação: os tampos de ambas as mesas tem o mesmo formato e dimensões.

Num primeiro tempo de síntese, o autor utiliza uma citação do Tamuld:

  • “Vemos as coisas não como elas são, mas como nós somos”.

Na continuação, Kay sugere relações que podem clarear um pouco mais a questão de nossos enganos intelectuais. Ele começa dizendo que a realidade é um tipo de alucinação que temos na cabeça. O autor apresenta o assunto na seguinte sequência:

  • Se o mundo não é como parece … (e) Se vemos as coisas como nós somos, então:
  • O que chamamos de realidade é uma “alucinação”, um “sonhar acordado”. Assim:
  • O simples e inteligível pode não ser simples e inteligível. E…
  • O complexo pode se tornar inteligível.
  • Conclusão: A chave é entender melhor quem somos e encontrar caminhos para superar nossas falhas.

Na continuação do roteiro, Alan Key sugere caminhos. O esquema geral desse tópico é o que segue:

  • Não podemos ver até o momento que admitimos que somos cegos.
  • Por isso:
  • É preciso estender corrigir parcialmente os “canais barulhentos” que são nosso corpo e mente. Podemos fazer isso com instrumentos em cada uma das dimensões que seguem:
  • Dimensão da percepção: telescópios, microscópios, bolometria, EMR etc.
  • Dimensão da razão: lógica, matemática, computação etc.
  • Dimensão da perspectiva: entendendo que: O mundo não é o que parece. Vemos as coisas como somos. A ciência é um processo [sempre in fieri]. Etc.

Mudar perspectivas é uma das condições para o progresso [Isso lembra Khun em sua história da ciência].

Abandonamos o simples quando queremos fazer mais. Mas, muitas vezes, mais não quer dizer mudança, novidade, maior complexidade. Pode ser apenas um amontoado caótico de elementos sem grande complexidade. Cabe aqui a metáfora da arquitetura. Para complexificar é preciso contar com designs robustos que possam combinar elementos simples de maneiras inéditas e criativas.

No processo de simplificação é preciso estar atento para o essencial. Se este desaparece na versão simplificada, a compreensão vai embora com ele [esta nota é importante para análises de materiais didáticos; estes, muitas vezes, sofrem processo de simplificação que destrói o sentido original da ciência que supostamente o aluno deveria aprender].

Resumi até aqui cerca de oito minutos da fala de Alan Kay no TED/2007. A partir de uma visão geral dos processos de simplificação/complexificação, ele  mostra, em continuação, como certas simplificações no campo da matemática podem ajudar os alunos a deduzir princípios importantes. Para tanto, exemplifica sua fala com o trabalho de uma professora que leciona para crianças de seis anos. Depois, mostra como uma proposta de simplificação sem perda de essência pode ser trabalhada com utilização de computadores.

Não resumi nem vou entrar em detalhes na segunda parte da fala do autor. Interessados poderão examiná-la no vídeo que vem a seguir.

Essas idéias de Alan Kay são muito importantes em educação. Elas não estão organizadas de modo muito sistemático, mas creio que os leitores devem ter percebido qual é o rumo. Compreender quem nós somos é importante nestes tempos de usos de muitas tecnologias. Estas últimas só nos serão úteis se respeitarem nosso modo de ser, e se nos ajudarem a superar maneiras equivocadas de ver o mundo.

Para os interessados, reproduzi em Páginas, neste Boteco, tradução que fiz em 1995 de um capítulo de Complexity and Simplicity, livro citado neste post. O capítulo traduzido examina o jogo como uma forma de ver simplicidade e complexidade na ciência e na elaboração do conhecimento. Para ver tal texto basta clicar aqui.

Twitter na sala de aula?

fevereiro 16, 2010

Não comento. Apenas publico aqui vídeo da Universidade de Minnesota mostrando projeto em desenvolvimento nas escolas secundárias (públicas) da região.

Observação: Depois de postar esta notícia, descobri que o vídeo que aparece diretamente no blog ficou sem legendas. Para as pessoas que precisam de apoio para melhor compreender a locução do que é apresentado, a versão original apresenta legendas em inglês. Assim, quem precisar de tal auxílio deve clicar sobre a palavra Youtube. Com tal providência poderá ver o vídeo original legendado.